Romance no restaurante - Capítulo 01 - Inimiga íntima

Um conto erótico de Lidiane Tobor
Categoria: Heterossexual
Contém 1174 palavras
Data: 18/04/2025 16:56:59
Última revisão: 18/04/2025 17:05:16

O som dos talheres batendo, o cheiro da gordura da chapa, o barulho dos clientes tagarelando ao fundo — tudo fazia parte do caos do restaurante de shopping onde Gabrielle trabalhava. Mais um dia naquela rotina que ela conhecia bem demais: sorri para o cliente, finge que não ouviu o comentário idiota, limpa a mesa, entrega o pedido com doçura forçada.

Gabrielle era nova ali. Tinha chegado havia apenas dois meses, depois de muito bater perna com currículo na mão e ouvir mais “te ligamos depois” do que podia aguentar. Quando finalmente conseguiu aquele emprego, respirou aliviada, mesmo sabendo que o ambiente não seria fácil.

Era uma mulher transexual de dezoito anos, oficialmente recém hormonizada, mas tomava hormônios escondida dos pais, e isso, pra muita gente ali, parecia ser uma ofensa pessoal. Ela ainda não tinha seios, mas a bunda era linda, empinada, fabricada com hormônios e muito exercício de pernas em academias, moldada em calças jeans apertadas que arrancavam olhares curiosos e cobiçosos de todos os tipos — alguns cheios de desejo, outros de julgamento. A pele branca pálida reluzia sob as luzes fluorescentes do shopping, e os olhos castanhos dela pareciam esconder um mundo de segredos e dores, os longos cabelos castanho-claros cultivados desde os doze anos de idade lhe custaram muitas brigas com a família e diversas acusações homofóbicas em sua curta jornada e do alto dos seus 1,75 m de altura de perfil magro.

Carol, por exemplo, parecia sentir prazer em tratá-la mal. Era aquela típica garota popular que se acha a dona do lugar. Bonita, metida, com um sorrisinho debochado sempre pronto para ferir quem achar que está no patamar dela. Desde o primeiro dia, Carol fazia questão de deixar claro que Gabrielle era "diferente" e devia ser tratada como o tal, com comentários que vinham sorrindo, mas cortavam feito faca e feriam como fogo.

Carol também era uma mulher bonita, talvez uma das mais lindas que se pode ver, da mesma altura de Gabrielle, magra, um rostinho feminino com queixo fino, longos cabelos dourados escorridos de forma perfeita, seios médios empinados e uma cintura de pilão ornando um corpo se exageros estáticos, por toda sua vida usava sua beleza para fazer todos os homens à sua volta suspirarem por ela.

— Nossa, Gabi... você tem um jeito tão... masculino quando anda — dizia ela, olhando para as outras colegas, rindo em deboche. — Ombros dessa largura, você faz natação?

Ou então:

— Se eu tivesse nascido com um corpo tão masculino desses, acho que nem tentava ser mulher... — Parecia refletir — Sei lá, desistia logo porque não compensa perder tempo.

Gabrielle fingia que não ouvia, que não sentia. Mas sentia. E como, não foram poucas as noites que Gabrielle chegava exausta do trabalho e agarrava seu ursinho de pelúcia caindo em lágrimas lembrando de como a infância era boa e sem preocupações, do tempo que passava com sua irmã mais velha, o quanto a admirava e achava linda.

A única pessoa que parecia enxergá-la de verdade era Fernando, namorado da própria Carol, e auxiliar de cozinha do restaurante. Um cara quieto, gentil, que sorria com os olhos, sem abrir a boca ele era capaz de carregar o ambiente com energia positiva, apenas com sua presença. Sempre a ajudava Gabrielle quando ela carregava caixas pesadas, quando esquecia alguma comanda, ou quando Carol era mais cruel do que o habitual de forma não sutil.

No começo, Gabrielle achou que era só educação. Mas os olhares dele eram demorados demais, praticamente a despiam com os olhos, que rapidamente se desviavam quando ela olhava de volta. As palavras eram suaves demais, cuidadosas, pensadas, quase ensaiadas. E o jeito que ele corava quando ela passava perto — isso tudo contava outra história.

Gabrielle havia namorado pouco, havia tido poucos relacionamentos pois sempre foi muito presa pelos pais e criada em igreja evangélica, qualquer relacionamento dela com homens era considerado homossexual, logo sua família proibia e agia com violência física e moral para que isso não acontecesse, até aquele momento ela havia beijado oito homens de forma totalmente secreta e havia tido relaciones sexuais com dois homens, um deles de forma forçada e que ela não gostava de pensar muito e a outra foi a melhor sensação que ela havia tido na vida até o momento, mas que havia gerado uma mágoa gigante em seu coração.

Um dia, ao fim do expediente, Gabrielle foi ao estoque pegar mais guardanapos. Carol a seguiu, encostou na parede, os olhos azuis de Carol fitaram os olhos castanhos de Gabrielle e sussurrou:

— Cuidado com o jeito que você olha para o Fernando, tá? Ele gosta de mulher de verdade. — Olhou Gabrielle debaixo em cima — Não por mim, você não me representa concorrência, mas é para seu próprio bem, não gosto de ver ninguém alimentando ilusões bobas.

Gabrielle respirou fundo, fechou a porta do armário com tanta força que sentiu sua mão doer e respondeu com o olhar firme:

— E mulher de verdade é você, que precisa diminuir as outras pra se sentir alguma coisa? — Respondeu como se fosse algo natural, enquanto amarrava o cabelo segurando a tremedeira das mãos.

Carol riu com escárnio e saiu batendo o salto no chão. Mas Fernando ouviu. E ficou. Ele apareceu no estoque pouco depois, encostado no vão da porta, com o avental manchado de gordura.

— Não liga pra ela — disse ele, sério como se fosse algo casual — Ela tem esse jeito meio... — Ele parecia sem jeito

— Tô acostumada, Fernando — ela respondeu, tentando sorrir. — É só mais uma idiota, não precisa vir me defender não, obrigada.

Ele entrou, parando perto dela.

— Não é uma questão de defesa, é sobre o que é justo e certo, mas você não devia se acostumar com isso. — Ele olhou diretamente para ela, Gabrielle sentiu aquele olhar penetrando-lhe a alma — Você é linda, sabia?

Gabrielle congelou por um segundo, o ar travou nos pulmões. O jeito que ele disse "linda"... não era só elogio. Era confissão.

— Eita! — Gabrielle sussurrou sem pensar, mas em alguns segundos de respiração ofegante ela conseguiu recobrar os pensamentos — Você devia tomar cuidado com o que fala... — ela sussurrou, os olhos cravados nos dele.

Ele se aproximou mais um passo.

— E se eu não quiser tomar cuidado? — O olhar dele era sério, desafiador.

O ar ficou denso ali dentro. O cheiro de papel, plástico e tempero industrial misturado com o perfume suave dela — Quase como baunilha adocicada. Eles estavam perto para uma conversa casual. Muito perto.

Mas antes que algo acontecesse, um barulho de pratos no salão os fez se afastar quebrando a conexão momentânea. O momento que não aconteceu pairou entre eles até o fim da noite.

No vestiário, quando ela se trocava, ele passou pela porta e lançou um último olhar. Tinha desejo ali. E dúvida. E talvez... culpa.

Mas também tinha uma promessa.

— Até amanhã Gabi! — Ele disse ao longe sem esperar resposta dela

Ela sussurrou uma resposta e sorriu tentando não se encher de nenhuma esperança, mas era uma luta inútil

***

Autora: Lidiane Tobor

Abril 2025

Casa dos contos

Temática: Amor transexual

Contato: lidianetobor@gmail.com 🤖

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