Contratados: A Rendição - Capítulo 16

Um conto erótico de M.K. Mander
Categoria: Gay
Contém 7400 palavras
Data: 15/03/2024 13:53:51
Assuntos: Amor, Gay, Homossexual, websexo

CAPÍTULO 16

*** MARCOS VALENTE ***

— Ela dormiu! — Anthony diz ao passar pela porta do meu quarto e se jogar na cama. Sentado diante do notebook enquanto analisava alguns documentos, tudo o que faço agora é olhar para ele e rir com o quão confortável ele é capaz de se sentir em qualquer lugar.

Não faço ideia de quantas vezes Anthony esteve em meu quarto enquanto trabalhou aqui em casa, mas posso contar nos dedos de uma única mão quantas vezes ele já esteve aqui desde que se mudou, ainda assim, esta noite, ele simplesmente entrou sem bater e agora está jogado sobre a minha cama com os braços esticados ao lado da cabeça e as pernas moles, penduradas além da borda. Rio, salvo os documentos que analisava e fecho o computador portátil.

Caminho até a cama e devagar, curvo meu corpo sobre o de Anthony, ele abre os olhos.

— Oi... — sussurro em sua boca.

— Oi... — Levanta a cabeça levemente, beijando meus lábios.

— Você sabe... As pessoas costumam bater na porta umas das outras e esperam ser atendidas. — Implico e uma de suas sobrancelhas se ergue.

— Jura? Não foi você quem não me deixou voltar para o meu quarto hoje de madrugada? Porque eu jurava que tinha sido... Ou será que eu errei de quarto? Tem algum outro homem grande, forte, gostoso e muito, muito babaca por essa casa? — Seu rosto assume uma expressão divertida e eu solto meu peso sobre ele apenas por tempo o suficiente para nos girar na cama, invertendo nossas posições, deixando minhas costas sobre o colchão e o corpo dele sobre o meu.

Envolvo sua cintura com meus braços e ele se ajeita, ficando confortável.

— Você estava esperando a porta de Isabella fechar pra ir até o meu quarto, admite! — Sorrio, porque eu realmente estava. Depois de semanas sem poder tocar em Anthony, nem fodendo pretendo perder qualquer oportunidade de fazer isso pelo próximo mês, pelo próximo ano.

Uma noite não chegou nem perto de ser o suficiente. Mas depois do parto que foi fazê-lo admitir que queria isso tanto quanto eu e finalmente se render às próprias vontades, gosto que tenha sido ele a vir até mim, e não o contrário.

Talvez eu devesse ter lhe dito que a estava ouvindo noite passada. Mas Anthony parecia estar alimentando sua coragem para dizer as palavras com o silêncio e com a escuridão. Eu não queria que ele perdesse esse momento.

Não posso dizer que sei como ele se sente. Eu nunca fui jovem e sozinho. Nunca passei pelas dificuldades que ele passou. Nunca precisei duvidar de mim mesmo ou do que achava que via nas pessoas. Então, não, eu não entendo.

Mas mesmo eu sou capaz de reconhecer que a idade tem um peso. Se a minha traz a necessidade de assumir responsabilidades, a de Anthony traz o direito à imaturidade e gente demais já lhe negou isso. Eu não serei mais um.

Subo uma de minhas mãos pelo seu rosto em uma carícia lenta, ele vira e beija a palma da minha mão. Gosto disso também.

Não acho que dois anos de sexo com a mesma pessoa fariam qualquer esforço em manter meu interesse. Mas dois anos disso aqui, eu não tenho dúvida alguma de que farão um bom trabalho em nunca me entediar. Eu realmente gosto da gente assim.

Há um momento de silêncio entre nós e eu juro que ouço os olhos de Anthony ecoarem essas palavras, mas seus lábios nunca dizem. Talvez ele fale quando eu estiver dormindo. — Rio da minha piada silenciosa e meu esposo ergue as sobrancelhas em um questionamento mudo que eu, deliberadamente, ignoro.

— Por que ela demorou tanto a dormir? — Mudo de assunto, não lhe dando o prazer da minha admissão ou explicação. Anthony estreita os olhos.

— Ela está ansiosa pra amanhã... — encaixa o rosto em meu pescoço, por isso, apesar da proximidade, suas próximas palavras saem abafadas, — A primeira aula de ballet...

— Ah, sim... — Isabella já me falou sobre isso um milhão de vezes nos últimos dias. Anthony a matriculou em uma aula infantil há algumas semanas e ela não fala de outra coisa desde então, ansiosa para começar, — Já faz um tempo que ela está matriculada, não? Por que só começa amanhã?

— A academia estava formando uma nova turma... As outras já estavam cheias. — Franzo o cenho, encaixo a mão no pescoço de Anthony e com delicadeza viro seu rosto em minha direção.

— E por que você não a colocou em uma aula particular, Anthony?

— Porque o custo era muito maior, a previsão da abertura da turma era de no máximo um mês... Não fazia sentido... — ergo uma sobrancelha, — O quê?

— Sério, Anthony? O custo? — não faço o menor esforço para esconder minha impaciência com a resposta. Ele abre a boca, mas não diz nada. Passa a língua sobre os lábios.

— Não é porque temos dinheiro a nossa disposição que precisamos desperdiça-lo, Marcos...

— Não é desperdício! Teria poupado a criança de dias de agonia,

Anthony! Não é desperdício! — Sua expressão se fecha, tornando-se irritada, e eu já quero sorrir. Esse homem não suporta ser contrariado.

— E agora você sabe mais sobre o que é melhor pra minha filha do que eu? — dispara.

— Quem está sendo a criança birrenta agora, hein? — ele bufa, — Não hesite, Anthony! Se o dinheiro não puder garantir o conforto de vocês, então pra que ele serve? — sua postura defensiva relaxa em meus braços e ele deixa um beijo suave em meus lábios.

— Acho que vou comprar um Iate... — comenta, despretensioso, e eu gargalho, — O quê? Eu só estou aplicando o que você disse... Conforto e coisa e tal...

— Achei que você não gostasse de barcos...

— Eu nunca disse isso...Eu disse que não entendo porque as pessoas insistem em depender do vento quando podem simplesmente usar um motor! Um Iate tem motor.

— Se você se comportar, talvez um dia eu te mostre que existem jeitos muito bons de usar o vento a nosso favor quando estivermos a bordo de um veleiro... — Seus olhos se arregalam e ele morde o lábio quando entende as segundas intenções explícitas em minhas palavras.

— Talvez o vento não seja uma ideia tão sem sentido, afinal... — Lambe os meus lábios, — E por que você não me mostra jeitos muito bons de usarmos a cama ao nosso favor? — Sorrio.

****************

— Oi, Eduardo! Como você está? — cumprimento o marido do meu amigo que, por acaso, também é seu secretário. Ideias com

Anthony dobrado sobre a mesa do meu escritório assaltam minha mente e eu rio, negando, porque algo me diz que ela odiaria interpretar esse papel.

— Oi, Marcos! Que bom ver você! — diz, mas sua atenção não é minha e sim da tela acesa diante dele, — O João já está esperando por você... Pode entrar!

— Obrigado, — Sou rápido em dizer, não querendo desconcentrá-lo. Em poucos passos estou passando pela porta do escritório de João Pedro. Ao contrário do que imaginei, não o encontro atolado em trabalho. O filho da puta está esparramado na própria cadeira com um sorriso de orelha, me esperando, e eu reviro os olhos.

— Boa tarde... — Sento diante da mesa, tiro da minha pasta os papéis que trouxe e os coloco diante dele. Depois, alcanço meu celular no bolso e abro o aplicativo de notas, encontrando as informações que preciso. Estou pronto para começar a falar, mas ele é mais rápido que eu.

— Você comeu ele! — acusa e eu respiro fundo.

— Primeiro, talvez você queira escolher melhor suas palavras. — alerto, — E, segundo, isso não é da sua conta! Agora, podemos trabalhar?

— Escolher melhor minhas palavras? — Ergue uma sobrancelha e um sorriso zombeteiro faz morada no canto da sua boca antes de ele dobrar o lábio para fora, erguer as mãos em sinal de rendição, e balançar a cabeça, concordando, — Mas sobre não ser da minha conta, — abaixa as mãos e balança a cabeça para um lado e para o outro, — Aah, não! Definitivamente, não! Nem fodendo isso não é da minha conta! Quer dizer que é da minha conta te ouvir chorar porque vai ter que se casar, é da minha conta te ouvir chorar por estar com bolas azuis, mas não é da minha conta quando você é encucetado?! Nem fodendo eu trabalho antes de saber exatamente o que aconteceu!

— O quê, quer detalhes agora, João Pedro? Tá tomando gosto por voyeurismo, é?

— Vai pra porra, Marcos! Definitivamente, eu não quero esses detalhes! Mas você percebe que não negou, certo?

— Não neguei o que, caralho? — O encaro com seriedade e sua expressão é tão surpresa que eu revejo suas palavras, procurando o que de tão importante assim eu posso ter deixado passar. Ah, porra! Expulso o ar dos pulmões, ele não vai deixar isso barato e o sorriso tomando todo o seu rosto é mais do que prova disso, — Isso é porque um de nós está com a cabeça exatamente onde deveria, nesses contratos. — Aponto para os papéis que coloquei diante dele, — Não em semântica!

— Semântica? Engraçado. Você estava bem preocupado com semântica meses atrás quando sentou, exatamente aí, onde está agora, e me fez essa acusação... — Apesar de suas palavras terem o direito de soar acusatórias, levando em consideração toda a situação, o sorriso no rosto de João deixa claro que ele está se divertindo com tudo isso, se divertindo muito. — Interessante... O tempo tá te deixando mais sábio, Marcos?

— Você está aproveitando, não está?

— Cada maldito segundo! — Balança a cabeça, enfatizando as próprias palavras. — Agora pode começar a falar, como é que nós saímos do estado de autocomiseração no dia do seu casamento pro seu estado de felicidade aparente de hoje?

E eu falo.

Conto tudo. Desde a situação de Anthony com os pais, até nosso jantar, duas noites atrás. Quando termino, impossivelmente, o sorriso no rosto de João Pedro parece maior do que quando comecei.

— Você ouviu a parte em que eu disse que ele tem uma história de merda com os pais, certo? Que eles são uns bons filhos da puta... Ouviu o quanto isso é triste, certo? — Tento desviar o assunto daquilo que seu sorriso me diz que serão suas próximas palavras, apenas para falhar. João Pedro se levanta, curva o corpo sobre a mesa, apoia os cotovelos sobre ela, e praticamente grita na minha direção.

— EU. TE. A. VI. SEI! PORRA! — Fecho os olhos e, se estivéssemos em um desenho animado, sem dúvida alguma, as palavras de João Pedro teriam criado uma ventania capaz de balançar meus cabelos.

— Já acabou?

— Ah, Marcos! Não espere que eu acabe pelos próximos dez anos! — Fecho os olhos e ergo as sobrancelhas, sem qualquer alternativa, a não ser me conformar. Quando eu penso que ele acabou, percebo que, outra vez, Anthony me fodeu.

****************

Anthony está dançando. Loucamente. Na cozinha.

Chegar em casa e encontrar essa visão, definitivamente, é uma vantagem do casamento. Ainda usando terno e gravata, me aproximo devagar e mordo meu próprio punho para não gargalhar, chamar sua atenção e perder o show. Me apoio na parede de acesso à cozinha para observar.

Ele está de costas para mim e remexe os quadris de um jeito delicioso usando nada além de tênis esportivos coloridos, uma calça justíssima que evidencia cada curva da parte inferior do seu corpo e uma regata.

As roupas têm as mesmas cores, azul marinho e rosa pink, contrastando com a pele clara em um nível que é impossível não olhar. Se suas curvas não fossem o suficiente para atrair olhares, as cores das roupas certamente seriam.

E mesmo que eu ainda não tenha visto a parte da frente, não tenho qualquer dúvida de que não vou gostar do que vou ver, ou melhor, vou gostar. E muito! Mas só eu deveria gostar, porra! Sem esforço algum, aperto os dentes ao deduzir onde é que ele foi vestido assim.

Puta que pariu! Só de pensar em Anthony desfilando isso por uma academia lotada, preciso respirar fundo. Levo a mão até a nuca e esfrego, aliviando a sensação desagradável que se instalou nela. Porra, porra, porra! Engulo, frustrado comigo mesmo porque descobri que não gosto dessa sensação.

Eu nunca fui um cara ciumento, mas, também, nunca tive ninguém com quem ser ciumento. E agora tem, Marcos? Não! Não tenho... Anthony e eu... Somos só Anthony e eu! Ninguém falou em exclusividade! Unhum... Tá! Senta lá, Cláudia! Cala a boca subconsciente! Eu não sei para que você serve!

Meu esposo se empina para atrás, apoia as mãos na bancada diante de si e começa a tremer a bunda no que provavelmente é a velocidade cinco do créu e do método de foder o juízo de um homem também. Pronto, estou, oficialmente, de pau duro.

Balanço a cabeça, rindo baixinho de mim mesmo e me canso do papel de expectador. Começo a me aproximar devagar, mas paro quando me lembro do que houve da última vez que o abordei assim.

Ele está usando fones de ouvido e embora eu ache que não há nada que eu possa fazer para evitar o susto que ele vai levar quando se der conta da minha presença, decido engolir minha vontade de tocá-lo e não fazer isso deliberadamente.

Apoio os quadris na ilha da cozinha, agora, a apenas dois passos de distância de Anthony, e espero. Ele está dançando, mas com a proximidade, parece sentir meus olhar dedicado e gira com um sorriso lindo para caralho no rosto. Sua expressão é uma mistura curiosa de surpresa e conhecimento. Como se ele soubesse que eu o estivesse olhando e, ainda assim, tivesse se surpreendido.

Uma de suas mãos alcança a orelha e ele retira um dos fones de ouvido que mais parece uma bolinha de gude, de tão pequeno.

— Oi, lindo... — Um passo largo é o suficiente, já o tenho em meus braços. Porra! Isso deveria ser tão bom quanto é? Porque, puta que pariu!

Dois dias desde que eu não tenho mais motivos para não fazer nada além de pensar em Anthony o dia inteiro. Dois dias em que ele parece ter se entranhado sob a minha pele e cada camada de neurônios que eu tenho, porque não consigo fazer absolutamente nada sem me lembrar dele.

Do seu sorriso, dos seus olhos escandalosos, do seu corpo gostoso e do seu humor ácido. Tudo parece ser um motivo e eu realmente não sei como mudar isso. Como parar essa sensação de que só agora, que o tenho em meus braços, é que o dia está completo. Uma porra!

— Oi... — responde e parecendo tão ansioso quanto eu, me beija. É como sempre. Voraz, exigente, e nunca igual ao anterior. A língua de Anthony invade minha boca, lambendo e chupando tudo o que quer e alcança. Gostoso nem começa a descrever e quando ele geme baixinho, eu o prenso contra a bancada.

— Papai... — A voz de Isabella soa distante e Tony me afasta imediatamente. Franzo o cenho. Certo. Sem contatos físicos que possam dar ideias a Isabella. Anthony arruma os cabelos que continuam no mesmíssimo lugar em que estavam antes e alisa as roupas livrando-as de um desalinho inexistente.

— Marcos! — A criança exclama assim que me vê na cozinha e corre na minha direção, — Olha! Eu sou uma bailarina! — Se exibe.

Ela veste um collant cor de rosa, uma saia cheia de camadas, calça sapatilhas também cor de rosa, e tem os cabelos presos em um coque enfeitado por um laço pequeno e uma rede. Sorrio para a menininha animada, me abaixo para abraçá-la e quase sou derrubado.

Deixo um beijo em sua testa e nem preciso perguntar como foi sua primeira aula, ela me conta tudo e mal respira até ter terminado de expor cada detalhe, nova amiga e movimento; até mesmo ensaia alguns passos antes de escalar a banqueta e sentar-se nela.

Anthony observa tudo enquanto prepara o jantar de Bella, hora dando risinhos, hora balançando a cabeça em negativa. Depois de alguns minutos falando sem parar, a criança transfere sua atenção de mim para o prato de comida que é colocado a sua frente.

— Eu não sabia que você estava malhando... — digo quando o silêncio toma conta do espaço.

— Eu não estava... — Movimenta-se pela cozinha e eu estou tão fodidamente atraído pelo contraste da cor das roupas e da sua pele, que não conseguiria dizer o que Anthony está fazendo, mesmo que eu esteja olhando para ele, — Comecei hoje... A aula da Bella dura uma hora, achei que seria bom aproveitar esse tempo pra fazer alguma coisa além de esperar.

— Certo... Alguma coisa além de esperar... — repito baixinho o que ele acabou de falar, desviando os olhos para o topo da bancada diante da qual agora estou sentado.

— E o seu dia? Como foi? — A pergunta me pega desprevenido e minhas sobrancelhas se erguem involuntariamente só para logo em seguida se franzirem. Anthony olha por cima do ombro quando demoro a responder e eu gaguejo uma resposta apressada.

— Tudo bem... Mais do mesmo... Acho...

— Acha?

— Eu não costumo pensar muito sobre isso?

— Por quê? — Agora, ele está olhando para mim com o corpo todo virado na minha direção e confusão estampada no rosto.

— Eu acho que ninguém nunca perguntou... — pauso, eu mesmo estranhando a informação, — Não depois que eu deixei de morar com os meus pais. — Primeiro, ele fica surpreso, depois, parece arrependido e eu realmente queria puxá-lo para mim e lhe dizer que está tudo bem, foi só uma pergunta, não há motivos para surtar.

Mas Isabella está sentada bem ao meu lado comendo seu macarrão, então me limito a inclinar a cabeça e esperar que meu olhar transmita, pelo menos, uma parte do que eu gostaria de fazer e dizer.

— Entendi... E tudo bem perguntar? — rio e balanço a cabeça, concordando.

— Amanhã eu vou ter uma resposta melhor. — pisco para ele.

************

O zumbido característico da vibração do celular arranca minha atenção dos papéis a minha frente e eu desvio os olhos até o aparelho sobre a minha mesa. Dois motivos me fazem sorrir, surpreso.

O primeiro, o fato de ser uma chamada de vídeo. O segundo, é Anthony quem está me ligando e eu acho que nunca antes isso aconteceu.

Mordo o lábio e pego o celular, dividido entre curiosidade e preocupação. Mas a segunda se desfaz quando atendo à chamada e um Anthony sorridente aparece na tela. Sorrio de lado e estreito os olhos, sem saber exatamente o que esperar.

— Atrapalho? — pergunta e coloca uma mecha de cabelo no lugar.

— Nunca. — O sorriso que ele me dá em resposta vale cada segundo da sensação gelada que toma meu peito quando me dou conta de que não respondi levianamente.

Ele nunca vai me atrapalhar, percebo. Porque não importa o que eu faça, ultimamente, meus pensamentos estão sempre se dividindo entre Anthony e qualquer outra coisa. Vê-lo, falar com ele, em um momento inesperado, simplesmente não tem como ser ruim. — Aconteceu alguma coisa?

— Não... Eu só... — Balança a cabeça, surpreendendo-me outra vez, ao parecer envergonhado. Acho que nunca vi Anthony envergonhado de verdade. Já o vi fingir inúmeras vezes, mas o constrangimento em sua expressão perdida não pode ser atuação.

— O que foi Tony? — Ergue os olhos, passa a língua sobre os lábios, enchendo minha boca de água com a vontade de sentir seu gosto, pisca algumas vezes e só então fala.

— Eu ia almoçar e fiquei me perguntando se você não queria companhia... Eu não sabia se esse era o seu horário de almoço, nem se você almoça sozinho, ou se você almoça, — Solta uma frase depois da outra quase sem respirar, aperta os olhos, passa a mão livre pelo rosto e sacode a cabeça. — Quer saber? Me desculpa... Eu... Eu não devia ter ligado... Deixa pra lá, eu, eu—

— Anthony! — Interrompo suas explicações com um sorriso idiota no rosto, adorando ver uma rachadura na armadura de super homem que meu marido usa frequentemente. Contra o meu próprio bom senso, sentindo o ego ser massageado por saber que eu não sou o único que não sabe exatamente o que está fazendo. — Eu também estou com saudades de você... — Me sinto um adolescente com o coração acelerado, esperando pela resposta do garoto que gosta, sem saber como ele vai reagir à sua declaração.

Tony fecha os olhos e suspira, depois, morde os lábios com suavidade e eu sinto inveja por não poder fazer isso eu mesmo.

— Isso é tão estúpido! Nós, literalmente, acabamos de nos ver! Não tem nem doze horas, Marcos! Doze horas! — Eu esperava qualquer resposta, menos sua indignação com a própria vulnerabilidade. Embora, pensando bem, não seja nada surpreendente que esse seja o primeiro pensamento de Anthony ao se deparar com exposição.

Uma gargalhada descontrolada deixa minha garganta e Anthony ri também. Minha mão chega a esticar para tocar a tela do telefone, mas eu me paro antes que ela apareça diante da câmera, porque isso seria ridículo. Não é como se eu realmente fosse tocá-lo, porra!

— Você nunca se sentiu assim antes? — pergunto, curioso, quando consigo parar de rir.

— Não... E não gosto de me sentir! — responde, assumindo uma carranca emburrada e me arrancando outra risada.

— Não é o fim do mundo, Tony... Acho que isso é normal quando se está tão próximo de alguém quanto nós dois temos estado, e caso te interesse saber, eu também nunca senti... Mas eu também nunca tive com ninguém a relação que nós dois temos, então acho que é compreensível. — Balança a cabeça, concordando.

— E o que nós fazemos com isso? Quer dizer, eu não posso ficar ligando pra você só porque... Só porque...

— Porque sentiu vontade?

— É! — Suas bochechas ficam levemente vermelhas e eu adoro para caralho a expressão constrangida em seu rosto.

— E por que não? Nós somos casados, Anthony...

— Mas não de verdade!

— Ah, não, é? — Ergo as sobrancelhas, pego de surpresa pela declaração. Achei que tivéssemos resolvido isso noites atrás quando decidimos que esse seria um casamento de conveniência em cada detalhe.

— Não! — Responde taxativo e eu sorrio imenso.

— Nós moramos na mesma casa?

— Moramos, Marcos! Mas uma coisa não tem nada a ver com a outra! — Revira os olhos.

— Unhum... Tudo bem! E me diz uma coisa, nós temos um convívio diário e... Amigável, por assim dizer? — Anthony bufa ao responder.

— Temos, Marcos! Nós somos animais racionais! — Seu tom de voz é condescendente e finge exaustão. Balanço a cabeça, concordando com seu raciocínio, apoio um cotovelo sobre a minha mesa e deito o rosto na palma da minha mão, escondendo o sorriso, porque quero pegá-lo completamente desarmado quando sussurro.

— E nós fodemos feito loucos todas as noites, Anthony? Não conseguimos manter as mãos e a boca longe um do outro em cada maldito segundo livre que passamos juntos? — Dessa vez, sua resposta não vem imediatamente, porque ele arfa e lambe os lábios devagar. Os olhos de Anthony são tomados por um nevoeiro e eu tenho certeza de para onde seus pensamentos o levaram. — Responde, esposo! Todo dia, você também conta cada porra de volta que o ponteiro do relógio dá pra eu estar dentro de você, como eu conto?

— Marcos...

— É um pergunta de sim ou não, lindo. — Seus olhos se fecham, uma expiração forte deixa sua boca e quando eles voltam a se abrir, eu tenho certeza absoluta de que não vou ser capaz de me concentrar, nem mesmo pela metade, em absolutamente nada até o fim do dia, se não os ouvir gozando para mim, — Onde está

Isabella, Tony?

— Foi à feira com Carmem... — responde tremulamente como se já tivesse ideia do que eu quero.

— Você está sozinho? — Sua resposta é um balançar de cabeça, concordando. — Ótimo... E o que você está vestindo? — Tony parece indeciso apenas por alguns segundos antes da câmera deixar seu rosto e ser redirecionada para o corpo usando uma bermudad florida. Nem eu poderia ter pedido melhor do que isso.

— Tira a roupa pra mim, lindo? — Minha voz sai enrouquecida e meu pau já está dolorosamente duro apenas pelas imagens sobre tudo o que pretendo ver Anthony fazer. Me levanto e, levando o celular junto, caminho até a porta do meu escritório.

— O que você está fazendo? — a voz de Anthony é vacilante e seus olhos piscam várias vezes. Os lábios estão molhados pelas lambidas constantes que ele dá e estão me enlouquecendo.

— Trancando a porta, eu vou almoçar com o meu esposo...

— Marcos... — sussurra e quando seus olhos se fecham outra vez, buscando por um controle que eu não tenho qualquer intenção de deixar que ele encontre, sua garganta engole com dificuldade. Eu adoraria lamber a pele esticada.

— Sabe o que eu queria fazer agora? — pergunto ao passar a chave na porta e caminho de volta até a minha mesa. Sorrio para a tela quando aperto o botão no telefone de mesa que me liga diretamente à minha secretária.

— Sim, doutor Valente. — Bruna me atende solicita e Anthony franze o cenho ao ouvir a voz de uma terceira pessoa em nossa conversa.

— Não quero ser incomodado até segunda ordem. — Faço um grande esforço para disfarçar a rouquidão da minha voz.

— Em hipótese alguma, doutor?

— Nem se o mundo acabar! — respondo categórico e tenho certeza de que não estou imaginando o brilho satisfeito nos olhos de Anthony.

— Não, o quê? — É ele quem pergunta quando caminho até o sofá preto no canto da minha sala depois de desligar a chamada com minha secretária e confirmar que desliguei o viva-voz.

— Lamber sua orelha. — As palavras são ditas ritmadas, lentas e sussurradas. — A curva do seu maxilar, seu pescoço, eu queria morder seu queixo e lamber sua boca antes de enfiar minha língua nela, Anthony...

— Marcos... — Meu nome em sua boca soa quase como uma prece antes de ele morder o lábio e exatamente aquilo que eu disse que gostaria de fazer com eles, lambê-los.

— Tire a roupa, Anthony... Deixa eu ver esse corpo delicioso que você tem... — peço outra e vez e, arfante, ele obedece.

Seu braço se estica para me dar uma visão privilegiada da mão que não segura o telefone. Quando o nó se desfaz e o corpo de Anthony é revelado, eu gemo, ao mesmo tempo, satisfeito com a visão e muito, muito frustrado por estar tão longe dele.

A barriga lisa traça um caminho delicioso até os quadris arredondados em que um retângulo de tecido cobre a virilha depilada.

— Puta que pariu, Anthony! — xingo já desfazendo o cinto e afastando o braço com o celular exatamente como ele fez, dando-lhe uma visão perfeita do que estou fazendo.

— Tira a cueca, esposo! — Ele faz um verdadeiro contorcionismo, descendo a peça um lado de cada vez para não precisar soltar o celular até que o pedaço de tecido esteja jogado no chão. — Senta na bancada?

— Eu não— começa a protestar, mas eu o interrompo.

— Eu quero você bem arreganhado pra mim e na banqueta não vai dar, lindo! Senta na bancada e abre bem as pernas. Olha como eu já tô duro pra você, porra! — Deixo que a câmera mostre meu pau sendo massageado em toda a sua glória desesperada para se afundar no cuzinho quente dele e meu esposo chupa a própria boca. O movimento causa uma fisgada dolorida em minhas bolas. — Me mostra se você já tá durão? Babando pra mim? — Um gemido baixo deixa sua boca ao ouvir minhas palavras e ele cede. Com um pequeno impulso, senta-se na bancada, depois, abre bem as pernas e aponta a câmera para baixo. A cabeça rosada e o brilho nela não deixa dúvidas sobre o nível de excitação de Anthony.— Caralho, amor! Como eu queria chupar esse pau e lamber cada gota que você me desse até você gritar e gozar na minha boca. — Sou tão afetado quanto ele pelo que digo e minha mão passa a deslizar mais fácil pelo meu próprio pau quando ele começa babar, — Olha o que você faz comigo, amor! Olha! Se toca? Deixa eu te ouvir gemer? — Anthony leva a mão até seu pau arreganhado e a desliza devagar.

Vê-lo se masturbando tão gostoso me deixa enlouquecido. Seu toque é experiente, ele sabe exatamente como se dar prazer e seus gemidos logo me alcançam. O prazer sobe pela minha espinha a cada movimento mais intenso que faço e eu aperto os dentes, me recusando a fechar os olhos e perder qualquer segundo do espetáculo que se desenrola na tela na palma de minha mão. Anthony sobe os dedos completamente melados pelo corpo, lambuzando a barriga até chegar aos peitos e brincar com um dos mamilos.

— Ah, caralho, Anthony! Puta que pariu! — rosno e aperto meu pau com força quando minhas bolas parecem prontas para explodir. Parecendo se alimentar do meu desespero, meu esposo coloca o celular na bancada e vira de costa, mostrando a bunda gostosa. Ele abre a bunda e coloca os dedos no cuzinho. Puta que pariu! Meus movimentos se tornam mais rápidos e uma gota de suor desliza por minha testa apesar do ar condicionado e Anthony passa a se foder tão rápido quando minha mão me fode.

— Isso, amor! Fode esse cuzinho gostoso! — Anthony mete dedos no cuzinho e com a outra mão ele se toca com vontade.

Anthony geme alto, mas assim como os meus, seus olhos se recusam a se fecharem, a perder um segundo que seja do que ele está vendo, louco de tesão, na tela.

— Goza pra mim, Marcos? Goza como se estivesse gozando no meu cuzinho, vai! Me dá tudo! Enche meu cuzinho de porra? — pede, manhoso, e eu perco o pouco controle que ainda me restava.

Gozo com a boca fechada e os dentes apertados para controlar o rugido que deixa minha garganta ao mesmo tempo em que meu marido grita e seu pau goza gostoso. Seguro a cabeça do meu pau, controlando a bagunça que é feita, mas não posso fazer o mesmo pelos espasmos que atravessam meu corpo.

Anthony desaba sobre a bancada da cozinha e agora a câmera foca apenas em seu rosto sorridente, relaxado e suado. A vontade de beijar sua boca é quase desesperadora e eu balanço a cabeça, negando. Sem poder acreditar que eu realmente tenha feito isso.

Não que meu escritório seja estranho a atos despudorados. Pelo contrário. Minha mesa já foi testemunha e suporte de um número considerável de fodas, assim como o mesmíssimo sofá em que estou sentado agora. Mas isso aqui, a porra de um sexo por vídeochamada, consequência de um tesão que aparece e me atinge com a velocidade e força de um raio, definitivamente, foi a primeira vez.

E, sendo completamente honesto, nenhuma das fodas testemunhadas por essas paredes foram mais gostosas do que ver Anthony se masturbando para mim.

— Anthony, eu não sei se você leu as letras miúdas, mas no nosso contrato de casamento está escrito que você é obrigado a me ligar todas as vezes que sentir vontade! Isso é uma obrigação contratual! — comento e ele gargalha. Sua risada me faria sorrir se já não tivesse um sorriso idiota em meu rosto.

— Não foi pra isso que eu liguei! Você que é um cretino! Eu queria almoçar com você!

— Eu nunca comi nada mais gostoso que você, Anthony, então eu estou muito satisfeito com meu prato preferido, obrigado!

— Babaca!

— Olha só você desfazendo do meu romantismo... Não é assim que se mantém um casamento, amor!

— Ordinário! —rebate aos risos.

— Gostoso! — Dispenso sua ofensa com um elogio e nós dois ficamos em silêncio por algum tempo, apenas aproveitando a companhia um do outro, mesmo que a distância. — Nosso casamento é de verdade, Anthony... Ele pode não ser convencional, mas é de verdade. —quebro o silêncio depois de algum tempo.

Com a cabeça apoiada no encosto do sofá, uma mão segurando a câmera apontada para o meu rosto e a outra ainda contendo meu próprio gozo, não consigo imaginar um momento mais apropriado para dizer essas palavras. Ele abre a boca, fecha, vira o rosto de lado, mas não o telefone, o que faz com que por alguns instantes, eu só possa observar o seu perfil.

— E o que é que cabe dentro desse não convencional? — Pergunta, por fim, voltando o rosto para mim.

— Honestidade, confiança mútua, carinho, amizade, tesão e tudo mais o que nós quisermos.

— Enquanto for conveniente... —murmura, parecendo levemente incomodado com algo que eu disse.

— Enquanto for conveniente... — Balanço a cabeça, concordando e Anthony pisca. Quando se concentra em mim novamente, seus olhos já não me dizem as mesmas palavras que antes.

— Cabe você me chamando de amor quando tá louco de tesão? — Ergue uma sobrancelha, substituindo o incômodo de instantes atrás por uma postura afrontosa.

— Você não gosta? — Franzo o cenho.

— A coisa da honestidade vai um pouco contra isso, não vai? — Me dou um tempo para processar suas palavras, mas, depois dele, continuo não concordando com elas.

— Existem muitas maneiras de amar pessoas e coisas, Anthony. Eu amo me enterrar em você e a sensação que te comer me dá, não acho que te chamar de amor seja falso, mas se você não gosta, eu posso parar. — Ele ri baixinho.

— Essa é uma conversa profunda demais pra gente ter meio vestido e meio pelado e totalmente lambuzados de gozo...

— Esse é uma conversa perfeita pra esse momento. Não consigo pensar em um momento mais íntimo pra falar de intimidade.

— Nhe... — Desdenha e é a minha vez de rir tendo mais uma evidência de algo que percebi há muito tempo.

— Você tem medo de intimidade, né?

— Eu sempre achei que você também corresse dela...

— Não. — Balanço a cabeça, reafirmando minha negativa. — Era de compromisso que eu fugia, e como consequência disso, a intimidade simplesmente não tinha como acontecer. Mas, no nosso caso, o que não tem remédio, remediado está. Não tem como passar pelo que estamos passando sem que a gente crie intimidade, linda. Sinto muito, mas é melhor você lidar com isso...

— Mesmo que não seja fácil como você gosta de fazer parecer, não é como se eu tivesse muitas opções...

— Não, amor! Não tem...

— Achei que você tivesse dito que seu não gostasse, ia parar.

— Você ainda não me disse que não gosta. — Espero com uma sobrancelha levanta e sorrio quando ele continua em silêncio.

— Eu vou arrumar a bagunça que fiz... — diz, por fim.

— Eu queria muito lamber essa bagunça...

— Você não tem que trabalhar? — pergunta, mas seus mamilos, outra vez durinhos, depõem conta o desinteresse em suas palavras. Anthony faz um bico delicioso e eu rio. O que aconteceu com seu apego à honestidade?

— Porra, como eu queria te beijar agora! Promete me ligar se tiver vontade? — Nega com a cabeça e revira os olhos antes de responder.

— Não! Ou você não vai mais trabalhar. — O sorriso que se desenha em meu rosto é imenso, não pelas palavras ditas, mas pelas não ditas. — Tchau, Marcos...

— Até mais tarde, amor...

******************

*** ANTHONY ***

— Como foi o seu dia? — pergunto, completamente nu, sentado na cama e aninhada nos braços de Marcos.

Depois de quase meia hora de tentativas sem sucesso de escolher algo para assistir na Netflix, sua boca em meu pescoço me diz que nossa incapacidade está lhe dando ideias melhores de como ocupar o restante da noite.

— Incrível... Eu recebi uma ligação deliciosa na hora do almoço. — Gargalho com sua resposta, mas todo o meu corpo se arrepia ao lembrar e Marcos percebe, — Nunca tinha almoçado nada tão delicioso, — sussurra em minha orelha, lambe a pele atrás dela e depois assopra. Solto meu peso sobre ele.

— Acho que você não quer mais ver um filme, né?

— Não, Tony... Agora eu quero fazer um filme... — Viro o rosto para que ele veja muito bem meu olhar estreitado. Quando minha orelha está perfeitamente posicionada diante dos seus lábios, ele termina de falar. — Um pornô!

Não aguento, explodo em gargalhadas.

— Você é tão estúpido... — Tento, mas não consigo parar de rir. Meu corpo se sacode com tanta força que me vejo deitadk sobre a coxa de Marcos, ao invés de sentado, como estive antes.

Ele se curva sobre mim, estende os dois braços, cercando minha cabeça e me olha. Quando Marcos brinca com a ponta do nariz no meu, sorri e meu coração acelera no peito como se eu estivesse correndo uma maratona.

— Eu gosto tanto do teu cheiro... — Passeia o rosto pela minha pele, inspirando profundamente.

— Agora eu só estou com cheiro de sexo...

— Eu adoro esse também! Misturado com o seu, é o melhor que existe! — Quero resistir e soltar outra piada desdenhosa. Mas também não quero. Quero aproveitar esse momento e depois guardá-lo junto com uma incrível seleção de outros que tenho escondidos a sete chaves numa parte esquecida do meu coração.

Eu os guardo lá na intenção de não pensar neles o tempo todo, porque pensar em Marcos o tempo todo é mais do que o suficiente para me enlouquecer. Eu não preciso pensar em momentos como esse.

Momentos nos quais eu acho que poderia viver eternamente. Momentos de intimidade. Momentos em que eu me sinto visto de verdade por alguém. Dentes mordem meu queixo antes de uma risadinha baixa alcançar meus ouvidos.

— Medroso! — Marcos sussurra, atraindo minha atenção para seus olhos azuis. — É só intimidade, amor... Fazer você se acostumar vai ser minha missão de vida a partir de agora.

“Amor”... Alguém realmente precisa fazê-lo parar. Deus! Isso não deveria causar arrepios no meu coração. Arrepios no coração nem deveriam ser possíveis! Fecho os olhos e suspiro. Ganho outros beijos na ponta do nariz, nas pálpebras, nas bochechas. Marcos não para nem mesmo quando já beijou cada pedaço do meu rosto.

Ele desce pelo meu pescoço, ombros, beija os ossos das minhas clavículas. São beijos suaves, despretensiosos, carinhosos.

Marcos está adorando meu corpo com os lábios e eu acho que vou morrer, vou me derreter em uma poça de descontrole, coração acelerado, medo e prazer, tudo ao mesmo tempo. Serão tantos sentimentos que ninguém jamais conseguirá identificar a confusão como aquilo que um dia eu fui.

Fecho os olhos, aproveitando o contato de seus lábios com minha pele e por mais alguns minutos ele continua incansável na tarefa de me enlouquecer, até que se levanta, volta a me encaixar entre as suas pernas e afunda o rosto em meu pescoço.

— Acabou? — pergunto levemente surpreso e, para minha vergonha, claramente decepcionado. Marcos ri baixinho, puxando uma inspiração profunda em meu pescoço.

— Unhum...Agora nós vamos pra parte dois do exercício!

— Parte dois, é? — Ergo uma sobrancelha, ainda que ele não consiga ver.

— Unhum... Agora você me conta sobre alguma coisa importante que você tenha pensado ultimamente.

Bufo e me viro, deixando a lateral do meu corpo colada em sua frente.

— Do jeito que você fala parece que eu me aproveito de você o tempo todo e nós só transamos, mas a gente está sempre conversando e, além disso, foi você quem perverteu minha ligação na hora do almoço quando tudo o que eu queria era falar com você. — Sorrindo, beija meu rosto e puxa meu corpo contra o seu em um abraço carinhoso.

— E agora eu quero compensar isso. Vai, me conta. Eu sugiro um tópico! Como estão seus planos pra faculdade? — O assunto escolhido me deixa animado, porque eu realmente tenho pensado muito sobre ele nas últimas semanas.

— Já escolhi pra onde quero ir! — Não consigo me impedir e bato palmas, entusiasmado. Marcos ri da minha empolgação e balança a cabeça, concordando.

— Onde?

— Pra Santa Carmem! — Suas sobrancelhas se erguem enquanto ele balança a cabeça para cima e para baixo.

— Meu pai estudou lá.

— Jura? — Sou surpreendido pela revelação. — Sempre achei que ele tivesse cursado uma universidade pública.

— Não... Na verdade, a Santa Carmem era uma tradição de família até eu quebrar na minha geração. Ele vai ficar feliz em saber que você vai recolocar as coisas no lugar. — Suas palavras arrancam o sorriso do meu rosto sem qualquer delicadeza. Eu pisco, atordoado com a declaração e Marcos franze as sobrancelhas.

— Que foi? Sentiu alguma coisa? — Meu coração parar de bater, quero lhe responder. Mas engulo as palavras, porque sinceramente não sei se quero lidar com o que Marcos acabou de dizer. Primeiro, porque não sei como me sinto com a afirmação de que sou parte da sua família. Por mais que ele insista que nosso casamento é de verdade, não acho que ele entenda como coisas como as que ele acabou de dizer podem me afetar. Antes de Isabella eu não tinha uma família, não uma de verdade. Depois, porque também não sei se quero descobrir que foi um ato falho de sua parte usar justamente essas palavras, ou se fui eu quem entendeu errado. — Anthony?

— Não. Não senti nada. Só me lembrei que preciso responder ao e-mail da faculdade, — minto e ele balança a cabeça, ainda desconfiado. Passo a língua sobre os seus lábios, tentando distrai-lo, funciona. Marcos chupa minha língua, transformando minha provocação em um beijo lento e gostoso.

— Esse beijo teve gosto de distração. — diz ainda em minha boca e eu rio.

— Estou pensando em me matricular em uma autoescola. — Mudo de assunto, torcendo para que isso faça um trabalho melhor em fazer Marcos esquecer o anterior.

— Você não sabe dirigir? — De novo, uma ruga se cria em sua testa. Levo meus lábios até ela e a beijo.

— Não... Isabella nasceu antes que eu completasse dezoito anos. — Marcos toca minha bochecha em uma carícia lenta.

— Eu sinto muito, Anthony. Você precisou adiar tantos planos... — Lentamente, aceno com a cabeça, negando, antes de plantar um beijo na palma de sua mão.

— Está tudo bem... Eu... Está tudo bem. — Mordo o lábio e ele concorda silenciosamente.

— Mas você vai ser uma motoristo incrível. Eu tenho certeza disso. — Seu polegar roça minha bochecha e eu fecho os olhos, aproveitando a carícia na pele e coração. — E, até lá, bem nós somos ricos! Podemos arcar com a substituição de todos os postes de São Paulo por postes de borracha!

— Imbecil! — Mordo sua mão, a parte mais fácil dele de atingir, e Marcos gargalha alto.

**********

Seco o suor do rosto com a toalha e logo depois levo a garrafa de água aos lábios. Porra! Quem quer que tenha dito que musculação era uma boa ideia, estava muito, muito errado. Caralho!

Sentado em na cadeira abdutora, com coração batendo acelerado no peito, puxo o ar pelo nariz e solto pela boca, tentando normalizar minha respiração.

A academia zumbe com sua movimentação rotineira, mesmo que não se possa dizer que ela esteja exatamente cheia. Afinal, a oitocentos e noventa reais a mensalidade, não é como se fosse existir fila na porta.

Rio sozinho pensando em como minha vida mudou. Quatro meses atrás pagar todo esse dinheiro em uma mensalidade de academia era não apenas impensável, como risível.

— Muito bem, Anthony. Estou gostando de ver a consistência! — Carlos, o personal da academia elogia, aproximando-se de mim e eu sorrio. — Nesse ritmo, o projeto bumbum na nuca vai decolar em poucos meses! Não que você precise! E com um sorriso desses... — Leva as mãos ao peito, como se tivesse sido atingido bem no coração.

As palavras são ditas em tom de brincadeira, mas eu sou perfeitamente capaz de perceber quando alguém está flertando comigo e é exatamente isso o que ele está fazendo.

Em um reflexo, olho para minha mão esquerda com a intenção de confirmar a presença da minha aliança. É só quando bato os olhos nela que me dou conta do que acabei de fazer. Puta que pariu!

Recebi uma cantada e minha primeira reação foi procurar pela minha aliança de casamento. Um casamento de conveniência. Mas nem por isso um casamento falso... A voz de Marcos sussurra em meu ouvido.

— Não é? — Carlos gargalha logo depois da pergunta e eu percebo que enquanto eu divagava o homem de cabelos escuros e sorriso fácil continuou falando comigo.

— Desculpe, Carlos. Eu me distraí. O que você disse?

— Ai! — As mãos continuam no peito e ele faz uma careta de dor. — Assim eu não aguento. Não consegui manter sua atenção por cinco minutos? — Sorrio educadamente.

— Ah, não é sua culpa. Eu só me lembrei de algo que meu marido me disse. — A postura do personal muda imediatamente. Após o comentário, ele diz mais duas frases e se despede antes de virar às costas e dar atenção à outra aluna.

Enquanto ele se afasta, levo a garrafa à boca me perguntando quando foi que decidi que essa coisa com Marcos seria exclusiva, porque realmente não me lembro desse momento, no entanto, aqui estou eu, dispensando um amigo de foda em potencial sem nem mesmo piscar. Balanço a cabeça, me repreendendo. Anthony, Anthony. Eu espero que você saiba o que está fazendo.

Alerta de spoiler. Eu não tenho a menor ideia.

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