Uma mãe ausente 1

Um conto erótico de Anderline
Categoria: Heterossexual
Contém 3299 palavras
Data: 21/05/2025 19:15:29

Uma mãe ausente

Eu tinha catorze anos quando aprendi que o amor pode ser uma faca de dois gumes — corta fundo, mas também acende um fogo que não explica. Meu pai se foi numa manhã cinzenta em Florianópolis, sem aviso, sem despedida, deixando nossa casa de paredes brancas gritando sua ausência. O dinheiro não faltava — contas cheias, geladeira farta —, mas nada tapava o buraco no meu peito. Minha mãe, Sofia, então com trinta anos, era uma visão que fazia o mundo parar: cabelos negros caindo em ondas, olhos âmbar que guardavam segredos, e um corpo que parava os homens no mercado, fruto da genética mas também de academia e aulas de zumba que ela fazia a anos. Ela podia ter se perdido em amantes, no vazio, mas escolheu o trabalho, sempre o trabalho, como se pudesse costurar o que estava rasgado.

“Disciplina é tudo, Davi”, ela dizia, a voz firme, dobrando minhas camisas com precisão, enquanto me mandava para a casa dos meus avós no interior. Eu a odiava por isso, por me afastar, mas guardava cada olhar que ela lançava, cada hesitação, como se fossem relíquias. Ela disse que recebeu um proposta de trabalho em Lisboa, vi algo nela que nunca tinha visto: uma rachadura.

“Você vai ficar bem com eles, Davi”, disse, mas a voz falhou, e o jeito como desviou o olhar, como se doesse me ver, cravou-se em mim como uma tatuagem. O carro a levou ao aeroporto, e eu jurei, ali, com o vento salgado de Floripa batendo no rosto, que um dia ela me enxergaria — não como o garoto que deixava para trás, mas como o homem que eu me tornaria.

Quatro anos mudam um homem. Aos dezoito, o espelho não me devolvia mais o garoto magrelo que Sofia deixou em Florianópolis. Quatro anos de academia, muay thai e noites de estudo me esculpiram — ombros largos, peito definido, uma barba rala que dava dureza ao rosto. Eu não passava despercebido. O ensino médio ficou para trás, e com ele, a fragilidade de quem esperava cartas que raramente vinham. Sofia me escrevia de vez em quando, ligava em meses alternados, a voz sempre suave, mas distante, como se Lisboa fosse outro planeta. Cada silêncio dela alimentava um fogo em mim, uma mistura de raiva e algo mais, algo que eu não ousava nomear.

Numa noite quente, com o mar de Floripa rugindo ao fundo, peguei o celular, os dedos tremendo. “Sofia, tem vaga na sua empresa?”, perguntei, tentando soar casual, como se não tivesse ensaiado a frase mil vezes. “Quero tentar algo em Lisboa.” O silêncio dela foi longo, e eu podia imaginar os olhos âmbar, hesitantes, como no dia em que partiu.

“Vaga?”, ela repetiu, a voz com um tremor que me fez prender a respiração. “Posso verificar. Mas… você quer mesmo vir pra cá?” Havia uma pergunta não dita, algo que fez meu peito apertar.

“Quero”, disse, firme. “Quero te ver.”

Dias depois, pisei em Lisboa, o ar de verão carregado de sal e um fado distante que parecia cantar meus próprios desejos. No saguão do aeroporto, lá estava ela, e, meu Deus, o mundo parou. Sofia era ainda mais bela, o vestido azul-marinho colado às curvas, os cabelos negros soltos brilhando, os olhos âmbar arregalados, como se eu fosse um estranho. O garoto que ela lembrava sumiu, e no meu lugar estava um homem, a camisa branca grudada no peito suado, o olhar que não desviava dos dela.

“Davi…”, murmurou ela, dando um passo hesitante, os lábios entreabertos, e eu vi o rubor subir pelo pescoço dela, uma fraqueza que ela tentou esconder. “Você… cresceu.”

Sorri, deixando a mochila deslizar para o chão, sabendo que o movimento mostrava os braços que o muay thai moldara. “O tempo faz isso, Sofia”, respondi, a voz grave, e o jeito como disse o nome dela, sem o “mãe” que antes saía fácil, fez algo mudar no ar. Ela desviou o olhar, os dedos apertando a bolsa, mas não antes que eu visse o desejo, rápido como um relâmpago, nos olhos dela.

No carro, rumo ao Chiado, o silêncio era pesado, o perfume de jasmim dela enchendo o espaço, misturando-se ao calor do couro. Eu olhava as ruas de Lisboa — bares à beira do Tejo, casais rindo, o fado ecoando —, mas minha atenção era toda dela. O vestido subia pela coxa quando ela mudava de marcha, o decote acompanhando a respiração rápida, e eu mordi o lábio, o desejo crescendo, uma chama que eu não sabia controlar.

“Pensei em procurar uns hotéis”, disse, quebrando o silêncio, tentando soar leve, mas meus olhos estavam no pescoço dela, onde uma veia pulsava. “Não quero atrapalhar sua vida.”

Ela riu, um som nervoso, e virou o rosto por um instante, os olhos âmbar encontrando os meus. “Atrapalhar? Não seja bobo, Davi. Você vai ficar comigo. O apartamento é pequeno, mas… não tem problema.” A pausa antes de “não tem problema” era um abismo, e o rubor no rosto dela, o jeito como apertou o volante, dizia que o problema era exatamente o que eu queria provocar.

“Tá certo”, respondi, inclinando-me, o braço roçando o dela no console, um toque que fez a pele dela arrepiar. “Mas me avisa se eu ficar no caminho.” Minha voz saiu mais baixa, um flerte que eu não planejei, e ela desviou o olhar, o carro acelerando como se pudesse fugir do que estava começando.

O apartamento de Sofia era um ninho de tentação, as paredes brancas cheias de fotos nossas — eu pequeno, ela me carregando na praia —, mas o espaço gritava ela: velas de baunilha, uma garrafa de vinho tinto meio aberta, o vestido azul pendurado como se me desafiasse. Ela me ofereceu um copo d’água, os dedos tão cuidadosos para não tocar os meus que quase ri. “Você tá… diferente”, disse, a voz falhando, os olhos âmbar percorrendo meu peito, minha cintura, e eu vi o decote do vestido subir com a respiração dela, rápida demais.

“Diferente como?”, perguntei, sentando no sofá, as pernas abertas, a camisa esticada nos ombros, sabendo que ela notava cada detalhe. Tomei um gole, os lábios brilhando, e sustentei o olhar, desafiando-a.

Ela desviou os olhos, pegando uma pulseira na mesa, mas quando me levantei para ajudar, meus dedos roçaram os dela, e ela puxou a mão como se eu fosse fogo. “Mais… maduro. Um homem”, murmurou, e a palavra “homem” saiu pesada, como se doesse.

Naquela noite, ela sugeriu um bar à beira do Tejo, como se o barulho pudesse apagar o que crescia entre nós. O lugar era puro Lisboa — mesas de madeira, luzes quentes, o rio refletindo as estrelas, o fado chorando amores impossíveis. Sentamos numa mesa pequena, o vinho tinto entre nós, e eu desabotoei o primeiro botão da camisa, sentindo o calor dela, o vestido vermelho agora, colado à pele, como se quisesse me torturar. “Lisboa te mudou”, disse, a voz grave, meus olhos no decote, na curva dos quadris. “Você tá mais… viva.”

Ela riu, mas o som tremia, os dedos brincando com o copo. “Lisboa te engole se você não for forte.” Mas os olhos dela, demorando-se no meu maxilar, nos meus braços, diziam que a força dela estava falhando. Uma mulher na mesa ao lado, cabelos cacheados, sorriu pra mim, murmurando algo pra amiga, e Sofia ficou rígida.

“Você sempre atraiu olhares”, disse ela, a voz baixa, quase acusando, o vinho manchando os lábios. “Mas agora… é diferente.”

“Diferente?”, repeti, inclinando-me, o rosto tão perto que senti o hálito dela, doce com vinho. “E você, Sofia? O que mudou em você?” Minha mão roçou a dela na mesa, um toque que fez a pele dela queimar, e ela não recuou, os olhos âmbar presos nos meus.

Mas então ela puxou a mão, o copo tremendo, e o fado pareceu cantar nossa própria guerra. “Não foge de mim”, sussurrei, baixo, só pra ela. “Não como fez há quatro anos.”

As palavras a acertaram, e ela ficou rígida, o rosto pálido, os olhos brilhando com lágrimas. “Quatro anos?”, disse, a voz subindo, mas abafada pela música.

“Você acha que eu fugi porque quis? Que te deixei porque não te queria?” Ela engoliu em seco, as mãos apertando o copo, os nós brancos de tensão, como se quisesse se ancorar.

Eu não recuei, o coração batendo como se quisesse romper o peito, a tristeza e a mágoa se misturando num fogo que eu não controlava. “Certo me deixar de fora da sua vida por quatro anos?”, disparei, a voz grave, inclinando-me sobre a mesa, tão perto que senti o hálito quente dela, doce com vinho. “Você me machucou muito, Sofia. E continua me machucando, escondendo alguma coisa de mim. Eu já sou maior de idade. Mereço a verdade.”

Ela respirou fundo, o peito subindo rápido, o fado ecoando como se fosse pra nós. “Davi…”, começou, a voz falhando, as mãos tremendo ao pousar o copo. “Você nunca foi um peso. Nunca. Eu fui embora pra te proteger.” A palavra saiu pesada, e ela desviou o olhar, os dedos cravando na palma, como se quisesse se punir.

“Proteger me abandonando?”, retruquei, a voz cortante, a dor de quatro anos explodindo. “Você me mandou pros meus avós, Sofia, e sumiu. Eu não era um peso? Então por que parecia que você não aguentava ficar perto de mim?” Minha mão voltou pro pulso dela, os dedos roçando a pele quente, e ela não puxou, o toque fazendo os olhos dela brilharem com uma batalha que eu queria entender. “Eu te agradeci pela vaga na empresa, disse que não queria atrapalhar sua vida como te incomodei antes de você ir pra Lisboa. Mas você insiste que eu fique no apartamento, e agora me diz que tava me protegendo? De quê?”

Sofia ficou em silêncio, o rosto pálido, os lábios tremendo como se as palavras fossem facas. “Você não entende”, murmurou, a voz quase um sussurro, o vestido vermelho destacando o tremor do corpo dela. “Não foi assim. Eu… eu te amei, Davi. Sempre te amei.” Uma lágrima escapou, brilhando na bochecha, e eu senti meu peito apertar, a tristeza me engolindo.

“Amava?”, disse, a voz mais suave, mas cheia de uma dor que não escondia. “Eu também te amava, Sofia. Como minha mãe, como a mulher forte que segurava tudo, mesmo quando o mundo desabava. Eu admirava você, a forma como você enfrentava a vida, como seus olhos brilhavam mesmo na pior das noites.” Fiz uma pausa, meu olhar fixo nos dela, a tristeza subindo como uma onda. “Mas você me deixou, e eu fiquei com essa saudade que não explica, essa dor de pensar que não era suficiente pra você ficar. E agora, te vejo aqui, e a mágoa não some, porque você tá escondendo algo, me tratando como se eu ainda fosse um garoto que não aguenta a verdade.”

Ela prendeu a respiração, os olhos arregalados, a mão cobrindo a boca como se quisesse segurar o que vinha. “Davi, por favor…”, sussurrou, mas eu não parei, a insistência queimando em mim.

“Me diz a verdade, Sofia”, insisti, minha mão apertando o pulso dela, não com força, mas com uma urgência que fazia o ar pesar. “O que você tá escondendo? Por que fugiu? Eu não vou embora, não vou te deixar fugir de novo. Fala.”

Sofia fechou os olhos, uma segunda lágrima caindo, e quando os abriu, havia um abismo neles, uma dor que me fez querer abraçá-la e protegê-la. “Tá bem”, disse, a voz rouca, quase inaudível sob o fado. “A morte do seu pai… não foi um acidente, Davi.” As palavras caíram como chumbo, e eu senti o mundo parar, o bar sumindo, só nós dois existindo. “Ele tinha uma dívida. Uma dívida alta com um agiota. Mesmo se vendesse tudo — a casa, os carros, os bens —, não conseguiria pagar. Ele disse que não podia, e eles…” Ela engoliu em seco, as mãos tremendo tanto que o copo balançou. “Eles o mataram.”

Eu fiquei parado, o sangue pulsando nas têmporas, a imagem do meu pai — sempre tão confiante, tão distante — desmoronando. “Mataram?”, murmurei, a voz fraca, quase não minha. “E você sabia?”

Ela assentiu, mais lágrimas caindo. “Eu descobri quando já era tarde. Recebi um telefonema, dizendo que viriam atrás de mim se não pagasse. Então eu fugi. Não havia proposta de emprego, Davi. Eu vim pra Lisboa sem nada, só com medo. Passei mais de um ano lutando, até conseguir esse trabalho na empresa. Fiz isso pra te proteger, esperando que se eles me rastreassem, que viessem somente atrás de mim e…” Ela parou, a voz quebrando. “Eu te deixei com sua avó pra te manter seguro. Mas eu sempre te amei. Sinto tanta falta de você.”

O silêncio que caiu era sufocante, o fado agora um eco distante, e eu senti o chão tremer sob mim, a verdade rasgando tudo. Minha mão ainda segurava o pulso dela, o toque quente, e os olhos âmbar dela, cheios de dor e amor, me puxavam pra um abismo que eu não sabia como navegar.

“Você fugiu pra me proteger”, disse, a voz pesada, cada palavra arranhando. “Mas me deixou com um buraco que não explica. Eu te amava, Sofia, como minha mãe, como a mulher que segurava o mundo quando tudo desabava. Eu olhava pra você e pensava que, se fosse forte como você, talvez você ficasse.” Fiz uma pausa, os olhos fixos nos dela, a dor tão crua que mal aguentava. “Mas você foi embora, e eu fiquei com essa saudade, essa tristeza que me comia vivo, achando que não era suficiente pra te fazer ficar. E agora, saber que você tava correndo, que tava com medo… não apaga a mágoa, Sofia. Só faz doer mais.”

Ela cobriu o rosto com as mãos, os soluços abafados pelo fado, e eu senti meu coração se partir, metade querendo abraçá-la, metade querendo gritar. “Eu não sabia como te contar”, murmurou, a voz abafada, as lágrimas molhando os dedos. “Eu achava que, se te mantivesse longe, você estaria seguro. Mas eu sentia sua falta, Davi, cada dia, cada hora. Você era… é… tudo pra mim.” Ela baixou as mãos, os olhos âmbar cheios de uma dor que espelhava a minha, e por um instante, o bar sumiu, só nós dois existindo, o fado cantando nossa guerra.

Eu me inclinei, o rosto tão perto que podia sentir o calor da pele dela, o perfume de jasmim que me puxava como um ímã. “Então por que tá tão difícil agora?”, perguntei, a voz baixa, quase um sussurro, meus olhos traçando os lábios dela, o tremor dos ombros. “Você me trouxe pra cá, me deu uma vaga, me quer no apartamento, mas tá me segurando a um braço de distância. O que você tá com medo de me contar? Ou… de sentir?” Minha mão voltou pro pulso dela, os dedos roçando de leve, e ela não recuou, o toque fazendo a pele dela arrepiar, os olhos âmbar brilhando com algo que não era só culpa.

Sofia respirou fundo, o peito subindo rápido, como se as palavras fossem pesos que ela mal podia carregar. “Eu tenho medo… de mim mesma, Davi”, disse, a voz trêmula, quase engolida pelo fado. “Medo de não saber como ser sua mãe agora, depois de tudo que fiz, depois de te deixar pra trás.” Uma lágrima caiu, brilhando na bochecha, e ela continuou, os olhos fixos nos meus, cheios de uma vulnerabilidade que cortava. “Eu tenho medo de te olhar e ver o homem que você virou, tão forte, tão… presente, e não saber como lidar com isso, com a culpa que me come por dentro, com a saudade que nunca parou. E tenho medo…” Ela hesitou, mordendo o lábio, o rubor subindo pelo pescoço. “Medo do que significa te ter tão perto, no mesmo apartamento, sabendo que não posso apagar o que passou, que não posso te perder de novo.”

As palavras dela eram um golpe, e eu senti meu peito apertar, a dor dela ecoando a minha, o toque no pulso dela agora uma ponte que eu não sabia se queria cruzar.

O bar à beira do Tejo era um palco de sombras e silêncios, o lamento do fado rasgando o ar como se fosse escrito pra nós, as luzes dançando no rio em tons de prata que zombavam da dor que nos engolia. Sofia e eu estávamos presos naquela mesa pequena, o vinho tinto entre nós, o copo dela tremendo em suas mãos, o vestido vermelho colado à pele suada, destacando curvas que eu tentava não fixar por tempo demais. A tensão que cresceu desde o aeroporto — os olhares que queimavam, o roçar de mãos no apartamento, a eletricidade no carro — agora explodia, amplificada pela verdade que ela jogara em mim como uma granada. Meu pai, assassinado por agiotas por uma dívida que ele nunca poderia pagar. Sofia, fugindo pra Lisboa, não por um emprego, mas por medo, me deixando com meus avós pra me proteger. “Eu sempre te amei”, ela disse, as lágrimas caindo, e “Sinto tanta falta de você” era uma faca que cortava e curava ao mesmo tempo.

Eu fiquei parado, o sangue pulsando nas têmporas, a imagem do meu pai — sempre tão distante, tão intocável — desmoronando num instante. Minha mão ainda segurava o pulso dela, o toque quente, quase uma âncora, e os olhos âmbar dela, cheios de dor e amor, me puxavam pra um abismo que eu não sabia como cruzar. “Você sempre me amou?”, murmurei, a voz rouca, a tristeza subindo como uma onda que eu não podia parar. “Então por que doeu tanto, Sofia? Por que cada dia sem você parecia que eu não era nada?”

Ela engoliu em seco, mais lágrimas caindo, o rosto pálido sob a luz suave do bar. “Davi…”, sussurrou, a voz quebrando, as mãos tremendo como se quisesse me tocar, mas não ousasse. “Eu nunca quis que você sentisse isso. Eu pensava em você todo dia, em cada noite que passei sozinha aqui, lutando pra sobreviver. Mas eu tinha medo, medo que eles te encontrassem, que te fizessem o que fizeram com ele.” O vestido vermelho tremia com o corpo dela, e eu vi a culpa nos olhos dela, uma ferida tão profunda quanto a minha.

Eu soltei o pulso dela, não por raiva, mas porque precisava respirar, porque o toque dela estava me queimando. “Você fugiu pra me proteger”, disse, a voz pesada, cada palavra arranhando. “Mas me deixou com um buraco que não explica. Eu te amava, Sofia, como minha mãe, como a mulher forte que segurava o mundo quando tudo desabava. Eu olhava pra você e pensava que, se fosse forte como você, talvez você ficasse.” Fiz uma pausa, os olhos fixos nos dela, a dor tão crua que mal aguentava. “Mas você foi embora, e eu fiquei com essa saudade, essa tristeza que me comia vivo, achando que não era suficiente pra te fazer ficar. E agora, saber que você tava correndo, que tava com medo… não apaga a mágoa, Sofia. Só faz doer mais.”

Ela cobriu o rosto com as mãos, os soluços abafados pelo fado, e eu senti meu coração se partir, metade querendo abraçá-la, metade querendo gritar. “Eu não sabia como te contar”, murmurou, a voz abafada, as lágrimas molhando os dedos. “Eu achava que, se te mantivesse longe, você estaria seguro. Mas eu sentia sua falta, Davi, cada dia, cada hora. Você era… é… tudo pra mim.” Ela baixou as mãos, os olhos âmbar cheios de uma dor que espelhava a minha, e por um instante, o bar sumiu, só nós dois existindo, o fado cantando nossa guerra.

O fado cantava de amores perdidos, e eu fiquei ali, os olhos presos nos dela, a mão ainda roçando a pele quente, o silêncio entre nós mais alto que a música.

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Comentários

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Parabéns Aderline pelo capítulo,está muito bom! Eu só teria acrescentado o tempo que esse desnaturado desde filho passou na casa dos avós. Pois assim saberíamos se ele foi bem recebido,se teve carinho ,afeto dos avós e se ele teve algum sofrimento a mais a não ser ausência da mãe. Pois mesmo a mãe dizendo o porquê deixou ele,ainda assim ele esta com mágoa por isso.

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O moleque se acha o centro do universo, a mãe explicou seu motivos, todos críveis, mas ele não consegue sair do seu drama de adolescente: Fugiu para me poupar? E daí? "me deixou com um buraco que não explica."

Talvez ele preferisse um buraco de bala...

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Notei essa falta de empatia dele com a situação da mãe a 4 anos atrás e a atitude drástica que ela teve que tomar .

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Conto bacana, mas precisa prestar atenção maior na hora de fazer edição ou upload para o site, algumas vezes seus contos saem com parágrafos repetidos.

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