Onde o Sol se Esconde (Capítulo 15)
O país inteiro continuava chocado com as revelações.
E foi em meio a essa comoção que Antônio Bastos, um milionário conhecido por suas obras de caridade, decidiu agir.
Ele não queria apenas doar dinheiro.
Queria fazer algo real.
Concreto.
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Em menos de uma semana, Antônio comprou uma antiga fazenda nos arredores de Porto Alegre — uma propriedade enorme, com casa principal, chalés, jardins e até uma pequena escola particular.
Ali, mandou instalar camas novas, brinquedos, livros, médicos, psicólogos.
Aquela casa se tornaria o novo lar para os meninos e meninas que sobreviveram ao horror do orfanato.
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Dona Clarice, a mulher que arriscou tudo para proteger os internos, foi convidada pessoalmente para ser a diretora da nova instituição.
Irmã Helena, uma freira jovem e de coração bondoso que havia sido calada por anos no antigo orfanato, aceitou ser a vice-diretora.
Desta vez, o poder não estaria nas mãos de monstros.
Seria um lugar de amor, de cura.
De recomeço.
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Quanto ao velho orfanato...
Na noite em que os internos se mudaram, sob o olhar de toda a cidade, uma labareda iluminou o céu.
O antigo prédio de paredes mofadas e segredos sujos foi consumido pelo fogo.
Ninguém sabia ao certo quem havia colocado fogo — uns diziam que foi algum ex-interno em busca de justiça, outros que foi um funcionário querendo apagar provas.
Mas, no fundo, todos sabiam:
Era o passado sendo finalmente destruído.
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Teo, Samuel e Guto, por um pedido especial de Antônio e de Dona Clarice, foram morar na casa principal, junto dela.
Era uma grande casa de tijolos vermelhos, com janelas enormes e corredores ensolarados.
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Teo e Samuel, finalmente, tinham um quarto só para os dois.
A cama era espaçosa, com cobertas macias e travesseiros cheirosos.
As paredes eram pintadas de azul claro.
Tinha até uma estante cheia de livros novos.
Era simples.
Era seguro.
Era deles.
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Guto ganhou um quarto ao lado, decorado com carrinhos e pôsteres coloridos.
Mas mesmo com toda a segurança e carinho, os pesadelos não foram embora tão rápido.
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Naquela primeira noite, Guto acordou chorando.
Gritando.
Chutando os lençóis.
Samuel ouviu e correu para o quarto dele.
Teo veio logo atrás.
Guto, suado e trêmulo, olhou para Samuel com olhos de pânico.
— Ele... ele tava aqui... ele ia me pegar de novo...
Samuel se ajoelhou ao lado da cama, abraçando o menino com força.
— Não, Guto... Não mais.
— Ninguém vai encostar em você de novo. Eu prometo.
Teo se sentou do outro lado, acariciando os cabelos de Guto.
Ficaram ali, os três juntos, até Guto voltar a adormecer.
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Quando voltaram para o próprio quarto, Samuel e Teo se deitaram abraçados.
Teo chorou em silêncio no peito de Samuel.
Não de medo, mas de alívio.
E de amor.
Samuel beijou a testa dele, segurando-o como algo precioso demais para ser perdido.
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Enquanto isso, na prisão, Padre Buzzi e Padre Maurício pagavam o preço por seus crimes.
Longe da proteção da batina, viraram alvos dos outros detentos.
Foram espancados brutalmente nos primeiros dias.
Maurício perdeu dois dentes.
Buzzi ficou semanas no hospital da penitenciária.
Os outros internos riam baixinho pelos corredores da prisão quando passavam por eles.
Agora, eles sabiam o que era sentir medo.
Agora, eles sabiam o que era ser impotente.
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O mundo tinha mudado.
O mal não havia vencido.
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E no quarto pequeno, aquecido pelo amor, Teo e Samuel adormeceram entrelaçados, sonhando — pela primeira vez — com um futuro que era só deles.
E que ninguém, nunca mais, iria destruir.