Reconstrução - Cap 15

Um conto erótico de Ju
Categoria: Trans
Contém 3489 palavras
Data: 29/05/2025 21:39:42
Assuntos: Trans, Travesti

Ainda era o meio da manhã quando minha mãe, Alice, se retirou do escritório. Fiquei ali, parada por alguns instantes, com a caixinha da cuca nas mãos, sentindo o cheiro doce que me levava direto pra infância. Fechei a porta da minha sala, sentei no sofá, tirei meus saltos e me permiti mais um pedaço generoso daquele sabor que marcava tantas lembranças. O sabor estava igualzinho ao que eu lembrava — um abraço do passado, um afago vindo da mulher que me gerou, e que naquele dia parecia ter voltado a me enxergar.

Depois disso, me joguei na poltrona da sala. Olhei pro teto, respiro instável, e senti meu corpo inteiro se afundar numa espécie de exaustão emocional. Uma enxurrada de sentimentos embaralhados me atropelava: euforia por um reencontro que eu já nem esperava mais, dor pelas feridas ainda abertas, compreensão por tudo o que veio à tona, amor que resistiu ao tempo... mas também mágoas, confusões, memórias difíceis de serem digeridas. As lágrimas vinham sozinhas. Quentes, longas, persistentes. Escorriam pelo rosto e alcançavam meu pescoço sem que eu sequer tentasse impedi-las.

A noite mal dormida pesava como chumbo nas pálpebras. Meu corpo inteiro pedia pausa. E sem que eu percebesse, adormeci ali, rendida naquela poltrona, descalça, com o coração ainda acelerado, abraçada em silêncio à cuca da minha mãe.

Quando acordei, o relógio marcava mais de três da tarde. Pisquei algumas vezes, confusa, e então meu olhar se encontrou com o de Leonardo. Ele estava sentado numa das poltronas da minha sala, me observando em silêncio, com um café na mão e aquele sorriso doce, cúmplice, que só ele sabia me dar.

Ele veio me procurar no horário do almoço e não me encontrou no escritorio. Ao abrir a porta da minha sala, me viu dormindo — vulnerável, exausta, com os olhos ainda marcados pelas emoções da manhã. E ficou ali. Não quis me acordar. Só ficou me cuidando, velando meu sono, respeitando meu momento. Ele sabia de tudo o que tinha acontecido, e entendeu que eu precisava daquele repouso, daquela pausa, daquela chance de digerir tudo em silêncio.

— Dorminhoca — ele disse, baixinho, com ternura na voz. — Sonhou com o quê?

Eu respirei fundo, me espreguicei lentamente, e olhei nos olhos dele com aquele nó ainda preso na garganta. O simples fato de ele estar ali, comigo, presente, atento… me fez respirar melhor.

— Com a gente. Com tudo isso. Com o que passou e com o que ainda está por vir. — E sorri, mesmo com os olhos ainda molhados.

Leonardo se aproximou e me beijou a testa com carinho, acariciando meu rosto.

— Você foi gigante, Ju. E continua sendo. Você precisa se orgulhar muito da mulher incrível que é.

Aquele dia de trabalho não tinha rendido nada. Meu corpo estava presente, mas a cabeça ainda girava em torno de tudo que tinha acontecido. Quando o expediente chegou ao fim, Léo, com sua sensibilidade de sempre, me convidou para caminhar um pouco, sentir o vento do fim de tarde e tentar organizar o turbilhão de sentimentos que ainda pulsava em mim.

Caminhamos lado a lado, em silêncio, mas um silêncio que confortava, que dizia tudo. O pôr do sol tingia o céu com tons dourados e alaranjados, e nossos passos se encaixavam naturalmente. Em um momento, nossos dedos se entrelaçaram. Era como se ele estivesse dizendo: “Estou aqui. Do seu lado. Sempre.”

Avistamos um restaurante charmoso, com luzes suaves e clima acolhedor. Entramos, sentamos perto da janela, e jantamos em silêncio — mas era aquele silêncio romântico, cheio de significado, cheio de carinho. Os olhares trocados falavam mais do que qualquer palavra. A presença dele, o cuidado dele, eram tudo o que eu precisava.

Voltamos para casa, e assim que fechei a porta, senti uma necessidade urgente de contato. Não físico apenas, mas humano, emocional, íntimo. Caminhei até Léo e me joguei em seus braços, me agarrando a ele com uma força carregada de saudade, de alívio, de amor. Beijei seu pescoço, seu queixo, sua boca. Nossos corpos começaram a se atrair como ímãs.

Eu queria senti-lo por completo, me perder nele. Aos poucos, com beijos e carícias, o clima foi esquentando, e a intensidade crescia com o toque das nossas peles. No sofá, entre risos abafados e gemidos suaves, explorei o corpo dele com a boca, com as mãos, com a alma. Era mais do que desejo — era necessidade de conexão.

Nos levamos para a cama como quem carrega algo precioso. E ali, naquele quarto, entre lençóis bagunçados e respirações entrecortadas, fizemos amor com uma entrega surreal. Eu chupava aquele pau preto delicioso com tanta fome e vontade, que Leonardo urrava. Depois ele deitou-se, e eu me me acomodei de costas para ele, com ele tendo a visão do meu cuzinho engolindo aquele mastro gigante. Apoiei minha maos em seu peito e sentava. Sentava com vontade, com malicia, com desejo. Meus cabelos balançavam como se estivessem soltos ao vento e Leo com as mão em minha cintura conduzia o ritmo, até chegar ao gozo, intenso e farto, como de costume. Era como se todos os sentimentos que nos atravessaram nos últimos dias se concentrassem na aquela noite. Cada toque, cada olhar, cada suspiro — tudo era profundo, inteiro, verdadeiro.

Depois de alguns minutos, ficamos nos acariciando, ofegantes e colados um no outro, decidimos tomar um banho juntos. A água quente escorria pelos nossos corpos e nos envolvia como um manto reconfortante. Mas o desejo ainda pulsava. Fomos rindo, nus, até o banheiro. A água do chuveiro começou a cair quente, e eu entrei primeiro, de costas pra ele, empinando só um pouco, provocando. Léo me seguiu, abraçando meu corpo por trás, as mãos deslizando sobre minha barriga, depois subindo até meus seios.

O vapor envolvia a gente como um lençol invisível. Fechei os olhos e suspirei ao sentir a boca dele na minha nuca, descendo devagar. Quando ele ajoelhou atrás de mim e separou minhas nádegas, meu corpo inteiro tremeu.

A língua dele começou a lamber meu cu com uma precisão deliciosa. Eu gemia baixo, segurando na parede do box, me derretendo inteira.

— Isso, Léo… me lambe… me deixa toda molhadinha pra você…

Ele me abriu com os dedos, explorando, chupando com tesão, com dedicação. Quando senti o pau dele roçando de novo, quente e duro, eu olhei por cima do ombro e pedi:

— Me fode, meu amor. Quero você dentro de mim.

Ele se levantou, me segurou firme pelos quadris, e penetrou com força. Me arrancou um grito gostoso. As estocadas dele eram profundas, intensas. O som da água, nossos corpos se chocando, os gemidos… tudo parecia parte de uma orquestra feita só pra gente.

— Você é toda minha, doutora. Minha trans perfeita, minha mulher gostosa, minha advogata do caralho, minha noiva…

— Isso… fala mais… me deixa louca…

— Gosta de ser fodida assim, né? Com força, com tesão. Eu sei. Eu vejo no jeito que você geme, no jeito que seu cu me aperta…

Eu gritei de prazer quando ele acelerou, me preenchendo até o fim, batendo forte, me fodendo como um animal em cio, mas sempre com aquele toque de amor no meio do caos.

Senti o gozo dele quente me invadir, e gozei junto, em silêncio, os músculos todos contraídos, os olhos fechados, a alma inteira se derretendo.

Ficamos ali, abraçados debaixo da água, nossos corpos colados, os corações disparados.

— Eu te amo tanto, Ju…

— Eu também, meu Léo… cada dia mais.

Era cru, era íntimo, era necessário.

Adormecemos abraçados, com os corações serenos, embalados por uma aura de paz e cumplicidade. Pela primeira vez em muito tempo, eu sentia que as peças começavam, finalmente, a se encaixar.

No dia seguinte, eu acordei revigorada. Corpo leve, alma em paz, e uma energia que parecia renovar todas as células do meu ser. O que uma boa noite de sexo não faz, não é mesmo? Levantei, me arrumei e fui direto para o closet escolher algo à altura do meu humor. Optei por um vestido vermelho justo, de decote generoso, e finalizei com minhas botas de salto alto, que faziam aquele barulho delicioso ao bater no chão. O combo era irresistível.

Ao chegar no escritório, os olhares me acompanharam pelos corredores. Era inevitável. As meninas, cúmplices e ousadas, soltaram risadinhas e piadas como:

— "A noite foi boa, hein, doutora?"

— "Desse jeito vai fazer o juiz da audiência desmaiar só com o look!"

— “Essa bota tem história!”

E sim, a noite foi mais do que boa. Foi inesquecível.

Melissa, sempre mais contida mas ainda visivelmente afetada, suspirava ao passar perto de mim. Seus olhos brilhavam como se revivessem cenas do que tínhamos vivido juntas. Ela chegou a se aproximar e sussurrar:

— "Você me deixa completamente sem chão, Ju..."

O dia correu intenso e leve ao mesmo tempo. Leonardo teve que se ausentar à tarde para uma audiência importante fora da cidade. No fim do expediente, após um beijo em Melissa e acenos das meninas, fui para casa.

Já acomodada no sofá, recebi a mensagem do meu noivo:

"Amor, a audiência se prolongou mais que o esperado. Vou demorar um pouco, mas já estou a caminho. Te amo."

Sorri maliciosa. Uma ideia surgiu na minha cabeça e, em poucos minutos, já estava vestida para a surpresa. Tirei do armário a minha fantasia de mulher gato — justa, preta, com recortes estratégicos, luvas, orelhinhas e um chicotinho de couro para dar o toque final. Minha bota de salto alto para completar e o batom vermelho, é claro. Me olhei no espelho: selvagem, sexy, dominadora.

Apaguei as luzes, deixei apenas algumas velas acesas e me posicionei estrategicamente na poltrona da sala, de pernas cruzadas, à espera do meu homem.

Quando o Leonardo abriu a porta por volta das 8 da noite, estava cansado, terno um pouco amarrotado, mas o olhar mudou no mesmo segundo em que me viu. Ele congelou, a pasta caiu no chão e os olhos dele brilharam como se tivesse encontrado um tesouro.

— "Boa noite, senhor Pantera... A mulher gato andou esperando por você... e está faminta." — sussurrei, passando a língua pelos lábios, com um sorriso felino.

Ele fechou a porta lentamente, trancou com chave, e mordeu o lábio inferior.

— "Doutora Juliana, você vai me matar do coração um dia..."

E foi aí que a noite começou de verdade.

Assim que Leo trancou a porta, deixou a pasta cair no chão e foi se aproximando lentamente de mim, eu descruzei as pernas com intenção. O som das minhas botas ecoando no chão criava um ritmo provocante, e o olhar dele queimava em cada centímetro do meu corpo vestido naquela fantasia colada de mulher-gato.

— "Você não existe..." — ele murmurou, tirando o paletó apressadamente, os olhos cravados nos meus.

Levantei-me com lentidão, fazendo questão de rebolar suavemente ao me aproximar dele. Passei os dedos enluvados pela gravata dele, desci pelas lapelas do terno até tocar seu peito e murmurei bem perto da boca dele:

— "A mulher-gato passou o dia inteiro com saudades do seu dono..."

Ele mal teve tempo de responder. Me puxou com força pela cintura, colando nossos corpos. Sua ereção pressionava minha barriga, e eu senti o meu corpo se arrepiar inteiro. O beijo veio selvagem, cheio de urgência. Suas mãos desceram direto para a minha bunda apertada pela lycra justa da fantasia.

— "Então vem miar pra mim, minha gata..." — ele rosnou no meu ouvido, e eu gemi só com essas palavras.

Ele me pegou no colo e me levou direto pro quarto, me jogando na cama com uma mistura de desejo e posse. Subiu sobre mim, beijando meu pescoço, mordendo meus seios por cima do tecido, me deixando maluca. Eu já implorava sem vergonha nenhuma.

— "Me come, Léo... me fode do jeito que você sabe... eu sou toda tua..."

A fantasia foi sendo arrancada peça por peça, ele me despiu com a boca e as mãos, até eu estar nua, aberta e entregue pra ele. Me penetrou forte, fundo, me fazendo arquear as costas e gritar.

— "Assim... assim mesmo... mais fundo, amor..."

E ele me obedecia, socando com intensidade, com ritmo, com tesão. O som dos nossos corpos se chocando preenchia o quarto junto dos meus gemidos roucos, dos palavrões que ele soltava, do jeito que ele me olhava, como se eu fosse a mulher mais gostosa do planeta.

Ele me virou de bruços, puxou meu cabelo, mordeu minha nuca. E continuou me fodendo ali, selvagem, como se fosse a última noite da nossa vida. Gozei com força, tremendo inteira, e ele veio logo em seguida, se derramando dentro de mim com um gemido grave, possessivo.

Quando nos recuperamos, rindo entre beijos e carícias, fomos tomar um banho juntos. Mas não teve como conter o desejo — assim que o vapor do chuveiro começou a subir, ele me encostou na parede molhada e me penetrou de novo, por trás, enquanto eu me apoiava com as mãos esticadas contra o azulejo. O som da água batendo nos nossos corpos se misturava com os meus gemidos abafados e os estalos das investidas dele.

— "Você me deixa louco, Ju... completamente louco..."

— "Então me usa..." — eu gemia, arrepiada da cabeça aos pés.

Transamos mais uma vez ali, no banho, até não restar mais força em nós dois. Depois disso, deitados na cama, ele me abraçou por trás, passou os dedos pelo meu quadril, beijou meu ombro e sussurrou:

— "Você é a mulher da minha vida, Ju. Cada dia contigo é um novo motivo pra agradecer."

Adormecemos embalados nesse amor, em paz, com os corpos entrelaçados, como se o mundo lá fora não tivesse mais importância. Apenas nós dois. A gata e seu dono. A advogada e o amor da vida dela.

O restante daquela semana seguiu com uma energia leve, descontraída, quase como se um novo ciclo tivesse começado no escritório. Eu chegava todos os dias radiante — e não só por dentro, mas no look também. Vestidos justos, saltos altos, batons marcantes. Um desfile de advogata poderosa pelos corredores. As meninas já começavam a manhã com piadinhas e brincadeiras:

— “Ju, conta pra gente qual foi o milagre dessa tua pele hoje, foi o hidratante ou foi o Leonardo?”

Eu gargalhava, rebolava um pouco mais passando por elas e respondia:

— “Amor, foi o combo: hidratação por dentro, por fora e no meio também!”

Explosão de risadas. Até mesmo as mais quietinhas do escritório entravam na onda, especialmente depois do almoço, quando sempre rolava uma pausa para o café com biscoitinhos, conversas fiadas e cochichos picantes. As meninas estavam mais soltas, mais cúmplices, e eu amava essa energia.

Na quinta-feira, uma fofoca dominou o escritório: Marcela, que já era uma das advogadas sênior, tinha sido vista aos beijos com um estagiário na parada de ônibus, no final do expediente do dia anterior.

Quando ela entrou na copa para buscar café, eu não aguentei:

— “Marcela, querida, só uma dúvida... vocês combinaram de dividir a planilha ou o banco da parada de ônibus?”

O escritório veio abaixo de novo, gargalhadas por todo lado. Cláudia, corando de leve, ainda tentou manter a pose:

— “Não confirmo, nem nego. Advogada que se preze não dá testemunho sem advogado presente!”

Eu, batendo palmas:

— “Uiiii. Falou como uma verdadeira jurista, só que apaixonada!”

No meio de toda essa leveza, havia também o calor silencioso entre mim e a Melissa. Entre uma reunião e outra, olhares cúmplices, sorrisos de canto. Na sexta-feira, enquanto eu revisava um contrato na sala de reuniões, ela entrou discretamente, trouxe um café e deixou sobre a mesa. Encostou-se ao vidro e ficou me observando por alguns segundos. Levantei os olhos, sorrindo.

— “Quer que eu leia pra você em voz alta ou só veio admirar a doutora em ação?”

Ela caminhou até mim com aquele olhar curioso e quente. Abaixou-se ao meu lado, olhou diretamente nos meus olhos, e sussurrou:

— “Queria mesmo era sentar no seu colo enquanto você lê esse contrato todo... doutora Ju.”

Meu corpo inteiro arrepiou. Sorri com malícia e disfarcei, fingindo reler uma cláusula enquanto nossos rostos estavam a centímetros um do outro. Ela encostou os lábios nos meus, bem de leve. Um beijo macio, roubado, escondido. Eu gemi baixinho, só pra ela ouvir:

— “Menina... você ainda vai me causar problemas jurídicos com esse charme todo.”

— “Que bom que eu tenho a melhor advogada do lado.”

Saímos da sala logo depois, retomando a rotina, cada uma sorrindo de canto, tentando manter a compostura. A sexta terminou em clima de festa, com música ambiente e gente animada no fim do expediente.

Quando chegou o sábado, eu e o Léo desligamos os despertadores e só acordamos quase meio dia. Ele ainda me puxou para mais uns beijos preguiçosos na cama, as pernas entrelaçadas, os corpos relaxados. Ficamos um tempão enrolando ali, nos acariciando, trocando ideias sobre o fim de semana.

Mais tarde, resolvemos sair pra bater perna. Fomos ao shopping como dois adolescentes apaixonados. Entrei em dezenas de lojas, provei roupas, desfilava para ele perguntando:

— “Que tal essa? To muito advogata?”

Ele ria, me chamava de sua deusa, e me incentivava a levar o que eu gostasse. Fizemos comprinhas, rimos de bobagens nas vitrines, dividimos um milk-shake gigante, demos beijos no meio da escada rolante. Léo insistiu em comprar mais lingeries pra mim — “só por precaução”, ele disse, e piscou com malícia.

Na volta pra casa, já no carro, eu coloquei a cabeça no ombro dele e disse baixinho:

— “Você tem noção do quanto me faz feliz, Léo?”

Ele beijou meu cabelo e respondeu:

— “Tenho. Mas espero continuar te surpreendendo sempre.”

E eu soube, naquele instante, que por mais que o casamento se aproximasse, por mais que os dias fossem agitados e cheios de desafios, estávamos construindo algo bonito, leve, verdadeiro.

Já passava das nove da noite quando finalmente chegamos no nosso apartamento. Estávamos cansados, com as pernas doendo de tanto andar pelo shopping, mas cheios de sacolas e boas risadas. Enquanto o Léo tirava os sapatos e colocava as compras no canto da sala, eu fui até a cozinha pegar uma taça de vinho e procurar algum contato de pizzaria. A ideia era simples: algo leve, gostoso, pra fechar o sábado com preguiça e prazer.

Foi então que o telefone do interfone tocou. Atendi automaticamente, nem imaginando o que poderia ser, mas do outro lado ouvi a voz do porteiro:

— “Dona Juliana, tem um senhor aqui embaixo... Ele disse que é seu pai. Roberto. Está perguntando se pode subir.”

Meu corpo inteiro congelou por um instante. Olhei pro Léo, que me observava da sala, tentando entender pela minha expressão o que tinha acontecido. Engoli em seco e respondi:

— “Pode sim. Pode mandar subir.”

Fechei o interfone com um clique leve e fiquei ali parada, por alguns segundos, olhando para a porta, tentando adivinhar o que estaria por vir.

Quando ele chegou no nosso andar, abri a porta com um misto de apreensão e curiosidade. E lá estava ele. Meu pai. Roberto. De jeans, camisa social meio amarrotada, cabelo um pouco bagunçado, expressão tímida e... envergonhada. Tinha algo nos olhos dele que me desconcertou.

Ele abriu os braços devagar e me abraçou. Um abraço hesitante, sem a firmeza de um pai protetor, mas com a delicadeza de quem está pedindo licença para entrar.

— “Oi, filha... eu... desculpa vir essa hora. Eu sei que é tarde...”

— “Tá tudo bem, pai. O que aconteceu?”

Ele coçou a cabeça, olhou pro chão por um segundo e então soltou, com aquele jeito dele, meio direto, meio desajeitado:

— “Eu queria... convidar vocês pro churrasco lá em casa, amanhã. Eu e tua mãe... a gente queria vocês lá.”

Eu pisquei algumas vezes, tentando entender. O Leonardo se aproximou, me dando apoio só com a presença firme ao meu lado. Meu pai continuou:

— “Eu tinha vindo mais cedo aqui, tentei passar, mas vocês não estavam. Aí fiquei aqui por perto, esperando um pouco... Também não tinha o teu telefone, então resolvi aparecer.”

Meus olhos se encontraram com os do Léo por um instante. Nós dois estranhamos toda a situação — o horário, a espera, a visita sem aviso. Mas havia algo de bonito, de vulnerável, naquele gesto do meu pai.

Respirei fundo e sorri, ainda meio surpresa:

— “A gente vai sim, pai. Claro.”

O Léo também sorriu, colocou a mão no ombro dele e disse com leveza:

— “Vai ser uma honra, seu Roberto.”

Meu pai assentiu, parecendo aliviado, e logo depois se despediu, dizendo que não ia tomar mais nosso tempo, que sabia que era tarde. Fechamos a porta e ficamos os dois ali, parados, olhando um pro outro com uma pontinha de riso nos lábios.

— “Acho que esse domingo vai ser bem interessante, hein?” — comentei, rindo de leve.

Léo me abraçou por trás e beijou meu ombro.

— “Acho que é o começo de uma nova fase, meu amor.”

E eu só consegui pensar: como a vida pode ser surpreendente às vezes. Depois de tudo, aquele convite, àquela hora, era mais que um churrasco — era um passo. Um gesto. Uma tentativa.

E eu, no fundo, estava pronta para receber. Mesmo que o coração ainda estivesse em processo de cura.

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