Onde o sol se esconde - Capítulo 4

Um conto erótico de Teo e Samuel
Categoria: Gay
Contém 624 palavras
Data: 29/04/2025 22:43:45

Onde o Sol se Esconde (Capítulo 4)

A notícia da visita dos inspetores espalhou-se como um incêndio no campo seco.

Durante dias, os padres transformaram o orfanato numa farsa: paredes foram pintadas às pressas para esconder as rachaduras; colchões novos foram colocados nos quartos onde dormiam quatro meninos por cama; os internos foram instruídos a sorrir, a dizer que eram bem tratados, que nada lhes faltava.

Mas, por trás da maquiagem improvisada, o medo crescia como erva daninha.

Samuel e Teo sabiam que aquela era uma oportunidade — talvez a única — de mudar suas vidas. Mas também sabiam que qualquer movimento em falso poderia ser fatal.

**

Novos rostos cruzavam seus caminhos pelos corredores apertados.

- Guto, de apenas 11 anos, andava sempre de cabeça baixa, os olhos grandes e assustados como um coelhinho.

- Miguel, 13 anos, era falante demais — um jeito de tentar disfarçar o terror que o dominava nas noites silenciosas.

- Edu, 15 anos, era sarcástico, com piadas afiadas que escondiam uma tristeza profunda.

Cada um deles era um pedaço do retrato quebrado que era o São Jerônimo.

**

Entre os adultos, além da doce Dona Clarice, surgiu uma nova presença: Irmã Helena.

Irmã Helena era diferente dos outros religiosos do orfanato. Jovem, com pouco mais de trinta anos, e um rosto marcado pela bondade, ela havia chegado como reforço para ajudar na enfermaria. Vestia o hábito simples das Irmãs da Caridade, mas seus olhos — olhos que haviam visto dor demais — eram a verdadeira armadura.

Ela logo percebeu o que os outros tentavam esconder.

Foi numa tarde silenciosa que ela se aproximou de Teo, quando o encontrou limpando o pátio sozinho.

— Você está bem, meu filho? — perguntou, a voz tão suave que parecia um sussurro do vento.

Teo, acostumado a desconfiar de todos, hesitou. Mas havia algo naquela mulher — algo que lembrava um lar que ele nunca teve — que o desarmou.

— Tô... — respondeu, mas sua voz traiu a mentira.

Irmã Helena apenas assentiu, sem pressioná-lo. E, antes de se afastar, deixou uma frase solta:

— Nem sempre podemos confiar nos que dizem proteger. Mas nunca devemos desistir da esperança.

Era pouco.

Mas, para Teo, foi tudo.

**

Às vésperas da visita dos inspetores, o orfanato parecia uma panela de pressão prestes a explodir.

Padre Clemente passou a inspecionar os quartos com frequência, cheirando o medo dos meninos como um cão farejador.

Padre Buzzi intensificou sua ronda noturna, seus passos ecoando ameaçadores pelos corredores.

Dona Clarice preparava refeições melhores, fingindo normalidade.

Irmã Helena, discreta, cuidava dos internos machucados — tanto dos ferimentos visíveis quanto dos que não se podiam ver.

Samuel e Teo, sempre atentos, sabiam que precisavam de um plano.

**

Numa noite fria, enquanto a tempestade se armava nas montanhas, Samuel desenhou o plano com Teo, sob a luz fraca da lua que escapava pelas janelas quebradas:

— Quando os inspetores chegarem, temos que falar. — disse, olhando nos olhos de Teo. — Nem que seja a última coisa que a gente faça aqui.

Teo apertou a mão dele, forte.

— Se for pra acabar com isso... se for pra salvar os outros... eu vou contigo.

Samuel sorriu, um sorriso carregado de tristeza e amor.

Eles sabiam que arriscavam tudo.

Sabiam que os padres não hesitariam em castigá-los se desconfiassem.

Mas também sabiam que, juntos, eram mais fortes do que qualquer medo.

**

No pátio, sob a sombra do sino velho que nunca tocava, os meninos reuniram um pequeno grupo de confiança:

- Renato, o rebelde.

- Paulo, o endurecido.

- Miguel, o falante, e Guto, o pequenino.

A resistência silenciosa começava a tomar forma.

Era frágil.

Era perigosa.

Mas era real.

**

Quando os primeiros carros pretos surgiram na estrada poeirenta, trazendo consigo os homens de paletó e olhos desconfiados, o orfanato inteiro prendeu a respiração.

Samuel e Teo trocaram um último olhar.

Era agora.

Ou nunca.

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Comentários

Foto de perfil de Dani Pimentinha

Eles estão indo para uma armadilha, acho que Helena fala exatamente dos inspetores, eles estão buscando proteção em alguém de fora, talvez isso dê muito errado.

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