O internato - Capítulo 5

Um conto erótico de Bernardo, Daniel e Theo
Categoria: Gay
Contém 3831 palavras
Data: 22/05/2025 19:32:24
Assuntos: Gay, Amor

Capítulo 5 - Você é feliz?

Théo

– O professor Santiago fodeu com meu final de semana – reclamei, enfiando o livro de física na mochila, porque eu sabia que ia precisar dele – Logo na primeira semana e o vivente já passa um trabalho desses?

– É... – Bernardo respondeu, mais desanimado que cusco em dia de chuva. Já fazia uma semana que ele tava nesse clima e eu tava começando a ficar cabreiro. Só tinha me dito que tava chateado, e eu imaginei que tivesse brigado com o Samuel. A julgar pela distância entre os dois durante toda a semana, eu devia estar certo.

– Tu vai mesmo seguir com esse mistério aí, tchê? – falei, me sentando na beira da cama dele – Sou teu amigo. Pode me contar qualquer coisa, tu sabe.

Bernardo me olhou nos olhos por uns segundos, como quem avalia se vale a pena confiar. Confesso que me doeu um pouco, mas compreendi. Pelo que ele tinha me contado, só tinha se assumido pra dois amigos e um primo com quem teve a primeira relação sexual. Imagino que não seja fácil pra ele falar disso com naturalidade.

– A gente brigou – ele acabou dizendo – Não quero mais ver a cara dele.

– E brigaram por quê? – perguntei, sem rodeio.

– Ele não consegue admitir pra ele mesmo que é gay e depois fica comigo cheio de culpa – desabafou – Não quero isso pra mim.

Aquilo não me pegou de calça curta, porque fazia o tipo do Samuel esconder quem era. Ele sempre foi assim, e até hoje não teve coragem de se abrir com ninguém. Nem o Daniel sabe que o melhor amigo dele é gay. Acho que, além de mim, ninguém mais sabe disso.

– E isso te magoou – conclui, ele assentiu com a cabeça – Não fica assim, Be. Tem muito guri nesse colégio ainda pra tu te apaixonar. E cá entre nós... ele não merece tuas lágrimas.

– Eu sei que não – respondeu olhando fixo pro teto – Mas é que... eu tô apaixonado por ele, Théo.

– Sei que vai doer, mas tu tem que esquecer esse piá – falei, fazendo um carinho na perna dele – Se ele não tá pronto pra botar a cara no sol por ti, então ele não é o cara certo.

Ele só me deu um sorriso amarelo, meio sem vontade, e me despedi dele com um abraço apertado. Peguei minha mochila e fui em direção ao pátio, onde esperaria a mãe vir buscar a gente.

– Não tá esquecendo de nada? – ouvi a voz de Nick a poucos passos de mim, com aquele tom provocativo.

– Na real, eu tava pensando se deveria te levar junto – menti, me virando pra ele, que sorria segurando a mochila vermelha.

– Tu não ia aguentar passar o final de semana todo sem me ver, gurizinho – ele disse se aproximando.

– Pra te ver existe Facetime, Skype, WhatsApp e mais uma penca de aplicativo – falei, tirando onda.

– Mas nenhum aplicativo faz isso – e me tascou um beijo, me envolvendo com os braços pela cintura.

– Tenho que concordar contigo nesse ponto – falei, me afastando um pouco.

– Espero que vocês não passem o fim de semana inteiro assim – Daniel comentou, se aproximando de mãos dadas com a Amanda.

– Tu pode e eu não? – retruquei.

– Eu sou mais velho – ele respondeu, dando de ombros com aquele jeito de quem manda no pedaço.

Foi nesse momento que a BMW prateada da nossa mãe entrou pelo portão e buzinou pra gente. Entramos no carro, e o Daniel logo me empurrou pro banco da frente pra poder ficar ao lado da Amanda. O problema é que fiquei longe do Nick.

– Então, como foi a primeira semana de aula? – a mãe perguntou com aquele sorriso típico dela, logo depois de nos cumprimentar.

Contamos sobre a festa de boas-vindas e o trote dos calouros, e ela ficou horrorizada com essa parte. Falamos também que as aulas eram uma chatice só, das oito às três, de segunda a sexta. Contamos sobre os professores, o quarto, essas coisas. Ela me perguntou se o Nick era meu colega de quarto e eu disse que ele era só um amigo. Vi que o Nick ficou um tanto sentido com isso. A verdade é que, embora hoje em dia minha mãe não me criticasse mais abertamente por ser gay, ela ainda não entendia de verdade. E com certeza não aceitaria bem se eu dissesse que o Nick vinha com a gente. Lá em casa a coisa era meio assim: “eu finjo que não sei que tu é gay e tu finge que tá tudo certo.” Era um acordo falho, mas era o que dava pra ter por enquanto.

A viagem até em casa foi longa, e o Nick dormiu praticamente o tempo todo, enquanto minha mãe e a Amanda ficavam trocando trivialidades. Eu olhava pela janela, vendo a estrada e os carros passarem, com aquela sensação estranha que me acompanhava desde sempre. Nunca me senti, de fato, parte daquela família. Era como se eu tivesse sido colocado ali pra ocupar um espaço vazio.

Desde pequeno, me sentia deslocado, como se houvesse algo em mim que não se encaixava. A Fernanda era uma guria de ouro: estudiosa, comportada, hoje em dia cursando medicina. O Daniel era o típico guri que curtia esporte, participou de vários campeonatos de natação na antiga escola. Assim como a Fernanda, era dedicado e ainda por cima tinha um lado mulherengo que deixava o pai orgulhoso. A mãe era dentista, conseguia dar conta do consultório, da casa e ainda organizar jantares pras amigas. Uma mulher elegante, cheia de pose. O pai... bom, o pai era o general da casa. Dava as ordens, dividia as tarefas, tratava todo mundo como soldado.

E eu? Eu era só o piá esquisito, afeminado, que não se encaixava em lugar nenhum. Tirava nota baixa, apanhava dos guris na escola, chorava vendo filme de romance. Nunca fui o orgulho de ninguém naquela casa onde todo mundo parecia ter um papel definido.

Olhei pelo retrovisor e vi o Daniel com um olhar perdido, triste, que não via desde aquele dia terrível em que o homem que eu chamava de exemplo me bateu sem motivo nenhum. Dava pra ver que meu irmão mais velho tava cheio de pensamentos. E, como naquela outra vez, eu sabia que ele não me contaria nada.

Bernardo

O vi entrar no carro e levar ela junto de si. Era doloroso, tchê, assim como vê-los todos os dias se agarrando pelos corredores da escola ou pelo pátio. Como é que ele conseguia fazer isso? Ele tinha me usado pra satisfazer seus desejos mais obscuros e depois me largou de lado, que nem um trapo velho, pra ficar com ela. Mas bah, como é que ele teve coragem? Pra ele, tentei fingir que não me importava, mas no fim acabei confessando o que sentia. “Fica comigo.” As palavras saíram da minha boca mais rápido do que consegui pensar em segurar, e ali entreguei minha fraqueza. Vi que aquilo mexeu com ele, que ficou tentado a largar tudo e ficar o resto da vida naquela cabana comigo, mas lhe faltou coragem. Coragem de encarar a si mesmo.

Saí da janela e deixei o quarto com os fones de ouvido. O som de Elastic Heart, da Sia, não ajudava em nada a me sentir melhor, mas de certa forma eu curtia aquela tortura psicológica. Parecia que a música entrava na minha alma e revirava tudo lá dentro, me fazendo acostumar com aquela dor.

– Achei que tu fosse pra casa – a voz da Giovana sobressaiu à música que eu ouvia.

Tirei os fones e deixei pendurado na gola da camisa.

– Já que vou ter que passar o fim de semana fazendo o trabalho de física, melhor ficar por aqui mesmo – falei, tentando bancar o firme.

– Tu tenta parecer bem, mas eu tô vendo que não tá – Giovana notou – Não falei nada durante a semana porque tu tava sempre com o Théo, mas agora tamo só nós dois. Quer conversar?

– Não – respondi, tentando ser o mais educado possível.

– Tem certeza? – Ela insistiu, e dava pra ver que ela só queria ajudar e não fazer fofoca – Desabafar sempre faz bem, gurizão.

– Só não conta pra ninguém – pedi, olhando pro chão – Não quero que se espalhe.

– Eu nunca faria isso – ela garantiu com um sorriso leve.

Contei tudo pra ela, sobre mim e o Daniel, só deixando de lado os detalhes mais calientes da cabana do zelador, né. Afinal, aquilo não fazia diferença pra ela. Giovana ouviu tudo atenta, sem me julgar, o que me deixou mais tranquilo.

– E o Théo não sabe do irmão? – Ela arregalou os olhos, surpresa.

– Ele nem sonha – confessei – Ele acha que eu tô com o Samuel.

– Bah, talvez seja melhor assim. Ia ser bem estranho se ele descobrisse. A amizade de vocês podia nunca mais ser a mesma.

– Eu sei – murmurei.

– Quanto ao Daniel... acho que tu devia parar de sofrer por ele – falou com sinceridade – Não vale a pena chorar por guri que só quer brincar com teus sentimentos.

– Mas lá na cabana ele parecia sentir o mesmo que eu – falei, com o peito apertado – Parecia que também tava apaixonado.

– Se ele estivesse, não ia te tratar assim, né? Ele nem fala mais contigo, Bernardo! Se ele for mesmo gay, então tava só brincando contigo.

– Tu acha? – As palavras dela me acertaram em cheio, tipo um soco no estômago – Será que ele só me usou?

– Acho que sim! Pelo que tu me contou, ele parece ser o tipo de guri que ilude os outros e depois desaparece. Não te merece. Tu é bonito, novo, gentil... Vai se apaixonar muito ainda, pode apostar. Esquece esse piá.

– Vou tentar – falei com um sorriso mais ou menos.

Passei o dia todo com a Giovana, que foi a única do nosso grupo que ficou na escola porque os pais dela tavam viajando a trabalho. Basicamente a gente conversou bastante, e ela me contou mais da vida dela. A Gi teve uma irmã gêmea que nunca conheceu, porque faleceu no parto. Os pais são executivos duma rede de lojas chique, vivem viajando e deixam ela sozinha direto. Ela foi criada pela babá, dona Cristina, que ela ama muito, apesar de quase não ver mais. Tem um namorado chamado Luan, toca piano e fez balé desde os seis anos. Morava em São Paulo, mas veio estudar aqui porque era a mesma escola que a mãe dela estudou.

– Então teus pais não sabem que tu é gay? – ela perguntou enquanto jantávamos.

– Não. Na real, vim pra cá justamente pra esconder isso, mas quando vi que o Théo era meu colega de quarto, resolvi assumir logo. Todo mundo ia me chamar de gay mesmo...

– Melhor coisa que tu fez – ela falou, tomando um gole do refri – Ser quem tu é, sem precisar fingir nada.

– Confesso que é libertador – falei, me dando conta disso pela primeira vez – Não preciso mais regular o jeito que falo, o tom de voz, o jeito que me mexo. Bah, é uma sensação boa demais.

– Sei bem como é – disse ela – Quando eu falei que não aguentava mais as aulas de balé e que queria estudar ciência, meus pais surtaram, mas eu disse o que eu queria, e pronto.

– Um dia ainda vou chegar nesse nível – falei, imaginando o papo com meus pais. Não ia ser tão tenso quanto o do Théo, mas ia dar trabalho igual.

– Quando tu chegar, vai ver quanto tempo perdeu tentando ser o que os outros queriam que tu fosse.

– Um brinde à liberdade – ergui o copo de coca e ela acompanhou.

Olhei em volta pros poucos alunos que ficaram no colégio pro fim de semana e percebi que um deles me encarava. Era o Samuel, sentado sozinho jantando. Os olhos castanhos dele me olhavam de um jeito esquisito, como se estivesse me estudando. “Preciso falar contigo.” Ele formou as palavras com os lábios, sem emitir som.

– Que foi? – Giovana se virou e deu de cara com o Samuel – Ele tá te secando?

– Disse que quer falar comigo – falei, imaginando que ele ia me interrogar sobre aquela noite em que me viu saindo da cabana do zelador, logo depois do melhor amigo dele – Vou ver o que ele quer.

– Vai lá – ela me incentivou – Vou terminar aqui e subir pro quarto, começar o trabalho.

– Tá bem – respondi, dando um beijo carinhoso na bochecha da Gi.

Caminhei até o Samuel, que ainda me encarava daquele jeito estranho, me deixando meio sem jeito. Cumprimentei ele e sentei na cadeira em frente.

– Tudo certo contigo? – falei tentando soar natural e mais tranquilo.

– Tudo sim – ele respondeu, balançando a perna meio nervoso – E contigo?

– Também... tudo bem – ele sorriu – Sei que mal nos conhecemos, mas queria trocar uma palavrinha contigo. Pode ser?

– Claro!

– Então vamos dar uma voltinha – falou, se levantando – Não quero que ninguém ouça nossa conversa.

Assenti e fui com ele em silêncio até a piscina olímpica da escola, que iluminava a noite com aquele azul suave. Aquela luz me trouxe lembranças do primeiro beijo que o Daniel tinha me dado ali...

Daniel

Eu não aguentava mais isso.

Amanda me beijava e deslizava a mão pelo meu abdômen nu, mas tudo o que eu sentia era repulsa. Queria me afastar dela a qualquer custo. Não aguentava mais seus lábios nos meus. Até o cheiro dela tinha virado um troço enjoativo, e aquele corpo que um dia me aqueceu, agora me gelava.

– Acho melhor a gente ir com calma. Meu irmão tá no quarto ao lado – falei, tirando os lábios dos dela.

– Ele deve estar fazendo o mesmo agora – Amanda retrucou, beijando meu peito, o que me deixou ainda mais incomodado.

– Não tô à vontade com todo mundo em casa – disse, me afastando e levantando da cama.

– Sinceramente, não tô te entendendo, Daniel! – ela ficou furiosa – Tá, eu sei que tu nunca foi muito ligado em sexo, mas ultimamente tu tá me evitando demais.

– Eu não tô te evitando – menti, mais por reflexo do que por convicção.

– A gente só transou uma vez desde que as aulas voltaram, e mesmo assim tu parecia tenso – reclamou – Que merda tá acontecendo contigo?

Eu não queria mais tocar nela. Não queria mais sentir o corpo dela no meu. Sentia asco quando seus lábios frios roçavam os meus. Não me incendiava mais com ela. E estava com inveja do meu irmão, tchê, porque ele teve coragem de trazer quem queria pra casa. Tinha inveja da coragem dele, do desejo escancarado. Pensei, mas falei:

– Não tá acontecendo nada – outra mentira – Só não tô confortável, só isso!

Amanda pegou o sutiã vermelho e vestiu, bufando. Depois, botou a camisa com má vontade.

– Vou ficar na sala com a tua mãe – resmungou – Me avisa quando tu parar com essa viadagem.

E saiu batendo a porta, que quase tremeu de tanta raiva. Peguei minha camiseta do chão e vesti com o coração pesado.

Samuel tinha razão. Ela não merecia ser enganada assim, mas eu simplesmente não sabia o que fazer. Segundo ele, eu deveria terminar com ela e abraçar o que eu sentia, que não havia nada de errado naquilo. Mas como que eu ia largar uma guria linda como a Amanda pra ficar com um guri como o Bernardo? Tá louco. Claro que o Bernardo mexia comigo, despertava algo em mim, mas não era isso que eu queria pra minha vida. Eu só queria ser normal, casar com uma mulher, ter filhos e viver tranquilo. Lembrei do Bernardo junto de mim. De como nos misturamos, e como me senti completo. Nunca tinha me sentido inteiro, e de repente, estava. Nada mais importava. Só nós dois. Mas quando pensei em viver essa vida por um segundo, o medo voltou e me travou. Deixei ele ir embora magoado, porque o pavor falou mais alto.

Saí do quarto e bati na porta do Théo.

– Pode entrar – ele respondeu na hora.

Abri a porta e vi os dois sentados no tapete, ouvindo música. Pela cara deles e a distância quase zero entre os corpos, era óbvio que tinham se beijado há pouco. Mas ao contrário de mim, quando beijava o Bernardo, o Théo não sentia culpa nem medo. Tava estampado nos olhos dele: ele tava feliz.

– Posso falar contigo? – perguntei ao meu irmão, que pareceu achar estranho meu tom mais baixo.

– Claro – disse ele, se levantando, preocupado – Já volto – Ele deu um selinho no Nick, e até isso me deu inveja. A coragem dele me feria.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntou enquanto passava por mim.

– Não – respondi, mesmo deixando claro que eu não tava legal – Só quero conversar.

Levei ele até meu quarto e fechei a porta. Théo sentou na cama, e eu fui pra cadeira giratória do computador, ficando de frente pra ele. Os olhos azuis dele estavam cheios de preocupação.

– O que tu quer conversar? – perguntou, intrigado.

– Tu é feliz? – foi a primeira pergunta que consegui soltar, e pela cara dele, pegou de surpresa.

– Feliz? – levantou as sobrancelhas – Como assim, feliz?

– Feliz contigo mesmo – expliquei – Quero saber se tu te sente feliz sendo quem tu é?

– Tu quer saber se eu sou feliz em ser gay?

– Isso.

– É difícil às vezes, bem desgastante, mas no geral, sim. Eu sou feliz – respondeu, ainda achando a pergunta esquisita.

– E tu não sonha em casar e ter uma família?

– Claro que sim – respondeu com naturalidade – Hoje em dia dá pra casar, adotar criança ou até conseguir alguém pra barriga solidária.

– Mas não é a mesma coisa – insisti – Teu casamento nunca vai ser aceito por todo mundo, e teus filhos vão sofrer.

– Eu não tô nem aí pro que os outros pensam. E quanto aos filhos, eles vão ser preparados pra isso e vão saber que têm dois pais que os amam.

– Mas isso não é certo!

– Eu sei o que é certo pra mim, Daniel! – Théo respondeu firme – E de todas as pessoas do mundo, nunca imaginei ouvir esse tipo de coisa de ti.

– Eu não sou...

– Então por que essas perguntas? – cortou ele.

– Eu só... – respirei fundo, mas não consegui terminar.

E aí desabei. Comecei a chorar na frente dele, sem conseguir segurar. Théo veio e me abraçou apertado.

– Te acalma, guri – disse – Vai ficar tudo bem.

– Eu queria ser forte como tu – admiti, chorando.

– Eu, forte? – ele debochou – Tu esqueceu que eu era aquele que chorava no escuro, tchê?

– Nunca vou esquecer isso – respondi sorrindo – Eu te amo, Théo.

– Também te amo – disse ele, sem entender direito o que tinha acabado de acontecer – Tu é meu irmão mais velho. Agora se recompõe.

Enxuguei as lágrimas e me acalmei.

– Te amo de verdade, maninho – sorri – Tu é uma baita inspiração pra mim.

Théo ficou vermelho e mexeu no cabelo loiro com as pontas azuis.

– Isso tá ficando muito esquisito – falou.

– Muito – concordei.

Bernardo

– Então tu tá afim do Daniel? – Samuel perguntou direto, sem nem fazer rodeio.

– Tô – respondi sem vontade nenhuma de mentir.

– O Daniel é um guri complicado – comentou ele – Não sabe bem quem é ou o que sente. Tá perdido. – Ele ficou esperando eu falar alguma coisa, mas só fiquei ali, olhando pra piscina – Ele me contou sobre vocês.

Aquilo não me pegou de surpresa. Já tinha imaginado que ele fosse abrir o jogo pro melhor amigo, ainda mais depois que vi ele saindo daquela barraca logo depois de mim, todo suado, de camiseta na mão.

– Aquilo não vai mais acontecer – garanti – O Daniel só quis me usar.

– Não foi o que pareceu quando a gente conversou – ele disse – Tu mexeu com ele mais do que ele consegue lidar. Eu conheço o Daniel, vi os olhares desde o primeiro dia. Não foi só uma transa pra nenhum dos dois. Foi mais.

– Se isso é verdade, então por que ele ainda tá com ela? – perguntei, com a voz embargada – Por que me descartou naquela noite? Por que me magoou daquele jeito?

– Tu não sabe o que ele passou com o Théo – ele se sentou na beira da piscina, tirou os chinelos e botou os pés na água gelada – Imagino que o Théo nunca tenha te contado tudo.

– Contou um pouco – respondi, meio perdido – Disse que contou pros pais e que eles deixaram ele falando sozinho. Que só foram dar bola semanas depois. Disse que se não fosse pelo Daniel e pela irmã deles, ele tinha fugido de casa.

– Mas ele não te contou da surra que levou – Samuel falou num tom grave, como quem carrega um segredo pesado demais – Ele não gosta nem de lembrar, mas o Théo foi espancado feio pelo pai. O Daniel tentou impedir, mas acabou apanhando junto. O Théo ficou todo quebrado, e o Daniel, a Fernanda e eu cuidamos dele. Ele ficou muito mal. O Daniel ficou com um medo danado de passar pela mesma coisa... e foi aí que começou a guardar tudo só pra si. Mas tu despertou nele o que tava enterrado.

– Eu não sabia disso – falei, sentindo um nó no peito. O Théo, aquele guri alegre, com aquele sorriso fácil... escondia uma dor profunda demais.

– Nenhum deles fala disso, tchê – disse Samuel, com tristeza nos olhos – Ainda dói demais neles.

– Então é por isso que ele não consegue admitir nem pra ele mesmo quem ele é? – perguntei.

Samuel fez que sim com a cabeça.

– Ele tem medo que o pai faça pior com ele – contou – O Daniel vive se escondendo atrás de uma máscara pra não se machucar. Já falei pra ele se assumir, viver a própria vida... mas ele ainda tá muito inseguro. Por isso te chamei aqui.

– Tu quer que eu ajude ele a se aceitar – deduzi.

– Sim – respondeu ele, direto – Tu consegue fazer ele ser ele mesmo. Tu desperta nele os sentimentos que ele tenta esconder até de si próprio.

– Eu não posso fazer isso, Samuel – neguei – Ele me procura, me enche de esperança, me dá carinho... só pra depois negar tudo e me deixar me sentindo um trapo.

– Ele só faz isso porque tá preso no medo – insistiu Samuel – Eu tenho certeza que logo isso muda.

– E até lá, como é que eu fico? – perguntei, engolindo seco – Não dá pra ficar brincando com os meus sentimentos assim. Toda vez é uma facada. Eu não aguento mais isso.

– Por favor, Bernardo – pediu ele, com os olhos sinceros – Sei que tá doendo pra ti também, mas eu tô te pedindo pra ajudar meu melhor amigo. Ele tá sofrendo, tchê.

– Ele me fez sofrer naquela noite – falei com uma lágrima escorrendo devagar pelo olho esquerdo – Eu sinto muito, mas não. Eu tô tentando seguir em frente.

– Será que tu não pode, pelo menos, pensar no assunto? – insistiu ele mais uma vez.

– Me desculpa, mas essa é a minha palavra final – disse, sentindo a dor pesar no peito – Não vou me machucar de novo por alguém que não sabe o que quer.

– Fico triste com tua resposta – murmurou – Tu podia ter feito uma baita diferença.

– Agora eu tô tentando fazer diferença por mim – falei, de cabeça erguida – Sinto muito.

– Eu também sinto.

Me levantei e deixei ele ali, sozinho, com a tristeza dele... e eu com a minha.

Continua...

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