A Rosa da Noite exalava seu perfume como um veneno doce entre os lençóis gastos do Véu de Vênus, o bordel da Rua dos Prazeres. Era assim que todos a conheciam: Rosa. Mas seu nome verdadeiro era Estela, filha do campo, herdeira de uma tragédia sem túmulo e de uma beleza sem perdão. Negra, de corpo escultural e cabelos longos e cacheados, carregava nas curvas e nas tatuagens as marcas de uma história enterrada sob o pó vermelho da estrada.
Tomás a chamava assim: Rosa da Noite. Conheceu-a em uma parada qualquer, dessas que os caminhoneiros fazem mais por cansaço do que por desejo. A princípio queria apenas uma cachaça e silêncio, mas foi tragado pela presença de Rosa, arrastado abruptamente. Aquela blusa preta justa, a saia vermelha esvoaçando nas ancas, os colares ciganos que dançavam com seus passos, tudo nela era uma promessa — e uma maldição.
A primeira noite foi um rito, quase um sacrifício. No quarto da pousada, Tomás a despiu com a reverência de um homem diante de uma entidade. Ela sorriu, segura, enquanto ele acariciava sua pele como se tocasse pétalas vivas. Seus corpos se encontraram no ritmo das batidas do quarto escuro, entre gemidos contidos e respirações quentes. Rosa retribuiu com volúpia e controle, guiando Tomás pelas trilhas do prazer como quem conhece cada detalhe da escuridão. Foi mais que sexo — foi entrega, foi encantamento.
Desde então, Tomás só parava ali por ela. Era sua rota, sua obsessão. Rosa, entre tantos homens que lhe buscavam o corpo, passou a desejar aquele caminhoneiro com alma de poeta e mãos de operário. Era o único que a olhava como Estela, mesmo sem saber seu nome. Ele insistia em tirá-la daquele lugar. Rosa hesitava. Mas o mundo ao redor não permitia escolhas fáceis.
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Raimundo, o filho mais novo dos Salazar, família dos senhores das terras e das mortes da região, também a desejava. E seu desejo era uma doença. Quando a conheceu, ela ainda era adolescente, filha de seus empregados camponeses. Viu os pais dela morrerem na revolta dos trabalhadores. Depois, Estela sumiu. Anos depois, reapareceu na forma de Rosa, com aura perigosa e beleza proibida — e ele a quis de novo. Mas ela o desprezava com uma fúria oculta, como se cada olhar seu fosse um punhal.
Ele frequentava o Véu de Vênus feito predador, sempre escoltado por seus capangas. Anahí, a amiga mais próxima de Rosa, foi forçada a deitar-se com ele certa noite. Não houve prazer, apenas humilhação. E depois, sob ameaça, ela contou o que sabia: que Rosa e o caminhoneiro se amavam e pretendiam fugir. Raimundo Salazar enlouqueceu.
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Na noite seguinte, Rosa se entregou a Tomás no quarto da velha pousada. O luar entrava pelas frestas das janelas e desenhava seus corpos suados. Pela primeira vez, Rosa revelou seu verdadeiro nome.
— Estela... Meu nome é Estela — sussurrou ela, repousada no peito dele, o coração acelerado.
Tomás a olhou com ternura e desejo.
— Você é meu céu noturno, Estela. Minha eterna Rosa da noite...
Fizeram amor como se o tempo estivesse suspenso. Suas mãos exploravam a pele com delicadeza e fome, cada toque uma prece pagã. Os beijos intensos, quentes e úmidos, traçando caminhos pela curva do pescoço até os seios de Estela, onde Tomás pousou a boca com adoração. Ela arqueou o corpo, os mamilos se enrijecendo sob a língua dele, que agia em círculos lentos e sucções famintas, arrancando dela gemidos profundos.
Desceu com os lábios pelo ventre dela, detendo-se no umbigo, enquanto suas mãos seguravam firme os quadris trêmulos. Quando alcançou o sexo de Estela, ela se abriu como flor noturna, e ele a beijou com devoção, mergulhando entre suas pernas. Estela entrelaçou os dedos nos cabelos dele, os olhos fechados, o corpo tremendo em ondas crescentes de prazer.
Quando ela o puxou para cima, ofegante e dominadora, Tomás deixou que tomasse as rédeas. Estela montou sobre o membro rígido dele com um domínio feroz, afundando-se aos poucos, como quem se rende a um ritual sagrado. O prazer crescia dentro dela, preenchia-a. Seus olhos nunca se fechavam, fixos nos dele, como se quisessem guardar aquele instante para sempre. Foi um êxtase demorado, inteiro, brutal.
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Na manhã seguinte, Estela contou a Anahí que Tomás prometeu ajudá-la também, levá-las para a cidade onde conhecia gente, poderiam recomeçar. Combinaram tudo para aquela mesma noite. Anahí chorou de esperança.
Mas a estrada é terra de traição. Raimundo estava à espreita. Quando Tomás saiu da pousada, foi emboscado por ele e seus jagunços. Lutou como um miserável, socos e gritos enchendo a rua vazia. Mas eram muitos. As facadas vieram rápidas, covardes. O sangue escorreu pela calçada como o perfume ácido de um rancor não vingado.
Quando soube da morte, Estela desmoronou. Mas não chorou na frente de ninguém. Apenas vestiu a blusa preta, passou o batom escuro e acendeu um cigarro. Foi até os patrões e disse que aceitava finalmente o quarto exclusivo com Raimundo. Ele, cego por um desejo doentio, acreditou.
Naquela noite, Raimundo foi amarrado à cama — seu fetiche — com um sorriso idiota no rosto. Achava que finalmente a teria por inteiro. Estela o montou como uma deusa impiedosa. E então, antes que pudesse usufruir da ilusão, ela sussurrou ao pé de seu ouvido:
— Foi você quem ceifou meu amor. Agora, vou ceifar sua alma.
Os gritos vieram abafados, depois agudos. Quando as outras garotas e clientes correram até o quarto, viram apenas um corpo nu, dilacerado, coberto de sangue. No chão, entre velas apagadas e lençóis sujos, havia um cartão com caligrafia delicada:
“Rosa da Noite”.
Desde então, Rosa sumiu. Dizem que virou lenda. Alguns juram que ela voltou ao campo, outros que foi vista embarcando num caminhão velho ao amanhecer. Mas o que se sabe é que, de tempos em tempos, homens que abusam de prostitutas aparecem mortos nas vielas, com o mesmo cartão sobre o peito.
E quando o vento sopra forte pela Rua dos Prazeres, é possível jurar que o perfume da Rosa da Noite ainda paira no ar.