Minha namorada foi para a faculdade. PARTE 02

Um conto erótico de Coisadinho
Categoria: Heterossexual
Contém 4159 palavras
Data: 13/05/2025 21:15:29

A Festa dos Calouros tinha toda uma programação. Três dias, começando na sexta à noite e indo até o domingo. Eu pensei em ficar, claro. Mas havia recebido uma entrevista de emprego que era importante demais pra arriscar. Precisava voltar pra minha cidade antes do meio da tarde de sexta.

Então, naquela manhã, me despedi da Fernanda com um beijo rápido e um aperto no peito que eu fingia não sentir. Entrei no carro, joguei a mochila no banco de trás e segui viagem.

Mas bastou sair da cidade para algo estranho se instalar dentro de mim.

Aquela ansiedade, aquela sensação ruim no fundo da barriga... como se eu tivesse esquecido alguma coisa muito importante. Como se o universo estivesse tentando me avisar que algo não estava certo.

“Besteira, Miguel”, tentei me convencer. “É só ciúmes. Só sua cabeça trabalhando contra você.”

Mas a sensação não passava.

Quando faltavam cerca de trinta minutos para eu chegar em casa, meu celular vibrou no painel. Era a empresa.

— Olá, Miguel. Aqui é da RH Tech Solutions. Tivemos um imprevisto com a agenda do diretor... vamos precisar remarcar a entrevista. Pode ser na segunda-feira?

— Pode, sim... sem problema — respondi, disfarçando o alívio.

Desliguei, encostei o carro no acostamento e fiquei ali, olhando pro horizonte. E aí a ideia surgiu, tão natural quanto respirar:

“Se eu der meia-volta agora, posso chegar a tempo da festa. Posso passar o fim de semana todo com ela. Ver com meus próprios olhos o que tá rolando.”

Não pensei duas vezes. Fiz a volta e acelerei.

O caminho de volta parecia mais longo, apesar de ser o mesmo. O céu começava a ganhar tons alaranjados, e eu já podia imaginar os veteranos montando as barracas, testando o som, a cidade pacata sendo invadida por hordas de universitários sedentos por diversão.

Foi no meio dessa estrada, já com o sol se escondendo atrás das árvores, que meu celular vibrou de novo.

Uma notificação do WhatsApp.

Era a Fernanda.

E era uma foto.

Quase perdi o controle do carro quando abri.

Ela estava vestida com um top branco justo, deixando a barriga de fora, e uma saia rodada rosa, curta, com babados. Uma espécie de fantasia colegial-fofa-sexualizada. Eu nunca tinha visto aquela roupa. Nunca a imaginaria usando algo assim.

“De onde saiu isso?”, digitei na hora.

A resposta veio rápido:

"Os veteranos que deram! Disseram que querem uma caloura do Direito como Miss Bixete esse ano. Estão super investindo!"

Em seguida, chegou um áudio:

— Miiiiguel... eu preciso ganhar esse concurso! Eles disseram que quem vencer vai ganhar um mês de bebida liberada no bar da facul — pra todo o curso! Imagina a moral com os veteranos? Vai ser top!

A voz dela era leve, divertida, como se aquilo fosse só mais uma brincadeira qualquer. Mas eu não conseguia tirar da cabeça a imagem daquela roupa. Aquilo não era ela. Não a Fernanda que eu conhecia.

O áudio terminou. Eu não respondi. Apenas apertei o volante com mais força e acelerei ainda mais.

Quando cheguei na entrada da cidade, o caos.

Um engarrafamento quilométrico me esperava. Carros, ônibus, vans escolares com adesivos de faculdades de cidades vizinhas. A tal Festa dos Calouros não era apenas uma recepção — era um evento regional.

Dois policiais tentavam organizar o fluxo, mas não adiantava muito. A cidade tinha estrutura para 60 mil habitantes, não para o triplo.

Fiquei preso por quase duas horas, bufando no banco do carro, os olhos grudados no relógio e o estômago virado de nervoso. Cada minuto ali era uma tortura.

Por fim, estacionei algumas quadras antes do campus e fui andando mesmo, apressado.

Cheguei no pátio da universidade exatamente quando a primeira noite da festa estava a todo vapor. Luzes coloridas, fumaça no palco, música eletrônica pulsando alto. Barracas com bebidas, rodas de dança, uma multidão aglomerada em volta do palco principal.

E lá estavam elas.

As candidatas.

Trinta e duas calouras no palco, todas usando versões diferentes do mesmo "uniforme": tops brancos, saias coloridas, maquiagem pesada e sorrisos treinados. Fernanda estava no centro. Radiante. Confiante. Bonita como sempre — talvez até mais.

Mas eu a enxergava com outros olhos agora. Uma mistura de deslumbramento e decepção me atravessou o peito.

No canto do palco, percebi algo curioso: vários veteranos fantasiados de urso de pelúcia. Mascote da faculdade, aparentemente. As fantasias eram tão ridículas quanto bizarras — largas, velhas, algumas sujas, com as cabeças caindo para os lados, como se estivessem bêbadas também.

E então...

Um novo "urso" subiu no palco.

Diferente dos outros, ele usava apenas uma bermuda preta. Sem camiseta. O corpo musculoso brilhava sob as luzes, e a cabeça do urso parecia fixada com cuidado.

Eu não precisava ver o rosto.

Eu sabia quem era.

Paulo.

Ele pegou o microfone e começou a falar com voz firme, animada, segura:

— E aí, calouras e calouros! Chegou a hora mais esperada da noite: as provas do Miss Bixete 2025! — a plateia explodiu em gritos e aplausos. — Esse ano a disputa vai ser intensa. Três etapas. E a vencedora leva não só um mês de bebida liberada no Bar do Campus, como também o título eterno de lenda da faculdade!

As luzes giraram, a música subiu, e eu fiquei ali, parado entre a multidão, com os olhos grudados em Fernanda — e uma certeza dolorosa crescendo no peito:

Eu não fazia mais parte daquele mundo. E talvez... nem dela.

A primeira etapa foi bem simples, Cada candidata teria que se apresentar para a plateia.

Nome, cidade de origem, idade... e, claro, o inevitável: se estava solteira.

Uma a uma, foram se aproximando do centro do palco, ainda meio tímidas, tropeçando nas próprias palavras, algumas rindo de nervoso, outras escondendo o rosto com as mãos enquanto respondiam.

O público, mais de ressaca do que realmente animado, soltava umas palminhas mornas depois de cada apresentação.

Então chegou a vez dela.

Fernanda.

Com seu sorriso bonito, mas um pouco tenso, caminhou até o centro do palco.

O sol batia forte em seu rosto, e por um instante ela piscou como se aquilo a incomodasse, ou talvez estivesse apenas tentando organizar os pensamentos.

Começou a responder de forma ensaiada, como as demais:

— Fernanda... de Jacareí... 22 anos...

A voz estava firme até ali.

Paulo, com aquele jeito animado que já irritava um pouco, se inclinou teatralmente para o microfone e perguntou:

— E... solteira?

Foi aí que aconteceu.

Fernanda, que vinha respondendo tudo tão segura, engasgou com as próprias palavras.

— Si... quer dizer... não... eu namoro...

O vacilo dela ecoou no microfone como uma bomba silenciosa.

E a plateia, que até então parecia sonolenta, explodiu em gargalhadas.

Gritos, assobios, brincadeiras de mau gosto.

No meio da confusão, uma voz mais alta se destacou:

— COITADO DO NAMORADO!

A risada geral que se seguiu pareceu durar uma eternidade.

Fernanda sorriu amarelo, tentando disfarçar a vergonha, mas seus olhos procuraram a plateia, quase como se buscassem, no meio daquele mar de rostos, um pouco de apoio. Talvez o meu.

Depois da apresentação, Paulo voltou ao microfone com um sorriso ainda maior.

— Agora é a hora que o bicho começa a pegar! A segunda etapa é o nosso famoso Desfile das Bixetes! Cada uma escolheu uma música. É só desfilar pelo palco como quiser — pode arrasar, dançar, encantar, pirar! Tá valendo tudo!

As luzes baixaram, o DJ começou a tocar, e uma a uma, as calouras começaram o desfile.

As primeiras foram tímidas. Andaram como se estivessem em um concurso de moda, sérias, meio duras. A plateia aplaudiu, mas nada muito empolgante.

Até que veio a sexta candidata.

Uma garota gordinha, com um sorriso sapeca no rosto e cara de quem não ligava pra regra nenhuma. Quando a música dela começou — um funk pesadão — ela simplesmente... soltou tudo.

Rebolava, sacudia a saia, girava e até abaixou de costas para a plateia, como se fosse mostrar a calcinha. A galera explodiu. Gritos, risadas, assobios. A partir dali, foi como se um botão tivesse sido apertado.

As próximas começaram a ousar. Umas dançavam funk, outras faziam twerk, teve uma que tirou a blusa e ficou de top, jogando o cabelo como se estivesse num clipe.

E então… foi a vez da Fernanda.

A música dela começou. Um pop sensual, com batida marcante. Ela entrou no palco caminhando com segurança, olhos fixos na frente. O público vibrou assim que ela apareceu.

Fernanda desfilou... depois dançou. Girou, rebolou com leveza, depois com firmeza. Sorriu. Interagiu com a plateia. E, por fim, caminhou até a beirada do palco — bem na frente dos veteranos vestidos de urso — e se curvou em uma reverência longa e lenta.

A saia subiu.

Na hora, só consegui pensar:

“Com essa saia curta... com certeza viram a polpa da bundinha dela.”

A galera reagiu como se estivesse num show de rock. Aplausos, gritos, gracinhas. Paulo bateu palmas, sorrindo.

E eu?

Eu só fiquei parado, no meio da multidão, com as mãos fechadas, o coração acelerado, e uma voz dentro da minha cabeça gritando:

“O que tá acontecendo aqui?”

Paulo voltou ao centro do palco com o microfone em mãos, sorrindo como se estivesse prestes a revelar o prêmio de um programa de auditório.

— Galera, chegou o momento mais esperado da noite! A terceira e última etapa da primeira fase: a Dança da Bixete! — a plateia gritou, animada. — Mas... como todo bom show, essa parte tem uma surpresinha especial.

O jeito que ele falou "surpresinha" me deu um arrepio.

As luzes mudaram, o DJ aumentou o volume, batidas eletrônicas tomaram conta do espaço. As calouras começaram a dançar em grupos de três, cada uma mostrando o que tinha — no ritmo, na ousadia, no carisma.

Fernanda estava no terceiro grupo.

Ela dançava bem. Sempre teve coordenação, presença. Mas agora tinha algo diferente... ela dançava como se estivesse completamente entregue àquele momento. Não era a menina que estudava comigo na biblioteca, nem a garota tímida que conheci naquele trabalho de física. Era outra Fernanda ali no palco — mais mulher, mais segura... mais distante de mim.

E então, a “surpresinha” apareceu.

Dois dos veteranos vestidos de urso surgiram com grandes pistolas de água. Paulo gargalhou ao microfone:

— Aqui é calourada raiz, meus amigos! Se é pra dançar, é pra molhar também! Bora refrescar essas bixetes!

As pistolas começaram a disparar jatos de água fria nas candidatas, que gritavam e riam, fingindo surpresa, algumas se encolhendo, outras entrando no jogo.

Mas não era só água. Era o efeito que a água causava.

Os tops brancos, finos, colados no corpo... começaram a ficar transparentes.

Eu vi.

Todo mundo viu.

De repente, trinta e duas calouras estavam parcialmente expostas sob as luzes do palco, com os sorrisos congelados entre o desconforto e o desejo de agradar.

E no meio delas… estava a Fernanda.

O top grudado no corpo, agora quase uma segunda pele. Ela tentou rir, tentou disfarçar, mas eu conhecia aquele olhar. Havia um segundo de hesitação ali. De vergonha. Mas passou. Rápido demais.

Ela continuou dançando. Girou o corpo, balançou o cabelo encharcado e jogou água pra plateia, como se aquilo tudo fizesse parte de uma grande brincadeira. Uma grande performance.

Mas pra mim... aquilo foi um soco no estômago.

Eu não conseguia mais bater palma, nem sorrir. Só olhava fixamente, sentindo o sangue ferver. O ciúme não era só ciúme — era humilhação. Era a certeza de que, naquele palco, Fernanda estava sendo aplaudida por se expor… enquanto eu, o namorado, estava ali, invisível.

Paulo ria ao microfone, incentivando o público:

— Isso aí! A água é pra mostrar quem realmente veio pra ganhar! Quero ver entrega, quero ver atitude! E palmas pra nossa loiraça ali, que tá arrebentando, hein?

Mais aplausos. Mais gritos.

E eu só pensava:

“Onde foi que eu perdi ela?”

A música diminuiu, o DJ baixou o som com uma batida suave, e Paulo voltou ao centro do palco com aquele mesmo ar de mestre de cerimônias de um circo moderno. Ele segurava o microfone com uma mão e, com a outra, pedia silêncio à multidão.

— Pessoal... o negócio aqui tá sério. Tá muito acirrado — ele dizia, sorrindo. — E como vocês sabem, a gente só quer as melhores na final. Então... teremos uma rodada extra. E nessa aqui, vai ser mais ousado. Mais direto. Mais verdadeiro.

A multidão vibrou.

Eu continuei parado, sentindo cada palavra dele como se fosse um prego sendo cravado.

— Antes de irmos pra rodada extra, vamos reduzir o número de candidatas. Das trinta e duas, só vinte vão continuar. Doze serão eliminadas agora, por aclamação.

E foi aí que começou o desfile cruel.

Uma a uma, ele chamava as meninas pelo nome. Elas subiam no palco e paravam no centro, diante da plateia. E então, Paulo soltava a pergunta:

— Vai ou rala?

A plateia respondia com gritos, aplausos — ou silêncio.

Se fosse silêncio, ela era eliminada.

As primeiras foram tranquilas. Algumas tímidas, outras claramente desconfortáveis com o rumo da festa. Ninguém parecia surpreso quando elas desciam do palco, cabisbaixas.

Mas à medida que as mais ousadas apareciam, os gritos aumentavam. O público queria espetáculo. Queria pele. Queria provocação.

Até que Paulo chamou:

— E agora... a favorita da galera... FERNANDA!

Eu parei de respirar por um segundo.

Ela subiu no palco com passos confiantes. O cabelo ainda molhado, colado nos ombros. O top branco, agora transparente, revelando mais do que escondia. O sutiã, pelo visto, tinha sido deixado de lado. Os bicos dos seios além de expostos, estavam durinhos e marcavam claramente sob o tecido molhado. Ela estava, diante de todos, praticamente nua da cintura pra cima.

E mesmo assim... ela sorriu.

Girou de novo, como antes. Jogou beijo pra plateia. Ergueu os braços como se dissesse "Tô aqui". E a multidão?

Explodiu.

Gritos, assobios, gritos de "Miss! Miss! Miss!"

Foi de longe a mais aclamada da noite.

Paulo nem precisou esperar o silêncio voltar. Riu e já cravou no microfone:

— Nem preciso dizer nada, né? Fernanda, você já tá super garantida na próxima fase. Palmas pra nossa futura Miss Bixete!

Ela agradeceu, rindo. Acenou. Mandou mais um beijo.

E eu, no meio da multidão, com o rosto quente e o maxilar travado, só consegui pensar:

“O que aconteceu com a Fernanda que dizia que não gostava de festa? A que ficava vermelha quando eu dizia que ela era bonita demais pra mim? Onde ela foi parar?”

Ela desceu do palco, ainda sorrindo, sendo abraçada por outras meninas, parabenizada pelos veteranos — e lá estava ele, Paulo, se aproximando, dando aquele sorrisinho malandro e encostando de leve a mão nas costas dela enquanto falava algo no ouvido dela.

Ela riu de novo.

E eu? Eu só sentia como se estivesse preso num pesadelo. Um pesadelo com música alta, luzes estroboscópicas e a garota que eu amava virando uma versão de si mesma que eu não reconhecia — e que não fazia questão de olhar pra mim.

Depois de uma pausa e da apresentação patética de uma banda formada por alunos — que parecia mais um castigo sonoro do que entretenimento —, Paulo pegou o microfone outra vez. Uma tal "Rodada Extra" iria começar. Ele sorriu como quem sabe de um segredo sujo e disse que agora as candidatas teriam que mostrar “desenvoltura oral”.

Na minha cabeça, imaginei algo como declamar um poema, contar uma história engraçada, talvez até improvisar um texto. Mas logo entendi o quão longe da realidade eu estava — e o quão sujo aquilo realmente era.

Dezenove veteranos subiram ao palco, cada um com uma prótese de silicone grotesca presa à cintura, eles estavam usando cintaralhos que imitavam paus grandes e grossos. Simulacros exagerados, cômicos de tão absurdos, mas com uma intenção muito clara: ver quem das calouras conseguiria colocar a prótese toda dentro da boca.

O público explodiu em risadas, gritos, assobios. Como se aquilo fosse um grande espetáculo. Como se não houvesse ali um pingo de humanidade sendo atropelada.

Senti uma onda de nojo subindo pela garganta. Olhei pra Fernanda no meio daquelas meninas — todas em fila, todas meio rindo, meio sem saber como reagir. Eu ia subir no palco, eu ia acabar com aquilo agora. Mas a multidão era tanta, tão densa, que mesmo tentando, mesmo empurrando, eu não conseguia sair do lugar.

Então me pus a contar. Vinte candidatas. Só dezenove veteranos no palco. Uma dupla faltando.

Foi aí que ouvi a voz de Paulo, de novo no microfone, agora com aquele tom ensaiado, debochado:

— Pessoal, tivemos uma pequena falha técnica com um dos nossos adereços... Mas fiquem tranquilos: todas as calouras vão participar. Inclusive a mais aclamada entre elas... — Ele fez uma pausa teatral, olhou para Fernanda como se estivesse oferecendo um prêmio. — Eu serei o par da nossa estrela da noite.

Fernanda.

Senti como se o chão tivesse desaparecido sob os meus pés.

Os veteranos se dividiram em duas filas.

Dez homens formaram uma linha de um lado do palco; nove se alinharam do outro.

O público assistia em silêncio, quase como se acompanhasse uma cerimônia.

Enquanto isso, Paulo desaparecia discretamente pelos bastidores.

As candidatas, uma a uma, atravessavam o palco e se posicionavam na frente dos veteranos, de maneira quase instintiva.

O espaço entre eles era pequeno, forçando uma proximidade desconfortável.

Só Fernanda ficou parada no meio do palco, sem saber para onde ir.

Ela olhou de um lado para o outro, hesitando.

As luzes fortes em cima dela aumentavam a sensação de exposição.

Parecia pequena, deslocada, como uma criança perdida em meio a um ritual que não entendia.

Sem par, e sem saber o que fazer, começou a caminhar devagarinho, a passos curtos e cautelosos, em direção à escada lateral do palco.

Tentava passar despercebida, como se seu simples desaparecimento pudesse resolver a situação.

Quando seu pé tocou o primeiro degrau, uma sombra surgiu diante dela.

Paulo.

Mas ele não estava como antes.

De dentro do seu calção preto, algo saltava para fora — um “membro” grosso e longo, diferente dos adereços usados pelos outros veteranos.

Nos outros rapazes, dava para ver claramente a fita bege ou preta que segurava os acessórios contra o corpo, por cima da roupa.

No caso de Paulo, não.

O que saía do calção parecia ter sido posicionado por dentro, de forma mais realista, com uma textura que imitava a pele humana de maneira perturbadora.

Fernanda congelou por um segundo, encarando a cena sem acreditar.

Depois, o sorriso involuntário se abriu em seu rosto.

Agora tinha dupla.

Agora podia continuar.

Com um pulinho animado, quase infantil, correu para se colocar diante de Paulo, seus olhos brilhando de alívio e excitação.

Quando todas as duplas estavam finalmente formadas, Paulo voltou a assumir o centro do palco, microfone na mão.

— Muito bem, minhas senhoritas — anunciou, a voz ecoando potente. — A brincadeira é simples: vocês têm 60 segundos... para colocar tudo isso... — fez uma pausa dramática, apontando para o adereço — dentro da boca.

O público explodiu em risos e gritos.

A música começou a pulsar alto pelos alto-falantes, uma batida pesada que fazia o chão vibrar.

Paulo levantou o braço, marcando o início da contagem:

—!

O cronômetro brilhou no telão: 00:60.

As meninas se atiraram para frente, desajeitadas, tentando agarrar os adereços com as mãos, com a boca, com qualquer parte do corpo que conseguissem usar.

A confusão tomou conta do palco.

As próteses balançavam, dobravam, escorregavam de suas mãos.

Algumas candidatas tentavam forçar de uma vez, outras usavam as duas mãos para dobrar o objeto como se fosse possível domá-lo.

Os veteranos riam sem disfarçar.

A plateia chorava de tanto rir.

Mas Paulo permanecia imóvel.

O rosto sério.

O olhar fixo em Fernanda.

Ela era a única que ainda não havia começado.

Com 45 segundos restantes no cronômetro, Fernanda continuava parada, encarando o "desafio" à sua frente como um soldado diante de uma missão impossível.

Parecia pensar.

Calcular.

Então, finalmente, tomou uma decisão.

Segurou o adereço com as duas mãos pequenas e começou a conduzi-lo, com lentidão e firmeza, até sua boca.

A textura era diferente dos outros.

Era mais dura, mais resistente.

Sentia a resistência em suas mãos.

Com cuidado extremo, abriu a boca o máximo que conseguiu e começou a encaixar o objeto, centímetro por centímetro.

O tempo corria.

O público contava junto.

Quando Fernanda estava aproximadamente na metade do caminho — após muitas tentativas, recuos e avanços —, o cronômetro zerou.

O alarme estridente disparou.

O palco inteiro pareceu murchar junto com o som.

Houve um instante de puro silêncio.

Decepção no rosto das candidatas, dos veteranos, da plateia... e, principalmente, no rosto de Fernanda.

Ela soltou o adereço, respirando pesado, com uma expressão de frustração pura.

Paulo captou o sentimento coletivo no ar.

Levantou o microfone novamente, com um sorriso quase condescendente:

— Não vamos deixar ninguém triste hoje, certo? — perguntou à plateia, arrancando gritos de aprovação. — Vamos dar mais 90 segundos pras nossas guerreiras!

O cronômetro reiniciou: 00:90.

A música recomeçou, ainda mais alta.

Paulo contou:

—!

As candidatas voltaram a se atrapalhar.

A mesma cena de confusão e tropeços se repetia... menos para Fernanda.

Ela agora sabia exatamente o que fazer.

Com mãos firmes e movimentos treinados, segurou novamente o adereço, abriu bem a boca e, com movimentos calculados, foi encaixando o objeto de maneira firme e decidida.

Trinta segundos.

Era o que ela precisou.

Com o "membro" todo dentro da boca, olhou para Paulo.

Ele sorriu, pela primeira vez.

— TEMOS UMA VENCEDORA! — anunciou, enquanto o público explodia em aplausos e gritos.

Mas o relógio continuava a correr.

E Fernanda, sem saber o que fazer, decidiu não parar.

Com gestos lentos e sensuais, retirou o adereço inteiro da boca...

...e colocou de novo.

Uma vez.

Duas vezes.

Três vezes.

Na quarta repetição, ela acelerou o movimento, pegando ritmo, deixando claro para todos que não apenas havia vencido — ela dominava.

A plateia urrava.

Os veteranos batiam palmas e assoviavam.

O palco era dela.

Fernanda brilhava como uma estrela, transformando a brincadeira em um verdadeiro espetáculo de resistência, ousadia e técnica

As candidatas se afastaram alguns passos dos veteranos, ainda tentando recuperar o fôlego, com os rostos vermelhos, algumas rindo, outras apenas ofegando.

Paulo se adiantou, o microfone em mãos, ainda com aquela postura teatral que tinha adotado desde o começo.

— Temos uma GRANDE vencedora esta noite! — anunciou, pausando para aumentar a expectativa. — A nossa queridinha... Fernanda!

O público explodiu em aplausos e gritos.

Fernanda, com o rosto ainda brilhando de suor e maquiagem borrada, abriu um sorriso radiante e acenou timidamente.

Paulo continuou, a voz carregada de entusiasmo:

— Uma verdadeira rainha... com a boca!

Risos e assobios atravessaram o auditório como uma onda.

Eu, observando tudo da lateral do palco, reparei em algo curioso: o adereço de Paulo parecia... diferente.

Antes, firme como pedra, agora parecia menos rígido, mais... natural, talvez?

Sacudi a cabeça, tentando afastar o pensamento.

Provavelmente era coisa da minha cabeça, efeito da tensão acumulada da noite.

Paulo, sem perder o ritmo, assumiu novamente o papel de mestre de cerimônias:

— E assim encerramos nossa programação de hoje! — disse, com um sorriso largo. — Mas não esqueçam: sábado tem mais! Espero todos vocês na piscina da faculdade... tragam suas sungas brancas, seus biquínis mais lindos... e muita animação, porque vai ser uma festa!

A plateia, porém, não reagiu como ele esperava.

Em vez de aplausos, ouviu-se um coro de vaias.

Assobios e gritos ecoaram pelo auditório:

— Maaaais! — alguém gritou.

— Queremos mais provas! — berravam de todos os cantos.

Paulo ainda tentou controlar a situação, levantando as mãos em um gesto de calma.

— Pessoal, pessoal, entendam... — começou, com um sorriso sem graça. — Não preparamos mais nada para hoje...

Senti um alívio imediato.

Finalmente aquele pesadelo acabaria.

Já imaginava a cena: pegar Fernanda pela mão, sair dali o mais rápido possível, deixar para trás toda aquela insanidade.

Mas, como se o universo estivesse conspirando contra mim, Paulo soltou outra das suas:

— MAAAAAS... — gritou, com a voz arrastada, voltando a inflamar a plateia — não vamos deixar nosso público querido decepcionado! Dêem-nos apenas alguns minutos... enquanto o Grupo Gestor se reúne para decidir o que podemos improvisar!

O tal Grupo Gestor...

O nome, dito assim, parecia coisa séria, institucional, como se fosse uma comissão de responsabilidade.

Mas bastou olhar para o canto do palco para entender a farsa.

De trás das cortinas, surgiram os membros do grupo: um bando de veteranos, vestidos com fantasias ridículas de ursos felpudos e mal-ajambrados.

Pareciam mais uma trupe de circo do que algo remotamente oficial.

Eles se reuniram num canto do palco, falando rápido entre si, alguns gesticulando exageradamente, como em uma reunião de emergência.

Enquanto isso, no centro do palco, as candidatas, sem ter muito o que fazer, começaram a dançar.

Molhadas da água que ainda escorria dos desafios anteriores, com os tops colando no corpo, os peitinhos a mostra, a maquiagem agora borrada, o cabelo desgrenhado, elas tentavam manter o clima de festa — um esforço meio desesperado para não deixar o constrangimento tomar conta.

O cenário era de um caos melancólico e elétrico: luzes piscando, música alta, veteranos suados, candidatas exaustas e uma plateia sedenta por mais espetáculo.

E eu ali, parado, sentindo que o pior... ainda estava por vir.

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Comentários

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❤Qual­­­quer mulher aqui pode ser despida e vista sem rou­­pas) Por favor, ava­­lie ➤ Nul.im/nude

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Não é a mesma história que li aqui mesmo mas é muito parecida, eu gosto muito de criatividade então pra mim não deu muito certo.

O conto está bem escrito a narrativa é boa mas como eu disse tem pequenas variações de um excelente conto de já li aqui mesmo

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Também já li algo muito semelhante,quase uma cópia. Por enquanto,é pouco verossímil tudo isso,bizarro demais pra ser levado em conta.

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Isso, gostei demais. Posta outro logo, tô com o pau na mão

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