Capítulo 6 – Término e início de um novo ciclo!
Daniel
– Onde é que tu vai? – perguntou Amanda assim que passei por ela, já arrumado pra sair.
– Vou dar uma volta – respondi de forma seca, o que deixou minha mãe, meu irmão e até o Nick de queixo caído.
– Vai o quê?! – ela esganiçou a voz, espantada. – Volta aqui, Daniel!
– Pra quê, Amanda? – rebati, sentindo os olhos marejarem. – Tá na cara que a gente não tá bem... eu preciso pensar.
– E vai pensar onde, hein? – retrucou, cruzando os braços e me encarando como se quisesse me atravessar com o olhar.
– Não sei – respondi, pegando minhas chaves da bacia de cristal ao lado da porta. – Nem precisa me esperar acordada.
Como eu já imaginava, Amanda não moveu um dedo pra me impedir. Orgulhosa demais pra correr atrás. Passamos o dia inteiro sem trocar uma palavra, e eu sabia que minha saída só ia deixá-la mais furiosa. Mas eu precisava de ar. Precisava de um lugar onde pudesse ser eu mesmo, sem que ninguém ficasse perguntando qual era o meu problema. Precisava, no fundo, de um pouco de liberdade.
Saí do elevador e fui até minha moto, na garagem do prédio, deixando aquele ambiente sufocante pra trás. No início, eu não tinha a menor ideia de pra onde ir. Só fiquei rodando pelas ruas do Moinhos de Vento, sem rumo. Até que uma placa de néon me chamou atenção: “Place”. Já tinha ouvido falar daquele lugar. Era uma boate gay.
Eu relutei. Não queria ceder à tentação, mas também não conseguia mais fingir que nada daquilo me atraía. Quando me dei conta, já tinha parado a moto e entrado na fila, onde homens entre dezoito e quarenta e poucos anos esperavam pra entrar. Alguns usavam roupas discretas, se comportando de maneira mais “masculina”, enquanto outros estavam com trajes extravagantes, maquiados e cheios de trejeitos.
– Veio sozinho, gato? – perguntou um homem atrás de mim, com voz anasalada. Ele devia ter uns trinta anos, cabelo loiro tingido, raspado nas laterais, calça jeans grudada no corpo e uma camisa florida berrante.
– Sim – respondi seco, engolindo em seco, lutando contra a vontade de sair correndo dali.
O cara mordeu o lábio inferior, provocante, e me olhou de cima a baixo sem nenhuma cerimônia.
– Prazer, meu nome é Thiago – disse ele, dando dois beijinhos no meu rosto.
– Victor – respondi, sem pensar. Não sei se foi o medo, a vergonha ou só a vontade de esconder quem eu era, mas menti o nome sem nem perceber.
– Então, Victor – ele disse, pondo a mão na cintura – Primeira vez por aqui?
– É… – tremi um pouco, e ele percebeu.
– Relaxa, tchê! – sorriu – Não vou te morder… a não ser que tu queira – completou, passando a mão pelo meu peito.
Nessa hora, o segurança chamou. Era minha vez. Mostrei a identidade, mas ele nem olhou direito. Comprei o ingresso e entrei.
A boate era escura, iluminada apenas por luzes coloridas que piscavam ao ritmo frenético da música eletrônica. Homens dançavam juntos, alguns num nível bem íntimo. Havia algumas mulheres também, mas poucas. Me infiltrei no meio daquele povo que se tocava, se agarrava, me sentindo estranho. Mas não aquele estranho ruim de quando eu tava com a Amanda. Era diferente. Era um estranho bom. Um desconforto leve, de algo novo, mas que fazia sentido.
Fui até o bar e me sentei.
– Vai querer o quê? – perguntou o barman, um cara alto, forte, e sem camisa, o que me fez encarar mais do que devia.
– Qualquer coisa – respondi, tentando disfarçar o rubor que subiu no meu rosto.
Ele piscou pra mim, pegou as garrafas e começou a preparar um drink azul enquanto eu olhava pro balcão e tentava ignorar o barulho ensurdecedor da música.
O que é que eu tô fazendo aqui? – me perguntei, sentindo a culpa me morder por dentro. Eu não era gay... certo? Eu não podia pertencer àquele lugar. Mas por que me sentia bem ali? Por que parecia que, finalmente, eu estava no lugar certo?
Olhei pra trás e vi dois guris, não muito mais velhos que eu, se beijando num canto. Pareciam felizes. Mais felizes do que eu.
O barman colocou um copo com um líquido azul na minha frente e sorriu.
– Esse é um dos meus favoritos – falou.
Retribui o sorriso, sem jeito, e ele foi atender outro cara, duas cadeiras ao lado.
Perdi a noção do tempo. Bebi sem pressa, observando os caras dançando, rindo, se pegando. E senti inveja deles. Porque eles sabiam quem eram. Porque, pra eles, parecia fácil enfrentar família, amigos, a sociedade. Mas será que era mesmo? Ou será que também estavam ali pra fugir, beber e fazer só o que tinham vontade?
“É muito difícil e desgastante às vezes, mas no geral eu sou feliz sim.” A voz do meu irmão ecoou na memória. Desgastante. Um baita eufemismo pra descrever socos, xingamentos e o desprezo das pessoas. Olhei em volta, e tudo começou a girar devagar – efeito do álcool. E me perguntei se tudo aquilo valia a pena. Uma coisa eu sabia: viver como eu vivia não valia. Viver na dúvida. Enganar alguém que me amava. Mentir pra mim mesmo.
– Nunca te vi por aqui – murmurou uma voz perto do meu ouvido.
Virei o rosto e dei de cara com um cara bonito, de uns trinta anos, sorriso branco, olhar tranquilo.
– Não costumo vir – disse, com a voz meio enrolada pela bebida – Mas tô gostando do que tô vendo.
Aquilo foi... uma cantada? Me peguei pensando. O cara sorriu, lisonjeado.
– Também tô gostando do que vejo – respondeu, no mesmo tom. – Quer uma bebida?
Assenti, e ele pediu outra lagoa azul pra mim. Conversamos por uns cinco minutos, até que eu o interrompi com um beijo.
Nem sei explicar. Talvez tenha sido o jeito como ele me olhava, o movimento da boca, ou a bebida, sei lá. Só sei que beijei ele. E ele retribuiu.
– Vamos dançar – disse eu, sorrindo, me sentindo estranhamente livre.
Ele assentiu e me puxou pela mão até a pista de dança. Nos movimentamos com energia, nos beijamos várias vezes e ele apertou minha bunda algumas vezes — e eu, cheio de ousadia, fiz o mesmo com ele. Ficamos naquele chamego por horas, até que ele me puxou pelo braço e me levou até o banheiro da boate.
Alguns caras já estavam por lá, se pegando sem o menor pudor. Ninguém se importou quando entramos. Ele me puxou para uma cabine, trancou a porta e me beijou com tanta intensidade que consegui sentir o volume evidente na calça dele.
— Me dá um agrado — pediu, direto.
Se eu estivesse sóbrio, provavelmente teria saído correndo dali, tomado pela culpa. Mas o álcool parecia ter apagado qualquer traço de vergonha que pudesse existir. Me sentei no vaso e, meio desajeitado, tentei abrir o zíper da calça dele. Ele mesmo terminou o serviço.
O que vi me deixou sem palavras: seu pau era grande, firme, moreno, com veias evidentes e a cabeça um pouco arroxeada. Soltava um líquido transparente e quente, deixando o cheiro forte e marcante no ar. Peguei com cuidado, sentindo seu calor, e levei à boca, ainda receoso. Nunca tinha feito um boquete, nem mesmo com Bernardo, mas algo em mim me dizia para continuar. Comecei devagar, experimentando cada sensação, enquanto ele suspirava de prazer.
Eu mesmo já estava completamente excitado, e me masturbei com a outra mão enquanto o sentia guiar meus movimentos com firmeza, segurando meu cabelo. Entre gemidos e palavras sujas que me deixavam ainda mais aceso, fui deixando o instinto tomar conta. Não precisava pensar em nada, apenas sentir. Não havia regras, nem culpa, apenas dois corpos buscando prazer.
Logo ele gozou, e eu senti a porra quente e espessa em minha boca. Por pouco não cuspi, mas decidi engolir — o que o fez sorrir de canto. Me puxou para um beijo e depois me levantou, colocando a mão em mim e me punhetando com firmeza, até que gozei em sua barriga. Ele passou a mão e levou à boca com um sorriso malicioso.
— A boate já vai fechar... Estava pensando em te levar lá pra casa — disse, afastando uma mecha do meu cabelo.
— Que horas são? — perguntei, pegando o celular no bolso. Eram cinco e meia da manhã. — Eu preciso ir pra casa.
— Pra que essa pressa, tchê? — ele passou a mão pelo meu peito. — Vamos aproveitar mais um pouco — disse apertando minha bunda, tentando me convencer a ficar. E, olha, quase conseguiu.
— Eu preciso mesmo ir — falei, tentando esconder a vontade de aceitar. — Minha namorada já deve estar furiosa.
— Um hétero curioso? — ele abriu um sorriso cheio de malícia. — Agora tu ficou ainda mais interessante.
— Eu tenho que ir mesmo... — Foi aí que percebi que não tinha perguntado o nome dele.
— Me chamo Fábio — disse, estendendo a mão.
— Daniel — respondi, dessa vez dizendo meu nome verdadeiro. Depois de tudo aquilo, não fazia mais sentido mentir.
— Me dá teu número, então. Vai que a gente resolve repetir a dose outro dia?
Anotei meu número no celular dele e nos despedimos com um beijo. Saí da boate, paguei a conta e tentei montar na moto, mas estava completamente bêbado. Deixei ela por lá mesmo e chamei um uber. Ao chegar em casa, como era de se esperar, tudo estava em silêncio. Fui direto para o banheiro e entrei no banho com a água gelada, tentando esfriar a cabeça e assimilar a noite que tinha vivido.
Foi estranho, claro. Mas também libertador. A ficha caiu: o problema nunca foi o Bernardo. Por ele, sim, eu sentia algo mais profundo, diferente do tesão que me levou a fazer o que fiz com o Fábio. Mas uma coisa ficou clara — sexo com homens me dava um tipo de prazer que nenhuma mulher conseguia despertar em mim. Era diferente. Era natural. Era meu.
Sai do banho me sentindo um pouco mais leve e mais sóbrio. Quando olhei o celular, vi uma mensagem de um número desconhecido. Mas o conteúdo não deixava dúvida de quem era:
“Noite incrível... Mal posso esperar pela próxima.”
Apaguei a mensagem sem responder. Fui para o quarto e encontrei Amanda deitada na minha cama. Pensei em pedir pra ela sair, mas não tive coragem. Ela sempre teve o sono leve.
— Tá se sentindo melhor? — perguntou com a voz arrastada de sono, mas cheia de sarcasmo.
— Muito — respondi, me deitando nu ao seu lado. — Nunca estive melhor.
Ela se levantou. Notei que não usava a camisola de sempre. Estava com um short jeans e uma camisa com babados. Caminhou até o guarda-roupa, pegou a mochila e virou-se para mim.
— Eu fiquei aqui, te esperando por horas, achando que tu ia chegar arrependido, me pedir desculpas... — a voz já embargada — Onde tu tava, Daniel?
— Eu disse que saí pra dar uma volta — respondi, sem vontade.
— Qual o nome dela? — perguntou, começando a chorar. — Me diz o nome dessa vagabunda!
— Que vagabunda, Amanda? Não tem ninguém.
Nesse instante, meu celular vibrou de novo. A tela acendeu, e Amanda foi mais rápida que eu. Pegou o celular, olhou a mensagem e simplesmente jogou ele em cima de mim. Pegou a mochila e saiu do quarto chorando.
Peguei o celular e vi o WhatsApp de Fábio:
“Tua boca não sai da minha cabeça.”
Eu sabia que deveria ir atrás dela. Falar, tentar explicar, pedir perdão. Mas não consegui me mexer. Não queria ouvir tudo que ela tinha pra dizer. Já sabia. Eu tinha ferido os sentimentos dela, e feio. Marcelo tinha razão. Eu devia ter terminado antes... Ela não merecia isso.
Théo
– O que aconteceu com teu irmão? – perguntou o Nick enquanto eu arrumava uma cama improvisada pra ele, do ladinho da minha.
– Sei lá – respondi, dando de ombros. – Acho que ele e a Amanda não tão bem das pernas.
– Bah, acho que não foi uma boa ideia eu ter vindo – o Nick pegou o travesseiro que a mãe tinha nos dado e largou em cima da cama dele. – Tá um clima estranho lá fora.
– Para de frescura – falei, me aproximando e dando um selinho nele. – Isso não tem nada a ver contigo.
– E o que tua mãe achou do teu namorado? – perguntou, mudando de assunto.
– Tu é meu namorado agora, é? – zombei.
– Não sou? – retrucou, meio confuso.
– Não até tu fazer o pedido formal.
O Nick sorriu, ficou vermelho e se ajoelhou na minha frente. Segurou minha mão, com aquele sorrisinho sem graça, todo atrapalhado. Dava pra ver que era a primeira vez que fazia aquilo.
– Théo Vilella, tu quer namorar comigo?
– Quero – respondi sorrindo, puxando ele pra mim. A gente se beijou com vontade e o Nick me deitou na cama. O corpo dele repousou suave sobre o meu, e as mãos dele deslizavam com gana pela minha cintura, pelas minhas pernas, que se enroscaram no quadril dele.
Os lábios dele desceram pelo meu pescoço, me arrancando um suspiro. Minhas mãos percorriam o corpo dele com cuidado, enquanto sentia o calor da paixão se espalhar. O Nick tirou a camisa, e eu fiz o mesmo. A gente se virou na cama e agora era eu quem tava por cima.
Beijei o peito dele, lambendo os mamilos e vendo o tesão crescer nos olhos dele. Fui descendo pela barriga até chegar no volume da bermuda. Beijei o pau dele por cima do tecido, depois abri a bermuda e o membro dele saltou duro como pedra. Coloquei minha boca nele, chupando com vontade, e o Nick gemeu alto, entregue. Tirei minha bermuda também e sentei sobre o quadril dele, encaixando seu pau no meu cu. Cavalguei o Nick por alguns minutos, até que ele gozou forte, me fazendo gozar logo depois, por cima da barriga dele.
Deitei sobre o peito nu dele e o beijei, sentindo a respiração dele voltar ao normal.
– Acho que tô gostando mesmo de ti – ele disse, com um sorriso tímido.
– Eu também – respondi. – Acho que fizemos a outra cama à toa.
– Nem era minha intenção dormir longe de ti, tchê – falou, rindo.
Sorri e me aconcheguei no meu primeiro namorado. Me senti seguro, querido... de um jeito que nunca tinha me sentido antes. Não era mais virgem desde os quatorze, mas nunca tinha ficado com alguém que me fizesse sentir o que o Nick me fazia. Não era só beijo e sexo por fazer. Tinha sentimento. E isso deixava tudo mais especial.
A gente passou boa parte do domingo fazendo o trabalho de física, mas isso não impediu nossos beijos e carícias durante o dia. Só que o que me incomodou mesmo foi o Daniel. Ele ficou o dia inteiro trancado no quarto e não quis falar com ninguém. Perguntamos da Amanda e ele só disse que ela foi embora cedo e que eles tinham terminado. A tensão da noite anterior era maior do que eu imaginava. O Daniel sair de casa e deixar ela furiosa... aquilo não ia terminar bem.
Amo meu irmão com todas as forças, mas o que me irrita é esse jeito dele de guardar tudo pra si. A gente vê ele chorando, se machucando, e mesmo assim ele insiste que tá tudo certo. Acho que puxou isso do pai – nunca vi aquele homem demonstrar outro sentimento além de raiva.
Lá pelas seis da tarde, o Daniel saiu do quarto dizendo que ia buscar a moto. Voltou pouco tempo depois só pra se arrumar e voltar pro colégio. Ele tava péssimo. O rosto pálido, os olhos azuis vermelhos, o cabelo loiro todo bagunçado e esbranquiçado... ele parecia um morto-vivo se arrastando.
– Tô bem – disse com a voz rouca quando perguntei o que ele tinha. – Não precisa te preocupar.
Dava na cara que ele tava longe de estar bem. Era óbvio que o fim com a Amanda tinha machucado, mas eu sentia que tinha mais coisa ali. Algo que ele não conseguia dizer. Algo que ele tinha medo de contar.
Entramos no carro. O Daniel foi na frente com a mãe, e eu fiquei no banco de trás. O silêncio no carro só fazia o clima pesar ainda mais. O Nick segurou minha mão e encostou a cabeça no meu ombro, pegando no sono logo depois. Olhei pelo retrovisor e vi o Daniel nos observando. O olhar dele era uma mistura de medo, dúvida e mágoa. Aquilo me cortou o coração.
Bernardo
– Querida, cheguei! – Théo abriu a porta do quarto num rompante, erguendo os braços como se fosse o dono do pedaço.
– Seja bem-vinda vadia – disse, me levantando da cama para abraçá-lo. – Senti tua falta.
– Eu também, tchê! – ele jogou a mochila em cima da cama com força – Como foi o fim de semana? Aposto que foi um tédio sem eu por aqui pra animar a estância.
– Na verdade, até que foi interessante – respondi. – Ontem passei o dia todo com a Giovana e hoje matei o trabalho de física. – Não podia contar pra ele sobre a conversa com o Samuel, embora a vontade fosse grande.
– Bah, que tédio – cantarolou, se jogando de qualquer jeito na cama. – O meu foi tri. O Nick é bem carinhoso. Me pediu em namoro ontem.
– Vocês formam um belo casal – comentei, sincero.
– Verdade, né? – ele concordou com um sorrisinho maroto. – Ficamos o tempo todo juntos, só curtindo o chimarrão da paixão. Só o lance com o Daniel que azedou um pouco meu fim de semana.
– O que houve? – perguntei, sem conseguir esconder a preocupação. Eu tinha decidido me afastar do Daniel, tocar ficha na vida, mas ainda me importava. Queria saber se ele tava bem, se precisava de alguma coisa. Essa é a merda de estar apaixonado: por mais que tu tente se afastar, tem algo que te puxa de volta feito laço de rodeio.
– Bah, nem sei ao certo – falou Théo, meio cabisbaixo. – Ele não se abre comigo. Só sei que ele e a Amanda brigaram feio e terminaram o namoro.
Não consegui conter o sorriso e a pontada de esperança. Daniel tava livre... o campo tava limpo.
– Eles terminaram? – indaguei, tentando parecer neutro.
– Tu tá parecendo feliz demais com essa notícia, guri – Théo comentou, desconfiado.
– Que nada – disfarcei o sorriso – Só achei inesperado.
– Pois então – ele seguiu – Eles estavam bem a semana toda. Alguma coisa aconteceu no meio do caminho.
Eu aconteceu. Pensei comigo, lembrando da cabana do zelador. Fui eu que fiz ele admitir que me queria. Fui eu que o fiz ceder, se entregar de verdade. Por alguns momentos, ele largou de mão os medos e se permitiu ser feliz. “Ele consegue ser ele mesmo contigo”, foi o que o Samuel me disse ontem à noite. E era verdade. Quando estávamos só nós dois, parecia que o mundo ficava mais leve. Ele se libertava daquela vida cheia de nó e culpa. Fazia o que queria, sem pensar se era certo ou errado.
Mas o Daniel não era um vivente fácil de lidar. Apesar de se entregar comigo, quando o calor do momento passava, ele se escondia de novo atrás das próprias amarras. Isso me doía mais do que facada. Num momento, dizia que me queria; no outro, me empurrava pra longe. Eu o queria, sim, mas também sabia que não dava pra insistir numa relação que só me causasse dor. Eu não podia me abandonar pra ficar com alguém que não tava pronto.
Théo e eu ainda trocamos mais umas ideias sobre o finde e depois nos ajeitamos pra dormir. Quer dizer, ele dormiu. Eu só conseguia pensar no Daniel... e em como ele estaria. Será que ele terminou com a Amanda por minha causa? Bah, duvido. Ele não largaria o medo assim, tão fácil. O mais provável é que ela tenha chutado o balde. Mas o que aconteceu entre os dois pra transformar os beijos e carinhos da semana passada nesse fim repentino?
De repente, ouvi o som de algo batendo na janela do quarto e tomei um susto. Olhei pro Théo, que roncava feito cordeiro depois do pasto. O barulho veio de novo, dessa vez mais forte. Me levantei e fui espiar pela janela. E lá estava ele... Daniel. No meio do gramado, com umas pedrinhas na mão. Quando me viu, o rosto dele se iluminou num sorriso que me desarmou por completo.
– Preciso falar contigo – sussurrou lá de baixo. – Me encontra na cabana do zelador.
E saiu correndo, feito um louco apaixonado, rumo ao lugar onde fizemos amor pela primeira vez.
Continua...
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