Antônio
Surreal ter levado um tiro, Gessika coitado ainda está assustado. Para piorar tudo descobrimos que Alex fez a limpa no caixa da ong, não temos nem para pagar as contas do mês. Luana me disse que Karla enganou o ex, o que esses dois tinham na porra da cabeça? Sério Alex sempre foi tão centrado, não consigo imaginar como então em pouco tempo o cara despirocou assim.
Se bem que não posso falar muito, já tem quase um mês que conheço Rubens e minha vida está completamente mudada. Só que Rubens me fez ser ainda melhor, bem diferente do que aconteceu com Alex. Seu número só dá desligado e não tem muito o que possamos fazer, Gessika está tentando agora conseguir um empréstimo para pagar as contas da ong, só que depois de tudo que rolou e da notícia do Alex ter dado o golpe e fugido a ong vai acabar sendo fechada, não temos o que fazer.
Estou tentando não ficar triste na frente do Rubens — ainda bem que ele tem trabalhado muito esses dias — do jeito que ele é vai querer me ajudar a pagar as contas da ong, mas não posso envolver meu namorado nesse problema. Minha sorte maior foi que Luana conversou com o ex da Karla, ele queria que Gessika e tu pagássemos o prejuízo que tomou com a Karla e o Alex, mas ela o convenceu que fomos vítimas tanto quanto ele, infelizmente essa conversa só aconteceu depois do tiroteio.
A canseira que Rubens me prometeu ontem de fato funcionou, quando acordo ele já está pondo a mesa com nosso café da manhã — voltando ao nosso normal — estou viciado no seu café de rico, mas por que é ele quem faz também, quando faço não fica do mesmo jeito. Ele está cansado, mesmo dormindo esse seu trabalho está pesado, ele foi promovido essa semana então além do trabalho a mais ele tem se dedicado ao máximo para garantir o fim de semana sem nenhum imprevisto, claro que ficar em casa de molho seria mil vezes melhor curtindo ele, porém trabalho é trabalho.
— Por que não me contou que sobre a dívida da ong? — Sou questionado assim que entro na cozinha — Não te falei que estamos juntos nessa?
— Como?
— Gessika me mandou uma mensagem.
— Falei para ela não te contar — não acredito que ela falou com o Rubens sofre isso.
— Ela só tá preocupada assim como você amor, poxa a gente combinou — ele parece chateado, mas não zangado.
— Me perdoa amor, só que você já tem suas coisas, isso é diferente de pensar em ideias é um problema mais material.
— Antônio, seus problemas são meus problemas, isso inclui tudo, a gente namora.
— Você tem razão, é só que não queria que você soubesse que falhei sabe.
— Amor, vem aqui — seu abraço é reconfortante — me conta o que aconteceu.
Agora sem muita escolha abro o jogo com ele e conto sobre a dívida e também sobre o outro assunto que já foi resolvido, não quero correr o risco dele descobrir e ficar puto comigo por ter escondido, no fim a solução proposta com ele foi de rachar a dívida da ong comigo, com sua ajuda conseguimos pagar as contas e depois encerrar as atividades de vez.
Depois do café ficou encarregado da louça e ele vai pra labuta, aproveito para ligar pra Gessika e contar sobre nossa descrição, ela até pede desculpas por ter contado para ele, mas no fim foi bom. Para não se sentir tão culpada ela fez questão também de rachar com a gente, pois pra três fica bem mais fácil e assim o trabalho que mais me trouxe realizações pessoais simplesmente acabou.
Meu trabalho na clínica imposta, sem mim muitos animais teriam morrido antes de conseguir chegar em outra cidade, que tivesse um cirurgião, só que na ong eu sentia que a faculdade tinha valido a pena, agora sem ela sinto que vou seguir com um vazio nas minhas ocupações. Só espero que Alex tenha tido realmente um excelente motivo para fazer o que fez, porque depois disso não quero mais vê-lo nem pintado de ouro na minha frente.
Não sei se você já tomou um tiro de raspão, mas olha não recomendo, sério que dor do caralho que foi, imagino se tivesse levado um tiro propriamente dito, não quero nem pensar se essa merda tivesse me acertado no braço e por isso eu ficasse sem poder operar, seria o fim da minha carreira e de uma parte significativa da minha vida. No final mais vale essa dorzinha chata da ferida do que perder meu ofício.
Mas até que ver o Rubens todo preocupado comigo, sem se importar que descubram que estamos juntos, isso valeu a pena levar esse tiro, só em saber o quanto ele se importa comigo me deixa tão eufórico que não sei explicar e ontem quando me pediu para aprender a dirigir só por minha causa, nossa parecia que tinha fogos de artifício no meu peito. Meu namorado odeia dirigir mas quer aprender mesmo assim só para dirigir pra mim, eu sei que ele se refere ao uma emergência como foi quando sai do hospital, mesmo assim porra ele vai dirigir o Fuscão.
Ninguém dirigiu o Fuscão desde que comprei ele além de mim — nunca deixei também. Meu Fuscão Preto é meu amor, meu tesouro, só de pensar o Rubens dirigindo ele me dá um tesão sei lá, coisa de maluco eu sei, só que o Fuscão é mais do que um carro pra mim, tipo vê meu filho se dando bem com meu namorado, bizarro, mas empolgante também.
Hoje estou me sentindo bem melhor então na hora do almoço Rubens e eu vamos comer na casa da tia Marli, por esta preocupada comigo até se ofereceu para trazer nosso almoço, mas preciso sair de casa nem que seja pra ir duas casas depois da nossa pra almoçar. A comida da tia está uma delícia, e estou feliz por poder almoçar com meu namorado pela primeira vez essa semana.
— Você já tem que voltar? — Pergunto assim que entramos em casa.
— Pior que sim, mas posso passar uns dez minutinhos com você antes.
— Queria mais, só que não vou reclamar dez minutos é melhor que minuto nenhum né? — Ele abre um sorriso lindo e me beija.
Rubens deita comigo para curtimos nossos dez minutos juntos, no fundo sei que ele não tem dez minutos, por isso fico mais feliz ainda, ele está se esforçando tanto para que fiquemos de boas, por um lado é uma coisa fofa da sua parte. Por outro lado me pergunto o quanto forte é esse medo que ele tem que eu venha a brigar com ele por causa do seu trabalho.
— Amor, eu quero que você saiba que te admiro muito por chegar onde você chegou com seu trabalho e que mais do que ninguém eu entendo que às vezes você tem que se dedicar um pouco mais — quero que se sinta em paz sobre isso, fica longe dele é chato, porém quero que ele fique ciente que vou estar aqui quando ele desconectar do trabalho.
— Eu sei, é que não consigo não trabalhar, mas estou tentando ter mais tempo pra você — não gosto de vê-lo assim se cobrando tanto.
— Amor se não fosse você eu já teria voltado pro trabalho no momento em que sai do hospital, de verdade eu entendo e está tudo bem, não precisa se esforçar tanto pra me mostrar o que eu já sei.
— O que você sabe? — Rubens parece meio emocionado.
— Que depois de um dia cansativo de trabalho é no meu peito que você vai repousar.
Devo ter dito a coisa certa, pois ganhei um beijo muito gostoso como resposta. Passado os dez minutos de chamego levo ele até a porta do escritório como quem leva o namorado ao trabalho. Ele me beija mais uma vez e então volta ao serviço, não tem muita coisa que eu possa fazer para passar o tempo então vou trabalhar também — da forma que é possível — pego o resto da tarde pra estudar e pôr a leitura acadêmica em dia. Como cirurgião veterinário preciso estar sempre bem informado do que tem sido feito na minha área ultimamente, e com o tanto de trabalho que estou tendo não ando com muito tempo para isso.
Meu namorado parece finalmente ter relaxado e deixado de se culpar por está trabalhando muito já que além de ter saído mais cedo hoje está com um humor maravilhoso. Ele disse que os astros resolveram ajudar e que quase não teve problemas pra resolver hoje.
— Estou delegando mais agora, afinal não faz sentido ter um equipe se eu é quem vou fazer tudo e quem diria que é mais fácil só fiscalizar do que fazer.
— Então você fica com o mais complicado e deixa os serviços rotineiros prós seus subordinados?
— Você já me conhece bem assim — ele rir — mas é tipo isso, tem muita coisa que eles podem fazer e que facilita muito meu trabalho, assim eu dou prazos e foco em outras coisas, depois só confirmar se está tudo em ordem antes de encerrar o expediente.
— Muito bem senhor Domingos, está aprendendo a ser chefe — na minha posição também acabo dando ordens na clínica, meu doutorado não é à toa.
— Li que ser chefe é confiar na sua equipe, se eles estão ali é porque em tese são totalmente capazes de realizar suas funções, então delegar é meio que confiar e ter sabedoria de dar o trabalho certo a pessoa certa e para minha sorte conhece bem meus colegas, já trabalho com eles tem um tempo — Rubens está todo orgulhoso de si.
— Muito bem amor é isso aí — beijo meu namorado para mostrar o quanto estou feliz por ele — mas e aí amor, o que você quer jantar hoje?
— Queria uma pizza pra comemorar, mas acho que eles não entregam aqui né?
— A gente pode ir comprar.
— Amor não quero que você se esforce dirigindo, você ainda está de atestado, lembra? — Todo cuidadoso comigo.
— Não vai ser trabalho nenhum dirigir e tô com saudades do Fuscão já até.
— Tá, mas a gente comprar e volta pra casa e se você sentir qualquer dorzinha você vai ficar longe do Fuscão até ficar totalmente curado.
— Sim senhor, no caminho posso ir te ensinado algumas coisas sobre o carro também.
— É verdade, boa ideia.
Não vou me tirar doeu um pouco afinal o Fuscão é meio duro, mas para minha sorte ele não percebeu — disfarcei bem — e também ver um sorriso no rosto do Rubens vale o sacrifício, ele tá todo animado me contando sobre sua equipe e também quando seus chefes têm elogiado seu trabalho desde o começo da semana. Ele se empolga tanto que fala alemão em alguns momentos quando diz o que ouviu dos seus chefes.
— Seu alemão é muito bom pra quem diz que não é fluente — digo.
— Tá não vou ser hipócrita, mas é porque todos os teus chefes falam ou alemão ou inglês, então imagina você passar o dia todo ouvindo só esses dois idiomas — ele tem um ponto.
Não entendo nada de alemão quando ele está falando, mas amo ouvir sua voz nesse idioma tão diferente, Rubens parece ainda mais inteligente. Outra coisa que estou notando hoje é que está falando mais do trabalho, como ele mesmo disse o fato de trabalhar muito sempre foi um problema para todos ao seu redor. Só que não é um problema para mim.
— Desculpa, só tô falando de trabalho, vou parar.
— Ei eu gosto, adoro o que faço e amo que você seja que nem eu, posso ouvir você falando apaixonado de qualquer coisa por horas — hoje estou me superando, pois tudo que falo sou retribuído com um beijo muito gostoso do meu namorado.
— Mudando um pouco de assunto temos que falar sobre Fortaleza, primeiro que vamos viajar de ônibus né? Não tem condições de irmos de Fuscão ainda mais com você desse jeito.
— Amor a gente consegue cruzar o Brasil inteiro de Fuscão — ele subestima as capacidades do meu bixim.
— Eu sei, mas vou me sentir melhor se você não se esforçar tanto dirigindo por muitas horas e no calor.
— Tá, só porque você fica lindo quando se preocupa comigo — agora nem espero ele vir me beijar, eu é quem vou atrás da sua boca.
— E lá ninguém pode saber da gente, então não vamos dormir juntos, provavelmente o Ben vai querer que você fique até na casa dele e eu vou pra casa — isso não gostei, entendo não podermos falar nada pra sua família, mas não dormir com meu namorado vai ser difícil.
— Amor, podemos ficar em um hotel?
— Não dá amor, eles vão achar estranho, olha só vai ser por um fim de semana e prometo que compenso você quando voltarmos para casa.
— Tá bom — não quero ficar emburrado, mas está difícil fingir que isso não me deixa frustrado — O que for melhor pra você meu amor.
— Antônio desculpa — droga ele agora vai se sentir culpado — é que não consigo contar a eles.
— Tudo bem, só estou triste por não poder dormir com você, mas vamos ficar bem, vai dar tudo certo — tento animá-lo, porém o bom humor dele desapareceu totalmente.
Rubens está no armário a tanto tempo que não tem mais coragem de sair. Tipo não parei para pensar muito no que as pessoas diriam sobre mim, mas me entristece que ele não veja o quanto as pessoas o amam e que isso não mudaria a forma como o enxergam. Por outro lado essa situação está longe de ser simples, conheço dona Teresa ela certamente não vai vibrar de felicidade por ter um neto gay, mas o seu Lúcio tem tanto amor naquele coração que nunca viraria as costas.
Júlia já sabe e aceita, o Ben por ser militar até entendo que possa impor um certo receio para ele, porém Rubens é a pessoa que o Benjamim mais ama no mundo, por diversas vezes o ouvido falar do quanto tem orgulho do irmão por ter um bom emprego, por ser um cara de boa índole, tendo tudo isso em vista duvido muito que meu melhor amigo discriminaria alguém ainda mais o próprio irmão. Tia Marli é louca por ele, essa nem conta, a única pessoa que não conheço é minha sogra, essa realmente não tenho como defender, ela é evangélica e muito conservadora até onde sei.
— Está chateado comigo, né? — Rubens está inseguro, odeio vê-lo assim.
— Não meu amor, não estou — puxo ele pros meus braços — olha só quero estar com você pelo tempo que temos, nada mais importa, você me faz feliz de uma forma que nem sabia que era possível Rubens.
— Você também Antônio, antes de ficar com você minha vida está escura e sem muitas razões para sorrir — ele é o homem mais lindo e doce que já conheci, Rubens é incrível de tantas formas que até seus defeitos são motivos para querer estar com ele.
— O importante é que nós fazemos felizes certo, e nada vai mudar isso, posso passar um fim de semana sem o calor do seu corpo, mas saiba que depois disso vou estar com muita fome de você — já estou matando a saudades beijando seu pescoço e sua boca carnuda e gostosa.
— Prometo que depois desse fim de semana vou ser todo seu de novo para realizar qualquer desejo seu — Rubens falou as palavras mágicas, minha cabeça já tem mil ideias do que quero fazer com ele.
Aos poucos consegui salvar nossa noite, não transamos, mas só em dormir agarradinho já é uma noite perfeita pra mim, Rubens tem tantas feridas, nem imagino o quão cansativo foi pra ele guardar esse segredo por todos esses anos, isso até destruiu a relação com seu irmão. Eu quero cuidar dele, mostrar o quanto sua força é admirável, meu namorado é inteligente, bonito, trabalhador e ainda tem um coração gigante. Rubens infelizmente tem um receio de machucar as pessoas que acaba o limitando muito, é como um passarinho raro preso em uma gaiola.
Acordei e o ânimo do Rubens parece melhor, ele está animado em poder viajar, deve está sentindo falta da mãe dele e dos irmãos, quero que essa viagem seja perfeita para ele então por mais que dormir sem ele ou ter que fingir que não estando juntos o fim de semana todo vá ser uma tarefa difícil, vou fazer isso por ele, meu namorado merece um fim de semana tranquilo depois do susto que dei nele com a história do tiro.
— Bom dia meu amor — estou adorando que minhas manhãs estão começando com café e beijo.
— Bom dia amor, olha sobre ontem.
— Já estamos resolvidos amor, vai ser bom pra dar um pouco de saudades.
— Tem certeza — Rubens é muito inseguro com esse lance de guardar seu segredo.
— Tenho sim, mas não me responsabilizo pelo sexo que vamos fazer no ônibus voltando pra casa — brinco para mostrar até estou bem de verdade com essa história.
— Tava pensando já que você não está trabalhando essa semana, podemos ir amanhã a noite, assim chegamos lá sábado de manhã, e voltamos no domingo de madrugada para esta aqui segunda de manhã, o que acha?
— Por mim tudo bem, o que você decidir a gente faz — beijo ele de novo, afinal vou passar um tempo sem poder, melhor aproveitar.
— Ótimo, tem um ônibus saindo daqui às 23:03, são quase seis horas de viagem, vamos chegar lá sábado às cinco da manhã — ele é muito metódico, tudo que faz é calculado, gosto de ser a única variável de sua vida — tem só mais uma coisa, você pode ligar pro Ben avisando que a gente vai pro aniversário dele?
— Posso, mas por que você mesmo não avisa amor?
— Melhor você — quero ajudar ele a se reconectar com o irmão, mas não vai ser forçando que as coisas vão dar certo, então por hora pela falta de uma ideia melhor, vou fazer o que me pede.
— Tá bom, vou ligar para ele agora então para avisar, pode deixar a louca por minha conta hoje.
— Obrigado amor, vou indo, tenho uma reunião daqui a pouco.
— Não é nem sete e meia ainda, seus chefes não dormem não?
— Amor Berlin está a cinco horas a mais de diferença, aqui é sete e meia, lá já é meio dia — tinha esquecido desse detalhe.
— Ainda tem que eles não te pedem para entrar de madrugada então — digo agradecendo a Deus por isso — agora entendo porque você trabalha tanto de madrugada.
— Pois, já pensou, te amo, fala com o Ben.
— Também te amo, bom trabalho — levo ele até a porta do escritório para manter o costume de deixá-lo no trabalho, damos um beijo de despedida, depois volto pra cozinha pra falar com Ben.
Lavo primeiro a louça e deixo tudo em ordem, para só depois ligar para o meu amigo, está muito cedo, não quero correr o risco de acordá-lo. Antes de ligar mando mensagem só pra garantir que ele pode atender, se tiver de serviço vou ter que ligar outro hora, mas para minha sorte Ben diz que posso ligar.
— Opa, bom dia irmão — ele parece está com um humor péssimo, mas tá tentando disfarçar.
— Bom dia, você tá de serviço?
— Estou no quartel, mas pode falar.
— Cara liguei para dizer que vamos passar seu aniversário com você — ele fica mudo por uns segundos então continuo — foi ideia do Rubens.
— Ele quer vir?
— Foi o próprio quem deu a ideia já fez o nosso plano de viagem todo, vamos de ônibus — mesmo não vendo ele, posso jurar que tem um sorriso no rosto dele agora — é para chegarmos às cinco no sábado, e voltamos na madrugada do domingo pra segunda.
— Eu busco vocês na rodoviária — sua animação parece mais verdadeira — mas me diz, tá falando sério, a ideia foi mesmo do Rubens?
— Claro que foi irmão, ele disse que nunca passou um aniversário longe.
— É verdade, a gente sempre se junta nos nossos aniversários — esses dois precisam conversar, é incrível como só eles não percebem o quanto estão sofrendo com esse afastamento.
— Queríamos passar mais tempo, mas temos que trabalhar na segunda.
— Relaxa, só em ter vocês aqui já vai ser bom, ainda mais agora — sua respiração é de alguém cansado, só que não fisicamente.
— O que aconteceu irmão?
— Vanessa saiu de casa, falei para ela que queria terminar, foi feio irmão — Ben tinha comentando que estava pensando em terminar, só não pensei que ele iria seguir em diante com essa ideia — falei para ela ficar com o apartamento, mas só piorou a briga, ela me xingou, enfim foi feio.
— Mas e aí como você está?
— Mal, só que não dava para seguir adiante, não era mais a mesma coisa — ele respira mais uma vez — tínhamos uma relação estável então ela tem direitos, quero garantir que não lhe falte nada, só que ela é muito orgulhosa irmão, falou que não quer o apartamento e nem nada que venha de mim.
— Espera irmão, ela vai esfriar a cabeça e vocês iram resolver — como amigo tudo que posso fazer é prestar apoio e tentar consolar ele.
— A única coisa a ser resolvido é a separação, não posso mais continuar com isso Antônio, ela merece mais — Ben e Rubens são mais parecidos do que pensam.
— Poxa mano, sinto muito, de certa forma é bom que estejamos indo esse fim de semana né, acho que você está precisando descansar um pouco e curtir seu aniversário com pessoas que te amam.
— Vou dizer gostei de saber que vocês vão vir, mas ainda por saber que o Rubens quis vir por conta própria, só isso já deu uma melhorada na minha semana.
— Eu te falei Ben o Rubens te ama cara, quem sabe esse fim de semana vocês dois podem acabar se aproximando — tô tentando ser otimista.
— Seria bom, Antônio preciso ir aqui, obrigado por avisar que estão vindo, podemos sair pra comemorar no sábado e fazer o jantar em família no domingo antes de vocês voltarem.
— Perfeito irmão, a gente se vê no sábado então.
Já tem um tempo que não vejo o Ben pessoalmente, embora a gente fale muito por telefone como moramos longe nem sempre dá pra se encontrar. Não consigo parar de pensar em qual seria sua reação ao saber que estou namorando seu irmão, me sinto mal por não poder dividir isso com meu melhor amigo. Meu relacionamento com Rubens é diferente de tudo que já tive, fico muito curioso para saber o que o Ben diria por esta apaixonado por um cara, mas entendo os receios do meu namorado e como prometi guardar nosso segredo, só me resta imaginar mesmo como meu melhor amigo reagiria a essa minha nova realidade.
Grudei no Rubens o máximo que consegui até a hora de viajarmos, quis aproveitar o tanto que deu, mas a sensação que tive foi que a quinta e a sexta passaram voando e agora já estamos aqui no carro da Gessika indo pra rodoviária — Rubens pediu para ela nos dar essa carona.
Convidamos ela para vir junto, acho que Ben e ela se dariam muito bem, só que infelizmente minha amiga ainda tem muito trabalho a fazer tanto pendências da ong quanto do seu outro trabalho, de qualquer forma outras oportunidades vão acabar surgindo. Quando Rubens se mudar para Fortaleza acho que vou acabar indo visitar ele, caso ele aceite também né, foi a forma que pensei de não me desvincular dele por completo, agora que faz parte da minha vida, está difícil pensar em uma sem ele.
Rubens pegou os assentos da frente para gente, infelizmente não tem leito indo para Fortaleza então estamos indo de executivo mesmo, a vantagem desse assento é que não tem ninguém na nossa frente e assim dois caras grandes conseguem viajar de forma confortável. Meu namorado está um pouco nervoso, mas está bancando o durão, estou feliz de vê-lo assim animado para encontrar com os irmãos.
— Amor nosso sigilo começa quando descermos no ônibus, né? — Pergunto como minha boca está bem próxima da sua.
— Uhum — ele responde com um sussurro, o ônibus está escuro e bastou sair da rodoviária para as pessoas começarem a se ajeitar para dormir.
— Então ainda posso te beijar aqui?
— Pode — nossa que delícia, quem diria que a história do proibido é mais gostosa, fosse tão verdade assim, ainda bem que essa viagem dura umas seis horas, pois vou ter seis horas de chamego no escurinho com ele.