A segunda-feira amanheceu com aquela típica sensação de recomeço, mas havia algo diferente no ar. Não era só o brilho dos dias que sucedem momentos especiais como a formatura da Melissa ou o domingo em família. Era o que se aproximava devagar, com a delicadeza de quem sabe que vem pra ficar: meu casamento.
Cheguei ao escritório com a leveza de quem estava em paz. O ambiente estava calmo, os atendimentos fluindo bem, os processos andando, e eu me sentia plena. O cabelo, claro, ainda chamava atenção — alguns elogios vinham aqui e ali, sorrisos gentis, mas nada demais. Eu só sorria de volta, no meu canto, feliz.
Logo no meio da manhã, Melissa bateu na porta da minha sala, entrou discretamente e fechou a porta atrás de si. Estava inquieta, com os olhos brilhando de ansiedade.
— Ju... posso falar contigo um minutinho? — disse, com a voz mais baixa.
— Claro, Mel. Vem cá.
Ela se aproximou devagar e sentou na poltrona à minha frente. Mordeu os lábios, mexeu no anel do dedo, e finalmente soltou:
— Saiu o resultado da OAB. Eu... eu passei, Ju. Eu passei.
Meus olhos brilharam na mesma hora, mas contive o entusiasmo. Sorri de leve, fingindo conter a empolgação.
— Passou? Sério? Parabéns, meu amor... — falei baixinho, me levantando e dando um abraço apertado nela. — Mas agora... deixa comigo.
Ela me olhou confusa.
— Como assim?
— Ah! Tenho que ver umas coisas...Depois falamos.
Ela saiu sem entender, e minutos depois, pedi para que Heitor reunisse toda a equipe na sala de reuniões. Ninguém entendeu o motivo da convocação repentina. Melissa entrou na sala com os olhos arregalados, claramente nervosa. Eu estava ao lado de Leonardo, mantendo a seriedade.
Esperei todos se sentarem e comecei:
— Bom, chamei vocês aqui por um motivo delicado. Todos sabem que nosso escritório tem evoluído, mas isso também significa que precisamos fazer mudanças importantes, às vezes até difíceis...
Olhei diretamente para Melissa. Ela ficou pálida.
— E hoje, uma decisão precisou ser tomada — falei em um tom sério.
Os olhos dela se encheram de lágrimas. Ela mal piscava. O Heitor me olhava tentando entender o que estava acontecendo.
— Melissa... a tua trajetória aqui sempre foi marcada por dedicação, crescimento... Mas chegou o momento em que precisamos encerrar um ciclo.
Ela desatou a chorar, com tristeza e agonia. Desesperada.
— Doutora... eu... o que eu fiz? — soluçava.
Foi quando abri um sorriso enorme.
— Tu passou na OAB, guria! A partir de hoje, oficialmente, temos mais uma advogada neste escritório!
A sala explodiu em gritos e aplausos. Melissa caiu em prantos, mas agora de alívio e alegria. Heitor a abraçou, rindo emocionado. Eu fui até ela e a abracei forte de novo.
— Tu achou mesmo que eu ia te demitir? — cochichei, com um sorriso sapeca.
— Tu é doida, Ju! Doida! — respondeu, rindo entre lágrimas. — Tu me deu um susto igual quando me promoveu pra tua assistente!
— É que eu gosto de dramatizar... — brinquei, e todo mundo caiu na risada.
A emoção daquele momento contagiou todo o escritório. Fizemos um brinde com espumante sem álcool, e Léo apareceu na sala pra parabenizar a nova doutora. Estávamos todos muito orgulhosos. Era um dia histórico pra ela, e pra nós também. A gente estava ali não só celebrando uma conquista profissional, mas o florescimento de uma mulher incrível — uma mulher que estava cada vez mais segura, mais feminina, mais linda.
Enquanto isso, as conversas sobre o casamento iam surgindo aos poucos. Eu e Léo vínhamos trocando as ultimas ideias nas noites tranquilas: lista de convidados, o modelo dos convites, o estilo da cerimônia, as músicas... Tudo parecia ir ganhando forma no tempo certo.
— E as alianças? Vai querer com pedra ou só o aro? — Léo perguntou, deitado no sofá com o notebook no colo.
— Eu quero brilho. Tu sabe que eu sou brilho. — Pisquei pra ele.
— Então vai ter brilho. E amor. Muito amor.
Entre uma conversa e outra, beijos, carinhos, risadas. O casamento não era mais um sonho distante. Era um plano concreto, cheio de afeto e parceria. E naquele escritório que tinha me visto crescer, amar, lutar e vencer, mais uma conquista se somava: a de ver alguém que eu ajudei a florescer se tornar, finalmente, uma advogada.
E a semana continuava, com o coração cheio, a vida em festa, e o amor sempre pulsando no centro de tudo.
Em uma dessas noites da semana, depois de um dia puxado no escritório, chegamos em casa com a intenção de apenas tomar um banho e descansar. Mas ao nos aproximarmos da porta do nosso apartamento, demos de cara com algo inusitado preso na maçaneta: uma notificação oficial do condomínio.
Leonardo pegou o papel, curioso, e foi lendo em voz alta, com aquele tom debochado e teatral que só ele tem:
— “Prezados moradores, informamos que recebemos diversas reclamações dos vizinhos em relação a ruídos excessivos no período noturno, em especial gritos e gemidos femininos que têm gerado incômodo nos andares vizinhos...” — ele parou de ler e olhou pra mim com um sorriso malicioso no rosto.
— Nem precisa dizer, né? — revirei os olhos, envergonhada, mas mordendo o lábio pra não rir.
Ele terminou de ler com um orgulho quase patriótico, como se tivesse recebido um prêmio de honra ao mérito.
— Meu Deus, amor... tu tá sendo motivo de reunião de condomínio. Isso é quase um troféu!
— Troféu pra ti, né, seu safado. — falei, empurrando ele de leve, tentando esconder o riso. — Tu que me deixa daquele jeito...
— E eu me esforço, viu? Me esforço pra manter esse padrão de excelência!
A gente riu tanto que eu mal conseguia abrir a porta. E o pior — ou o melhor — é que ele passou o resto da noite rindo sozinho, repetindo a frase “gritos e gemidos femininos” como se fosse poesia.
No dia seguinte, no escritório, Leonardo chegou ainda mais impossível. Sorridente, faceiro, saltitante até. Com uma alegria tão evidente que até era estranha, e que logo chamou atenção.
— Tá feliz por quê, doutor? — perguntou Heitor, intrigado.
— Nunca te vi tão animado — comentou a Melissa, cruzando os braços.
Fiquei observando da minha sala, já imaginando o que vinha. E não deu outra. Vieram me perguntar também:
— Ju, o que aconteceu com o Léo? Que alegria é essa? — disse uma das colegas.
— É culpa de uma notificação... — respondi, enigmática.
Logo, foram todos em cima dele querendo saber. E ele, com a maior cara de pau, tirou a notificação da mochila como se fosse um diploma, e leu em voz alta no meio do escritório:
— “Reclamações sobre ruídos noturnos... gemidos... gritos...” — deu ênfase nas palavras e ergueu o papel como um troféu.
Eu fiquei vermelha na hora. Envergonhada, mas ao mesmo tempo não conseguia conter o riso. Ele fez questão de mostrar pra todo mundo. Era o orgulho de ser “o causador dos ruídos”. E todo mundo, claro, caiu na gargalhada.
— E aí, doutora Juliana, é verdade isso? — Melissa provocou, piscando pra mim.
— Não tenho culpa se o rapaz é eficiente... — respondi, jogando o cabelo pro lado, fingindo superioridade, mas por dentro me derretendo.
Foi uma manhã leve, divertida, dessas que fazem qualquer semana parecer mais curta. E Leonardo, claro, ficou se achando o resto do dia. Sempre que passava pela minha sala, me lançava um olhar safado e murmurava baixinho:
— Tá ouvindo, amor? Silêncio absoluto... hoje a gente vai dar trabalho pro síndico de novo.
E eu só sabia rir. Porque, convenhamos, ser “acusada” de gemer alto demais por amor? Isso é o tipo de problema que a gente gosta de ter.
As semanas que antecederam o nosso casamento foram uma mistura de correria, emoção, risadas e, claro, muitas escolhas difíceis — e deliciosas. Logo no início da semana, eu e Léo nos sentamos no sofá, com uma taça de vinho e nossos notebooks abertos, tentando organizar os convites atrasados. A lista parecia não ter fim. A cada novo nome que surgia, ele fazia piada:
— E a Dona Sônia, da limpeza? Vai ser madrinha ou só convidada VIP?
— Só se ela levar o detergente, amor… — respondi, e rimos como bobos.
Numa tarde especial no escritório, chamei a Melissa discretamente na minha sala. Ela entrou com aquela carinha de curiosa, e eu entreguei uma caixinha com um laço dourado.
— O que é isso, doutora Ju?
— Abre logo, mulher.
Dentro, um mini buquê com um cartão escrito: “Quer ser minha madrinha de casamento?”
Ela ficou sem palavras por alguns segundos e depois me abraçou com força, os olhos marejados.
— Claro que sim! Que honra, Ju… que honra!
Mais tarde, Leonardo fez a mesma surpresa para o Heitor, com um copo de cerveja artesanal e um chaveiro escrito: “Padrinho do ano!”
Heitor, que não costuma se emocionar com facilidade, deu um sorriso sincero e disse:
— Vai ser uma honra dividir esse altar contigo, irmão.
Na terça, fui ao ateliê para experimentar alguns vestidos. Levei comigo a Melissa e a Marcela. Eu queria algo que fosse impactante, elegante, mas também com um toque provocante. Quando experimentei um vestido sereia, com renda no busto, cauda longa e um decote profundo nas costas, as duas se entreolharam boquiabertas.
— Ju… esse vestido tá gritando "sou a noiva mais gostosa da década".
— Eu não sei se é pra casar ou se é pra causar — provocou Melissa, quase batendo palmas.
Eu me olhei no espelho, passei a mão pelo quadril e suspirei.
— É esse. Eu quero entrar como deusa, casar como rainha e sair como lenda.
Durante a semana, também tivemos reuniões com a decoradora, que era uma figura à parte. Léo adorava fazer questão de participar, mesmo sem entender muito de flores ou tons de nude.
— Mas amor, qual a diferença entre "champagne" e "rosé queimado"?
— A diferença é que se eu deixar tu escolher, vai ter toalha azul do Grêmio na mesa dos convidados.
Ele se fingiu ofendido, mas no fundo sabia que era verdade. E estava se divertindo com cada detalhe.
Em uma dessas noites, voltamos para casa exaustos de tantas decisões. Quando abri a porta, vi que ele tinha deixado uma flor em cima da mesa e um bilhetinho com a letra torta dele:
"Pra minha noiva gostosa, para a advogata trans mais linda do universo, que mesmo decidindo entre tipos de guardanapo continua sendo o amor da minha vida."
Eu ri sozinha, toquei o papel com carinho, e quando ele saiu do banho, já me joguei nele no corredor mesmo.
Nos finais de semana, o clima era mais leve. Fomos visitar o local da cerimônia, que ficava num jardim maravilhoso, com árvores centenárias e uma iluminação de contos de fadas. Caminhando de mãos dadas, trocamos ideias sobre votos, músicas e detalhes.
— Vai prometer que vai me fazer gozar pelo menos quatro vezes por semana? — perguntei, mordendo o lábio.
— Cinco, se tu prometer continuar sendo minha mulher mais gostosa do mundo.
— Fechado — dissemos, selando com um beijo.
A parte dos presentes também rendeu. Criamos uma lista online, mas Leonardo insistia em querer uma churrasqueira "tecnológica", daquelas que mais pareciam um robô de ficção científica.
— Isso aqui é pra churrasco ou pra lançar foguete?
— Ju, isso aqui é o que vai fazer teu marido feliz nos domingos.
— Amor, tu já fez churrasco até pelado. Tu precisa mesmo disso?
Na quarta-feira à noite, fomos à casa dos meus pais. Minha mãe estava toda envolvida, perguntando do buffet, das flores, das lembrancinhas, e meu pai dizia que o importante era ter carne, cerveja e "nada de DJ com barulho".
— Pai, tu vai chorar quando me ver de noiva?
— Eu vou tentar não me desmanchar… mas não prometo. — respondeu ele, já emocionado.
Encerramos o dia indo para casa, assistindo a um filminho abraçados, e Léo deitou a cabeça no meu colo.
— Cansada?
— Um pouco. Mas feliz. A gente tá perto, amor. A gente chegou até aqui.
Ele me olhou com aquele olhar que só ele tem e disse:
— Tu vai ser a noiva mais linda do mundo. E a mulher da minha vida, pra sempre.
Sorri, acariciei o cabelo dele, e ficamos ali, em silêncio, sentindo que tudo, cada detalhe, cada loucura, cada cansaço… estava valendo muito a pena. Ele fechava os olhos a cada toque meu, e aquele momento de ternura logo começou a ganhar um tom diferente… mais quente.
Meus dedos desceram para o pescoço dele, traçando caminhos sutis. Ele sorriu, sem abrir os olhos, mas logo subiu a mão pela minha perna e começou a deslizar os dedos pela minha coxa nua, despertando arrepios. Eu me inclinei e beijei a testa dele, depois os lábios, e o beijo foi se aprofundando, ficando molhado, cheio de desejo.
— Hoje é uma das últimas noites antes do sim… — sussurrei entre beijos, mordiscando o lábio dele.
Léo me puxou para o colo, as mãos firmes na minha cintura, e me sentou em cima dele. O pau dele entrou fácil, já conhecendo caminho. Eu cavalgava sobre ele, gemendo seu nome sem pudor, enquanto ele me apertava com força, me beijava como se aquele fosse nosso último momento. Minha camisola escorregava pelos ombros enquanto ele beijava meu pescoço com aquela boca quente que me deixava completamente entregue. Os gemidos começaram a escapar enquanto ele me provocava com os dedos e a boca, me deixando enlouquecida, tremendo de vontade.
Eu desci, o encarei com um sorriso safado e comecei a dar prazer a ele do jeito que eu sabia que ele amava. Chupava o pau delede forma lenta, provocante, cheia de intenção. Ele se contorcia, soltava suspiros e gemidos baixos, segurando meu cabelo enquanto eu o deixava completamente à mercê da minha boca.
Logo ele me virou com desejo e se ajoelhou entre as minhas pernas, me devorando com tanta fome que eu quase perdi o fôlego. Eu gemia alto, sem conseguir me conter. Ele me conhecia por completo, cada toque, cada movimento, como me enlouquecer. E me enlouqueceu.
Nos entregamos ali mesmo, no sofá, com os corpos colados, suados, sussurrando palavras quentes e promessas indecentes.
Depois que o clímax nos arrebatou e caímos juntos, exaustos e suados, ele riu, ainda ofegante, e apontou para a parede.
— Se o síndico ouvir isso hoje de novo, vai bater aqui com outra notificação — disse ele, entre gargalhadas.
— A culpa é tua — rebati, também rindo, aninhada no peito dele. — Eu que sou a mulher que grita, mas tu que me faz gritar desse jeito.
Rimos por minutos, deitados ali, abraçados, sujos de amor e transbordando felicidade. Naquela noite, adormecemos agarradinhos, com o casamento já batendo à porta.
A quinta-feira amanheceu com o céu nublado, mas meu coração batia com a luz do sol. Era o penúltimo dia antes do nosso casamento. Uma mistura deliciosa de nervosismo, ansiedade e felicidade tomava conta de mim. A sensação de que tudo estava acontecendo de verdade era quase surreal. A semana já tinha sido uma correria sem fim: ajustes no buffet, confirmações de convidados, o último ensaio das músicas com os músicos, revisão do cronograma da cerimônia, acerto dos detalhes com o decorador e a entrega dos convites restantes. Estava tudo em seu lugar — e ainda assim, parecia que sempre havia algo a mais para resolver.
Na sexta, os compromissos se intensificaram e eu tirei o dia de folga. Pela manhã, fui ao salão para retocar o cabelo, hidratar a pele, ajeitar as unhas e conversar com a maquiadora que me atenderia no grande dia. No caminho, fui respondendo mensagens de amigos, fornecedores e da equipe de organização. Leonardo também estava na mesma correria, ajudando com a montagem da estrutura e coordenando os padrinhos. Estávamos exaustos, mas com aquele brilho nos olhos de quem está prestes a viver um sonho.
No final da tarde, nos vimos pela última vez antes do altar. Trocamos um beijo longo, apertado, cheio de promessas silenciosas. Eu olhava nos olhos do meu Léo e via neles toda a certeza do mundo. Ele me ajudou a levar as malas até o carro, me envolveu num abraço e disse:
— Amanhã, quando você entrar por aquela porta, eu juro que meu coração vai sair do peito.
Eu sorri, emocionada, e respondi:
— Só não vale chorar antes de mim.
Nos despedimos ali, no estacionamento do nosso prédio, sabendo que não nos veríamos mais até a hora do "sim". Afinal, dizem que dá azar o noivo ver a noiva antes do casamento, né? Então seguimos a tradição.
Fui dormir na casa dos meus pais. Minha mãe me esperava com um jantar leve, um chá calmante e muitos carinhos. Depois que nos reencontramos e nos acertamos, meus pais fizeram um quarto para mim e Léo na casa deles. Meu pai dizia que era um motivo a mais para estarmos ali com eles. Deitei no quarto, e parecia que o mundo era tão pequeno perto do tamanho dos meus sentimentos. Não conseguia dormir. Revivia cada detalhe da nossa história. Cada beijo, cada riso, cada escolha que me trouxe até ali.
No escuro do quarto, deitada de lado, olhei para o vestido pendurado e murmurei pra mim mesma, com o coração disparado:
— Amanhã é o grande dia... Eu vou me casar com o amor da minha vida.
E com esse pensamento, entre suspiros e borboletas no estômago, finalmente adormeci, ansiosa, nervosa e completamente apaixonada.