Almas de Estorninhos parte II (5)

Um conto erótico de L. Amaral
Categoria: Gay
Contém 3588 palavras
Data: 28/04/2024 11:06:21

Eu andava tranquilamente na calçada, quando olhei para trás e vi uma caminhonete de cor vinho. Ela vinha devagar, e não tinha outros carros na rua. Olhei novamente e ela se aproximava de mim, lentamente.

Apertei o passo. Estava quase em meu destino. Cruzei uma esquina entrei em um estacionamento, foi quando o motor da caminhonete berrou mais perto de mim. Então, corri olhando para trás, e me esbarrei com um homem e caí.

— Oh, você está bem? Me dê a sua mão.

Ao me levantar, a caminhonete já não mais me seguia. Olhei para todos os lados, mas tinha sumido.

— Ei, o que foi? Está ofegante.

— Desculpa — respirei fundo antes de completar: — Estou bem. Achei que um carro estivesse me seguindo.

O homem olhou ao redor também.

— Não estou vendo ninguém.

— É. Eu acho que já foi — falei.

— Quer entrar na academia?

— Sim. Na verdade estou indo pra lá.

Ele tocou no meu ombro e disse:

— Então, vamos. Eu te acompanho. Não vou deixar ninguém te levar — E sorriu.

— Obrigado.

E logo, chegamos na academia.

— Está tudo bem mesmo?

— Sim. Eu estou bem — respondi.

— Até logo, então — Ele piscou um olho para mim e sorriu.

— Tchau.

E quando ele subiu as escadas, fui procurar a minha mãe. Então, fomos embora no carro.

— Que sorriso é esse?

— Nada.

— Viu alguma coisa interessante na academia?

Eu virei o rosto para a janela do carro, sorrindo mais ainda.

— Como ele era? — Ela riu.

— Ah, era bonitão.

— Que bom, filho. Quero ver você assim, saindo e conhecendo pessoas de verdade. E já que estamos estamos falando disso — ela limpou a garganta e completou: — Eu estou saindo com alguém.

— Sério? Está namorando?

— Nos conhecemos na academia também.

— Vocês revezavam os equipamentos, foi isso? Haha.

— Não exatamente. Ele é sócio da academia ou dono, algo assim.

— Que sorte! Academia de graça, então?

Rimos.

— Como é o nome dele?

— Wade Mason.

— Quantos anos?

Ela pareceu querer não responder. Então, aventurei:

— É mais novo do que você?

— Só um pouquinho — Ela deu uma risadinha antes de completar: — Ele tem 34.

— Bom. Há quanto tempo estão saindo.

— Ah... Quase 3 meses.

— 3 meses? — exclamei. E você só me conta agora.

— Não faz tanto tempo assim, filho. E também é... Eu quero saber se você está bem com tudo isso?

— Eu acho que sim — gaguejei. Depende. Se eu gostar dele — acrescentei, sorrindo.

— Ah, você vai gostar dele. O Wade é tudo de bom.

— Nossa! Está apaixonada, mãe.

Ela deu um sorriso e disse:

— O Wade vai jantar com a gente no sábado. Ele quer te conhecer.

— Ok, então.

E 2 dias depois, o namorado da minha mãe veio para o jantar. Eu estava na cozinha com ela, quando a campainha tocou.

— É ele. Vamos, filho.

Me sentei no sofá, enquanto mamãe abria a porta. Então, um homem alto, forte e bem vestido, entrou. Se cumprimentaram com sorrisos, beijo e um abraço. Eu logo me levantei, reconhecendo-o. E quando vieram até mim, pude finalmente vê-lo melhor.

— Ethan, esse é o Wade.

O homem que me esbarrei na quinta-feira, o mesmo homem que fez o meu corpo se juntar ardentemente ao dele.

— Olá, Ethan. Muito prazer.

Ele também me reconheceu. Mas não parecia surpreso. Estendeu a mão para mim.

— Filho — minha mãe chamou minha atenção.

— Muito prazer — E segurei a mão dele pela segunda vez.

— A gente se esbarrou aquele outro dia na academia, lembra? — Wade comentou.

— Lembro.

— Ah. Então já se conheceram? — disse minha mãe.

— A gente só se esbarrou por acaso. Mas você não sabia quem eu era? — questionei o Wade.

— A sua mãe já tinha me mostrado uma foto sua. Mas como já ia se conhecer hoje, eu não quis dizer nada.

— Claro — assenti.

— Então, vamos jantar? — disse a minha mãe.

E naquele momento, eu quis afundar a cara dela no purê de batatas que fizemos juntos.

"Oi, Emi. Sabe aquele cara que encontrei na academia? Vc não vai acreditar quem é".

//

Capítulo 5: Duplamente

— Como assim vocês terminaram? Depois de tudo que você fez para a gente se dar bem...

— Eu sei que vocês são amigos agora. E está tudo bem, filho.

— Quando terminaram?

— Há uma semana.

— Mas por quê?

— Ah, eu já tinha de dito. A gente se afastou um pouco e... É isso.

— Mas... Vocês estão bem?

— Claro, filho. A gente só deu um tempo, podemos voltar. Mas tudo bem se não. Estamos bem.

Depois de quase um minuto, falei:

— Certo, então.

No volante, o meu pai não dizia nada. Só olhava para a estrada.

— Como foi em Nova York? — disse ele, enfim.

— Foi incrível, pai.

E contei-lhes com alegria, mesmo com os pensamentos indo e voltando para o Wade. Como ficaríamos agora? Juntos, eu esperava. Tínhamos que ficar, agora mais do que nunca, agora ele tinha dado um tempo com a minha mãe. Eu sabia que a relação deles tinha esfriando um pouco, porém, não tanto e tão rapidamente.

Entretanto, receber aquela notícia me fez pensar que o Wade poderia me deixar também. Ele não me contou nada, talvez por preferir fazer isso pessoalmente. Será que eu era uma pequena aventura para ele? Não. Ele não faria isso comigo.

O Wade agora era só meu. Um sorriso se formou quando pensei nisso. Pela janela eu olhava a noite chegar em Atlanta. O sol já tinha se posto e as estrelas da cidade se acendiam como no céu flamejante. Eu podia gargalhar e sair louco daquele carro naquele momento.

Não achei que o Wade gostava tanto assim de mim, a ponto de terminar com a minha mãe para ficar comigo. Sim, ele fez isso por mim, pensei.

Em casa, o meu pai carregou a minha mala e nos acompanhou até a porta.

— Bom, eu já vou indo. Tchau, filho! Tchau... Isabelle.

Tocar o nome dela parecia arranhar a pele do meu pai. E a minha mãe pareceu aliviar essa dor quando disse:

— Não quer ficar mais um pouco? Para o jantar.

Aquilo pareceu um alívio para mim e para o meu pai. Mamãe, séria e instigante, olhou para mim.

— É, pai. Fica para o jantar — falei.

O rosto do Brian iluminou-se ainda mais.

— É sério?

— Venha, entre — a minha mãe confirmou.

Já na cozinha, ela pegou gelo, uma garrafa de uísque e outra de espumante. Depois, copos. Ofereceu-lhe ao meu pai.

— Está me oferecendo bebida?

— Não me diga que não tomou nem uma gota desde que saiu?

O meu pai engoliu em seco e falou:

— É, eu já tomei um pouco sim.

— Não precisa beber se não quiser.

— Não. Só um pouco. Isso, está bom — disse ele.

A minha mãe também colocou uísque no copo dela, em seguida, virou para mim.

— Quer um pouco, filho?

— Não, eu estou de boa.

— Então, abre o champanhe — Ela sorriu e me passou a garrafa.

A minha mãe me dando bebida? Se o Wade estivesse lá teria armado a maior confusão. Mas, afinal, era por isso que ela estava daquele jeito, porque ele não estava lá. No entanto, ela não parecia tão ruim assim.

— Eu não sabia que você tinha bebida em casa — o meu pai comentou.

— Às vezes é bom — disse ela e virou o copo dela de uma vez na boca. Depois, começou a descascar batatas na pia.

— Quer que eu abro?

— Eu consigo — fiz uma careta para o meu pai. E logo a tampa da garrafa voou.

Rimos.

Tomei um gole de champanhe e puxei conversa com ele:

— Então, como está na metalúrgica?

— Muito bem, filho. Muito bem — repetiu, sorrindo contente.

Conversamos mais um pouco, e então, ele se aproximou da minha mãe e se ofereceu para fazer alguma coisa.

— Quer fritar o bife?

E enquanto os meus pais cuidavam do jantar, mandei mensagem para o Wade:

"Vc não foi me ver no aeroporto. Por q não me contou q vc e minha mãe terminaram? Wade eu quero te ver ''

E enfim ele respondeu:

"Me desculpa. Conversamos amanhã"

"Não pode ser hj?"

"Vc não está cansando da viagem?"

"Não pra te ver".

"Ok. Eu te pego aí. Que horas?"

"Eu te aviso. O meu pai está aqui. Mas acho que ele vai depois do jantar "

"Ele está jantando aí agora?"

"Não. Só foi hoje. Ele foi me buscar e ficou para o jantar "

"Ok".

— Foi um dia muito bom. Não foi, filho? — disse o meu pai, rindo junto com a minha mãe.

— É — falei e ri também, ainda sem saber do que falavam.

Mamãe tomou a segunda ou terceira taça de champanhe e disse:

— E eu gritei: Não, não, eu não quero ir! Me desçam, por favor! Hahaha!

E enfim lembrei do assunto, quando viajamos para um passeio onde tinha uma descida de tirolesa.

— Isso já faz tempo, gente — comentei.

Eu devia ter uns 13 anos, e a Lucy ainda morava aqui.

— É, faz mesmo — disse Brian — Eu gostaria de ir lá outra vez — aventurou.

— É, seria legal — A minha mãe sorriu, olhando para o meu pai. Limpou a garganta e acrescentou: — Eu vou pôr uma música.

E enfim, estávamos na sala. Conversamos mais um pouco sobre os momentos bons do passado. Contei um pouco mais da viagem, mostrei as fotos que tirei. Por um momento, parecia que nossa família estava completa novamente, bem, outra vez. E foi uma sensação boa, e os meus pais também deviam sentir isso. Pareciam criar uma espécie de amizade em que poderia rolar algo mais íntimo. E realmente pareceu possível eles reatarem. Até que não seria ruim. O meu pai realmente parecia outro, parecia realmente ter se encontrado, como tinha dito a minha mãe. Aliás, esta começou a beber e não parou mais.

— Mãe, já chega.

— Que isso? É só champanhe — ela riu.

E no fim, tivemos que levá-la para o quarto.

— Que isso eu aguento sozi....

Mal completou e escorreu para o chão.

— Vamos, Isabelle. Vou te levar lá pra cima.

Mamãe foi balbuciando e rindo, enquanto o meu pai a levava nos braços pelas escadas.

— Que isso? É a nossa lua de mel?

O meu pai só deu uma risadinha, olhando para mim. E chegamos no quarto.

— Ela apagou? — indaguei.

— É. Ela nunca foi boa em beber. Cuida dela, Ethan.

— Vou cuidar.

O meu pai a cobriu com o cobertor, depois que eu tirei os sapatos dela.

— Bom. Eu já vou indo, filho.

E quando me despedi dele lá fora, falei para o Wade vir me ver. Menos de dez minutos, ele mandou:

"Estou aqui fora"

Wade estava de frente da casa, numa motocicleta. Usava jaqueta.

— Oi.

Dei um abraço demorado nele e senti o seu cheiro. Juntos, enfim.

— Oi, Ethan — Ele me apertou, como nunca tinha feito antes, e cheirou os meus cabelos.

— Você não quer entrar? A minha mãe já está na cama.

— Não sei se é uma boa ideia.

— Vem. Ela não vai se levantar. Já está dormindo.

Já lá dentro, pudemos, enfim, saciar a vontade dos nossos corpos em se juntarem mais intimamente. Depois de beijos demorados, Wade deitou sobre mim no sofá.

— Oh meu Deus, isso loucura — disse Wade, enquanto beijava o meu pescoço. Em seguida, parou.

— O que foi? — indaguei.

— A gente pode conversar agora?

Ele se sentou. Me recompus ao lado dele.

— Como você está? Porque vocês terminaram? Ela não me contou direito.

Wade respirou fundo, uma longa pausa antes de responder:

— Nos desentendemos um pouco. Às vezes não era nada demais, por bobagens. Ainda mais por ser bobagens, aumentava a discussão. Por exemplo, ela falava algumas coisas sobre a idade dela, que já tem quarenta anos e que sou jovem demais pra ela — ele limpou a garganta e prosseguiu: — E agora tem o seu pai. Acho que ela não esqueceu ele.

— Por que acha isso?

— O jeito que ela fala dela, o jeito como tratou ele. E não acabou de jantar aqui? Não acha muito conveniente, logo agora que demos um tempo?

— Sim, mas... mas... Eu não sei. E, Wade, eu não vou mentir. A verdade é que estou feliz com isso. Eu não vou mais me sentir culpado agora que você não está mais com a minha mãe.

Tentei beijá-lo.

— Ethan, espere.

— A minha cabeça está um pouco confusa agora.

— Confusa com o quê?

— Com a gente, com o que estamos fazendo.

— Eu achei que você gostava disso. Quero dizer, achei que você estivesse bem com tudo isso.

Ele suspirou e olhou para longe de mim.

— Wade, todo esse tempo eu só estou com você. Se você disser que me ama, eu vou acreditar.

Quieto.

— Você, não ama? — aventurei.

— Sim, é claro que amo. Mas eu não estou bem pra você agora. Talvez devêssemos dar um um tempo também.

— O quê? Está falando sério?

— Só por um tempo.

— Eu fiquei três semanas longe e quando a gente se encontra você me pede um tempo? — elevei a voz. — Você terminou com a minha mãe e agora quer terminar comigo? Por quê?

Wade segurou nos meus ombros e disse:

— Você é tão jovem. Devia sair mais com pessoas da sua idade.

— Eu já saio com os meus amigos.

— Não é disso que estou falando.

— Você não quer mais ficar comigo?

— Claro que quero. Mas não sei se isso é o melhor pra você. Se sou o melhor pra você.

— Wade, que merda é essa? É sério que você está fazendo isso?

— Eu te disse que não era o seu príncipe encantado. E combinamos de ser só entre a gente. E você contou pra sua amiga.

— O quê?

— Ela foi à academia outro dia.

— Como assim? O que ela disse?

— Acho que ela só queria saber qual era a minha, se eu era confiável. Mas a questão é que você contou para ela.

— Mas você também contou para o seu amigo o que tinha acontecido.

— É diferente. Eu não contei para o Michael sobre o nosso relacionamento.

— A Emily já sabia o que sentia por você e quando eu cheguei... não deu pra esconder o que tinha acontecido na fazenda — expliquei.

— Vamos deixar isso pra lá, ok? Estamos quites. Mas devemos parar um pouco agora.

Um minuto inteiro se passou. Me ajeitei no sofá, enquanto a minha respiração ardia dentro de mim.

— Eu não entendo — falei. — Eu achei que quisesse ficar comigo.

— Só estou pedindo um tempo. E é isso que vamos fazer, ok? — Ao dizer, Wade se levantou.

— Não. Não vamos fazer isso — Abracei ele. — Wade, por favor.

E chorei.

— Por favor, Ethan. Eu preciso ir. Isso é tão difícil pra mim como pra você.

— Eu não vou deixar. Por favor.

E fiquei segurando o corpo até o tempo que pude, não muito. Wade estava quieto, mas, ao contrário, o seu coração.

— Eu tenho que ir.

— Não.

— Ethan.

— Se você for eu não nunca mais vou querer te ver — Me soltei dele.

Nesse momento, Wade me olhou sério por meio minuto. Então, caminhou até a porta.

— Seu desgraçado! Não — E comecei a dar batidas no corpo dele com as mãos.

— Para. Para.

— Seu mentiroso! Disse que eu fazia parte da sua vida e agora vai me deixar.

— Está vendo porque eu preciso ir?

Suas mãos apertaram os meus punhos. Seus olhos fitando os meus.

— Me desculpa. Eu preciso ir, Ethan.

— Você quer ir? Então vá! Saí daqui, eu não quero mais te ver — exclamei.

Ao me soltar, abri a porta e mandei o Wade embora. Ele logo saiu, mas parou para olhar para mim. Eu não olhei, só bati a porta e a tranquei. Ele ainda ficou um tempo, então, ouvi o barulho da moto indo embora.

— Wade. Por que, Wade? Meu amor.

E me ajoelhei no chão, colando a testa na porta, enquanto lágrimas pingavam no chão.

A minha mãe passou o dia seguinte quase todo na cama. No meio da manhã, levei um chá para ela.

— Obrigado, filho — disse ela, massageando a testa. — Pode me trazer um analgésico? Está no banheiro.

— Aqui.

— Você está muito quieto. Falei alguma besteira ontem? — ela indagou, depois de engolir o comprimido.

— Não. O jantar foi ótimo. Tirando sua bebedeira. Você bebeu uísque e ainda a garrafa inteira de champanhe — eu ri.

— Que isso, você me ajudou também. Ai, nunca mais eu bebo daquele jeito. Os seus amigos não vêm aqui hoje?

— Sim. Na verdade, já estão lá embaixo.

— Então, por que essa carinha?

— Nada eu só... Estou triste que as férias já acabaram.

— Último ano, filho. Se esforce para aumentar ainda mais as suas notas.

— Eu vou sim.

— Agora vai. Vá ficar com os seus amigos.

Emily, David e Lacey estavam no sofá, e o Trent, estirado no tapete. Passei por cima deste último e fui para a cozinha, deixando-os assistindo TV e usando seus celulares.

Parado diante da porta, eu olhava para o quintal. O vento morno soprava de leve as folhas do carvalho verde, borboletas brincavam e irrigadores atiravam água na grama.

— Está tudo bem?

Emily chegou atrás de mim.

Demorou um pouco para eu me virar para ela e dizer:

— O que você falou para o Wade?

— Quê?

— Foi vê-lo na academia quando eu estava fora. O que disse pra ele?

— Ele te falou? — ela engoliu em seco. — Que escroto.

— Diz logo que falou pra ele!

— Calma, não foi nada demais. Eu só queria saber mais dele e... Eu só meio que dei um toque para ele cuidar de você. Um recado indireto. Não falei abertamente que sabia de vocês, só disse que você era o meu amigo e que era para ele...

— Eu não vou te contar mais nada — Voltei a olhar para o quintal.

— Ethan, qual é? Eu só queria te proteger.

— Me proteger?

— Pensa bem, Ethan. Ele ficou com você mesmo estando com a sua mãe.

— Fala baixo — ao dizer isso, caminhei lá para fora.

— Tá legal. E o que garante dele não fazer o mesmo com você? E olha se já não fez.

Parei perto de uns dos irrigadores. Um jato d'água passou pelas minhas pernas.

— Pensa bem, Ethan.

— Cala a boca, cala a boca.

— Ei, o que aconteceu? Por que está assim?

Respirei fundo e, enfim, falei:

— O Wade pediu um tempo. Ele me deixou.

— O quê?

— Ele até falou para eu sair com outros caras.

— Ethan, foi culpa minha?

— Eu acho que não. Talvez ele esteja com medo que mais alguém descubra ou... ele realmente se cansou de mim — falei com a garganta apertada e os olhos ardendo. — Mas eu acredito nisso. O Wade não está bem, por isso pediu um tempo.

— Como assim?

— Acho que ele está um pouco confuso, ou assutado com tudo o que aconteceu. Em ficar comigo, com a minha.

— Se ele pediu um tempo para pensar, talvez ele tenha feito o certo.

— O quê? Não. Eu vou vê-lo mais tarde. Já liguei várias vezes e mandei mensagem, e ele não me responde.

— Você fez o quê? — Emily exclamou.

— Ele deve estar chateado porque falei algumas coisas pra ele ontem e... Eu tenho que vê -lo.

— Não vai não. Se o Wade pediu um tempo, dê a ele.

— Ele precisa de mim.

— Você não vai atrás dele. E agora, isso é só uma evidência de que talvez ele não se importe tanto assim com você. Fez isso para não te magoar mais. Até falou para sair com outros caras. Isso não é óbvio?

— Não! Ele ainda vai ficar comigo, ele me ama.

— Acredita mesmo nisso? Você acha até que ele vai estar disposto a te assumir? Pois é o que as pessoas fazem quando se amam.

— Você sabe que é complicado.

— Sim. Tão complicado quanto se apaixonar por um hétero, essa é a pior burrice que um gay pode ter. E eu já te disse isso uma vez.

— Para! Você acha que eu não penso nisso? Que ele pode ou não me amar, que só está se divertindo comigo? Às vezes eu penso isso, mas o meu coração diz o contrário. Ele diz que o Wade me ama, porque ele mesmo disse isso pra mim.

Emily me olhou por quase um minuto.

— Está bem. Isso não é da minha conta — fez outra pausa e completou: — Eu sou sua amiga. E me confiou este segredo. Por isso eu digo outra vez: só toma cuidado, Ethan.

— Tomar cuidado com o quê? Agora que o Wade e eu... — o choro me cortou as palavras.

— Vem cá. — Emily me abraçou. — Eu estou aqui. Espere as coisas acalmarem um pouco. Vai ficar tudo bem. Você vai ver.

— Eu o perdi, Emily. Eu o perdi.

E vários jatos de água nos atingiram, até eu ouvir o Trent exclamar:

— O que aconteceu? Pessoal, chega aqui!

Então, Trent, Lacey e David se aproximaram de nós. Estavam preocupados comigo, mas eu tinha tratado de enxugar os olhos.

— Não é nada. Eu estou bem. É sério, gente.

Eles insistiram para eu contar, e então, acabei jogando a causa no meu pai.

— Estou um pouco emotivo desde de que chegou — falei.

— E ele vai voltar com a sua mãe? — Trent aventurou.

— Eu não sei — Após uma ligeira pausa falei que não queria mais tocar no assunto.

Tirei minha camisa e me molhei mais no regador.

— Não vamos encher a piscina? — disse David.

E logo, tratamos de encher uma piscina de borracha, não era muito grande, mas dava para aproveitar. Também pulamos na cama elástica, enquanto jogávamos água para todos os lados com a mangueira que arrancamos do regador, inclusive na cama elástica. Nos divertimos muito, afinal, era o último dia das férias.

Alguns dias se passaram desde então.

A Emily ficou muito comigo, e muitas vezes nos juntamos com toda a galera, no parque ou na casa de alguém.

E o Wade? Mais de vinte dias sem saber dele, até uma manhã de sábado, quando bateram na porta.

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