O Jantar

Um conto erótico de Bella e Victor
Categoria: Heterossexual
Contém 2145 palavras
Data: 22/04/2025 00:51:37

Isabella chegou dez minutos antes do horário. Caminhava com passos decididos, mas por dentro, sentia o coração trovejar. O vestido preto que escolheu moldava seu corpo com elegância e discrição, a maquiagem era leve, realçando os olhos, o perfume, discreto que deixava um rastro indecifrável e o salto fino que parecia reforçar cada centímetro da segurança que ela tentava transparecer. A verdade é que havia uma centelha de tremor em seus dedos. Ela nunca havia feito nada parecido.

Victor já estava lá. Sentado à mesa mais reservada do restaurante — de frente para uma janela, com uma taça de vinho tinto intocada diante dele e uma no assento que ficava de frente para ele. Quando seus olhares se cruzaram, Isabella sentiu o chão se deslocar por um instante e teve a nítida sensação de que o chão tinha se movido sob seus pés. Era como se tudo o que ela havia imaginado sobre aquele homem, toda projeção construída a partir de trocas de mensagens e conversas, se tornasse insuficiente diante de sua presença real. O terno escuro e elegante, apesar de simples, sugeria tanto refinamento quanto domínio, seu perfume amadeirado era inebriante, os cabelos impecavelmente penteados. Havia um magnetismo grave em seu olhar. Havia algo nele que nenhuma tela tinha a capacidade de traduzir. Ele se levantou. Alto, presença firme, olhar sereno, mas incontestavelmente dominante.

— Isabella. — Ele disse seu nome como se saboreasse a sílaba final, e soou para ela como se simplesmente o simples fato de ouvir o seu nome sair da boca dele fosse algo obsceno, pornográfico — Pontual. Gosto disso.

Ela ofereceu um sorriso pequeno, tentando esconder o quanto aquela simples constatação a deixava vulnerável.

— Achei que seria educado não te deixar esperando.

— E acertou. — Ele puxou a cadeira para ela com um gesto sutil, mas carregado de autoridade implícita.

Ao se sentar, ela sentiu as pernas pressionarem sob o tecido do vestido. Estava ali, fisicamente presente, mas com a sensação de caminhar sobre um fio estreito e eletrizado, entre o controle e a entrega.

Victor retomou seu lugar, acenando que ela fizesse o mesmo, os olhos cravados nela, mas sem pressa — como se tivesse todo o tempo do mundo para decifrá-la.— Tomei a liberdade de pedir uma taça de vinho para você também. Sei que não costuma beber, mas acho que o momento merece.

— Obrigado — e depois de um pequeno gole — É delicioso!

Depois de um breve momento de silêncio

— Antes de começarmos qualquer conversa mais profunda — disse ele, com a voz baixa, firme e compassada —, vamos estabelecer nossa palavra de segurança.

Isabella ergueu levemente as sobrancelhas, surpresa.

— Já?

— Sim. — Ele aproveitou e entrelaçou seus próprios dedos aos dela que já estavam sobre a mesa, os movimentos lentos, seguros. — Não importa se ainda estamos apenas... nos conhecendo. Uma conexão como essa começa com segurança. Sempre. Ela é a base. Se em qualquer momento desta noite algo te parecer demais — confuso, desconfortável ou apenas estranho — você vai dizer essa palavra. E eu paro. Sem discussão. Sem hesitação.

Ela ficou em silêncio por um momento, assimilando aquelas palavras, como quem tentava compreendê-las com o corpo inteiro, não só com a razão e isso, mais uma vez lhe deu a dimensão do quanto ele levava o assunto a sério. Era o seu modo de deixar claro que aquilo não era apenas uma brincadeira para ele, era um estilo de vida e queria ter certeza de que ela entendesse a importância disso.

— Faço questão que as próprias submissas escolham a sua palavra de segurança. Pode ser algo simples. Que não usaria em uma conversa comum. Tem algo em mente?

Ela pensou por um instante. Queria algo que a representasse, mas que fosse inesperado.

— “Âmbar”?

Victor arqueou um canto da boca num sorriso contido de aprovação.

— Perfeito. Uma palavra com personalidade. Não é uma palavra comum, mas é fácil de lembrar.

Victor fez um leve gesto de aprovação com a cabeça, como quem está orgulhoso de si mesmo por marcar o início de um novo território.

Durante provavam um filé a parmegiana, conversaram apenas sobre amenidades: a rotina diária, gosto musical, hobies, filmes. Assim que terminaram a refeição, Victor disse:

— Agora que já estamos bem alimentados e a sua palavra de segurança já está decidida, quero te propor algumas experiências. Pequenas. Simples. Apenas sensoriais. Quero observar como seu corpo e sua mente reagem. Não há certo ou errado. Apenas a verdade. Como estamos em um local público, é também uma oportunidade de testar o seu autocontrole, mas não se preocupe se, por acaso, deixar escapar um gemido discreto, um gritinho, enfim... Escolhi essa mesa justamente para termos uma certa margem de segurança para que ninguém consiga ouvir o que está acontecendo aqui. Posso começar?

Ela inspirou profundamente, sentindo o ar encher seus pulmões com uma mistura de nervosismo e curiosidade.

— Pode.

Ele então tirou do bolso interno do paletó um lenço de cetim preto, cuidadosamente dobrado.

— Isto aqui não vai te prender, vai só bloquear a sua visão. Se quiser tirar, tire. Se sentir desconforto, use sua palavra. Mas peço que confie por alguns minutos, lembre-se que ela é um dos pilares e precisa ser estabelecida entre nós desde o primeiro momento para que eu saiba que você é capaz de se entregar.

Ela olhou para o tecido e depois para ele. Havia firmeza, mas também cuidado no olhar dele. E, acima de tudo, ausência de pressa. Isso a deixou confiante e confortável o suficiente para fazer um breve aceno de concordância.

Ele se levantou, caminhou por trás dela, e com delicadeza envolveu seus olhos com o tecido macio e tom um leve toque do seu perfume.

Ao sentir o toque leve do tecido, o mundo desapareceu à sua volta e seus outros sentidos começaram a se aguçar instantaneamente. A ausência da visão fazia com que cada som, cheiro e movimento ao redor ganhassem outra dimensão. Era capaz de sentir e até mesmo ouvir a própria pulsação em seus ouvidos e a respiração pesada de ansiedade saindo de sua garganta.

— Respire devagar, procure relaxar e aproveitar o momento — ele murmurou ao pé de seu ouvido, a voz como uma carícia invisível. — Agora vou tocar sua pele de várias maneiras diferentes. E você vai me dizer o que sente. Sem filtros. Sem se preocupar com respostas certas. Apenas sinta. Você precisa se habituar a sensação de perder um sentido temporariamente e aguçar os outros, quanto mais cedo, melhor. Supondo que você vai aceitar o desafio de pertencer a mim, é claro.

O primeiro toque foi algo gelado. Um cubo de gelo escorregando lentamente, primeiro pela lateral de seu pescoço completamente exposto, depois, por sua garganta, que imediatamente pareceu estar em chamas, apesar da sensação gelada, fazendo um arrepio percorrer todo o seu corpo.

— Me diga o que sente. – Não era um pedido, era uma ordem.

— Frio. Mas... quente e gostoso ao mesmo tempo. Surpreendente.

— Gelo — ele disse, com simplicidade.

O segundo toque era quente, meio áspero e trazia consigo um hálito fresco de hortelã. Ao se dar conta de que se tratava da língua dele, soltou um gemido e um suspiro profundo.

— Xiiiiiiiii... Nossa, você é tão sensível... Vou adorar levá-la ao limite... E ultrapassar cada um deles... Agora, me diga o que sentiu...

— Sua língua...Quente... Em brasa... Sinto que aquece cada fibra do meu corpo, mas não queima. É... excitante... Demais...

— Perfeito, você está indo muito bem, principalmente para uma primeira experiência desse tipo.

O terceiro toque foi quase imperceptível — uma pena, talvez, roçando a curva do seu pescoço e a parte superior da sua coluna que o vestido deixava exposto. Ela estremeceu.

— Isso faz cócegas, causa arrepios, mas não só no pescoço. Mas... num lugar muito... Íntimo também.

Victor se afastou devagar e voltou a se sentar na mesa, de frente para ela e ordenou:

— Pode tirar a venda. Devagar, isso vai prolongar as sensações que acabei de te proporcionar.

Isabella o fez com movimentos lentos, como quem voltava à superfície após um longo mergulho. Seus olhos piscaram algumas vezes para se acostumar novamente à claridade antes de reencontrá-lo — ali, sentado, imóvel, mas atento, inquestionavelmente, no controle da situação.

— Está tudo bem? — ele perguntou.

— Sim... — respondeu ela, e um sorriso leve se formou. — É estranho como fiquei... mais presente. Como se tudo tivesse se ampliado.

— Exato. — Ele apoiou os cotovelos na mesa, inclinando-se um pouco. — Dominação começa com isso. Com a consciência plena. Não é sobre dor. É sobre atenção. Controle. E entrega voluntária e irrestrita, e isso se treina. — mas tudo isso só acontece a partir da confiança.

Ela o escutava como se cada palavra abrisse uma nova camada de entendimento dentro de si a respeito de si mesma e de tudo o que estava descobrindo desde que tinham começado a conversar. O quê, parando para pensar, agora parecia uma eternidade.

Ele inclinou-se um pouco sobre a mesa, em sua direção.

— Agora me diga — ele continuou — qual dos toques te provocou mais?

Ela não precisou pensar.

— Sua língua. Porque foi o mais inesperado. Quase íntimo demais.

Victor assentiu, lentamente, com um brilho satisfeito nos olhos.

— Explique. — de novo, claramente uma ordem.

— O toque sutil provocou reações mais intensas e inesperadas que o gelo ou a pena. Não esperava por isso, aqui no restaurante.

— Mais intensas, como? Preciso de detalhes para entender como você funciona para te guiar da maneira correta.

— Nunca imaginei que pudesse me causar uma onda de excitação tão intensa e, muito menos, que essa onda fosse alcançar pontos tão íntimos do meu corpo. O toque da língua quente junto com a sensação de um contato proibido...

Victor concordou lentamente, com um brilho satisfeito nos olhos.

— Isso me diz muito sobre você.

— E... o que diz? — ela perguntou timidamente, num sussurro que quase não atravessava a mesa.

— Que talvez sua sensibilidade seja o caminho para todo o restante. Que talvez, para você, o jogo não esteja na intensidade física, mas na sutileza do toque, no controle do tempo, no poder do não saber. Pelo menos, nesse primeiro momento.

Isabella mordeu levemente o lábio inferior, tentando conter o impacto daquelas palavras. Ele a lia com precisão inquietante, como ninguém tinha feito antes. Era como se ele estivesse vendo partes dela que nem ela mesma sabia que estavam ali, guardadas por tanto tempo.

Ele se recostou então na cadeira, cruzando os braços. Sua imagem transmitia elegância, força, poder, segurança, controle e isso, de alguma forma, a fez decidir que queria continuar jogando, independente do que estava por vir.

— Posso fazer uma pergunta?

— Fique à vontade, esse é o momento para isso, faça todas as perguntas que quiser. – disse com uma voz quente que fez com que ela sentisse como se estivesse tomando uma xícara de café fumegante num dia frio.

— Como você descobriu tudo isso sobre mim em tão pouco tempo? Eu não tive uma leitura assim tão... Complexa das coisas ainda.

— Se você está pensando que isso significa que você pode ser facilmente decifrável, não se preocupe com isso. Tem muito mais a ver com a minha experiência. Você assimilou sobre mim mais do que a sua inexperiência nesse assunto permite que você perceba. Mas isso é só o início, ainda há muito para descobrir, conhecer e entender.

Ela concordou e soltou um suspiro.

— Embora eu tenha quase certeza de que sei a resposta para a pergunta que farei a seguir, por uma questão de cumprir os pilares de que te falei, preciso ouvir da sua boca: e então, está pronta para ir adiante?

Ela fechou os olhos por um breve instante. Respirou fundo. E quando abriu novamente, havia decisão no olhar.

— Estou pronta para descobrir.

Victor sorriu, dessa vez com um traço solene — não como quem comemora uma conquista, mas como quem sela um pacto.

— Seja feita a sua vontade. Mas agora... com os olhos abertos.

Já na saída do restaurante, ele a puxou para um primeiro beijo. Lento, explorador, provocador e ela achou que entraria em autocombustão com as sensações que um simples beijo estava causando. Mas, para sua frustração, o beijo foi encerrado de maneira abrupta, a deixando queimando por dentro.

— Por hoje é só... Acho que já tivemos o bastante para um começo, não é?

E, antes de seguir em direção ao próprio carro, Victor disse:

— Assim que chegar em casa, entre no chat e deixe o seu número de telefone e e-mail pessoal. Deixei o meu celular em casa, não queria que nada atrapalhasse esse momento, eu precisava me dedicar inteiramente a você. Você pode estranhar um pouco no começo, mas faço questão de ter acesso a você a cada momento do meu dia, na hora e do jeito que eu quiser, quero ter o controle absoluto da situação, para que você se sinta à vontade para perder o seu.

Sem esperar uma resposta, ele entrou no carro e deu a partida, indo embora e a deixando trêmula e sedenta pelo que ainda estava por vir em pleno estacionamento.

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