O motoqueiro que roncou alto, mas não chegou lá

Um conto erótico de Faminta
Categoria: Heterossexual
Contém 1047 palavras
Data: 25/05/2025 22:50:21

Eu já o conhecia. Mais velho, 58 anos. Motoqueiro ou melhor, Ducatteiro como ele tanto repetia. Desse tipo que o tempo não dobra, só racha por dentro. Um emocional que se recusa a crescer como se adiar a maturidade fosse prova de liberdade. Não entrei nisso enganada. Sabia onde pisava. Mas a curiosidade me move e o desejo também.

E quando esses dois se juntam em mim, sou quase impossível de parar. Ele chegou ao meu apartamento no fim da tarde de um sábado com muitas promessas. De couro, perfume amadeirado e um certo ar de descompromisso que sempre me intrigou. Trouxe vinho, mas a bebida era só disfarce. A tensão entre nós já vinha sendo escrita nos olhares, nos toques distraídos, nas mensagens atravessadas de duplo sentido.

Nos sentamos no sofá. Ele falava de motos, de viagens, de músicas antigas. Eu fingia escutar com atenção, mas meus olhos estavam na boca dele. E os dele... nos meus joelhos cruzados, na pele exposta sob o vestido leve que usei de caso pensado.

Você sabia que isso ia acontecer? ele perguntou, os olhos fixos nos meus. Sabia. respondi sem sorrir. Mas quis vir até aqui do mesmo jeito? A curiosidade é um risco que me excita. Ele riu. Daquele jeito meio cínico, meio encantado. E então se inclinou. O rosto perto demais, a voz mais baixa.

Então deixa eu te mostrar por que valeu a pena pagar pra ver. Fomos para o quarto e ele achou que me tinha.

Como se bastasse o tamanho como se presença fosse substituída por volume. Ele me penetrou com força,

de uma vez, como quem quer impressionar mais do que conectar. Gemia alto, como se estivesse em um filme,

me agarrava pela cintura como quem quer mostrar domínio. Me senti tocada, suada, desejada. Mas não atravessada. No começo até me entreguei a excitação ainda vibrava no corpo, o toque ainda me dava prazer.

Mas com o tempo, percebi: era só ele ali. Ele transava comigo, mas não me sentia. As estocadas vinham rápidas, ritmadas, mas faltava pausa, olho no olho, faltava conhecimento do corpo feminino.

Ele gozou com um gemido que soou mais para ele mesmo que para nós. Deitou-se de lado, satisfeito, como quem entrega um feito. E eu... eu fiquei olhando para o teto, nua, quente, úmida, mas não plena. não foi ruim. Mas também não foi memorável. Foi só sexo. Um sexo mediano. Mais uma cena que não virou história. E o mais curioso?

Desde então, ele fala como se tivesse me marcado. Cita lembranças que eu não tenho, frases que nunca aconteceram, olhares que ele provavelmente fantasiou depois. E eu deixo. Porque as vezes é melhor não desmontar o palco do outro.

Eu me diverti. Me senti viva, desejada. Mas inesquecível? Só para ele.

Depois daquela noite, ainda saímos algumas vezes. não sei bem por quê. Talvez porque eu ainda não tinha me cansado o suficiente. Ou porque as vezes o desejo não está no outro, está em ver até onde o outro vai. Ele continuava se achando.

Dizia que a nossa química era rara, que não era qualquer mulher que o deixava daquele jeito, e que só com alguém intensa como eu ele se sentia homem de verdade. Eu sorria. Não era ironia. Era cansaço. O sexo? Igual.

Pouca escuta, muito ego. Ele se perdia nas próprias fantasias e esquecia que o corpo do outro também fala. Eu até gemia, mas já era gentileza. Comecei a prestar atenção nas pausas. No que ele fazia entre um encontro e outro: nada. Só aparecia de tempos em tempos com um emoji safado e a promessa de que ia me enlouquecer. Foi nessa época que salvei o contato dele como Fulano Marmita. Porque vinha sempre embalado no mesmo discurso requentado, esquentava rápido, esfriava em segundos, e no fim... era só mais um prato feito sem tempero.

Nos encontros, ele encarnava o tipo namoradinho de ocasião. Desses que seguram a mão em público, fazem carinho no cabelo, oferecem o casaco mesmo sem frio. Mas nem isso me seduzia.

Talvez porque, desde o início, eu via além da encenação. Ele era todo aparência e eu gosto do que ultrapassa.

Durante o sexo, tinha uma mania cansativa: insistia que eu era fogo demais pra um homem só. Dizia isso como elogio, mas era só mais uma projeção. Parecia querer justificar a própria impotência em me satisfazer. Eu sorria.

E devolvia com uma frase que ele fingia não entender: Cuidado... tem coisas que só funcionam na imaginação. Mas ele insistia. Repetia o discurso como quem precisava se convencer de algo. Dizia que me imaginava com outro homem, que isso o deixaria louco, que queria ver, participar, me devorar com outro. A fantasia era dele. O controle, também. Até que um dia, num silencio pós-sexo, falei:

Ok. Eu topo.

Ele nunca mais tocou no assunto.

Tinha também a necessidade de falar do próprio pau. Como se o tamanho fosse argumento. Não era imenso uns 18, 20 centímetros, o suficiente pra se sentir um semideus. Mas tamanho nunca impressionou. Principalmente quando o uso e comum.

Ele prometia mundos: que me viraria do avesso, que me faria perder o chão, que nunca mais eu esqueceria aquele corpo. O que ele não sabia e talvez ainda não saiba, é que o problema não estava no corpo. Estava na ausência. Ele transava comigo como quem cumpre um roteiro, como se cada gesto já estivesse ensaiado.

Faltava presença. Faltava escuta. Faltava eu naquela transa.

Eu gozava? Sim. Mas mais por mim do que por ele. Era minha entrega, minha potência, minha sensibilidade. Ele era só o cenário. E quando até o cenário começa a repetir falas, a mulher que tem fogo de verdade... se levanta, se veste e vai embora.

O auge foi quando ele mandou uma mensagem dizendo: Estava lembrando daquele boquete. Que noite, hein?

E eu, deitada, lendo um livro, pensei: Qual boquete? Não lembrava. Não porque não aconteceu, mas porque não marcou.

A diferença entre presença e performance e que a primeira toca. A segunda... só passa. Foi aí que entendi: eu já não sentia mais vontade nem de gozar com ele. Muito menos de escutar.

E quando o desejo vira ruido de fundo, o melhor que se faz e fechar a porta e abrir um vinho.

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Foto de perfil de PsicanalistaPsicanalistaContos: 4Seguidores: 4Seguindo: 0Mensagem Relatos reais sobre minhas aventuras

Comentários

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❤Qual­­­quer mulher aqui pode ser despida e vista sem rou­pas) Por favor, ava­­­lie ➤ Ilink.im/nudos

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Tem muito homem assim mesmo, egocêntricos ao ponto de fantasiar as coisas de forma unilateral. Principalmente esses que vivem de manter uma certa imagem. Parabéns pelo conto, texto muito bem escrito!!

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Oi eu tenho mais sorte que vc, meu coroa também é motociclista, só que me dá muito prazer, tanto ele sozinho quanto junto com os amigos numa orgia

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Foto de perfil de Sativo

Que conto maravilhoso, bem escrito. Erotismo crítico, dilemas afetivos/amorosos que são muito reais e presentes em várias relações... Gostei da temática, desenvolveu muito bem. Parabéns!

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