IN-CEM-MINAÇÃO
Zé Celso e Doralice eram um casal normal. Eles nunca chegaram a se casar de verdade, só se “juntaram”, mas deu tão certo que não tinha porque casar. Ele trabalhava numa linha de produção duma malharia, enquanto ela era “do lar” e fazia crochê. Dinheiro nunca lhes sobrava, mas também não faltava. Aquela era uma vidinha bem comum, igual a de muitos brasileiros, mas para eles estava bom.
Entretanto, nem tudo eram flores no relacionamentos deles. Certo dia, Dorinha, como gostava de ser chamada, prensou o marido na parede:
- Eu quero um filho, Zé. Sempre sonhei ser mãe e eu quero! Ou então... Ou então a gente se separa, porque eu quero!
- Mas Dorinha, a gente já tentou de tudo e não deu. Você quer que eu faça o quê?
- Não sei, mas faz. Homem, eu já fui em tudo que é médico e todos dizem que eu não tenho nada. Então, só pode ser você, Zé!
- Eu!? Que eu o quê, Dora! Você bem sabe que o “pequeno Zé” funciona que é uma beleza.
- Funciona, mas não funciona, né? Senão tinha me emprenhado... – Retrucou, batendo o pezinho: - Dona Jacinta disse que tem um médico bom para resolver o nosso problema.
- Médico?
- É.
- Precisa mesmo, Dorinha?
- É isso ou eu... – Ela se calou, tensa, temerosa e concluiu: - É isso! Nós vamos.
Marcaram e dias depois, seguiram para o endereço do tal médico. O lugar não inspirava confiança. A tal clínica, como a placa na entrada dizia, ficava num local não muito propício, perto de bares e de uma rua repleta de luzes vermelhas com má fama. Ainda assim entraram e depois de um bom chá de cadeira, foram atendidos pelo doutor Lindomar, um preto alto e forte, mais para gordo do que para magro, com braços mais grossos que a perna de Zé Celso. O sorriso, entretanto, era branco que chegava a estalar:
- Dona Doralice? – Perguntou, os dentes reluzindo.
- Sou eu mesma!
- Então, o senhor deve ser o José Celso, não é isso?
- É, né! – Resmungou, ranzinza.
- Vamos entrar, gente. Conversemos dentro do meu consultório.
Ali uma consulta protocolar, cheia de perguntas e respostas, aconteceu. Dora havia levado também todos os seus exames que, analisados por um olho criterioso que mais olhava para os peitos dela do que para os papéis, chegou a um diagnóstico rapidinho:
- Acho que o problema é você, Zé.
- Eu!?
- Ué! Ela está bem, mas não engravida. Então...
Zé bufou, mas nada disse. O médico continuou:
- Entra ali no trocador e tira a roupa. Já vou te examinar direitinho e...
- Tirar a roupa? Eu!?
- Sou um médico, Zé, preciso te examinar.
- Gosto disso não! Não dá só para a gente fazer uns exames de sangue aí?
Dora nem se dignou a repreendê-lo, pois conhecia o marido. O médico, após um suspiro, concordou e lhe passou uma extensa lista de exames de sangue, imagens, contagem de espermatozoides, enfim...
Resultados na mão, no retorno o diagnóstico foi nocivo: Zé Celso era estéril. Conversando, disse ter tido caxumba quando criança e o médico matou a cobra:
- Desceu! Só pode...
Dorinha se desesperou vendo seu sonho se esvair. Zé Celso ficou vermelho de vergonha, depois branco de medo de perder a mulher. Teve que tomar água ou desmaiaria. O médico se compadeceu do casal:
- Posso ter uma solução...
- Mas qual? Eu sou estéril, o senhor mesmo disse!
- Um banco de doador de esperma.
- A Dorinha usar porra de outro!? – Gritou Zé, apertando os braços da poltrona: - Nem pensar!
- Zé, eu quero um filho! Se não vai ser com você, vai ser com outro! – Retrucou Doralice, ainda mais alto.
- Mas...
- Sem mais, nem menos. EU QUE-RO!
O médico deu um discreto sorriso de canto de boca e propôs:
- Tenho uma solução mais barata ainda para vocês. – Ambos o encararam, Zé com olhos esbugalhados, Dora com olhos marejados: - Eu posso fazer a inseminação.
- Como é que é!? Que história de in-cem-minação é essa?
- Zé, calma. – Disse Dorinha, enquanto beliscava o braço do marido: - Continua, doutor...
- Então... Para baratear ainda mais, a gente poderia fazer de uma forma mais... mais caseira.
- Oi!? – Bufou o Zé.
- É, ué! Caseira, do jeito antigo, “papai e mamãe”, ou outra posição que a sua senhora prefira.
Dora olhou o marido, Zé olhou a esposa e o médico olhava ambos. Uma discussão alta começou e o Zé só não deu na cara do médico porque iria apanhar, mas vontade ele teve. Foram embora.
Na semana seguinte, Dorinha marcou nova consulta. Desta feita, Zé estava emburrado, mas calmo, pelo menos, calado. O médico explicou como seria o “procedimento”, aceito após muito resmungo do Zé.
No dia combinado, às 18:15, Zé deixou a Dora na porta da clínica e foi embora para sua casa, afinal, o tratamento demandaria tempo e ele fora proibido de permanecer, pois poderia deixar Dorinha nervosa e prejudicar o resultado.
As horas não passavam. Zé não conseguia se aquietar, então uma cagibrina do Seu Manoel lhe fez companhia. Às 23:00, não se aguentou mais e mandou mensagem para a esposa, querendo saber se estava tudo bem. Ela só respondeu passada a meia-noite. Na mensagem, um áudio, dizia que agora estavam descansando um pouco, mas que boa parte do procedimento já havia sido feito e que, por orientação do “Lindomarzinho”, aceitando a sugestão do Zé, mudaram algumas coisas para aumentar ainda mais a chance de “engravidamento”:
“Como assim?”
“Tenho fotos. Quer ver?”
“Pode ser...”
Fotos começaram a chegar e mostravam Dora nas mais variadas posições sendo fodida como uma vadia. Só que Zé notou que não era apenas pelo médico, havia outros homens diferentes, vários, cada qual terminando numa caprichada gozada dentro e sobre a “rosinha” dela. Atordoado, Zé não conseguia falar. Tremendo, digitou:
“Mas... Dorinha, são... são muitos!”
- O pior já passou, querido. Falta só mais 35 para inteirar e terei terminado a minha in-CEM-minação!
- Inteirar!? Inteirar o que, Dorinha?
- Inteirar os cem, Zé. Lembra? Foi você mesmo que disse.
Passados 3 meses, Dorinha encontra-se grávida. De quem é a pergunta sem resposta.