Entre o Desejo e o Silêncio

Um conto erótico de MalevoloMagnus
Categoria: Sadomasoquismo
Contém 2549 palavras
Data: 16/04/2025 19:13:08

"Entre o Desejo e o Silêncio"

Narrado por Larissa

A primeira vez que senti que algo em mim tremia quando Rodrigo entrava na sala, eu ainda acreditava que era culpa.

Culpa por perceber demais.

Por observar como ele apertava a mandíbula quando estava irritado. Como seus ombros relaxavam ao voltar da corrida matinal. Como o cheiro do pós-barba dele ficava flutuando no corredor mesmo depois de ele passar.

Rodrigo sempre foi silencioso, metódico, firme. Um homem de presença que não se anunciava. Era o tipo que não precisava levantar a voz para ser obedecido. E, talvez por isso, desde cedo, mesmo sem entender o motivo, eu o escutava com o corpo inteiro.

Não era sobre palavras. Era sobre ritmo. Sobre o modo como ele ocupava os espaços — e como o meu corpo reagia a isso.

Por anos, me convenço de que era apenas admiração.

Mas admiração não deixa a pele arrepiar quando alguém passa por trás de você na cozinha e diz “com licença” perto demais do seu pescoço. Admiração não faz você se lembrar de um toque na cintura durante dias.

A verdade é que eu sempre soube quem ele era.

Não “Rodrigo, o consultor”, “Rodrigo, o marido da minha mãe”, ou “Rodrigo, o homem de hábitos e compromissos”.

Não.

Falo do outro. Do que vivia por trás do controle. Do homem que falava pouco, mas olhava com densidade. Do homem que observava antes de agir. Que não tinha pressa — porque quem tem domínio, não corre.

A primeira pista foi uma conversa solta de uma das amigas da minha mãe. Elas tomavam vinho na varanda, e uma delas comentou:

— Esse aí já foi fogo antes de casar, viu? Pegava até sombra.

Eu fingi não ouvir.

Mas ouvi.

E quis saber mais.

Algumas semanas depois, Rodrigo esqueceu o notebook aberto na sala. Uma aba discreta no navegador mostrava um fórum privado sobre dominação e submissão. A maioria das pessoas não entenderia. Eu entendi.

Aquilo não era curiosidade casual. Era conhecimento. Era história. Era pertencimento.

Pouco depois, vi uma caixa trancada no armário do escritório. Peguei a chave escondida. Lá dentro, entre pastas e objetos comuns, estavam as cordas — vermelhas, de algodão macio, enroladas com perfeição. As pontas dobradas em um nó específico. Ritualístico.

Era shibari.

E ali tudo fez sentido.

Pesquisei. Fui fundo.

E então encontrei o nome: Dom Malévolo.

Não era apenas um pseudônimo. Era uma identidade. Um rastro.

Um homem que já havia sido Senhor antes de decidir ser marido.

Frases dele gravadas em blogs antigos, registros anônimos em fóruns:

“Amarrar não é prender. É libertar.”

“Dominar não é sobre brutalidade. É sobre guiar com precisão quem quer se perder.”

“Prazer não é a consequência. É a ferramenta.”

Li tudo. Várias vezes.

E entendi o que ele era.

E o que eu queria ser.

Comecei a testá-lo.

Sutilezas.

Descia com camisolas leves quando sabia que ele estaria na cozinha. Cruzava as pernas de propósito à mesa, sabendo que o vestido subiria. Deixava a toalha cair quando ele passava. Tocava no ombro dele com tempo demais. Gargalhava das piadas dele como se fossem as melhores do mundo.

E ele… resistia.

Mas resistia como quem sabe que está à beira do colapso.

O olhar endurecia. A respiração alterava. O silêncio se tornava mais denso.

E eu sabia: a fera estava viva. Só dormia com um olho aberto.

A primeira faísca foi com uma massagem.

Ele estava tenso. Ofereci.

Toquei com calma, mas com intenção.

Os dedos deslizando pela camisa. Meus seios quase tocando as costas dele.

E a cada suspiro contido, meu corpo vibrava.

Ele não falou nada. Mas o membro dele, rígido sob a calça, dizia tudo.

Naquela noite, dormi molhada.

Gozei com os dedos entre as pernas imaginando ele me mandando ajoelhar. Me chamando de “minha”. Me prendendo pelos pulsos. Me marcando com a palma quente.

E acordei com a certeza: ele ia ceder.

Eu só precisava criar o momento certo.

Criei.

Numa noite em que minha mãe estava fora, e a casa parecia suspensa no tempo.

Coloquei um vestido curto, preto, justo o suficiente pra colar no quadril e deixar as coxas expostas. Sem calcinha. Apenas perfume nos pontos certos, batom leve, cabelo preso em um rabo baixo, deixando o pescoço livre.

Desci. Ele estava vendo TV.

Sentei ao lado dele. Fingi inocência. Cruzei as pernas. Toquei no braço dele ao rir. Brinquei com a taça de vinho.

Ele disfarçava. Mas o olhar traía.

— Quer uma bebida? — perguntei.

— Só um pouco.

Na cozinha, deixei a garrafa cair no chão. Me abaixei para pegar. De propósito. Sabia que ele olharia.

E olhou.

— Você sabe exatamente o que está fazendo comigo — ele disse.

Eu me virei devagar.

— E você sabe que não precisa mais fingir que não quer.

Foi a última palavra.

Ele me virou contra a bancada.

Segurou minha cintura.

Apertou meu corpo contra o mármore.

E tudo mudou.

A voz dele ficou mais grave.

O olhar mais escuro.

O toque mais duro.

— Você provocou isso, Larissa. Agora vai aguentar.

O primeiro tapa foi uma libertação.

Ardeu na pele. Acendeu na alma.

E eu gozei sem nem ser tocada entre as pernas.

* O Nome Que Ele Nunca Tinha Dito * Sequência

Depois do tapa, fiquei imóvel por um instante. O corpo estava ali. Mas a alma… a alma se estilhaçava em prazer.

Ele me encostou com mais firmeza na bancada da cozinha. A mão dele era como ferro quente em brasa, moldando o caminho da minha entrega.

Rodrigo? Já não era mais Rodrigo.

Ele me chamou pelo nome como nunca tinha chamado antes:

— Larissa, você não faz ideia do que está acordando.

Mas eu fazia.

Fiz cada movimento, cada gesto, cada provocação para exatamente aquilo acontecer. Porque eu queria a versão dele que o mundo nunca veria. Queria o homem que controlava, que guiava, que dominava — não por ego. Por necessidade.

Ele não era bruto.

Era preciso.

Frio na fala, quente no gesto.

Ajoelhei sem que ele precisasse pedir.

Sabia o que ele esperava.

Fiquei ali, entre suas pernas, com os olhos abaixados. Ouvi o som do cinto sendo solto. Da calça descendo. Do membro dele erguido diante de mim, imponente, forte, pulsando desejo e fúria contida.

Ele pegou meu queixo com firmeza e ergueu meu rosto.

— Você me tirou do meu lugar. Agora vai aprender qual é o seu.

— Sim, Senhor.

— Boa menina.

Quando ele disse isso, todo o meu corpo vibrou.

Como se meu nome tivesse mudado. Como se “boa menina” fosse meu novo título. Minha medalha. Meu pertencimento.

E então, ele entrou na minha boca.

Devagar.

Fundo.

Com a mão na minha nuca, guiando. Sem pressa. Sem palavras doces.

Apenas controle.

Meus olhos lacrimejavam, mas eu não queria parar.

Eu queria mais.

Queria provar o gosto dele. Queria sentir que ele perdia o controle por minha causa. Que a fera, agora livre, precisava de mim para existir.

Depois, me ergueu com força. Me virou de costas. E me penetrou de novo.

Na cozinha. Com meu corpo contra o mármore gelado. Com a boca entreaberta, mordendo a própria mão para conter o grito.

Ele era fundo. Ele era inteiro.

Me fodia como quem esculpia uma estátua com golpes firmes, rítmicos, sensuais.

Como quem sabia exatamente onde machuca e onde cura.

— Me dá isso, Larissa. Me dá tudo — ele sussurrava no meu ouvido.

— É seu. Sou sua — eu dizia, com os joelhos trêmulos.

E fui.

Gozei com força. Ele veio logo depois. Dentro de mim. Com o corpo tenso e a respiração falha.

O que veio depois não foi silêncio. Foi rito.

Ele me levou pro quarto. Tirou meu vestido com cuidado. Me despiu como quem desembala um presente que esperou por muito tempo.

E então… ele me colocou o colar.

Fino. De couro. Um anel metálico discreto na frente.

— Isso não é um acessório — ele disse. — Isso é uma entrega.

Fiquei de joelhos.

Os olhos baixos.

O corpo entregue.

E disse:

— Eu sou sua, Senhor.

Ele se agachou. Tocou meu rosto com a palma quente.

— E eu sou o homem que vai te ensinar o que isso significa.

Naquela noite, meu corpo aprendeu o que a alma já sabia:

Ser possuída é muito mais do que ser tocada. É ser moldada.

E ele era o artesão da minha perdição.

* A Escrava do Silêncio *

Depois daquela noite, nada mais foi o mesmo.

Ele não precisou repetir. Não precisou me pedir. Eu já era dele. O corpo era um instrumento. Mas o que ele pegou foi outra coisa: minha vontade.

E me tornei o que ele sabia fazer com maestria: submissa.

Com o tempo, a gente cria um tipo de código. Um idioma sem palavras. O olhar se torna ordem. O silêncio, comando. A pausa entre uma frase e outra é o suficiente para saber se posso sentar, falar, tocar, obedecer.

E eu obedecia.

Com gosto.

Não por medo. Mas por desejo.

Ele me mandava mensagens curtas durante o dia. Apenas comandos:

“Sem calcinha hoje.”

“Quando entrar em casa, não fale. Ajoelhe.”

“Hoje, 2h. Escritório. Algemada.”

E eu ia.

Cumpria tudo.

Nos momentos em que estávamos sozinhos, a casa virava território dele. Cada canto podia ser cenário de um novo ritual. A cozinha, o quarto de hóspedes, o escritório — todos tinham as marcas dele e os rastros da minha entrega.

Ele me amarrava com precisão.

As cordas cruzavam meu peito, seios marcados e oferecidos. Os nós passavam pelas costas, pelas coxas, pela cintura. E eu me transformava numa obra viva.

As cordas deixavam minha pele quente. E a mente… leve.

Porque ali, presa, eu era mais livre do que nunca.

Ele me vendava.

Me girava no escuro.

Tocava meu corpo como se lesse um livro.

Usava o cinto. Usava a mão. Usava a voz.

E com tudo isso, me elevava.

Não pra humilhar.

Mas pra purificar.

Porque ao obedecer, eu deixava de controlar.

E isso… era libertador.

E mesmo com tudo isso acontecendo, a vida seguia.

Mamãe estava cada vez mais ausente. Vivia em reuniões, viagens, telas. Dormia em outro quarto. O casamento deles era uma peça de teatro. Sem texto. Sem aplauso.

Andrey ainda existia. Mas como se estivesse cada vez mais longe de mim. E mais próximo de uma versão da Larissa que já não morava ali. Porque eu estava sendo consumida — no melhor sentido da palavra.

Eu queria o que Rodrigo me dava.

A autoridade. O limite. A dor que cura. A posse sem disfarce.

E toda vez que eu escutava “fica de joelhos”, eu sentia que o chão me recebia como um lar.

* A Marca Que Não Sai *

Comecei a esconder as marcas.

Não porque me arrependesse.

Mas porque elas estavam por toda parte.

No meu pescoço, o leve roxo do colar de couro.

Na bunda, as formas simétricas das mãos dele.

Nas coxas, pequenos pontos da corda.

Nos pulsos, a lembrança do nó bem feito.

E entre as pernas, o calor constante — um desejo que já não dormia mais.

Eu andava diferente. Falava diferente. Respirava diferente.

Não por vergonha. Mas porque não cabia mais no papel que o mundo me deu.

Eu não era só filha. Nem só contadora. Nem só noiva.

Eu era... dele.

Submissa.

E não era brincadeira. Era rito.

Rodrigo me conhecia mais do que qualquer um. Sabia onde apertar. Quando bater. Quando sussurrar “boa menina” no meu ouvido. E quando calar.

Nossos encontros viraram sessões. Não apenas sexo.

Eram liturgias do toque, do controle, do prazer.

Às vezes ele me fazia ficar ajoelhada por meia hora sem falar.

Outras, me mandava apenas sentir.

E sentir era tudo o que eu mais queria.

Andrey não desconfiava.

Ou talvez sim, mas fingia que não.

O sexo entre nós murchou.

As conversas também.

Como continuar com alguém quando seu corpo inteiro clama por ordens de outro?

Como amar o toque leve, quando seu desejo arde por um tapa?

Como respeitar o olhar comum, depois que já foi encarada como propriedade?

Não dava.

E Rodrigo?

Ah, Rodrigo…

Ele também mudava.

Ficava mais quieto quando Amanda estava perto.

Mais tenso nas jantas de domingo.

Mas bastava estarmos a sós e a transformação voltava.

— Você é minha, Larissa — ele dizia com os dedos entrelaçados no meu cabelo, puxando com firmeza.

— Sempre fui, Senhor.

E era verdade.

O que a gente viveu ultrapassou desejo.

Já não era só sobre cordas, tapas e comandos.

Era sobre confiança. Sobre entrega. Sobre pertencer.

E eu sabia: por mais que o mundo tentasse destruir aquilo, por mais que o tempo passasse, por mais que a realidade nos cobrasse a conta...

eu já tinha sido marcada.

Por dentro.

Por fora.

Pra sempre.

*A Última Vez Que Ele Me Disse "Boa Menina"*

A vida continuava lá fora.

Com Amanda falando de reuniões no jantar.

Com Andrey me mandando emojis mornos.

Com o mundo girando como se nada tivesse acontecido.

Mas dentro de mim, havia outra rotação.

Mais lenta. Mais intensa. Mais perigosa.

Era a rotação de tudo que Rodrigo e eu criamos sem nomear.

De cada vez que ele me amarrou no escritório com a porta trancada.

De cada tapa preciso que ecoou nas paredes da lavanderia.

De cada ordem sussurrada entre o som da chuva e o silêncio da madrugada.

De cada vez que ele me fez gozar com a voz.

Com o olhar.

Com o controle.

Comecei a sentir que o fim se aproximava.

Não porque algo tivesse dado errado.

Mas porque tudo estava certo demais para durar.

A tensão nos nossos corpos estava mais densa.

O prazer, mais desesperado.

Os encontros, mais urgentes.

Parecia que cada noite poderia ser a última.

E talvez por isso, naquela sexta-feira, quando ele mandou a mensagem:

“Hoje. Quarto de hóspedes. 01h. Cega, nua, e minha.”

…eu fui com o corpo em febre.

Entrei no quarto sem roupa. Com os olhos vendados.

Senti o cheiro dele antes de ouvir sua voz.

O couro. A loção. O perfume leve que eu aprendera a identificar de olhos fechados.

Ele me guiou com a mão na nuca. Me colocou de joelhos.

Prendeu meus pulsos atrás do corpo.

E então, veio a voz:

— Última sessão, menina.

Aquela frase bateu como um soco no estômago.

Mas não questionei.

Porque submissas não perguntam. Elas sentem.

E eu senti tudo.

Ele me tocou com reverência. Me bateu com precisão.

Me amarrou como quem escreve poesia com cordas.

Fez meu corpo tremer. Me fez gozar ajoelhada.

Me fez implorar com a boca cheia de silêncio.

— Você é minha, Larissa — ele disse uma última vez.

— Sempre fui, Senhor.

E então, quando me desamarrou…

Me deitou na cama.

Beijou minha testa.

E sussurrou:

— Boa menina.

Foi a última vez que ouvi isso dele.

O dia seguinte foi normal.

Café da manhã. Conversas sobre o tempo. Amanda falando de uma possível viagem. Eu sorrindo. Andrey mandando mensagem dizendo que me amava.

Mas por dentro…

Por dentro, meu corpo ainda ardia.

Não só de prazer.

De saudade.

De falta.

De pertencimento perdido.

Eu ainda era dele.

Mesmo que ele nunca mais me amarrasse.

Mesmo que nunca mais me tocasse.

Porque o que a gente viveu não foi um caso.

Não foi só dominação.

Foi uma conexão que o mundo jamais entenderia.

E mesmo que nunca mais aconteça...

Ele sempre será o homem que me fez ajoelhar — e gostar.

E eu, a mulher que despertou a fera.

E a alimentou até o fim.

FIM

malevolomagnus@gmail.com

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