Na manhã seguinte, Gabrielle chegou mais cedo no restaurante. Cabelos presos num coque bagunçado, batom leve, olheiras disfarçadas. Tinha dormido mal, virou a noite inteira na cama sem controle — o rosto de Fernando invadiu os sonhos dela como se morasse ali, juntos viveram vidas inteiras ondem eram felizes e tinham uma família numerosa com ele um pai amoroso e ela uma mãe poderosa. Foi frustrante e cansativo e o pior? Ela não sabia se odiava isso ou se estava viciando em pensar nele.
Fernando já estava na cozinha, de costas, cortando tomates com precisão quase artística, cubos simétricos, fatias perfeitas. As veias dos antebraços saltavam, e o suor fazia a camiseta colar nas costas. Gabriela admirava o corpo dele, a pele levemente mais escura que a dela, o cabelo negro, ela sentiu um arrepio e mordeu o lábio sem perceber.
Ele virou o rosto, viu ela entrando, e sorriu. Aquele sorriso meio tímido, meio culpado, mas completamente cúmplice, por um segundo ela pensou que ele sabia dos sonhos dela da noite anterior, mas era impossível, era, não era?
— Bom dia, Gabi. — Ele disse com a voz rouca
— Bom dia, chef! — Ela disse, provocando, pegando um pano e começando a limpar o balcão próximo a ele.
Eles trocaram um olhar rápido, carregado. Era como se ambos estivessem dizendo "a gente sabe o que tá rolando aqui". Só faltava coragem para atravessar a linha, o primeiro que fizesse isso atrairia o outro imediatamente, mas claro que nenhum deles sabia disso.
Mas, como sempre, o veneno tinha nome e saltos: Carol.
Ela entrou pela porta dos fundos com a bolsa de marca falsificada no ombro, os óculos escuros ainda no rosto e o ranço colado no tom de voz, aquele vestido justo com aquele corpo perfeitamente feminino que fazia Gabrielle titubear em inveja.
Carol revirou os olhos e soltou o ar venenoso dos pulmões como se estivesse exausta
— Ai, jura que já chegou, Gabrielle? Nossa, que sede de trabalhar hein, esse povo nasce pra isso.
Fez uma careta exagerada e foi direto até Fernando, que parou o que fazia. Ela beijou a bochecha dele com um exagero que gritava no megafone imaginário para Gabrielle "território marcado! Não se aproxime do meu homem".
— Amor, traz uma água com gás para mim? Tô morta. — Carol pediu fazendo manhã para o namorado, aquele tipo de manhã que mulheres lindas fazem todos os homens se derretem.
Fernando assentiu, sem jeito, limpando as mãos no avental e indo em direção à geladeira. Gabrielle apenas abaixou os olhos e continuou limpando o balcão com mais força do que o necessário.
Durante o turno, Carol fez questão de rebaixá-la em cada detalhe:
— Gabi, pega isso para mim, vai? — Dizia com ar de superioridade, como se fosse a chefe do lugar, quando Gabrielle trazia o que ela pedia, ao invés de agradecimento um comentário ácido vinha — Você serve melhor como entregadora mesmo, podia comprar uma moto né?
Gabrielle não se dava ao trabalho de sorrir falsamente, apenas dava as costas sem demonstrar emoções, mas engolia seco e aquilo fazia mal para ela.
— Nossa, cuidado pra não derrubar as bebidas, ou quebrar as garrafas com esses braços fortes de gorila. — Disparou certa vez arrancando risinhos de algumas meninas que eram suas seguidoras como devia ter acontecido na escola.
— Alguém aqui sabe fazer café? — As meninas olharam para Gabi que fazia o melhor café do local, tanto que passou a ser a feitora oficial de café — Ah, não você, Gabi. — Carol falou sorridente — Alguém que saiba mesmo, não aquilo, eca! — Arrancou risadas novamente das meninas.
Gabi engolia cada veneno com a classe de quem já sangrou demais para se abalar com mulherzinha insegura. Mas por dentro, o sangue fervia.
E Fernando via tudo, fingindo não ligar e não ouvir nada.
Na hora do intervalo, ela foi sentar sozinha na praça de alimentação, tinha direito de comer da comida do próprio restaurante, mas comia pouco apenas salada e um pequeno pedaço de carne, imaginou que Carol gostaria de chama-la de gorda ou de falar que ela comia muito, pois sempre fiscalizava o almoço de Gabrielle com um visível ar de frustração.
Fernando veio logo depois, sem falar nada. Sentou do outro lado da mesa, olhando nos olhos dela, Gabi levantou o olhar e tirou os fones de ouvido.
— Pois não? — Perguntou erguendo uma das sobrancelhas
— Me dá raiva ver como ela te trata.
Gabrielle deu de ombros.
— Cê vai fazer o quê? É sua namorada. — Ela colocou uma garfada de salada na boca.
Ele respirou fundo, depois sussurrou:
— Mas não é ela que me tira o sono. — Falou parecendo sonhador
O silêncio pesou. Ela arqueou uma sobrancelha, desafiadora enquanto mastigava, engoliu a comida e tomou ar.
— Tá dizendo isso pra quê, Fernando?
Ele hesitou, depois falou:
— Porque... — Pensou, coçou a barba, parecia lutar contra algo — Eu acho que quero você. Mesmo. Quero te tocar. Quero saber como é.
— Você acha? — Ela perguntou séria
— Eu tenho certeza
Ela cruzou as pernas devagar, inclinando o corpo pra frente, apoiando os cotovelos na mesa e sustentando o queixo com as duas mãos
— E você tem coragem?
— Me testa — ele respondeu, encarando-a.
Ela sorriu
— De flerte você é bom, mas isso vai me dar muita confusão com a azedinha
Fernando ficou quieto sem entender
— A sua namorada — Gabrielle continuou
— Eu sei — Ele respondeu quase ao mesmo tempo
O telefone dele tocou, ela olhou rápido na tela
— Melhor ir, sua dona não vai gostar de te ver com esse tipo de gente — Falou se referindo a si mesma
Ele se afastou antes de atender o telefone, ela viu o corpo másculo dele, adorava ver as veias saltadas de seu braço, assim que ele saiu ela respirou fundo e percebeu que seu corpo todo tremia de ansiedade
— Gente do céu — Falou sozinha sentindo a maquiagem derreter no rosto pelo suor
Naquela noite, o restaurante fechou mais tarde. Teve inventário, e os funcionários foram liberados aos poucos. Normalmente havia uma escala para que dois ou três funcionários ficassem até tarde para fazer a limpeza e por vezes a organização e até o mise em place para o dia seguinte, mas a gerente tinha mudado o esquema e agora era por sorteio, naquele dia o destino colocou Gabi e Carol juntas para organizarem e limparem o estoque conferindo as caixas, além delas outro rapaz, o Miguel ficaria junto.
Quando chegou a hora Gabrielle ouviu Carol conversar com Fernando na cozinha, que não fez questão de esconder sua frustração ou moderar o volume da sua voz
— Eu não vou ficar aqui sozinha com essa nojenta e se ela me passar alguma doença, me agarrar ou algo assim? vão ser dois homens, isso é um perigo para uma mulher bonita e frágil como eu, sabia?
Quando terminou o expediente Gabi já estava preparada psicologicamente para aguentar as frescuras de Carol, mas ela não apareceu, Fernando se aproximoi7
— Troquei com ela se essa é a pergunta — Fernando disse
Gabrielle abriu um sorriso, mas em seguida ficou séria novamente e deu de ombros pegando a vassoura, os itens de limpeza e os panos.
Carol tinha saído mais cedo, alegando uma cólica que ninguém acreditou.
Quatro horas depois Gabrielle, Miguel e Fernando estavam para terminar, apenas precisavam recolocar algumas caixas de volta no lugar, todo o restaurante estava incrivelmente limpo, o cheiro era de limpeza e parecia que havia acabado de abrir, Gabrielle nunca disse para ninguém mas sua mãe tinha um espécie de complexo de limpeza e obrigava ela e sua irmã à limparem tudo compulsivamente, o que a fez ficar especialista em limpar fogão, geladeira, panelas e tudo mais nos mais escuros cantos, pois sua mãe conferia sempre com muito rigor.
Miguel entrou na cozinha, Fernando e Gabrielle falavam pouco um com o outro, pareciam ter vergonha um do outro.
— Ela é uma escrota — Falou se referindo à Carol tirando o avental e pendurou atrás da porta da cozinha e apontou para Fernando que virou indignado para falar algo — Você sabe que ela é — Disse não deixando Fernando falar, virou-se para Gabrielle — Não deixa ela te irritar amanhã, boa sorte, boa noite
— Não vai esperar a gente? — Gabrielle perguntou preocupada — Assim vamos todos juntos
Miguel sorriu, Fernando saiu da cozinha deixando Miguel e Gabrielle sozinhos
— Vou fazer esse favor pra vocês dois — Falou num tom de voz mais alto para Fernando ouvir e pendurou o avental — Fechem tudo quando terminar e não deixem provas, vocês tem só alguns minutos.
Gabrielle corou, mas não disse nada
— Boa noite — Sussurrou ao ver Miguel sair
No silêncio do fim do turno, Gabrielle estava concentrada no estoque apertado organizando as últimas caixas quando sentiu alguém atrás dela, sabia que era Fernando só havia os dois ali. Ele fechou a porta segurando com a mão parecendo pensativo.
Ela virou devagar, encostando no armário, o corpo tenso, os olhos acesos, atentos.
— Achei que você ia correr — Ela disse, a voz baixa, quase um sussurro com sua voz delicada
— Eu tentei — ele respondeu, se aproximando de forma tímida — Lutei contra isso...
— E...?
— Eu perdi.
Ele a beijou com fome. As línguas se encontraram com urgência, os corpos se chocando com força. Ela gemeu baixo, sentindo o próprio pau enrijecer dentro da calça, o corpo aceso como brasa, laçou o pescoço dele com os pulsos.
Ele a pressionou contra o armário, passou a mão por baixo da camisa dela sentindo a barriga lisinha e os mínimos seios arrepiados, os suspiros dela, o desejo pulsando.
Ela abriu a boca soltando o ar quente assustada, ele pressionou o corpo contra o dela, agora ela sentiu o pênis dele duro por cima da calça a pressionando.
Voltaram a se beijar enquanto ele explorava o corpo dela, Gabrielle o imitou, enfiou as mãos embaixo da camiseta tocando o abdômen, se impressionou pois era lisinho, subiu até o peito, sem pelos, cheirou o pescoço dele, era o cheiro agradável de um macho trabalhador suado.
Ela desceu a mão e apalpou ele, dessa vez foi a vez de Fernando abrir a boca soltando o a quente
— Pode pegar — Ele autorizou
Ela não esperou, abriu o cinto da calça dele rápido e abaixou o zíper, enfiou a mão na cueca e segurou o pau de Fernando, que naquele momento pulsava e ficava cada vez maior.
— Nossa — Ela falou ofegante
— Gostou? — Ele perguntou também ofegante
Ela só olhou para ele com tensão no olhar e virou-se de costas abrindo o próprio cinto, esfregando o bumbum nele.
Fernando entendeu, ajudou-a a tirar a calça cargo verde musgo. Quando a calça desceu ele viu a calcinha preta rendada entrando no bumbum dela
— Que coisa mais linda — Ele falou animado
— Vai logo — Gabrielle disse quando sentiu ele pegando — Já já vão entrar
— Tem camisinha? — Fernando perguntou
— Que camisinha o caralho, vai logo! — Gabrielle disse irritada preocupada com a porta
Fernando tateou o anus de Gabrielle, passou o dedo sentiu pulsar, colocou o pau e forçou, estava seco
— Aaaaiii, assim machuca! — Ela reclamou
— Você tem manteiga aqui? — ele perguntou agarrando ela por trás e beijando o pescoço.
Ela riu, arfando procurando algo na prateleira.
— Ter, eu tenho. Mas não é pra passar no pão, não né? — Perguntou brincalhona
Ele abriu o pequeno frigobar ao lado, servia apenas para itens delicados, pegou a mantegueira de cozinha e sorriu.
— Vai facilitar a brincadeira...
Ela se inclinou para frente empinando o bumbum, abrindo as bandas e puxando a calcinha de lado ao mesmo tempo. Ele a olhou com adoração.
— Você é perfeita... demais pra ser real. — Falou ao meter dois dedos de mante no cu dela
Gabrielle gemeu e empinou mais a bunda — redonda, deliciosa, arrebitada.
Fernando abaixou a própria calça e a cueca até os tornozelos, passou manteiga nos próprio pau e começou a prepará-la, com calma, como se estivesse lambendo o céu antes de entrar no inferno.
Ela gemeu, se apoiando nas caixas e agarrando uma prateleira inox à sua frente
— Vai com calma... meu cu é apertado...
— Eu sei — ele respondeu, beijando sua nuca. — Mas eu vou abrir espaço pra mim.
E entrou. Com força, com gemido, com suor.
Ali mesmo, entre caixas de papel toalha e sacos de batata, o pecado ganhou forma.
Fernando entrava e saia em Gabriele que gemia satisfeita e de olhos fechados.
A manteiga derretia no calor do corpo, escorregando por entre as coxas dela e os gemidos apaixonados. E Gabrielle, linda, forte, mulher, com o pau meia bomba balançando entre as coxas, gemia o nome dele como se aquele momento fosse tudo que ela merecia — e mais.
Ela sentiu a mão dele deslizar por sua barriga, descendo pela cintura e encontrou seu pau, Fernando o segurou enquanto beijava as costas de Gabrielle e a masturbou.
Preocupada e assustada ela não emitiu som algum, não era comum que interagissem com ela daquela forma, muito menos um homem hetero como Fernando, mas logo ele soltou e ela deixou para lá pois percebeu que os gemidos dela o faziam pulsar, gemeu mais e empinou a bunda jogando corpo contra o dele para acelerar o processo é deu certo, sema viso Fernando encheu ela com tudo o que tinha, num gemido delicioso aos ouvidos dela, era isso que ela queria, sorriu satisfeita.
Quando ele saiu ela sentiu o líquido quente escorrer por suas coxas, ela pegou um rolo de papel toalha e se limpou brevemente
Na cozinha ouviram barulho de alguém se aproximando
— Vai lá que eu já vou — Gabrielle disse preocupada
Fernando saiu arrumando a calça e passou pela porta
Ela levantou a calça, mas ele voltou
Deu um beijo quente nela
— Você é muito linda e gostosa — Ele disse animado
Ela sorriu e ele foi embora de novo.
***
Autora: Lidiane Tobor
Abril 2025
Casa dos contos
Temática: Amor transexual
Contato: lidianetobor@gmail.com 🤖