Luciano e eu pegamos a estrada, já havia avisada ao meu avô que deixaria umas coisas do Luciano lá e ele já tinha conversado com a Alice por telefone para confirmar que ela não estaria no apartamento, não sei muito bem como está a relação deles, ele não falou nada mais sobre e nem eu achei que deveria perguntar, ele estava no volante, depois que Barbie começou a dirigir meu carro me acostumei a ter motorista, agora só dirigia se fosse preciso, estamos conversando para matar o tempo da viagem, os assuntos indo de futebol a trabalho, sei que ele está evitando assuntos mais espinhosos e resolvi dar tempo para ele até conversarmos sobre o que está realmente rolando entre a gente.
Essa situação me faz lembrar um pouco do João Pedro, a sensação de não saber o que tempos, a diferença é que com Luciano não é difícil esperar, não sei dizer por que, só que com ele eu me sinto bem, mesmo sem saber o que temos, em partes porque saber o que temos me faria ter que decidir entre ele e minha namorada, não estava pronto para essa decisão.
Quando estamos quase chegando na casa dele seu celular toca, como ele está dirigindo me pede para ver quem é e vejo o nome de Dimas no visor, meu primeiro instinto é de recusar a ligação, mas o celular não é meu, então apenas informar ao Luciano quem está ligando, espero que ele vá me pedir para desligar, mas ao invés disso ele me pede para atender e por no viva voz, pois ele sabe que eu não quero papo com Dimas, respiro fundo, mas faço o que ele me pede.
— Oi Dimas, estou com João Miguel e você está no viva voz estou dirigindo.
— Porra João Miguel até quando você vai ficar com frescura? — Dimas está com muita raiva e imagino que ainda seja por conta da Bárbara ter entregado ele para a namorada.
— Não quero falar com você Dimas, não falo com traíra.
— Fala Dimas por que está me ligando — Luciano interrompe antes que a discussão piore.
— Preciso da sua ajuda, o Luis Paulo está preso — fico em silêncio me perguntando o motivo.
— Como assim preso? Que história é essa? — Luciano pergunta.
— Ele estava em uma festa e arrumou briga com uns caras, a confusão foi feia.
— E desde quando briga de bar dá cadeia cara — Luciano o interroga.
— O problema Lu é que os caras com quem ele brigou são militares e ele bateu em um cara importante até onde entendi, a confusão piorou e aí descobriram que ele estava com drogas e pra completar acharam uma arma no carro dele que ele jura não ser dele.
— E de quem é a arma — agora sou quem está perguntando.
— Do traficante que andava com ele, só que o traficante saiu fora na hora da confusão e ele não pode entregar o cara se não vai ser pior para ele, por isso estou ligando para vocês a semana toda não sei mais quem pode ajudar, o advogado falou que se o LP não abrir a boca as coisas vão ficar feias para ele.
— É legal ver o quanto ele é fiel aos amigos traficantes dele — não aguentei e acabei comentando.
— Não é hora para isso João Miguel — Dimas me repreende.
— O que espera que eu faça? — Pergunto.
— Sei lá, vocês são policiais, podem falar com alguém, ajuda ele, mesmo o Luis Paulo sendo um filha da puta, ele ainda é nosso amigo.
— Meu não.
— Luciano por favor — Dimas insisti.
Luciano pega os detalhes e fica de dar um retorno para o Dimas depois de ver o que ele pode fazer, já eu não pretendo mover um dedo para ajudar esse infeliz, por mim ele pode se foder na cadeia só assim pode ser que ele aprenda e tome rumo na vida, Luciano ficou preocupado com ele, assim que chegamos entramos na casa e ele ao invés de já começar a arrumar suas coisas foi fazer o que havia prometido para o Dimas, então fiquei na sala sentado no sofá, aproveito para avisar a Barbie que chegamos e para o meu avó também, depois de uns quinze minutos Luciano vem para sala e se senta ao meu lado, ele cobre o rosto com as mãos e vejo que isso é mais um assunto que vai incomodá-lo, ele não deveria está se metendo nisso, até porque se LP se fodeu muito e com o exército mesmo sendo um PM Luciano não tem muitos contatos, nem as costas largas e ele já sabia disso assim que Dimas deu a notícia, Luciano sabe que só tem uma pessoa com influência e contatos para tirar o LP dessa.
— Não.
— João Miguel, eu sei que o Luis Paulo não merece nada que vem de você, mas pagar por um crime que ele não cometeu não é justo.
— Ele estava com o traficante, não vou fazer nada para ajudá-lo — falei me mantendo firme.
— É só ligar para os seus tios, eles podem resolver isso João Miguel.
— Não, por que eu ajudaria esse cara?
— Por mim, ajude ele por mim, Luis Paulo não merece e ele já vacilou muito com a gente, mas a gente nunca dá as costas pro outro — Ele mesmo foi me ajudar mesmo quando não estávamos nos falando, mas ainda sim foi outra situação.
— Ele deu as costas para mim quando começou a foder com João Pedro e outra não posso ligar para os meus tios, não posso pedir e nem devolver nada a eles — Luciano não entende, ninguém entende já que ninguém conhece a verdade.
Luciano não insistiu mais, apenas levantou e pegou seu telefone para falar com Dimas, percebi a que ele ficou magoado, mas não podia fazer isso, não posso é muito mais complicado do que ele imagina, não falo com meu tio Marcos a muitos anos, evito está no mesmo lugar que ele a anos, ele foi a razão por eu ter preferido ficar na civil e não seguir carreira militar, não queria correr o risco dele usar sua influência para me levar para perto dele.
Ele retorna e começa a organizar suas coisas, Luciano não está com raiva de mim, mas sei que ele esperava que eu fosse ajudar, mas não dá, Luis Paulo me traiu da pior maneira possível e dever um favor para o tio Marcos é última coisa que eu quero na vida, estou começando a sentir falta da Barbie e de sua infinita sabedoria aqui comigo, ela saberia o que fazer, ou pelo menos me entenderia, enfim depois de passar a manhã inteira encaixotando as coisas do Luciano ainda não havíamos terminado, ele propõe que façamos uma pausa para almoçarmos e concordo, seu humor não está dos melhores, mas pelo menos não tocou mais no assunto.
— Quer sair para comer algo? — Ele pergunta.
— Melhor se pedirmos e assim podemos ir agilizando as coisas por aqui.
— É tem razão, vou fazer isso — não queria correr o risco de encontrar com Dimas por aí, nem sei se ele está na cidade, mas não quis arriscar.
