Foram quase dez anos de casamento com Mariana. Desses, os dois últimos mudaram completamente quem nós éramos.
Ela sempre foi linda — linda de parar qualquer ambiente. Pele clara, corpo violão, bunda empinada, coxas torneadas, seios médios e firmes. Olhos castanhos intensos, sorriso de propaganda de pasta de dente, e um jeito doce que contrastava com a mulher quente que só eu conhecia na cama. Professora universitária, refinada, culta, mas com uma libido que me faz perder o fôlego. Ou pelo menos… fazia.
No começo do nosso casamento, transávamos em todos os cantos da casa. Ela era criativa, ousada, me surpreendia com lingeries diferentes, fantasias, brinquedinhos. Fazíamos sexo de manhã, depois do trabalho, e às vezes no meio da madrugada, só porque ela acordava molhada. Mas, como tudo na vida, a rotina chegou. O tesão virou hábito, os orgasmos se tornaram previsíveis.
Foi numa dessas noites mornas, após uma transa rápida e silenciosa, que a ideia apareceu na minha cabeça pela primeira vez.
Estávamos nus, ainda suados, quando ela virou de lado na cama, puxou o edredom e começou a mexer no celular. Fiquei olhando pra bunda dela, metade à mostra, sentindo o pau ainda meio ereto e o peito meio vazio.
— Já pensou em transar com outro homem? — perguntei, do nada.
Ela parou de digitar. Ficou em silêncio por alguns segundos.
— Como assim? — respondeu com a voz baixa, confusa.
— Com outro homem. Mas… comigo sabendo. Talvez até assistindo. Ou ouvindo.
Ela virou pra mim, franzindo a testa.
— Isso é algum tipo de fetiche, Will?
Eu ri, envergonhado. Mas era verdade. Um pensamento que já rondava minha cabeça há meses. Várias vezes me peguei imaginando outro homem abrindo suas pernas, fazendo ela gemer de um jeito diferente, ela dizendo coisas que nunca dizia pra mim… e eu ali, assistindo, sentindo a mistura de dor e tesão.
— Acho que sim — respondi. — Eu gosto da ideia. De dividir você. Só um pouco. Só pra te ver sendo fodida de outro jeito.
— Você quer ver outro cara me comendo? — ela perguntou, dessa vez com um leve sorriso no canto da boca.
— Quero. E quero ver você gostando.
Mariana riu, nervosa.
— Você é louco.
Mas não disse “nunca”. Nem “não”. E aquilo bastava.
Nos dias seguintes, voltei ao assunto. De leve. Às vezes no meio do sexo, enquanto eu a comia por trás, segurando seus cabelos.
— Já pensou num pau maior que o meu entrando em você?
— Imagina outro cara te chupando enquanto eu só assisto, me masturbando…
— Você me deixaria ver isso, Mari?
Ela reagia com gemidos, mas nunca respondia. Até que, uma noite, no meio de uma transa lenta e profunda, ela sussurrou:
— E se eu dissesse que já pensei nisso?
Meu coração acelerou.
— Pensou?
— Pensei. Em ser usada… em sentir dois homens. Em você me vendo gemer de prazer com outro.
— Mas é só fantasia, William. Eu sou sua. Só sua.
Naquela madrugada, gozei forte dentro dela, imaginando essa cena.
Com o tempo, a conversa evoluiu. Mariana passou a perguntar:
— E se eu gostasse mais do outro pau? Você aguentaria?
E eu dizia que sim. Mas a verdade é que eu não sabia.
Me masturbava pensando nisso. Me peguei vasculhando fóruns, vídeos, histórias. E fui encontrando meu lugar naquele universo: o do marido observador, excitado, submisso, mas ainda assim no controle. Ou pelo menos era o que eu achava.
Então veio o primeiro “teste”. Convidei Mariana pra irmos a uma casa de swing. Ela hesitou, mas acabou topando, com a condição de que seria só pra olhar. E assim foi.
Lembro como se fosse ontem. Ela usava um vestido vinho colado, curto, sem sutiã. O decote generoso deixava os homens babando. Chegamos no local e fomos recebidos por casais e solteiros — todos com olhos famintos. Caminhamos pelos corredores, passamos por quartos com cortinas abertas. Vimos cenas de sexo explícito por todos os lados.
Ela ficou envergonhada no começo, segurando firme na minha mão. Mas eu vi no olhar dela: curiosidade, tesão.
Quando um homem a abordou com um sorriso e disse que ela era a mulher mais linda dali, ela corou. Agradeceu. E sorriu. Um sorriso que eu não via havia muito tempo.
Voltamos pra casa naquele dia sem ter feito nada. Mas transamos como animais assim que chegamos. Eu perguntei de novo:
— Você quer isso?
E, pela primeira vez, ela não respondeu com palavras. Só olhou pra mim, mordeu o lábio, e montou no meu pau como se já tivesse decidido.
Poucas semanas depois da visita à casa de swing, Mariana estava diferente. Mais vaidosa, mais segura, mais… provocante. Começou a sair do quarto apenas de lingerie, a me provocar com palavras que antes nunca dizia.
— Já pensou se eu saísse agora e fosse foder com outro? — sussurrou certa noite, enquanto subia em cima de mim.
— Eu deixaria — respondi, arfando.
— E se eu dissesse que quero mesmo?
Engoli seco. O jogo estava ficando mais sério. E eu adorava cada segundo.
Na semana seguinte, criei um perfil discreto num site de encontros liberais. Expliquei que éramos um casal buscando uma experiência única. Em menos de dois dias, choveram mensagens. Homens casados, solteiros, novatos, experientes, desesperados. Mas um deles chamou atenção.
Daniel.
Nada de frases forçadas ou elogios vulgares. Escreveu como homem maduro, seguro, objetivo.
Trocamos algumas mensagens e logo passei o contato pra Mariana.
Ela hesitou. Mas a curiosidade falou mais alto.
Começaram a conversar por WhatsApp. No começo, tudo muito respeitoso. Depois, vieram os áudios com voz baixa e pausada. As perguntas íntimas. As fotos sugestivas. Os vídeos.
Eu ouvia tudo. Ela deixava o celular de propósito na cama enquanto tomava banho. Certa noite, ele mandou:
— Quero sentir o gosto do seu gozo na minha língua.
Mariana riu, colocou o celular de lado e olhou pra mim.
— E aí, Will? Vai deixar?
Respondi ajoelhando no chão e beijando seus pés. Eu sabia a resposta.
Marcamos um encontro num hotel discreto na região central. Quartosábado à tarde.
Fomos juntos, de carro. No caminho, Mariana usava um vestido preto colado ao corpo, sem calcinha, com um salto fino que deixava suas pernas ainda mais provocantes. O decote revelava seus seios pequenos, mas empinados. Eu dirigia, tremendo de excitação.
No elevador, ela me olhou com malícia.
— Você tem certeza?
— Nunca tive tanta certeza na vida.
Chegamos ao quarto. Mariana entrou primeiro, depois eu. Alguns minutos depois, a porta bateu.
Daniel.
Alto, negro, corpo atlético. Rosto sério, olhar faminto. Vestia jeans escuro e uma camiseta justa. Entrou sem cerimônia, cumprimentou Mariana com dois beijos no rosto. Depois me olhou.
— Você é o marido?
Assenti.
Ele sorriu de canto. Tirou os sapatos, aproximou-se da cama.
— Posso?
— Ela é sua — respondi. Minha voz saiu baixa, embargada.
Mariana olhou pra mim. E eu balancei a cabeça. Ela se aproximou de Daniel.
Ele segurou o rosto dela com firmeza e a beijou. Um beijo quente, profundo, que fez minha esposa gemer já no primeiro toque. Suas mãos desceram pelo corpo dela, apertando a bunda, a cintura. O vestido caiu no chão. Ela ficou só de salto.
Meu pau estava duro, latejando dentro da calça. Sentei-me numa poltrona e assisti.
Daniel chupava os seios dela com força. Mariana gemia alto, segurando a cabeça dele contra o peito. Depois ajoelhou e tirou o cinto dele com pressa. Puxou o zíper, e então vi.
O pau dele era grosso. Muito. Mais do que o meu. Muito mais.
Mariana segurou com as duas mãos e gemeu só de olhar. Passou a língua na ponta, devagar, e depois começou a chupar como se estivesse faminta. Com vontade, com entrega.
Vi minha esposa engolindo aquele pau todo enquanto me olhava. Sem culpa. Sem hesitação.
Daniel a pegou pelos cabelos, levantou e virou ela de costas. Sem falar nada, encostou-a na beirada da cama, abriu suas pernas e passou a mão entre as coxas. Ela estava molhada. Muito molhada.
— Você tá pronta pra isso? — ele perguntou.
— Tô… me fode.
E ele obedeceu.
Entrou de uma vez, fazendo ela soltar um grito. E eu assisti. De olhos arregalados, respirando ofegante, com a mão dentro da calça, me masturbando sem vergonha. O som da pele batendo na pele, os gemidos dela, o jeito como ela se rendia a cada estocada. Era hipnotizante.
Daniel a virou de frente, deitou-se na cama e puxou Mariana por cima. Ela montou com naturalidade, cavalgando como nunca tinha feito comigo. Jogava o cabelo pra trás, gemia sem pudor, dizia coisas que eu nunca tinha ouvido sair da boca dela:
— Isso… esse pau é perfeito… fode minha buceta como eu mereço…
Ele segurava sua cintura e a ajudava a subir e descer.
Eu gozei sozinho, na poltrona, sem tocar meu pau. Só com a visão da minha mulher sendo possuída por outro. Gozar com dor no peito e tesão no corpo. Era um prazer novo. E vicioso.
Depois que terminaram, Mariana foi ao banheiro. Daniel vestiu a calça, olhou pra mim.
— Ela é incrível.
E saiu.
Fiquei em silêncio, o coração disparado. Ela voltou nua, com as pernas trêmulas. Sentou no meu colo.
— Você ainda me ama?
— Mais do que nunca.
Ela sorriu. Mas havia algo diferente no olhar. E, naquele momento, comecei a entender que, mesmo achando que estava no controle, talvez já fosse tarde demais.
Depois daquela tarde no hotel, tudo mudou. Mariana não era mais a mesma. Nem eu.
Durante dias, ela ficou mais leve, sorridente, quase adolescente. Dormia nua, acordava excitada. Transávamos como nunca. Mas toda vez que ela gemia, eu me perguntava: estava pensando em mim ou nele?
Ela voltou a falar com Daniel no mesmo dia. No começo, mensagens pontuais. Depois, áudios. Vídeos. E então, encontros. O segundo foi mais íntimo. Ela não quis que eu fosse. Disse que precisava se sentir livre.
Eu cedi. Afinal, era esse o jogo, não?
Naquela noite, ela saiu perfumada, com um vestido vermelho colado no corpo, maquiagem perfeita. Como há tempos não se produzia pra mim. Antes de sair, me beijou na testa.
— Não me espera acordado. Vou aproveitar.
Esperei.
Cada minuto foi uma tortura deliciosa. Na minha cabeça, cenas se repetiam: ela se sentando naquele pau grosso, sorrindo, suada, dizendo que era dele. Me masturbei três vezes antes dela voltar.
Quase cinco da manhã. Mariana entrou em silêncio, tirando os saltos, cabelo bagunçado, a maquiagem borrada. Olhou pra mim com um sorriso preguiçoso.
— Foi intenso.
— Ele gozou dentro de você?
— Muito.
Deitou ao meu lado e adormeceu como se nada tivesse acontecido. Eu fiquei acordado, ouvindo a respiração dela, sentindo o cheiro do outro homem na pele da minha mulher. Gozei mais uma vez, em silêncio.
A partir daquele dia, os encontros viraram rotina.
Duas, três vezes por semana. Às vezes com minha presença. Às vezes sem. E Mariana passou a se abrir comigo como nunca.
— Daniel é diferente — dizia, nua na cama depois de uma noite de prazer. — Ele me faz sentir... viva. Sabe o que eu quero, sem eu precisar falar. É como se o corpo dele falasse com o meu.
— E comigo?
Ela sorriu. Passou a mão no meu peito.
— Você é meu porto seguro. Mas com ele... eu flutuo.
Doeu. Mas me excitou. Eu era o marido, o provedor, o cúmplice. Mas ele era o prazer, a perdição. Mariana, agora, vivia entre dois mundos: o lar que construímos juntos e o fogo que Daniel acendeu dentro dela.
Certa noite, assisti os dois transando enquanto eu ficava amarrado a uma cadeira. Ela me vendou antes de começar, mas eu escutava tudo.
O som da língua dele, os gemidos dela, as palavras sujas sussurradas no ouvido dela:
— Você é minha agora, não é?
— Sou tua… toda tua…
Depois que ele foi embora, ela me soltou e me beijou.
— Ainda quer continuar?
— Sim.
Mas menti. Algo começava a mudar dentro de mim. E eu sabia.
As mensagens que Mariana trocava com ele agora tinham apelidos carinhosos. “Meu bem”, “meu homem”, “meu vício”. Ela começou a comparar, mesmo sem perceber.
— Daniel me comeu de lado ontem… nunca pensei que gostasse assim. Você já tentou?
— Não. Mas posso aprender.
E tentei. Mas não era a mesma coisa. Ela sorria, agradecia, me beijava. Mas seu corpo já pertencia a outro.
Nos meses seguintes, Mariana e Daniel passaram a dormir juntos. Não apenas transar. Dormir. Encontros em motéis deram lugar a noites em apartamentos alugados por ele. Comida caseira. Filmes. Pés entrelaçados no sofá. Intimidade.
Um dia, vi uma foto escondida no celular dela. Os dois abraçados. Ela de pijama. Sorrindo como nunca.
— Você tá apaixonada por ele? — perguntei.
Ela hesitou. Pela primeira vez, hesitou.
— Não sei.
— Se precisar escolher…
— Ainda não é hora disso.
Ela me beijou. Chorou. Transou comigo naquela noite como se fosse a última vez. Beijos demorados. Carícias longas. Mas eu sentia. Era uma despedida lenta, silenciosa. Uma despedida disfarçada de rotina.
Na semana seguinte, Mariana sumiu por dois dias. Disse que estava em reunião fora da cidade. Mas eu sabia. Descobri o endereço do flat onde Daniel estava hospedado e fui até lá.
Esperei do outro lado da rua. Vi quando ela saiu no fim da tarde, sorrindo, de mãos dadas com ele. Beijaram-se na calçada. Um beijo lento. Profundo. Apaixonado.
Meu coração bateu como um tambor descontrolado. Eu sabia. Mesmo antes dela confessar, eu sabia.
Voltei pra casa e esperei. Quando Mariana chegou, já de banho tomado, sentou ao meu lado no sofá.
— Will… — ela começou, mas eu levantei a mão.
— Só me responde uma coisa.
— Qual?
— Você ainda é minha?
Ela respirou fundo. Desviou o olhar. Não respondeu.
E aquele silêncio foi o início do fim.
Depois daquela pergunta — “Você ainda é minha?” — o clima entre nós mudou. Mariana não respondeu, e isso já dizia tudo.
Nos dias seguintes, ela se manteve silenciosa. Ausente. Não deixava de dormir em casa, mas chegava tarde, cansada, sem aquele brilho no olhar que um dia foi meu. Trocamos palavras mornas, toques frios. A mulher que costumava me agarrar de surpresa, montar em mim cheia de desejo, agora apenas me beijava de leve antes de dormir.
Uma noite, ela entrou no quarto usando uma lingerie nova — preta, translúcida, com renda nos lugares certos.
— Gosta? — perguntou.
— Sim… é linda.
— Foi o Daniel quem me deu.
Eu engoli seco. Tentei sorrir. Ela subiu na cama e me montou, como fazia antigamente, mas algo estava diferente. Seus movimentos eram para ele. Seus olhos fechados não me viam. Eu era só o corpo, o suporte, o cenário de um filme do qual eu não era mais o protagonista.
Enquanto me cavalgava, gemia baixo:
— Ele… me… ensinou… isso…
Meu pau endurecia mesmo com a dor corroendo meu peito. E eu deixava. Queria que aquela fosse a última lembrança, se tivesse que ser o fim.
Depois que gozou, tombou sobre mim, ofegante. Ficamos assim por alguns minutos. Até que ela falou:
— Will… preciso ser honesta.
Sentei na cama, nu, suado, coração disparado.
— Fala.
— Eu… me apaixonei por ele.
Meus olhos se encheram d’água. Não chorei. Só ouvi.
— E o que isso significa?
— Que estou confusa. Mas quando estou com ele, tudo faz sentido. Me sinto completa, viva, mulher.
— E comigo?
Ela olhou nos meus olhos, com ternura.
— Você foi o melhor homem que eu já tive. Generoso, forte, incrível…, Mas talvez tenha sido generoso demais.
— Quer dizer que… vai me deixar?
Ela hesitou. Depois assentiu, com lágrimas nos olhos.
— Quero tentar algo com ele. Só que não quero te perder.
— Vai ser impossível ter os dois, Mariana.
Silêncio.
Depois daquele dia, ela começou a preparar tudo. Conversamos como adultos. Eu a amava demais pra impedir. Ela passou mais tempo fora, dormiu na casa dele algumas vezes. Até que, numa manhã de domingo, chegou com uma mala.
— Ele me convidou pra morar com ele.
— E você aceitou.
— Sim.
— Então é isso?
Ela chorou. Me abraçou. E depois me beijou com desejo.
— Deixa eu te agradecer… do meu jeito. Pela última vez.
Tirou a roupa devagar. Ficou nua, linda, segura de si. Me despiu também. E me levou até a cama.
A última transa foi lenta, cheia de memórias. Cada gemido era uma despedida. Cada estocada, um adeus.
Ela se deitou por cima de mim, esfregando a boceta molhada no meu pau antes de me engolir por inteiro. Rebolava como quem marca território, me olhando nos olhos.
— Nunca vou esquecer o que você fez por mim.
— E nunca vou esquecer o que perdeu de mim.
Ela gemeu alto, cavalgando forte, suando, sentando até encostar os lábios da buceta na base do meu pau. Depois virou de costas e me pediu:
— Goza fora. Só fora. Não quero mais você dentro de mim.
Obedeci.
Gozei no seu rabo, nas costas, tremendo. Ela se virou, lambeu meus restos, me olhou com ternura e disse:
— Adeus, Will.
E foi embora.
Não bateu a porta. Não gritou. Não fez cena.
Simplesmente… se foi.
Os dias seguintes foram duros. O silêncio da casa gritava. O cheiro dela ainda impregnava os lençóis, os armários, a minha pele. Toda manhã eu acordava esperando vê-la na cozinha, com o café pronto e o sorriso nos lábios. Mas ela não estava mais lá. E não voltaria.
Passei semanas em estado de choque. Bebi. Chorei. Fiquei dias sem tomar banho. O sexo que ela me deu antes de partir era uma tatuagem na alma: quente, intensa e dolorosa.
Mas um dia acordei e percebi que estava vivo. Que ainda havia um mundo fora daquele luto. E que eu era mais do que o homem que ela deixara.
Comecei a treinar. Voltei a correr todas as manhãs. Mudei o corte de cabelo. Vendi o apartamento onde morávamos e comprei uma cobertura nova, maior, mais moderna. Conheci gente nova, viajei. Abri uma nova empresa e ela decolou em poucos meses. O que antes me definia como "marido da Mariana" virou apenas uma lembrança.
Claro que ela me procurou. Várias vezes.
Mandava mensagens curtas, saudosas. “Sonhei com você ontem.” “Lembrei do seu perfume.” “Sinto falta do nosso café na cama.”
Respondi com educação. Mas não com saudade.
Enquanto isso, a relação dela com Daniel, o amante que virou namorado, desmoronava aos poucos. Ele não era o homem que ela imaginava. Possessivo, inseguro, ciumento. Não aceitava que ela fosse desejada por outros. O jogo virou.
Mariana, que antes se sentia livre e viva, agora se via presa em uma relação sufocante. Ele não queria mais dividir, nem brincar com fantasias. Tudo era controle. Tudo era cobrança.
Uma noite, ela me ligou.
— Will, posso ser sincera?
— Pode. Sempre pôde.
— Eu errei. Achei que ele me faria mais feliz do que você. Mas me enganei. Eu perdi o homem da minha vida.
Eu respirei fundo. Senti um aperto, claro. Mas também uma estranha satisfação.
— Mariana, eu também me enganei. Achei que você sempre estaria comigo. Mas a vida me mostrou que o que se perde pode ser substituído.
Silêncio do outro lado.
— Você já tem outra? — ela perguntou.
— Tenho muitas. Mas nenhuma é você. E nenhuma precisa ser.
Ela chorou. Eu ouvi. Mas não me abalei.
Hoje, Mariana continua com Daniel. Em uma relação morna, cheia de brigas e arrependimentos. E eu? Eu sigo em frente. Forte. Renovado. Com cicatrizes, sim. Mas inteiro.
E agora, quando olho pra trás, não vejo uma derrota.
Vejo um renascimento.
E, mais do que tudo, vejo a liberdade de quem sobreviveu ao inferno de amar demais. E saiu de lá pronto para amar melhor — a si mesmo, acima de tudo.
Fim.