A FORÇA QUE ENCONTRO EM TI - CAPÍTULO 8: AMIZADE VERDADEIRA

Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 2513 palavras
Data: 16/04/2025 01:01:39

Cá estou eu, assistindo ao primeiro treino do Emmett. Da arquibancada, observava enquanto ele se posicionava à beira da piscina, vestindo uma sunga preta que salientava todos os seus atributos. E que atributos... Ok, George, foco. O Emmett é apenas um amigo. Só um amigo. Mesmo que, por algum motivo, ele tenha decidido ficar ridiculamente bonito do nada.

Além disso, ele costumava praticar bullying comigo. Eu não podia — não deveria —nutrir sentimentos por alguém que já me fez mal.

Na piscina, a professora deu algumas orientações, gesticulando com as mãos. Explicando a melhor maneira de usar o corpo para avançar dentro da água, e Emmett assentiu, atento. Antes de tudo, porém, eles começaram um aquecimento, porque, né, ninguém quer morrer afogado antes de descobrir se tem chance no time de natação.

Emmett olhava para cima, me procurando, e eu, num reflexo idiota, levantei a mão e mandei um joinha. Sério, um joinha? Eu devo ser a pessoa mais patética do mundo.

E, como se esse momento constrangedor já não fosse suficiente, Jennifer sentou ao meu lado. O que é isso, Deus, um teste de paciência?

Ela levantou o celular e começou uma live para os seus seguidores. Será que é uma publi?

— Vejam, pessoal! Até os alunos especiais estão tentando uma vaga no time! A Cleverfield High School é uma instituição inclusiva. — Ela exibiu um sorriso falso. — Espero que essa nova turma traga muitas medalhas e reconhecimento para a nossa escola!

— Sem noção. — Murmurei. — Não se toca. — Revirei os olhos e cruzei os braços.

— E você, Georgito? — Jennifer se virou para mim, ainda segurando o celular. — Não vai colocar uma sunguinha e se juntar ao seu amiguinho especial?

— A única coisa especial aqui, Jennifer, é a sua falta de noção e educação. — Eu travei por um segundo, mas logo respirei fundo. — Sim, o Emmett é especial. Especial porque não precisa da atenção de nenhum alpinista digital para alcançar os seus objetivos.

Assim que as palavras saíram, percebi o que fiz. Droga. Arregalei os olhos, esperando uma resposta afiada. Jennifer inclinou a cabeça, um sorriso maldoso nos lábios.

— Nossa, que confiante. Mas acha que eu não sei que, por trás dessa pose de durão, tem um garoto chorão cheio de traumas? Eu reconheço o cheiro do medo de longe.

— Mesmo? — Perguntei e olhei para o seu celular. Então, também sorri, só que o meu era mais afiado. — E o cheiro do cancelamento?

— O quê? — Ela piscou, confusa. Dei de ombros.

— Sua live ainda está online, idiota. — Avisei e cruzei os braços.

Os olhos dela se arregalaram. Jennifer surtou, desligando o celular às pressas. Eu me recostei no banco da arquibancada e aproveitei o momento. Pequenas vitórias.

Jennifer fez um showzinho e garantiu que a culpa era minha. Mas eu voltei a minha atenção para o Emmett, que estava prestes a fazer o seu teste. Me afastei da patricinha para não cair na pilha e para torcer melhor pelo meu colega.

Ele entrou na piscina com confiança, e eu prendi a respiração sem nem perceber. O Emmett sempre foi um atleta, mas agora era diferente. A água parecia um desafio maior para ele, e eu não tinha crivo nenhum para julgar seu desempenho, ou seja, não podia dar uma nota. Ainda assim, aparentemente ele foi rápido e seguiu as dicas da professora, atravessando a água como um foguete. O tempo todo eu apertei os dedos contra as palmas das mãos, torcendo para que desse tudo certo. Quando ele finalizou a volta, respirei aliviado.

Após o teste, desci das arquibancadas e caminhei até o Emmett. Ele estava se enxugando com uma toalha branca e, de repente, o tempo pareceu parar. Eu não sabia que meu colega tinha um corpo tão atlético assim. Os poucos pelos no peito ficaram escondidos por causa dos músculos bem definidos, e a famosa entrada em "V" guiou o olhar para mais abaixo, onde a sunga moldava um volume considerável. Meu Deus.

Estou olhando muito? Para, George. Para de encarar o corpo quase nu e molhado do garoto.

— Então, Emmett...

— Eu não fiz nada! — Exclamei, saindo do transe e cortando a professora Yadav de repente, sem nem pensar.

— Fez sim. — Ela garantiu, pegando no meu ombro e sorrindo.

— Puta merda. — Pensei, sentindo o calor subir pelo rosto. G-A-Y P-A-N-I-C!!!

— Veio apoiar o seu amigo. Olha, eu sei que vocês têm um passado e fico feliz que estejam se apoiando. Isso é muito importante. — Salientou a professora, quase me fazendo ter um treco.

— Ah, sim. É verdade. O Emmett e eu tivemos nossas diferenças, mas vamos aprender a trabalhar em conjunto. Fora que ele é um bom atleta e espero que consiga uma vaga no time. — RespondI, me sentindo mais aliviado ao ver que minha gafe passou despercebida.

— Bem, meus queridos, eu preciso ranquear os tempos. — Olhando para Emmett. — Amanhã vou publicar os escolhidos no mural da escola. — Avisou.

— Tudo bem, obrigado, professora. — Agreceu Emmet.

— Obrigado, Sra. Yadav. — Nem sei porque agradeci. Então, a professora seguiu para conversar com outro grupo de alunos.

— Ei, você quer comer alguma coisa? — convidou Emmett.

— Não posso. A mamãe me mataria se eu pulasse o jantar — menti, pois estava sentindo uma pulsação diferente dentro do meu peito. — Podemos marcar outro dia, que tal?

— Outro dia — ele respondeu.

O cheiro das famosas enchiladas de espinafre e brócolis do meu pai perfumava o ar assim que entrei em casa. Era um aroma que me fazia sentir no lugar mais seguro do mundo. Em casa, sempre foi assim: o papai era o cozinheiro oficial e a mamãe ficava com as louças, mesmo resmungando que ele sujava mais panela do que o necessário. Ela dizia isso com um sorriso nos lábios, como quem já havia aceitado essa dança há anos.

Mamãe estava sentada à mesa, com o cabelo preso de qualquer jeito e um caderno de rascunhos ao lado do prato — provavelmente uma nova história infantil tomando forma entre garfadas. Já a Anne, minha irmãzinha, saboreava um prato de tilápia, arroz e legumes, enquanto cantarolava uma musiquinha do desenho que ela vivia assistindo. Tudo estava... normal. Aquele tipo de normal que a gente só percebe que ama quando está longe.

— Chegou na hora certa, filho — Disse meu pai, saindo da cozinha com um pano jogado no ombro. — Vai querer enchiladas?

— Claro — Respondi, sorrindo. Peguei meu lugar à mesa e respirei fundo, deixando o cheiro me abraçar.

— E como foi a escola hoje? — Perguntou ele, servindo-se também.

A pergunta veio simples, como tantas vezes antes, mas eu sabia que minha resposta não seria comum. Engoli um pedaço da tortilla e demorei um pouco mais do que o normal para mastigar.

— Eu... fui assistir ao treino do Emmett. Ele entrou na equipe de natação da Cleverfield High School. — Contei.

O garfo da minha mãe parou no ar. Papai arqueou uma sobrancelha. Até Anne ficou em silêncio por um segundo, como se tivesse entendido o peso daquela frase.

— Emmett? — Repetiu meu pai, surpreso. Assenti, mexendo no prato.

— Sim... Eu sei que é estranho. Depois de tudo, né?

— George, você não é obrigado a forçar nada — Afirmou mamãe, baixando o tom de voz, com cuidado. — O que ele fez com você no passado... não foi justo. Nem um pouco. Eu sei que vocês sobreviveram ao Furacão Fernandes juntos, mas...

— Eu sei. — Suspirei. — Mas... acho que ele está tentando mudar. Dá pra ver que ele tá se esforçando. Ele quase não fala mais com ninguém. Parece... diferente. Quase como se ele estivesse tentando consertar alguma coisa por dentro.

Papai ficou em silêncio, o olhar sério, pensativo. Mamãe também. E eu continuei.

— A Rachel... — Falei mais baixo agora — era a única amiga dele. E ela ainda está desaparecida desde o Furacão Fernandes. Ele meio que... ficou sozinho.

Fechei os olhos por um segundo, sentindo aquela pontada familiar de saudade no peito.

— Se ele tá tentando ser alguém melhor, talvez eu também possa tentar. Não que vá ser fácil esquecer tudo, mas... sei lá. Se a Rachel estivesse aqui, ela diria que todo mundo merece uma segunda chance. E talvez... talvez ele esteja mesmo tentando ser alguém digno dessa chance.

Papai respirou fundo e sorriu de leve, um daqueles sorrisos que não são exatamente de felicidade, mas de compreensão.

— Isso mostra maturidade, filho. Fico orgulhoso de ver você pensando assim.

Mamãe esticou o braço e apertou minha mão sobre a mesa.

— Mas vá com calma, tá bem? Você pode ser gentil sem se machucar de novo.

Assenti. Era isso. Um passo de cada vez. Como no treino de alguém tentando se tornar uma nova versão de si mesmo.

E enquanto a noite continuava ao redor do tilintar de talheres e cheiro de comida boa, percebi que, pela primeira vez, pensar em Emmett não me causava raiva. Só uma vontade pequena — mas verdadeira — de ver no que ele poderia se tornar.

***

Me sentei no sofá de couro do consultório da Sra. Moore, sentindo o cheiro leve de lavanda que sempre impregnava o ambiente. Minha perna balançava sozinha, inquieta. Eu não sabia direito o que estava fazendo ali, mas sentia que precisava falar. Precisava tirar esse peso do peito.

— O que trouxe você aqui hoje, George? — A voz calma da Sra. Moore me fez erguer os olhos para ela.

Cruzei os braços, desviando o olhar. Como eu poderia colocar em palavras o caos dentro da minha cabeça? Era estranho demais.

— Eu... estou confuso. Com uns sentimentos que eu não queria ter. — Confessei, sentindo minha garganta secar.

— Quer me contar um pouco sobre eles? — Ela perguntou, com paciência.

Respirei fundo e olhei para o teto, buscando forças para admitir aquilo.

— Eu odeio o Emmett. Ou pelo menos odiava. Ele me infernizou por anos, me fez passar pelos piores momentos da minha vida. Mas agora, depois de tudo, depois do furacão, depois de termos que conviver... Ele tá diferente. E eu tô diferente. E quando ele sorri pra mim ou quando a gente tá junto, meu coração... sei lá. Fica estranho. Acelera. E hoje, na piscina, eu olhei pra ele e... Meu Deus. — Coloquei as mãos no rosto. — É tesão, né? Diz pra mim que é só tesão!

A Sra. Moore riu suavemente, mas não de um jeito debochado. Era um riso compreensivo.

— George, os sentimentos são seus. Se permita senti-los. — Ela sugeriu. Bufei, jogando a cabeça para trás.

— Falar é fácil. Deixa o teu crush te trancar num banheiro químico podre e frio. — Soltei, dando um sorriso amarelo. — É tão ruim ser jovem.

— A adolescência é uma fase de descobertas. Eu sei que as atitudes de Emmett foram duras e hostis, mas as pessoas podem mudar. Pelas coisas que você contou, o seu colega está tentando ser uma pessoa melhor, certo?

Suspirei, encarando a parede.

— Sim. Ele está mais gentil com as pessoas. Na escola antiga, o Emmett sempre foi mais calado e introspectivo, porém, fazia a vontade de seus colegas de time. — Admiti.

— Cada um passa por um processo de descoberta, George. — A Sra. Moore disse, com aquele tom que fazia parecer que tudo fazia sentido. — E se você está tendo sentimentos pelo Emmett, por que não explorá-los? Que tal, em vez da distância, tentar encontrar coisas em comum?

Fiquei em silêncio, refletindo sobre aquilo. Nunca pensei dessa maneira. Meu instinto sempre foi fugir, me proteger. Mas e se... eu desse uma chance? E se Emmett realmente fosse alguém diferente agora?

— Nunca pensei dessa maneira. — Murmurei, mais para mim do que para ela.

Talvez estivesse na hora de pensar diferente.

***

Cheguei na escola e encontrei Nathan tendo dificuldades em conseguir um pacote de salgadinhos na máquina do refeitório. Meu colega estava usando um sobretudo preto e uma bota muito estilosa. Sério, eu não conseguiria me vestir tão bem assim nem que tentasse. Como sempre, implorei por suas anotações de Álgebra, pois não conseguiria finalizar o exercício sozinho.

Caminhamos pelo corredor quando percebi uma movimentação em um dos quadros de aviso. De acordo com Nathan, eram os resultados anuais dos times e clubes da escola. Ele e a irmã, por exemplo, eram os responsáveis pela equipe de diversidade do Cleverfield High School, algo que nunca tivemos na escola antiga.

— O Emmett. — Falei e apressei o passo.

— Espera, George. É difícil correr com essas botas. — Pediu Nathan, dando mini passos para me alcançar.

Enfrentei o mar de alunos e consegui achar a lista de natação. Lá estava o nome dele em primeiro lugar - Emmett Montgomery-Kerr. Virei para trás e o encontrei. Seus olhos estavam marejados e eu não entendi o motivo de uma feição tão fechada.

— Ei, você conseguiu. — Contei, o abraçando, mas ele não me abraçou de volta. — Tá tudo bem?

— Acharam. — Ele respondeu, e percebi que sua respiração estava ofegante. — Acharam o corpo da Rachel e dos pais dela.

O quê? Minha respiração também começou a ficar irregular. A Rachel foi encontrada. Então, o pouco de esperança que eu ainda nutria não valia de nada. Eu pensei que fosse desmaiar, mas fui amparado pelo Emmett e pelo Nathan.

***

— Rachel, eu sei que tivemos nossas diferenças. Joguei uma informação muito forte em um momento delicado para você. — Escolhi cuidadosamente as palavras, mas a verdade é que eu estava desesperado, pois tinha pouco tempo para entregar a atividade. — Mas agora estou precisando muito da sua ajuda. Estou ferrado em Álgebra. Se eu bombar nessa matéria, meus pais vão me impedir de ir ao México no verão e não vou poder conhecer minhas raízes. — Falei tão rápido que minha ex-melhor amiga precisou de um tempo para absorver.

— George, você sempre foi dramático. — Ela deu um sorriso tímido e um de seus dreads se soltou. Com agilidade, prendeu-o de volta. — Tudo bem, não quero que você perca essa viagem. — Ela me entregou o caderno. — Só vou precisar dele depois. Me encontra na piscina depois da aula? Vou assistir ao treino do Em.

— Tudo bem.

***

Em um mundo ideial eu teria dito: "Te amo, Rachel. Obrigado por tudo", mas, infelizmente, não foi assim que me despedi dela. Eu tinha ainda tanto a dizer.

A Rachel era poetisa. Ela costumava falar que a amizade é um fio um fio invisível que une almas de formas inesperadas. Com a minha amiga, eu aprendi que a verdadeira amizade é o riso compartilhado nos dias bons e o silêncio acolhedor nos dias ruins. Mas, às vezes, nos acostumamos tanto com sua presença que esquecemos de expressar o que realmente sentimos.

Quantas vezes deixamos para depois aquele "obrigado" sincero, aquele "eu te admiro" que poderia iluminar o dia de alguém? Quantas histórias guardamos para nós mesmos, esperando o momento certo que nunca chega?

O tempo, com sua pressa impiedosa, nos ensina da forma mais dura que a vida não espera. E um dia, talvez, nos vejamos diante de um espaço vazio onde antes existia uma presença constante, um ombro amigo, uma risada que preenchia o silêncio. E então percebemos o peso das palavras que nunca foram ditas.

Mas a amizade verdadeira resiste ao tempo e às ausências. Mesmo quando as palavras ficam presas no passado, o que foi vivido jamais será apagado. O carinho, as memórias, os momentos compartilhados – tudo isso se torna parte de nós.

Obrigado por tudo, Rachel.

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Comentários

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Como tem poder de emocionar com tanto talento e sensibilidade, amando o conto.

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Por quê? Às vezes a vida é dura para ensinar sabedoria.

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Ansioso pela aproximação do Emmett e do George!

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