Julia vivia soterrada por números, relatórios e prazos que sugavam qualquer faísca de cor do mundo. 34 anos, olhos verdes, bonita. Sua baia, um cubículo cinza no décimo andar de um prédio sem alma, era o retrato da monotonia: papéis empilhados, um monitor piscando, e o relógio marcando 12:03.
Hora do almoço. Enquanto os colegas desciam pro bandejão, Julia trancava a tela do computador, enfiava um fone de ouvido pra disfarçar e abria o celular. O destino? Um site de contos eróticos, seu oásis secreto, onde cinco minutos de leitura podiam transformar um dia insuportável em algo… vivo.
Ela queria só um alívio rápido, um calor que subisse pelas pernas e apagasse, por um instante, a voz do chefe, Sr. Carlos, que por sorte e azar também era seu cunhado, que vivia cobrando relatórios com aquele tom de quem se acha galã de novela. Casado com Clara, sua irmã mais velha — a “perfeita” que sempre teve a vida que Julia nunca conseguiu —, Carlos era o tipo que usava gírias como “tá de boa?” pra parecer jovem, mas só parecia um tio tentando impressionar no churrasco. Julia revirava os olhos só de lembrar da última reunião, mas o site estava ali pra isso: apagar tudo.
Na tela, o site carregou com sua interface simples, sem firulas, só uma lista de contos e seus títulos chamativos. O primeiro da lista era “Dama Branca”, de um autor desconhecido. Curiosa, Julia clicou. A primeira linha já era diferente: “Como me defino? Um bruxo. Confesso que sou um bruxo medíocre. Eu não crio meus próprios encantamentos ou objetos mágicos. A minha especialidade é pesquisar os que os verdadeiros bruxos criaram.” A escrita era envolvente, quase literária, com um narrador apaixonado por magia, falando de sebos, antiquários e um tal Cetro de Manfred que trazia peças de xadrez à vida — como a Dama Branca, descrita como uma mulher “exuberantemente linda”, com “um vestido que desliza como um rio de seda”… Após algumas linhas, Julia bufou:
— Que saco! — Rolou a página e viu: 0 estrelas, 0 comentários, 1 visualização — ela mesma.
— Não é o que preciso agora.
Voltou à lista e clicou no próximo conto, “Fudida no Almoxarifado”, de LuaVermelha. O nome era um clássico do site, com 800 estrelas e comentários tipo “Gozei em 10 segundos, rainha!”. Era exatamente o que precisava. A primeira linha não decepcionou: “A lindinha, de calcinha de renda e salto alto, entrou no elevador, o tarado do almoxarifado, doido pra me pegar.” Julia sorriu, a mão já deslizando por dentro da saia, o coração acelerando. "Comecei a flertar com ele, um cara loiro, alto, cabelo encaracolado, pedi uma resma de sulfite, ele colocou no balcão e já roçou minha mão com segundas intenções..."
A aventura da garota do conto com o almoxarife se desenvolveu e a cena de sexo se desenvolveu rápido. Julia colocou a mão dentro da saia, alcançando seu clitóris embaixo da calcinha, se imaginou no almoxarifado transando com um desconhecido. Fechou os olhos, dedinho trabalhando.
— Ahhhh!!! — Julia gozou gostoso.
— Dando um cochilinho no almoço, Julia — disse Carlos, surpreendendo a funcionária-cunhada.
Julia primeiro ficou em choque, depois percebeu que a baia protegia a visão de seu ato de auto-satisfação. Carlos realmente deve ter achado que foi só um cochilo.
— Oi, Carlos, já vou descer contigo pra almoçar.
O dia se desenrolou como costumeiramente se desenrolava. Monótono. No fim da tarde, Julia precisava imprimir uns relatórios, não tinha sulfite. Ninguém no departamento tinha. "Desce lá no almoxarifado, traz pra você e pra gente".
"Oh, chateação", pensou. Mas foi.
O elevador desceu até o segundo subsolo. Se os andares de cima eram o retrato da breguice, os andares abaixo do térreo pareciam o mundo invertido do Stranger Things. Ao chegar no almoxarifado, ninguém no balcão. Julia tocou a campainha, deu uns gritos, bateu palma, até que finalmente apareceu um rapaz. Um cara loiro, alto, de cabelo encaracolado... Déjà vu.
— Preciso de três pacotes de sulfite — disse Julia. — Preciso de mais, na verdade, mas três é o que eu consigo carregar sozinha.
— Eu te conheço de vista. Você deve ser auditora.
— Sim. E você deve ser o... almoxarifado. (risos)
— Quase ninguém vem aqui embaixo, é solitário.
Julia não sabia explicar aquilo, de repente o dia chato estava com alguma cor. Quando o cara loiro pegou as resmas de sulfite, suas mãos se tocaram, um fogo ardeu dentro dela, ele a puxou e se beijaram. Mais do que rápido, o rapaz a puxou pra dentro do cubículo, a sentou na cadeira e meteu a cara por baixo da calcinha. Chupou Julia com fervor. O coração dela estava a 1000. Sentiu o rapaz empurrá-la contra a parede, o hálito quente e o pau entrando e saindo de sua buceta. E, em pouco tempo, o gozo delicioso de ambos.
Julia subiu o elevador equilibrando o sulfite e pensando na coincidência de ter o conto que leu mais cedo cruamente realizado.
No dia seguinte, Julia abriu os olhos. Um peso estranho no peito, como se o dia já tivesse nascido torto. Ainda na cama, a memória do almoxarifado voltou como um soco: o cara loiro, cabelo encaracolado, igualzinho o do conto “Fudida no Almoxarifado” de LuaVermelha, a pegando contra o balcão, o tesão explodindo. “Caralho, isso foi real”, pensou, o coração disparando. Não era só o gozo, mas também a coincidência. O cara era o do conto, até o roçar da mão na resma de sulfite. “Como assim? Isso não faz sentido”, murmurou, encarando o teto. Uma parte dela queria rir, outra estava com medo, e uma terceira — a que estava com tesão — queria saber se aconteceria de novo.
No trabalho, a baia cinza era o mesmo inferno de sempre: papéis empilhados, monitor piscando, relatórios que pareciam sugar a cor do mundo. Carlos, o chefe-cunhado, apareceu às 8:30, ajeitando a gravata.
— Tá de boa, Julia? Cadê aquele relatório? — com aquele tom de galã de novela barata.
Ela forçou um sorriso, pensando em Clara, a irmã “perfeita” que casou com esse idiota. “Se ela soubesse como ele é insuportável”, resmungou, digitando números sem alma. A lembrança do almoxarifado voltava toda hora, atrapalhando. Ela se pegava olhando pro nada, imaginando o cara loiro, o calor do momento, e depois se xingando: “Foco, Julia, isso é loucura.”
Quando o relógio bateu 12:03, a monotonia já tinha vencido. Julia trancou a tela, enfiou o fone pra disfarçar e abriu o celular, o site de contos eróticos piscando como um velho amigo. Clicou em “Transei com o negão no supermercado”, conto novo de LuaVermelha.
“A lindinha, de saia curta, pegou uma pizza congelada, e o negão tatuado do corredor me encurralou.” Julia mordeu o lábio, a mão já deslizando por dentro da saia. “Vamos ver se essa porra acontece de novo”, pensou, meio rindo, meio nervosa, o tesão e a curiosidade tomando conta.
Julia saiu do trabalho naquele dia com a cabeça girando, o peso da baia cinza e de Carlos, o cunhado-galã-de-novela, ainda grudado na pele. “Tá de boa, Julia? Cadê aquele relatório?” — o eco da voz dele a perseguia. “Clara que aguente esse idiota”, pensou, jogando a bolsa no carro. O almoxarifado estava fresco na memória. O tesão e o pavor do “como assim?” da manhã voltando. O conto de hoje, “Transei com o Negão no Supermercado”, lido ao meio-dia, martelava na cabeça. “Coincidência, né?” riu, nervosa, ela bem que tentou tomar outra direção e evitar, mas precisava realmente parar no supermercado pra pegar algo pro jantar.
O mercado estava tranquilo, luzes frias iluminando corredores quase vazios. Julia pegou um carrinho, jogou uma pizza congelada e um pacote de macarrão, tentando focar nas compras. Mas a “lindinha” do conto, encurralada por um negão tatuado, não saía da mente. “Não vai acontecer de novo. Tô viajando”, pensou, o coração já acelerando.
Na seção de produtos de limpeza, ela parou pra pegar um desinfetante. Um cara surgiu no corredor: negão, alto, tatuagens subindo pelos braços, camiseta colada no peitoral definido. Igualzinho o do conto. “Porra, não é possível”, pensou, o corpo quente. Ele lançou um olhar sacana, sorriso de canto.
— Tá procurando algo, gata?
A voz grave bateu fundo, e Julia sentiu um arrepio.
— Tô… de boa, gaguejou, a mão travada no carrinho.
Ele se aproximou, o cheiro de colônia invadindo, e roçou o braço dela ao “pegar” um sabão líquido.
O flerte foi um piscar de olhos. Julia pensou em correr, mas o tesão gritou mais alto. “Isso é o conto. Está acontecendo outra vez”, pensou, mordendo o lábio. Ele a puxou pro fundo do corredor, atrás de uma estante de caixas de sabão em pó, e a beijou com uma fome que fez as pernas dela cederem. As mãos dele voaram pela saia, rasgando a calcinha com um puxão. Julia gemeu, agarrando os ombros tatuados, enquanto ele a prensava contra a estante. O pau, duro e quente, entrou com força, e ela arquejou, o coração disparado.
— Me fode, vai — sussurrou, rendida. Ele meteu com gosto, rápido e bruto, cada estocada balançando as caixas. Julia gozou num instante, um grito abafado contra o peito dele, e ele gozou logo depois, o hálito quente no pescoço dela.
Minutos depois, Julia ajeitava a saia, o carrinho largado no corredor. O negão desapareceu como fumaça. “Que porra tá acontecendo comigo?” pensou, o corpo tremendo de tesão e medo, e correu pro caixa, a cabeça a mil: “Como isso tá acontecendo? O próximo conto? Como vai ser? Quem raios é essa LuaVermelha e como ela sabe o que vai acontecer comigo?”
No dia seguinte, Julia já tinha abraçado o insólito como realidade... e que estava meio que gostando daquilo. A ideia do conto que lia se tornava realidade no fim do dia a intrigava, claro, estava ficando maluca? Contar pra alguém? Quem ia acreditar?
Ao sentar em sua baia cinza de manhã, não pensava em relatório, no cunhado-chefe chato, em relatórios, mas qual surpresa LuaVermelha lhe traria hoje. Projetava suas próprias fantasias, o porteiro gato? Os dois porteiros? Um ménage? A curiosidade e o tesão a fizeram abrir seu amigo site logo no começo, antes mesmo de ligar o PC.
Ao ler o novo conto de LuaVermelha, seu sorriso manso foi dando lugar a uma expressão de desgosto e horror. A leitura do título já causou uma reação imediata.
— Não!
Uma lida rápida pelo texto intensificou o desespero.
— Não! Mil vezes não!
"Fudida pelo cunhado no escritório — Meu cunhado é também meu chefe, todos os dias ele vem na minha mesa pedir um relatório, pedir pra ir almoçar com ele, mas eu sempre soube que ele tinha outras intenções. Um dia, no fim do expediente, o tesão falou mais alto que minha lealdade familiar e meu profissionalismo e..."
— Não, LuaVermelha!! Isso não!!
O conto descrevia então uma cena deliciosa e intensa de sexo no escritório no fim do expediente. Julia sabia o que isso significava pra ela, sabia que os contos se tornavam realidade no fim do dia. Precisava lutar contra aquele destino. Precisava encontrar LuaVermelha.
Julia respirou fundo, o celular tremendo na mão. Se LuaVermelha era a chave, ela a encontraria, custasse o que custasse.
(Continua)
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É assim mesmo, não tem o ".com" no final. O Blogger estava inundando os leitores com avisos de "conteúdo sensível" ameaçando tirar meus contos de lá. Visitem meu blog, ficou um espaço bem legal e bonito