Onde o Sol se Esconde (Capítulo 12)
A noite chegou pesada, abafada, como se até o ar estivesse apodrecendo.
Teo e Samuel fingiam dormir, as mãos entrelaçadas sob o cobertor fino.
Guto tremia em sua cama, ansioso.
Pedro havia deixado outro bilhete escondido naquela manhã:
"Hoje. À meia-noite. Na lavanderia."
Era a chance deles.
Era o começo do fim para o pesadelo.
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Quando os sinos da capela tocaram as doze badaladas trêmulas, Teo e Samuel se levantaram em silêncio, ajudando Guto a se arrumar.
Pés descalços.
Olhos atentos.
Corações disparados.
Atravessaram o corredor escuro, desviando das vigias.
Ouvindo cada rangido do assoalho como se fossem gritos.
Chegaram à lavanderia, um prédio isolado nos fundos do orfanato.
Pedro já estava lá, escondido nas sombras, com uma expressão tensa.
— Vamos rápido — sussurrou. — Tenho amigos esperando na estrada.
Ele puxou uma chave enferrujada do bolso — roubada de algum dos funcionários.
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Mas o destino, tão cruel como sempre, não os deixaria escapar tão facilmente.
Enquanto Pedro tentava abrir a porta dos fundos, uma luz forte iluminou o quintal.
— ALI! — gritou uma voz.
Padre Maurício e dois funcionários surgiram, armados com lanternas e bastões.
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Pedro empurrou os meninos para dentro da lavanderia.
— Corram! — gritou. — Não olhem pra trás!
Mas era tarde demais.
Teo viu quando um dos homens acertou Pedro com um golpe brutal nas costas.
Ouviu o som seco do impacto.
Ouviu o grito de dor.
Guto caiu no chão, chorando.
Samuel segurou Teo pela mão, puxando-o para um canto escuro.
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O caos tomou conta.
Gritos.
Golpes.
Ordens confusas.
Pedro, mesmo ferido, lutava como um animal encurralado.
Mas estava em desvantagem.
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Teo sentiu o desespero subir pela garganta.
Se corressem agora, talvez escapassem.
Mas deixar Pedro para trás era impensável.
Samuel apertou a mão de Teo.
— Eu tô com você — murmurou, a voz tremendo.
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Então, do fundo de sua alma ferida, Teo gritou.
Gritou como nunca havia gritado na vida.
Gritou para chamar atenção, para distrair, para salvar.
E nesse instante breve — nesse segundo em que o mundo pareceu parar — Pedro empurrou um dos homens contra uma parede, derrubando-o, e gritou:
— CORRAM!
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Samuel puxou Guto.
Teo correu atrás.
Os três atravessaram a escuridão do pátio, o vento cortando seus rostos.
Não sabiam para onde ir.
Não sabiam se conseguiriam.
Mas corriam — juntos — embalados pelo amor e pelo desespero.
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Atrás deles, ouviram novos gritos.
Ouviram o disparo de um tiro.
Ouviram o som de algo — ou alguém — caindo no chão.
E o silêncio mortal que se seguiu.
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Finalmente, sem fôlego, se esconderam atrás da capela velha.
Teo estava com o rosto molhado — não sabia se era suor, lágrimas ou a chuva que começava a cair.
Samuel o abraçou forte, forte como nunca antes.
— Eu te amo — sussurrou Samuel, pela primeira vez, no meio daquela tempestade de horror.
Teo sentiu seu mundo desabar.
Mas dessa vez, não era de medo.
Era de amor.
E segurando Samuel ali, sob a chuva, sentiu que — mesmo se tudo acabasse — ao menos tinham encontrado algo que o mundo inteiro nunca poderia roubar deles.
Algo que era só deles.
Algo mais forte que todo o horror.
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Mas o perigo ainda não havia passado.
Pedro estava desaparecido.
E os padres não iriam perdoar a rebelião.
Naquela noite, o orfanato sangrou em silêncio.
E a luta pela liberdade — e pelo amor — apenas começava.