Desejos Proibidos - Capítulo 18 - Cicatrizes do Passado

Um conto erótico de Sônia
Categoria: Heterossexual
Contém 5398 palavras
Data: 05/05/2025 14:09:35

Meu café estava frio na xícara, o gosto amargo grudado na língua, enquanto eu olhava para o vazio na cozinha, o coração pesado como uma pedra. Aos quase 50 anos, as rugas no meu rosto contam histórias que eu preferia apagar, e a culpa de ser mãe é um peso que não explica.

Larissa estava trancada no quarto, eu ouvia seu choro e isso corta meu coração, desde que voltou do aniversário do Gabriel, ela anda diferente, toda quebrada, como se tivesse perdido a alma.

Naquele final de semana Léo chegou com o nariz roxo, falando de uma briga no barzinho, os olhos cheios de raiva.

— O que aconteceu, meu Deus? — pensei, esfregando as mãos, nervosa.

Diferente de Léo, Larissa só apareceu no dia seguinte, calada, os olhos inchados, carregando um peso que eu não entendia mas achava que entendia.

Eu vi o mesmo brilho nos olhos do Gabriel, da Grazi, da Mari, aquele fogo que eu e Nádia tivemos um dia, um amor que não explica, mas consome.

Meus filhos, porém, tão despedaçados, e eu, que devia protegê-los, não consegui.

— Falhei com eles, Nossa Senhora — pensei, o peito apertado.

Minha casa cheirava a pão de queijo quentinho no forno, o rádio tocando músicas velhas, daquelas que me levam pros anos 90, quando a vida parecia mais simples, mas só parecia. A ligação com Nádia, dias atrás, não saía da cabeça.

— Não sei como falar disso, Sônia. Você sempre foi melhor — disse ela, a voz tremendo pelo telefone.

— Ela tá com medo, como eu — pensei.

Preciso lembrar como tudo começou, entender onde errei, para salvar Larissa e impedir que o passado engula o presente.

Eu acredito que o trio do Gabriel, Grazi e Mari, está preso no mesmo caminho que a gente, um amor que o mundo não aceita, e eu não posso deixar eles se perderem. E meus filhos estão perdidos em um mundo que não sei o que está acontecendo.

— Não vou deixar, juro — pensei, decidida.

Sentei-me na cadeira, o cheiro de café coado enchendo o ar, o som do rádio misturado com o barulho da rua. Minha mente voltou para os dias em que eu ainda tinha esperança, antes do Ricardo me prender numa gaiola que eu mesma ajudei a construir, antes de tudo virar essa bagunça que é minha vida hoje.

***

Era meados dos anos 80, eu com 10, 11 anos, Nádia com 9, 10. Meias-irmãs, eu do primeiro casamento do meu pai, ela do segundo. Morávamos numa casa simples, no interior de Minas, acho que Uberlândia, com quintal de terra vermelha, galinhas ciscando, e uma mangueira que dava sombra. O cheiro de café coado, pão de queijo fresquinho, e sabão em pó pairava no ar. Meus pais eram duros, para dizer o mínimo. Minha madrasta me odiava por não ser filha dela.

— Você é a filha errada, Sônia — dizia ela, o olhar frio, esfregando na cara que minha mãe, que nunca conheci, largou meu pai e foi pra Europa.

Meu pai, magoado com o abandono da ex-esposa, descontava em mim, como se eu fosse a culpa de tudo.

— Você é a desgraça da família, sua vagabunda! — gritava ele, o rosto vermelho, quando eu corria no quintal ou ria alto.

Eu levava bronca por qualquer coisa: sujar o vestido, responder torto. Às vezes, o cinto da minha madrasta vinha, ardendo nas pernas, deixando marcas que eu escondia com calça. Nádia, mais nova, tentava me defender.

— Para, mãe, ela não fez nada! — dizia, os olhos cheios d’água.

Mas acabava levando um beliscão ou uma bronca, às vezes um tapa. Nós éramos tudo uma para outra.

No quintal, brincávamos de “mamãe e mamãe”, rindo, cuidando de bonecas de pano, nossas vozes misturadas com o canto dos animais ali perto.

— Você é a melhor mamãe, Sônia — dizia Nádia, sorrindo, me entregando a boneca.

— E você é a minha favorita — respondia, bagunçando o cabelo dela.

Ela dividia comigo o pão de queijo que sobrava, mesmo quando nossa mãe dizia que eu não merecia.

— Ela sempre foi meu anjo — pensei, o coração quente com a lembrança.

À noite, no quartinho que dividíamos, com paredes descascadas e um colchão fino, a gente cochichava, o rádio AM tocando modão sertanejo ou uma radio-novela, o som abafado para não acordar ninguém. Ela me abraçava, o cheiro de lavanda do cabelo dela me acalmando.

— Um dia, a gente vai morar juntas, só nós duas — sussurrava Nádia, os olhos brilhando na penumbra.

— Prometo, Nádia — respondia, apertando a mão dela.

***

Quando chegamos à fase adulta, eu com 18, quase 19 e Nádia com 18, a vida ficou mais pesada. Eu trabalhava na feira desde os 13, vendendo hortaliças, o sol queimando a pele, enquanto Nádia ajudava em casa, sempre sob o olho cruel de nossa mãe. Os abusos pioraram. Uma vez, por usar uma saia mais curta, que estava abaixo do joelho, levei uma surra do cinto, o couro estalando.

— Caralho, você é rapariga igual sua mãe! — berrou meu pai, o cinto marcando minhas pernas.

Nádia chorou, tentando me puxar.

— Para, pai, por favor! — gritou, mas levou um tapa que deixou a bochecha vermelha.

— Como doía ver ela sofrer — pensei, a memória ainda ardendo.

Nosso amor, que começou como brincadeira de criança, virou algo mais forte, mais perigoso, mas também mais bonito. Cresceu aos poucos, escondido, como uma planta que nasce na sombra. À noite, no quartinho, com o rádio tocando baixo, a gente se abraçava. Uma noite, depois da surra por causa da saia, deitei do lado dela, o corpo doendo, as pernas marcadas. O ventilador estava quebrado, o suor escorria pelo pescoço.

— Sônia, você não merece isso — sussurrou Nádia, a mão no meu rosto, limpando uma lágrima.

— Quero sumir, Nádia — respondi, minha voz tremendo, me aconchegando mais.

Ela me beijou, os lábios macios, com um leve gosto de hortelã. Meu coração disparou, tesão e medo misturados, como se o céu fosse desabar.

— Te amo, Nádia — sussurrei, as mãos trêmulas subindo para o peito dela, o pijama velho marcando os bicos duros.

Ela gemeu baixo, puxando minha cintura, o calor do corpo dela me queimando.

— A gente não pode, Sônia. Se descobrirem, nos matam — disse ela, ofegante, mas a língua voltou para minha boca.

Desci a mão, a calcinha dela úmida, o clitóris pulsando sob meus dedos. Ela abriu as pernas, meus dedos deslizando, o som molhado abafado pelo travesseiro onde ela mordia para não gritar. Chupei o pescoço dela, o gosto salgado do suor, enquanto ela gozava, o corpo tremendo contra o meu. Gozei logo depois, nossas coxas coladas, o colchão rangendo, o rádio cobrindo nossos gemidos. Descobríamos o prazer juntas ali naquele momento.

— Te amo, Sônia. Sempre vou te amar — murmurou Nádia, abraçando-me, o cheiro de lavanda me envolvendo.

— Ninguém pode tirar isso da gente — pensei, o coração cheio.

Não era só tesão. Era amor, do tipo que faz o mundo parar. Durante meses, nos encontrávamos em segredo. Na feira, dividíamos um pão com mortadela, rindo, os olhares dizendo mais que as palavras.

— Você já provou o suco de caju da dona Maria? — perguntou Nádia, me entregando um copo, o sorriso iluminando o rosto.

— Com você experimento o mundo! — respondi, piscando, o coração leve.

Uma tarde, escapamos para uma casa abandonada perto do rio, o telhado furado, o chão de terra. O cheiro de mato entrava pelas janelas quebradas, o sol batendo na pele. Nádia tirou o vestido, a calcinha branca marcando o corpo.

— Vem cá, Sônia — disse, me puxando para o chão, os olhos brilhando.

Beijei os peitos dela, os bicos duros na minha língua, enquanto ela gemia, as mãos no meu cabelo. Era a primeira vez que íamos mais longe do que apenas beijos e mãos. Minha boca desceu, chupando o clitóris dela, o gosto doce e salgado me levando para o céu. Ela gozou, gritando baixo, as coxas tremendo.

— Meu Deus, Sô, você me deixa louca — sussurrou, puxando-me para um beijo.

Gozei esfregando minha buceta na coxa dela, o calor nos unindo, o mundo lá fora esquecido.

— Ninguém pode tirar isso da gente — pensei, deitando-me no peito dela com o som do rio ao fundo.

Nosso erro foi o descuido. Uma tarde, fugimos para um milharal próximo de casa, o sol baixo, as folhas verdes balançando. Achamos que ninguém nos encontraria. Deitamos dentro de um pequeno celeiro, na terra, o cheiro de milho e poeira no ar. Nádia levantou minha saia, a língua na minha buceta, o prazer me fazendo gemer alto.

— Te amo, Ná! — gemi, as mãos puxando o cabelo dela, o corpo arqueando.

— Também te amo, Sô! — sussurrou ela, chupando mais forte.

Não vimos o vizinho, seu Zé, passando com a bicicleta. Ele parou, olhos arregalados, e correu contar para o meu pai. Descobrimos isso à noite, a porta do nosso quarto abriu com um estrondo. Meu pai me arrastou pelo cabelo, me jogando no quintal, o cinto estalando nas costas.

— Caralho, sua prostituta, você corrompendo a Nádia! Vadia igual tua mãe! — berrou, cada golpe queimando, o sangue escorrendo.

Minha madrasta cuspia na minha cara.

— Nojenta, sem-vergonha, puta, rampeira, olha o que você fez com a minha filha! — gritou, o rosto contorcido.

Nádia chorava, tentando me proteger.

— Para, pai, por favor! Não é culpa dela! — gritou, mas levou um tapa que a jogou no chão, o rosto inchado.

— Por que não fomos mais cuidadosas? — pensei, o desespero me sufocando.

Se Nádia não tivesse entrado na frente do pai, eu acho que ele teria me matado ali. Fui expulsa de casa apenas com uma mochila, tinha pouco dinheiro guardado pois ajudava com as coisas de casa.

— Te encontro, Sônia. Juro por Deus — disse Nádia, me abraçando na estrada, o vento quente levantando poeira.

— Vou esperar, Nádia — respondi, a voz quebrada, caminhando pro nada.

***

Aos 19, eu morava sozinha num quarto alugado no fundo de uma casa de idosos, o cheiro de gordura da lanchonete onde trabalhava grudado na roupa. Servia café, limpava mesas, o corpo cansado, a cabeça na Nádia. Nádia estava namorando Jorge e me apresentou o seu irmão. Conheci Ricardo num bar. Ele era alto, barba feita, sorriso torto, ele me puxou pra dançar, a mão firme na cintura, cheiro de cigarro e cerveja.

— Você é diferente, moça. Quero te levar pro mundo — disse, beijando meu pescoço, a voz mansa.

— Você acha mesmo? — perguntei, rindo, o coração leve pela primeira vez em meses.

Caí de amores, cega, achando que era salvação. Transava com ele em qualquer canto, no carro, no banheiro do bar, o tesão me dominando. Nos casamos em menos de 6 meses e fomos morar juntos. Mas ele mudou rápido. Ficou possessivo.

— Você é minha, Sônia. Sem mim, você é nada — dizia, o olhar duro, me fazendo sentir pequena.

— Por que não vi o monstro? — pensei, anos depois, com raiva de mim mesma.

Fiquei grávida dos gêmeos, Larissa e Léo, depois de uma noite, ele bêbado, eu exausta, sem gozar como frequentemente acontecia. Tentei largar ele.

— Não posso ficar, Ricardo — falei, a voz tremendo, juntando minhas coisas.

— Vai abandonar teus filhos? Igual tua mãe fez contigo? — disse ele, a voz fria, cortando como faca.

Fiquei por medo, por culpa, e por Nádia. Ela casou com Jorge, mas me visitava, nosso amor escondido em olhares, toques roubados na cozinha enquanto fazíamos café.

— Como você tá, Sônia? — perguntava Nádia, os olhos castanhos cheios de saudade.

— Sobrevivendo — respondia, apertando a mão dela, o coração acelerado.

Mesmo sem nunca termos falado nada diretamente, de algum jeito Ricardo sabia, usava contra mim.

— Se me deixar, conto para o teu pai de você e tua irmã. Ele te mata — ameaçava, sabendo que meu pai, mesmo velho, seria capaz de mandar me matar.

Ricardo era obcecado por putaria. Comprava revistas pornô, outras mais pesadas, com fotos explícitas, e deixava espalhadas pela casa, mesmo com Larissa e Léo pequenos.

— Meu Deus, as crianças vão ver — pensei, correndo para esconder as revistas debaixo do sofá, no armário, com vergonha e raiva.

Larissa, com 6 anos, pegou uma, apontando para uma mulher nua.

— Mamãe, é você? — perguntou, os olhinhos confusos.

— Não, filha, é coisa de adulto — respondi, guardando a revista, o coração partido.

Ricardo ria.

— Criança não liga, Sônia. Para de drama — dizia, acendendo um cigarro.

Ele forçava eu me depilar toda, como as mulheres das revistas, mesmo eu odiando o ardor da gilete.

— Fica lisinha, Sônia. É assim que homem gosta — dizia, me entregando a lâmina.

Uma noite, com as crianças dormindo, ele chegou bêbado, cheiro de uísque e cigarro.

— Quero teu rabo, Sônia. Vou te foder igual as atrizes pornô e prostitutas, coisa que você é. — grunhiu, arrancando minha roupa, me jogando no sofá. Sem se preocupar se os filhos estavam dormindo ou acordados.

— Não, Ricardo, por favor — pedi, o corpo tenso.

— Não queria, meu Deus — pensei, os olhos marejados.

Ele cuspiu na mão, lubrificando, e meteu com força no meu cu, a dor me rasgando. Mordi o braço para não gritar, lágrimas escorrendo.

— Vagabunda, prostituta, você gosta disso que eu sei. — ele ria, segurando meus pulsos, o corpo pesado contra o meu.

Gozou rápido, me deixou tremendo, o corpo doendo, a alma vazia. Outra vez, mandou eu posar como as atrizes.

— Deita, Sônia, abre as pernas, toca a buceta — ordenou, se masturbando, os olhos brilhando.

— Isso, igual a revista — dizia, rindo.

Obedecia, morta por dentro, pensando nos filhos no quarto ao lado.

— Por que não reagi? — pensei, a culpa me sufocando.

Eu limpava a casa, cozinhava, cuidava dos gêmeos, enquanto Ricardo saía, voltava tarde, cheirando a cerveja. Larissa e Léo eram minha luz, correndo pelo quintal, rindo, mas eu via o peso da casa neles.

— Mamãe, por que o papai não brinca com a gente? — perguntava Larissa, os olhinhos tristes.

— Ele está ocupado, filha — mentia, fazendo pão de queijo pra ela.

Léo, mais quieto, imitava o jeito duro do Ricardo.

— Falhei com eles desde pequenos — pensei, o coração apertado.

Eu comecei a trabalhar em uma loja de roupas de grife, servindo café, limpando a loja, bajulando as clientes, enquanto pensava em Nádia, nos gêmeos, em como escapar. Larissa desenhava flores com giz de cera, Léo corria atrás das galinhas, mas os olhinhos deles eram tristes, como se soubessem que a casa não era segura.

***

No final dos anos 2000, nos mudamos para a capital devido a uma proposta de trabalho que Ricardo recebeu. Logo Nádia e Jorge também receberam propostas melhores de emprego e se mudaram também para um bairro próximo. Ricardo ficou pior com o mundo da putaria e jogou a ideia dos swings para gente.

Ricardo via filmes de surubas de carnaval e acreditava que o mundo deveria ser assim.

— Para apimentar o casamento, Sônia. Jorge topa, já falei com ele. — disse, com aquele sorriso frio que me dava calafrios.

— Não sei, Ricardo. Isso não é para mim — respondi, o estômago revirando.

— Para de frescura, Sônia. Vai ser bom para nós — insistiu, o tom duro.

O casamento de Jorge e Nádia estava esfriando, o meu era uma prisão. Relutei, Nádia também.

— Sônia, você acha isso certo? — perguntou ela, os olhos preocupados, enquanto fazíamos café.

— Não, mas o Ricardo não desiste — respondi, apertando a mão dela.

Cedemos, carregando a culpa. A primeira troca de casal foi num acampamento, com uísque barato, cigarro no ar, fogueira crepitando. O cheiro de mato e álcool enchia o ar, o som de pagode vindo de um rádio portátil. Eu e Nádia não queríamos, mas não nos resistimos, nos beijávamos como fazíamos anos atrás. Logo Jorge me pegou com cuidado, as mãos firmes na cintura, o pau duro entrando lento, o suor dele misturado com o meu.

— Você tá bem, Sônia? — perguntou Jorge, a voz suave, os olhos tristes.

— Tô tentando — respondi, forçando um sorriso.

— Queria Nádia, não isso — pensei, o coração apertado.

Meus olhos estavam nela, com Ricardo, o gemido dela forçado, o rosto tenso. Ricardo me pegou depois, violento, puxando meu cabelo, metendo com força, a dor me fazendo cerrar os dentes.

— Você gosta assim, mulher. Para de frescura na frente dos outros. — disse, apertando meus pulsos, rindo.

— Para, Ricardo, tá machucando — pedi, a voz tremendo.

Nádia gritou, tentando me puxar.

— Solta ela, Ricardo! — gritou, os olhos cheios d’água.

Jorge segurou Ricardo, quase saindo na porrada.

— Chega, seu desgraçado! — berrou Jorge, o soco acertando o queixo de Ricardo.

Corri para o mato, Nádia atrás, as duas chorando, o vestido rasgado.

— Meu Deus, por que a gente tá fazendo isso? — perguntou Nádia, me abraçando, o cheiro de lavanda me acalmando.

— Não sei, Nádia. Não sei — respondi, as lágrimas escorrendo.

Jorge nos encontrou, a voz calma, mas pesada.

— Sei de vocês duas, Sônia. Toda a sua história e a dela. Sempre soube. Nádia já me contou uma vez. Ricardo te prende. Você precisa se livrar — disse, me olhando nos olhos.

— Ele sabe, meu Deus — pensei, aliviada, mas sem chão.

Jorge virou aliado, nosso amor por Nádia nos unindo, mesmo que torto. Ricardo percebia, usava pra manipular.

— Jorge tá de olho em ti, Sônia. Quer te comer, né? — dizia, me forçando a admitir, o tom venenoso.

Jorge apesar de defender a gente, acabava sempre ajudando o irmão também. Jorge sempre teve o coração fraco, o irmão falava que se arrependia, que ele havia mudado. O segundo swing foi no sítio que Ricardo comprou com Jorge, uma casa de madeira, cheiro de terra e galinhas no quintal. Haviamos acabado de comprar. Não foi nada planejado por nós, diferente de Ricardo que sabia bem o que fazia.

— Para unir a família — disse Ricardo, rindo, como se fosse uma piada enquanto tirava a sunga sem se importar com ninguém.

— Isso é errado, Ricardo — disse Jorge, hesitando, coçando a nuca.

— Para de ser fresco, irmão. É o que homens querem — respondeu Ricardo, o sorriso frio.

Naquela noite, no quarto do sítio, com cheiro de madeira nova e uísque, Jorge me pegou com cuidado, beijando meu pescoço, o pau entrando lento, o corpo quente contra o meu.

— Desculpa, Sônia. Não queria que fosse assim — sussurrou Jorge, os olhos tristes.

— Estou bem, Jorge — menti, forçando um sorriso.

— Queria Nádia, só ela — pensei, o coração doendo.

Ricardo fodia Nádia com raiva, puxando o cabelo, ela segurando um grito. Eu estava até próxima de um orgasmo com Jorge, mas meus olhos encontraram os dela, ciúme e culpa me rasgando. Ricardo exigiu troca de posições, como nas revistas.

— De quatro, Sônia. Igual a Jenna Jameson! — ordenou, me virando, metendo no meu cu sem aviso, a dor me cortando.

Ricardo que sempre foi viciado em assistir filmes pornôs deveria conhecer todas as atrizes pornô da pequena locadora de fitas que havia perto de casa.

— Para, Ricardo, tá doendo! — gritei, mordendo o lábio, sangue na boca.

— Igual os filmes, Sônia — riu ele, enquanto Nádia chorava baixo.

Jorge parou, furioso.

— Desculpa, Sônia. Isso tá errado — disse, saindo da cama, o rosto vermelho.

— Tua frescura, Jorge, estraga tudo — disse Ricardo, rindo.

Jorge brigou com Ricardo, empurrões, porta batendo.

— Chega dessa merda, Ricardo! — gritou Jorge, saindo.

Nádia me abraçou, tremendo.

— Não aguento mais, Sônia — sussurrou, o cheiro de lavanda me acalmando.

— Vamos dar um jeito, Nádia — respondi, apertando ela.

Ricardo acendeu um cigarro, o olhar triunfante.

— Vocês são minhas. Não esqueçam — disse, a voz fria.

Os swings continuaram, uma corrente que não quebrava. Houve uma época que realmente aproveitávamos, Ricardo havia mudado, mas era apenas encenação para conseguir o que ele queria e voltava pior.

No último fim de ano, mentimos pros filhos sobre um show de pagode e fomos pra um motel velho de beira de estrada, uns 60 km de casa. O quarto cheirava a mofo, a cama rangia, a luz neon piscava, jogando sombras nas paredes descascadas. Começou bem, eu e Nádia nos tocando, as mãos dela na minha cintura, os lábios macios, gemendo juntas.

— Te amo, Sônia — sussurrou Nádia, a língua descendo pro meu clitóris, o gosto doce me levando pros velhos tempos.

— Sempre tua, Nádia — respondi, gemendo, puxando o cabelo dela.

Gozamos juntas, o suor colando nossos corpos, o rádio do motel tocando sertanejo. Jorge me pegou com carinho, beijando meu ombro, o pau deslizando, o cuidado dele me fazendo sentir, por um momento, que era amor.

— Tu merece mais, Sônia — disse Jorge, a voz suave, os olhos cheios de culpa.

— Tô bem, Jorge — menti, o coração querendo Nádia.

— Quase foi amor, mas não era ela — pensei, fechando os olhos.

Ricardo estragou tudo. Queria filmar o sexo com o celular, exigiu sexo anal com Nádia, puxando ela pelo braço, o sorriso torto brilhando na luz neon.

— Para de frescura, Nádia. Tu sabe que gosta — disse, a voz cheia de veneno.

— Não, Ricardo. Não quero — respondeu Nádia, o rosto pálido, os olhos cheios d’água.

Ele riu, segurando mais forte, metendo a mão entre as pernas dela, forçando.

— Para, Ricardo, deixa ela! — gritei, o coração disparado.

Nádia gritou, um som que cortou minha alma, e eu vi vermelho.

— Caralho, para, seu filho da puta! — berrei, empurrando ele com força, o corpo dele batendo na parede.

Jorge pulou da cama, segurando Ricardo pelo colarinho.

— Tua merda acaba aqui, Ricardo! — gritou, jogando ele contra a porta, o estrondo ecoando.

Nádia chorava, abraçada em mim, o corpo tremendo, o cheiro de lavanda misturado com suor e medo.

— Não aguento mais, Sônia — soluçou ela, o rosto no meu peito.

— Acabou, Nádia. Acabou — respondi, apertando ela, a raiva queimando.

Ricardo se levantou, rindo, como se nada importasse. Os gritos chamaram atenção dos funcionários do motel que ligaram e perguntaram se precisavam de ajuda, que se os barulhos de briga continuassem eles iriam ligar para a polícia.

— Vocês são patéticas. Não vivem sem mim — disse, pegando o casaco, saindo com cara feia.

Jorge coçou a nuca, o peso do irmão nos ombros.

— Vamos embora. Isso não pode continuar — disse, a voz firme.

— Ele está certo. Esse foi o fim — pensei, decidida.

Voltamos juntos, 60 km de silêncio, a estrada escura refletindo o vazio dentro de mim.

— Ricardo não vence mais — pensei, olhando a lua pela janela.

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Apesar de todo sofrimento, eu nunca consegui reagir de verdade. A xícara vazia na mesa, o pão de queijo frio no forno. Larissa chorava no quarto, e eu, aos 50, sinto cada erro como uma facada.

— Falhei com ela, com Léo — pensei, o peito apertado.

Ontem, Nádia veio em casa, antes de eu ligar para ela. Sentamos na varanda, o cheiro de café fresco, o sol de maio batendo na pele. Ela pegou minha mão, os olhos castanhos ainda brilhando, como antigamente.

— Sônia, a gente sacrificou tudo pelos filhos. Mas Larissa está sofrendo, e o Gabriel, a Grazi, a Mari… tão no mesmo caminho que a gente — disse, a voz tremendo, as rugas no rosto dela contando nossa história.

— Te amo, Nádia. Sempre amei. Mas precisamos resolver isso — respondi, apertando a mão dela.

— Quero te abraçar como antes — pensei, o coração acelerado.

Nádia foi embora antes de Ricardo chegar. Eu pensei nos gêmeos pequenos, correndo pelo quintal, enquanto eu escondia as revistas do Ricardo. Larissa desenhava flores, Léo corria atrás das galinhas, mas os olhinhos deles já carregavam o peso da casa. Os swings, o sítio, o motel — tudo isso deixou marcas neles, uma sexualidade torta que Ricardo jogava na cara, sem vergonha.

— Eles cresceram vendo isso, meu Deus — pensei, a culpa me sufocando.

— Sônia, Larissa está instável. E se ela falar do Gabriel, da Grazi? Ou de vocês? — disse, coçando a nuca, o peso de anos nos ombros.

Naquela noite, decidi, a voz firme.

— Nádia, vou dar um basta. Ricardo não controla mais a gente, nem nossos filhos. Vamos expor tudo, proteger quem for preciso! — falei, o coração disparado.

Nádia ficou em silêncio, depois respondeu.

— Tá na hora, Sônia. Te amo — disse, a voz trêmula.

Jorge, ao fundo, pelo telefone.

— Sempre vou cuidar de vocês. Desculpa pelo Ricardo — disse, o tom desesperado.

— É agora, uai — pensei, decidida.

O passado não vai engolir meus filhos. Vou lutar por eles. Ricardo não vence mais.

***

Bati na porta do quarto de Larissa, o coração na boca.

— Larissa, filha, sou eu. Posso entrar? — perguntei, a voz suave, como quando ela era pequena e pedia pão de queijo.

Silêncio. Depois, um murmúrio.

— Tá, mamãe — disse ela, a voz fraca.

Abri a porta devagar. Larissa tava na cama, o cabelo bagunçado, os olhos inchados de tanto chorar. Sentei na beira da cama, peguei a mão dela, tão pequena, como quando ela desenhava flores com giz de cera.

— Filha, me conta o que está acontecendo. Tô aqui pra te ajudar — falei, apertando a mão dela.

Ela olhou pro chão, as lágrimas caindo.

— É o Léo, mamãe. Ele… ele não para. E o papai… ele sabia, deixou acontecer — disse, a voz tremendo, o rosto vermelho de vergonha.

— Meu Deus, o que esse desgraçado fez com minha filha? — pensei, o estômago revirando.

— Conta tudo, Larissa. Não esconde nada — pedi, tentando manter a voz firme.

Ela respirou fundo, os olhos cheios d’água.

— Começou há uns anos, mamãe. Eu e o Léo… a gente era próximo, você sabe. Mas o papai falava coisas, tipo que era normal, que você e a tia Nádia também… ele ria, dizia que era amor de família. O Léo acreditou, e eu… eu não sabia dizer não — disse, soluçando, cobrindo o rosto.

— Nossa Senhora, Ricardo manipulou eles, como fez comigo — pensei, a raiva subindo.

— Filha, nada disso é sua culpa. O Ricardo é um monstro, e o Léo está cego por ele. Mas eu vou te proteger, juro — falei, abraçando ela, o choro dela molhando minha blusa.

Larissa continuou, a voz quebrada.

— Eu tentei parar, mamãe. Mas o Léo fica bravo, diz que sou dele, que tem saudade, que nem o papai fala de você. No sítio eu vi coisas que meu corpo não conseguia dizer não. E na festa do Gabriel, eu vi ele com a Grazi e a Mari, eles felizes apesar do proibidos... E… eu não aguento mais — disse, o corpo tremendo.

— Ela viu o trio, como eu vi eu e Nádia neles — pensei, o coração apertado.

— Larissa, você é mais forte que isso. Vamos acabar com essa prisão. O Ricardo não controla mais a gente — falei, limpando as lágrimas dela.

— Você promete, mamãe? — perguntou ela, os olhos verdes brilhando, como quando era criança.

— Prometo, filha. Por tu, pelo Léo, pelo Gabriel, pela Grazi, pela Mari — respondi, beijando a testa dela.

Ela me abraçou forte, como não fazia desde pequena, e eu senti um peso saindo do peito, mas sabia que o pior tava por vir.

— O Ricardo vai pagar por isso — pensei, decidida.

Saí do quarto, fechei a porta com cuidado, e respirei fundo. Larissa precisava de mim, mas o Léo também, perdido na manipulação do pai. E o trio do Gabriel… eles tavam apaixonados, como eu e Nádia, e eu não ia deixar o mundo esmagar eles, como fez com a gente.

***

Mandei mensagem e Nádia chegou em minha casa uma hora depois, o cabelo preso, o cheiro de lavanda enchendo a sala. Jorge veio junto, os olhos gentis, mas cansados. Sentamos na sala.

— Sônia, conversei com a Larissa. Ela está destruída. O Ricardo incentivou ela e o Léo, disse que era igual eu e você — falei, a voz tremendo, as mãos apertando a xícara.

Nádia pegou minha mão, os olhos castanhos cheios de dor.

— Meu Deus, Sônia, como ele pôde? Isso é culpa nossa, por não parar ele antes — disse, a voz quebrada.

— Não, Nádia. A culpa é dele. Sempre foi — respondi, apertando a mão dela.

— Ela está certa, mas a culpa me come mesmo assim — pensei, o coração pesado.

Jorge coçou a nuca, o rosto vermelho.

— Ricardo é meu irmão, mas ele passou dos limites. Sempre soube de vocês duas, Sônia, e nunca julguei. Mas o que ele fez com a Larissa e o Léo… Isso não tem perdão — disse, a voz firme, mas triste.

— Jorge sempre foi diferente — pensei, aliviada.

— Como a gente faz, então? Ele precisa ser parado — perguntei, olhando pra eles.

Nádia respirou fundo.

— A gente confronta ele, Sônia. Conta tudo: as revistas, os swings, o que ele fez com a Larissa e o Léo. E depois… talvez a polícia — disse, o tom decidido.

— Polícia? Meu Deus, será que é o caminho? — pensei, o estômago revirando.

Jorge concordou.

— É o único jeito, Sônia. Ele não vai parar sozinho. E a Larissa precisa de justiça — disse, os olhos duros.

Lembrei de uma noite, anos atrás, depois que me expulsaram de casa. Encontrei Nádia numa praça. Ela me abraçou, o cabelo com aquele mesmo cheiro de lavanda.

— Te achei, Sônia — disse ela, os lábios tremendo, me beijando na escuridão.

Caímos na grama, as mãos dela levantando minha saia, a língua no meu pescoço, o prazer me fazendo gemer baixo. Chupei os peitos dela, os bicos duros na minha boca, enquanto ela gemia, o corpo tremendo. Gozamos juntas, o suor colando nossos corpos, o amor nos protegendo do mundo.

— Te amo, Nádia — sussurrei, deitando no peito dela.

— Sempre tua, Sônia — respondeu ela, beijando minha testa.

— Aquele amor me dá força pra lutar agora — pensei, voltando ao presente.

— Está decidido. Vamos confrontar o Ricardo hoje — falei, a voz firme, olhando pra Nádia e Jorge.

— Tô com você, Sônia — disse Nádia, apertando minha mão.

— E eu também — disse Jorge, o tom sério.

— É agora ou nunca — pensei, o coração disparado.

***

O confronto aconteceu à noite, na sala da nossa casa, Ricardo chegou do trabalho e foi direto para o sofá, sem se importar comigo ou com seu irmão e cunhada. Acendendo um cigarro como se nada pudesse tocá-lo. Nádia estava do meu lado, o cheiro de lavanda me dando coragem. Jorge estava na porta, os braços cruzados, o rosto duro.

— Ricardo, a gente precisa falar — comecei, a voz firme, mas o peito apertado.

Ele riu, soltando a fumaça.

— Falar o quê, Sônia? Tá com drama de novo? — disse, o tom debochado.

— Não é drama, seu desgraçado. É sobre o que você fez com a Larissa e o Léo — falei, a raiva subindo.

— Larissa está destruída por tua causa — pensei, cerrando os punhos.

Ricardo levantou uma sobrancelha.

— E daí? Eles quiseram. São iguais a você e a Nádia, duas vadias que se pegam desde criança — disse, rindo, o olhar frio.

— Caralho, você não tem vergonha seu filho da puta? — gritei, dando um passo pra frente, as mãos tremendo.

Nádia segurou meu braço, mas falou, a voz firme.

— Você manipulou eles, Ricardo. Disse que era normal, incentivou o Léo a prender a Larissa. Isso é crime — disse, os olhos brilhando de raiva.

Ricardo riu mais alto.

— Crime? Por favor, Nádia. Você e a Sônia faziam pior no quartinho de vocês ou onde mais vocês queriam fazer. Eu só dei liberdade pros meus filhos — disse, o tom venenoso.

Jorge deu um passo, o rosto vermelho.

— Tua liberdade é abuso, Ricardo. As revistas que tu deixava pra Larissa e Léo verem, os swings que tu forçava, o que tu fez com a Sônia… isso acaba hoje — disse, a voz grave.

— Ele está certo, Ricardo. Acabou — pensei, o coração disparado.

Ricardo se levantou, jogando o cigarro no chão, sem apagar.

— Vocês não têm prova de nada. E se abrirem a boca, conto pro mundo de vocês duas. O pai da Sônia ainda está vivo, sabia? Ele adoraria saber — disse, o sorriso torto brilhando.

— Ele está me ameaçando, como sempre — pensei, mas não recuei.

— Tu não me assusta mais, Ricardo. As revistas, os swings, o que tu fez com a Larissa… a polícia vai saber. Foda-se as consequências.

Ricardo deu um passo, o rosto vermelho.

— Você acha que pode me enfrentar, Sônia? Sem mim, você é nada, entendeu? NADA! — gritou, levantando a mão.

Jorge foi mais rápido, segurando o braço dele.

— Toca nela e tu vai se arrepender, irmão — disse, empurrando Ricardo pro sofá.

Nádia me abraçou, o cheiro de lavanda me acalmando.

— Calma, Sônia. Ele não vence — sussurrou, a voz firme.

Ricardo riu, mas estava encurralado.

— Vocês vão se foder, todos vocês — disse, pegando o casaco, saindo com cara feia.

— Ele está com medo, pela primeira vez — pensei, o coração aliviado, mas ainda acelerado.

Sentei no sofá, Nádia do meu lado, Jorge na porta. O silêncio pesava, mas era um silêncio de vitória, mesmo que pequena.

— E agora, Sônia? — perguntou Nádia, a mão na minha.

— Agora a gente protege nossos filhos. Todos eles… Ninguém mais sofre por ele... Deixamos as crianças tomarem suas próprias decisões! Larissa, Léo, Gabriel, Grazi, Mari — vou lutar por todos eles. Ricardo não vence mais. — respondi, a voz firme.

Jorge sempre caía nas promessas de Ricardo, até mais do que eu, mas naquela noite, ele ficou do nosso lado.

— Vamos conseguir, uai — pensei, decidida.

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Comentários

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é uma estória triste, mas muito real, tem muita gente ruim no mundo, manipulador e desgraçado, torço pelo bem desses belos personagens

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