Leônidas engoliu o nó na garganta.
— Eu não imaginei uma reação tão violenta. — Sua voz falhou. — Mas é hora de consertar isso.
Márcia suspirou.
- O que tá matutando? - Perguntou Márcia?
- Vou assumir a Paternidade do Alexandre ! - disse sem pestanejar.
- Não sei do que minha familia seria capaz de fazer com o Alex, se as pessoas descobrissem sobre a paternidade dele.
- Você é louco !!! O menino é filho do Marcelo, como vai fazer isso ?
- Eu não vou fazer nada, quem vai fazer é você. Preciso falsificar o exame de DNA.
- Meu Deus !!!! A vida real não é novela. Isso não existe. - disse Márcia.
- Mulher de pouca fé- disse ele dando risada.
- Seu Santo Zela por você!!! Esqueci de te avisar que seu pai passou mal ontem, e está internado nesse corredor. Ele tem uma cardiopatia grave e vai precisar de um transplante.
- É sério isso ??? Ele tá morrendo ???- disse Leonidas.
- Sim, a situação é grave. - disse Márcia.
- Me empresta o seu celular- pediu Leônida que ligou para o advogado de seu pai. Ordenou que o homem redigisse o documento que ele havia solicitado semanas antes e que disse entrada na justiça o processo de reconhecimento de paternidade.
- Assim que o advogado estiver com o documento redigido, quero que você revise e me entregue.- disse Leo.
- O que tem nesse documento ? - disse Márcia.
- Aquilo que é de direito meu e do Alex. - disse Leônidas.
Enquanto isso, no apartamento de Olga, Felipe tremia.
Ele passou a noite toda fugindo e chegou pela manhã no apartamento de Olga, depois que seu nome aparecia no noticiario como foragido.
Ela o ajudava a limpar os vestígios da arma, o sangue da camisa, e as feridas do seu rosto.
- Aquele monstro do Aldo te desfigurou meu amor- disse Olga.
- Eu vou matar aquele e o viado filha da puta do Leônidas !!!!- disse Felipe com raiva - e de quebra vou
— Ninguém pode saber que você estava lá — ela disse, trancando a arma numa maleta. — Vai ficar escondido aqui até eu arrumar outro lugar pra você.
- Te amo meu amor !!! - disse Felipe.
Enquanto isso, Plínio conseguia um mandado e invadia o apartamento de Felipe. No local, encontraram vestígios do explosivo que sabotou o carro de Leônidas. A prisão de Felipe era questão de tempo.
De volta ao Sírio-Libanes em seu quarto, Leônidas tentou contatar Aldo, mas era caixa postal. No silêncio, restava a certeza de que algo estava acontecendo sem que ele pudesse controlar.
Alguns dias Depois...
Leônidas estava de alta do hospital, e antes de ir embora foi ao quarto do pai,sentado em uma cadeira de rodas empurrou a porta do quarto de Marcelo com aquela petulância calculada que só ele sabia exibir, portanto uma pasta gordurosa em seu colo.
O pai, ainda pálido, erguia-se da cama com esforço.
— Boa tarde Daddy ! Não poderia deixar de te ver antes da minha saída. - disse Leonidas.
- Agora decidiu que tinha um pai ! - disse Marcelo.
- Olha Senhor,eu nunca tive um pai.- cuspiu Leônidas- Nossa “conversa”, em será em papel e caneta.
- Ué você não estava desmemoriado ? Estava fingindo Leônidas?- disse Marcelo.
- Ora, só sigo na natureza dessa família!!!!- disse Leônidas.
Marcelo estremeceu ao ver a espessura dos documentos.
— Leônidas … o que é isso?
Leônidas sorriu, levantando da cadeira de rodas lentamente.
— Como você é fogoso papai !!! - Riu Leonidas. São suas escapadas com sua diretora financeira, a dona Selma, não passaram despercebidas. A tonta se borrou de medo e confessou que te ajudou nas a transferir o dinheiro da nossa empresa para contas falsas. Está Tudo aqui. Fico imaginando se a víbora da Renata descobrir.
- Sua cobra maldita !!! - disse Marcelo entre soluços e falta de ar.
- Não morre não velho. Ainda preciso de você.- Então, você tem duas opções: você transfere o que me cabe por direito na sua herança — explicou, abrindo a pasta com um floreio de advogado de teatro — ou até o Ministério Público vai querer beber desse coquetel.
O silêncio pesou. Marcelo respirou fundo, as veias do pescoço saltando.
— Você… está chantageando seu próprio pai? Não tem vergonha do que faz ? Fiz de tudo por você!!!
- Fez sua obrigação. Você me odeia, e ficou pior depois que me assumi como homossexual.
- Você é meu pior desgosto. Filho de um macho, sendo puta de outro macho. VERGONHA.
- Ah Papai, sua opinião já não me incomoda mais.
- Eu não tenho filho. Não admito que me chame de pai.
- Tá bom seu bosta. Vai assinar ou não? - Olha o que tenho aqui... essas fotos ficaram perfeitas...- ele jogou no colo de Marcelo, fotos de Marcelo e Selma se beijando.
Após ver as fotos, Marcelo rasga uma a uma e faz o sinal para que Leônidas lhe entregue o documento.
- Esse documento não está justo.- disse Marcelo.
- Seu advogado redigiu. E esse documento está mais do justo. Assine AGORA !!!
Os lábios de Marcelo se comprimiram. Escutou-se o clique da caneta assinando os documentos.
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Mais tarde, no apartamento de Márcia no Edificio Copan, Leônidas tomou um gole de conhaque e falou com Márcia do sofá:
— Quando chegar a hora H, suborne uma enfermeira. Quero um cotonete, uma gota de sangue, qualquer coisa para aquele exame de DNA daquele velho safado.
Márcia revirou os olhos, pegando o bloco de notas.
— E tem certeza de que o Marcelo é mesmo o pai do Alexandre?
— Absoluta — Leo virou a taça no ar, imponente. — Fiz um teste paralelo enquanto fingia a amnésia, peguei uma amostra na sala de espera da terapia. Resultado claro como água: positivo, Alex é meu irmão de sangue.
Márcia fez anotações com um sorriso de quem acredita em truques sombrios.
— Perfeito. Vamos garantir que esse “irmão” seja legalmente seu filho também.
Leo pousou o copo e ficou olhando para a cidade iluminada, os olhos frios:
— Nada como um laço de sangue para fechar o cerco, não acha?
Leônidas encostou no balcão da portaria, ainda pálido, e o rosto parcialmente coberto por óculos escuros. O porteiro, seu Mário, endireitou-se ao vê-lo.
— Boa tarde, seu Leônidas... Como está? — disse, num tom constrangido.
— Sobrevivendo — Leo respondeu, seco. — Vim atrás do Aldo,ele está em casa ?
Seu Mário pigarreou, nervoso, antes de puxar uma mala preta debaixo do balcão. Deu dois tapinhas nela como se estivesse lidando com uma bomba.
— Dona Pia pediu pra deixar isso pro senhor. Disse... que, a partir de agora, sua entrada aqui tá proibida.
Leônidas arqueou uma sobrancelha, com aquele sorriso azedo típico dele.
— Que doce. A Pia já manda no prédio inteiro, é isso?
— Eu só cumpro ordens, seu Leônidas... — o homem disse, desviando o olhar. — E... queria lhe dizer uma coisa.
Leo cruzou os braços.
— Fale logo homem !
— Seu Aldo... ele viajou pra Bertioga com a família. Falaram que foram visitar a mãe dele. Parece que estão tentando se acertar.
Leônidas riu, um som curto e cínico.
— Maravilha. Descubro que fui expulso da minha própria cama e que o cafajeste tá curtindo férias em família.
O porteiro engoliu seco, desconfortável. Nesse instante, o celular de Leônidas vibrou. Uma mensagem de Márcia:
“Dá uma olhada nisso.”
Um link.
Leo clicou.
Era uma matéria de um site de notícias:
"Aldo Rocha e Pia, selam a paz em Bertioga. Fontes próximas afirmam que o lutador pretende começar uma nova fase ao lado da família."
Leônidas soltou um riso abafado, incrédulo.
— Nova fase... — repetiu, amargo. — Pena que esqueceram de avisar o cadáver aqui.
Ele pegou a mala das mãos do porteiro com brutalidade contida.
— Obrigado pela gentileza, seu Mário. Ah, e pode avisar à Dona Pia que quando eu resolver voltar, nem Deus vai conseguir me barrar.
E, arrastando a mala, Leônidas saiu da portaria como quem carrega uma bomba-relógio prestes a explodir.
Nos dias que seguiram, Leônidas teve acesso a sua herança, realizou o teste de DNA. Márcia se infiltrou na clínica e pagou uma técnica para trocar as amostras de Leônidas pelas de Marcelo.
Durante a realização do exame, Leo tentou falar com Alexandre, mas o mesmo não quis conversar.
Enquanto isso, o delegado Plínio recebeu o último laudo sobre a busca no apartamento de Felipe: achara resquícios de explosivos compatíveis com os usados na sabotagem do Bugatti de Leônidas. O delegado estava concluindo o caso, mas ainda não sabia sobre o paradeiro de Felipe.
Na semana seguinte o celular de Olga vibrou insistentemente enquanto ela revirava papéis no apartamento desarrumado. Atendeu sem nem olhar quem era.
— Alô?
— Senhora Olga Freitas ? — perguntou uma voz masculina, séria. — Aqui é do Hospital São Domingos. A senhora consta como contato de emergência de Rebeca Freitas.
Olga gelou.
— O que aconteceu?
— Pedimos que compareça com urgência. É sobre o estado de saúde dela.
A ligação cortou antes que ela conseguisse fazer mais perguntas. Em poucos minutos, Olga atravessava o saguão frio do hospital, as luzes brancas intensas do corredor machucando seus olhos. Uma enfermeira a conduziu até uma sala reservada.
O médico, um homem baixo de cabelo grisalho e expressão cansada, a recebeu.
— Senhora Olga, obrigado por ter vindo. Infelizmente, o quadro da Rebeca se agravou nas últimas horas. — Ele fez uma pausa, pesado. — Realizamos novos exames... constatamos morte cerebral.
O mundo de Olga pareceu girar por um instante. Ela se agarrou à cadeira para não desabar.
— Não há nada... que possa ser feito? — perguntou com a voz embargada.
— Nada. O cérebro dela não apresenta mais atividade. Clinicamente, ela já não está mais entre nós. Mantemos os aparelhos funcionando apenas para suporte cardíaco e respiratório. — Ele a encarou com delicadeza. — Precisamos de sua autorização formal para desligar os aparelhos.
Olga olhou para a prancheta com o formulário, o papel tremendo nas suas mãos. Sua mente estava um caos: flashes de Rebeca jovem, sorrindo, teimosa, viva.
Ela fechou os olhos por um momento, respirou fundo, e assinou.
— Pode... pode desligar. — disse, com um fio de voz.
O médico assentiu, respeitoso.
— Obrigado. Vamos fazer isso da forma mais tranquila possível.
Horas depois, Olga permaneceu sentada no corredor, olhando para o chão vazio, até uma enfermeira de semblante triste se aproximar.
— Senhora Olga... — disse, com cuidado. — O óbito de Rebeca Souza foi oficialmente decretado às 18h47.
Olga apenas acenou com a cabeça. Não tinha mais lágrimas. Apenas um buraco imenso no peito.
Sem dizer palavra, levantou-se e caminhou para fora do hospital. O som dos passos ecoando parecia a única coisa viva naquele corredor silencioso.
No dia seguinte, centenas de convidados se reuniram no cemitério para o enterro de Rebeca. Alexandre, pequeno e tristonho, esteve acompanhado de assistentes sociais. Quando Olga e Leônidas começaram a discutir, o menino ergueu a voz:
— Parem! É o enterro da minha mãe!
Leônidas se ajoelhou no chão de terra batida, na frente de Alexandre, que olhava para o túmulo da mãe sem piscar. A dor era uma muralha entre os dois. Mas Leo sabia que precisava falar.
— Alexandre... — começou, a voz rouca. — Eu sei que é difícil acreditar em mim agora. Mas eu quero que você saiba de toda a verdade.
O garoto virou o rosto, hostil.
— Vai mentir de novo?
Leônidas fechou os olhos por um instante, buscando forças.
— Sua mãe, a Rebeca... ela trabalhou muitos anos na casa da minha madrasta. Eu era adolescente. Estava perdido. E a Rebeca... ela foi uma das poucas pessoas que me tratou com carinho de verdade.- tentou Leônidas tornar essa mentira,mais crivel.
Alexandre cruzou os braços, desconfiado.
— E daí?
— E daí que... a gente acabou se envolvendo. Foi errado. Eu era jovem, egoísta. — Leônidas respirou fundo. — Depois, a vida me arrastou pra outro caminho. E eu perdi o contato com ela.
Alexandre apertou os punhos.
— Você abandonou ela.
— Eu não sabia que ela estava grávida — disse Leo, a voz embargada. — Só descobri agora, há pouco tempo quando te conheci ... tinha sofrido um acidente e estava recuperando minha memória. - Mas isso não importa agora !!!
O garoto desviou o olhar, mordendo o lábio.
— Se descobriu agora, por que não veio me buscar?
— Porque... — Leo engoliu em seco. — Porque eu precisava provar que era verdade. Que você era mesmo meu filho. Eu não queria mentir pra você como todo mundo sempre mentiu pra mim.
Alexandre abaixou a cabeça. A raiva parecia vacilar por um instante, substituída por algo mais doloroso.
— Você é mentiroso — acusou, a voz fina de choro contido.
Leônidas aceitou o golpe em silêncio, abaixando ainda mais o corpo, como se buscasse ficar no nível do menino, para que ele visse que não havia superioridade ali, só culpa.
— Talvez eu seja — respondeu com sinceridade. — Mas pela primeira vez na vida... eu quero fazer o que é certo.
Alexandre olhou para ele, olhos marejados.
— E agora? Vai embora de novo?
— Não — Leo disse, firme. — Agora eu vou lutar por você. Se você deixar.
O garoto não respondeu. Ficou imóvel, encarando o chão. Mas, em algum lugar no meio daquela dor crua, uma pequena fresta de esperança começava a se abrir.