Um pedaço de mim

Um conto erótico de Angel
Categoria: Gay
Contém 1839 palavras
Data: 08/03/2024 03:52:15
Assuntos: Gay, Primeira paixão

Você acredita em coincidências? Acreditaria em karmas, ou em vidas passadas, se lê essa história pode ou não mudar de ideia? E se esse passado pudesse voltar e te reencontrar para revolucionar tudo?

Hoje vou relatar parte de uma história verídica, constituída em vidas. Há largas dores, mas também com muita paixão e loucura. Era o primeiro dia de aula ensino médio, uma nova escola, um novo personagem. Enquanto ia na escola, ia tecendo as características que eu iria personificar. Tudo isso por ter passado por uma infância repleta de violência e bullying. Eu sempre fui uma criança solitária, não queria ter amigos, desconfiado, não aceitava o toque de outras pessoas.

Então chego na escola e é tudo tão novo, tão diferente, parece que alguns alunos já se conheciam, contudo eu no canto. E isso me fez quase cair naquele ser indefinido novamente. Quando entro na sala, me deparo com um rosto, alguém de um passado tão distante.

Tudo quase por mágica vem à memoria num instante só. Era ele, quem me importunava no primeiro ano do fundamental, uma criança de 6 anos sendo humilhada por outro maior, esse era o retrato passado a todos. Iago seu nome, ele sempre foi o popular, o brigão, ele me levantava pela camisa e eu simplesmente fixava meu olhar para o dele, sem nenhuma reação, como se aceitasse a submissão. Nunca chegou a me bater, mas adorava fazer aquilo, me levantar, demostrando sua força aos demais.

Meu corpo petrifica, será que ele me notou ou lembrou de mim? Bom mesmo seria se eu apenas tivesse ficado com as dúvidas para mim. Que atitude tomei? Simplesmente, fui até ele e o cumprimentei com um singelo: - oi, lembra de mim?

Até hoje me pergunto o porquê de ter feito aquilo. Ele me responde que sim e que brincava comigo, e que era tão inocente que o deixava fazer aquilo. Eu sentei na carteira a sua frente, como se estivesse deixando a cerca aberta para aquele indivíduo fizesse tudo novamente. A as aulas iam acontecendo, os professores se apresentando e meus pensamentos extrapolavam minhas memórias.

Ele estava atrás de mim, eu deveria correr, trocar de lugar, e nunca chegar perto, por que não fiz isso? O que está acontecendo comigo? Pensei, mas havia um peso, uma gravidade de reconhecimento que me prendia ali naquele lugar. O único rastro do meu passado. Quem eu era antes?

Lembrei de uma criança feliz, alegre que adorava brincar com todos e que tão amável nunca recusou o acalento de outra pessoa. Até alguém fazer algo que nunca tinha saído do seu subconsciente. Ele, o Iago, abaixou minhas calças na frente de todo mundo no recreio, os ecos das risadas de todos ficaram na minha cabeça de tal modo que nunca mais conseguia confiar em outra pessoa.

Não quero transformar essa história numa tragédia, longe de mim. Mas preciso relatar para que alguns fatos tenham mais lógica.

Esse fato não tinha passado na minha mente, como se meu inconsciente tivesse suprimido tal acontecimento. Fui até conversar a psicóloga da antiga escola, mas ela não achou nada demais, e ele foi expulso por aquilo. Minha mãe teve uma discussão com a mãe dele.

Tivemos um momento em que os adultos nos colocaram para conversar e nos falamos poucas palavras, tão suficiente para que nos distanciássemos. Eu mudei de escola, para uma que inaugurou perto de casa. E lá o menino foi maltratado por seus trejeitos e seu corpo fora dos padrões de beleza. Gordo, bixinha, boiola, feio, baleia, esquisito, doido e tantos outros codinomes. Tinha medo do recreio e me escondia na biblioteca no meus dos livros, passava todo o recreio ou lendo um livro ou conversando com a bibliotecária. Tão clichê não é mesmo? Na educação física ficava num cantinho, sozinho. Qualquer um podia me maltratar, cansado estava e muito. Então virei o nerd da escola. Pelo menos nisso eu tinha um lugar de destaque naquele lugar.

Mas fui ensinado desde sempre que tudo o que faziam comigo era minha culpa. Eu deveria devolver, agredir o outro na mesma moeda, mas nunca conseguir ser assim. Nunca me senti protegido por ninguém, ou me sentir importante para outra pessoa. Meus pais ocupados com o dia-a-dia nunca perceberam nada ou não queriam. Uma criança passar por isso dos 6 aos 13 anos não deve ser muito fácil de ressignificar.

Então voltando ao contexto, depois do fim das aulas daquele dia, fui pelo caminho por trás da escola e por onde ele também estava indo com um outro garoto. As brincadeiras com segundas intenções e falas com teor sexual começaram de forma discretas. E eu me deixava rir. Acho que estava ali em busca de um passado que eu não tinha mais acesso. Era ele o gatilho dos meus traumas, mas também a chave de acesso ao meu antigo eu.

Meu corpo também demonstrava suas mudanças, a puberdade, os hormônios, a loucura desenfreada por reconhecimento. Então numa noite sonhei com o Iago, me tocando, não mais para os outros, mas para si mesmo. Tomando meu corpo para si como sua posse, eu entregando de forma tão intensa. Acordei no outro dia sem saber onde me esconder de mim mesmo.

Então comecei a ter outra visão dele, um negro lindo, alto, sua voz forte, seu jeito livre e desinibido, e fui me encantando. Mas com o pensamento de que seria meu desejo mais proibido e inalcançável. Até que depois de quatro meses de convivência. Aconteceu algo que iria mudar nossas vidas e iria nos entrelaçar nossos destinos de uma forma inacreditável e inaceitável.

No dia 13 de maio, exatamente o dia lembrando pela promulgação da Lei Aurea, fim da escravidão, liberdade, mas até que ponto. Era só apenas o começo da luta. O professor faltou e só tinha mais uma aula de inglês. Ele me entrega o celular com uma mensagem me perguntando se eu já tinha beijado alguém. Meu corpo tremeu, pulsou, demorou alguns segundos para entender o que estava acontecendo.

Eu o respondo que não, ao passo da conversa, ele me pergunta se ele pode me ensinar e ser o primeiro. Não estava acreditando que aquilo estava acontecendo, meu corpo tremia por dentro, pensei em desistir, mas meu corpo pedia que eu respondesse um sim. Gazeamos a aula, e corremos como dois loucos livres, meu corpo gritava de tantas emoções e sentimentos confusos.

Fomos pelo mesmo caminho, mas quando chegamos ao velho cemitério do bairro entramos, e fomos até uma árvore, que afim de detalhe ainda está até hoje, nos encostamos nela e ele se aproximou e me perguntou se eu deixava me beijar, acenei que sim. Foi ali meu primeiro beijo, meu primeiro tudo, entre lápides, os mortos foram as testemunhas. Ele foi carinhoso com meu corpo que queimava por dentro pedindo pela intensidade do seu toque.

Não sei a que ponto eu deveria sair dali e desistir, a que ponto o ódio que eu deveria sentir dele não me impulsionou aquilo. Nunca saberei te responder. Mas foi quando ele abriu a calça e perguntou se eu queria perder minha virgindade ali. Eu não sabia o que pensar, tomado pelos desejos, pela loucura, pela excitação, pelos hormônios, não sei, tente você analisar e dar sua hipótese.

O queria tanto, tornar o proibido possível, o inalcançável tão próximo, foi como jogar gasolina numa fogueira e pegamos fogo, eu me entreguei. Toda norma, todo padrão, toda ética, toda moral, não importavam mais, não estavam mais em minhas mãos e eu agradeci tanto aquele momento se senti diferente. Foi desconfortável no começo, a dor era inevitável, não foi fácil, para você que for ter a primeira vez que seja com alguém bem gentil naquele instante.

Para que não fizéssemos barulho colocamos em nossas bocas, nossas roupas, principalmente a minha, pois, aí vem o humor e horror naquele momento, estava acontecendo um velório, por isso o cemitério estava aberto. A morte corria em passos lentos, enquanto, nossas vidas pulsavam tão intensamente e ligeiramente. Mas o momento parecia tão fúnebre que eu velei por um tempo as folhas de outono caindo daquela velha árvore na terra ainda fofa e úmida. Quantas palavras indecentes mergulhadas em tanta loucura, ouvi em meu ouvido.

Depois fui para casa com tantas coisas na cabeça, não sei como conseguir olhar para os outros. Me cuidei, me lavei. E ele depois permaneceu frio. Não disse uma só palavra, passou alguns dias e ele veio atrás da sua posse mais uma vez. Dessa vez no banheiro da escola, aonde qualquer um poderia entrar e nos pegar.

Fui mudando e me reconhecendo enquanto ser sexual com ele. Conhecia o que lhe dava prazer e ele sabia quais eram minhas fantasias sexuais. A loucura chegou a pontos inexplicáveis. Nos encontrávamos na casa abandonada, no banheiro do posto de saúde ou atrás dele. No meio das matas eram nossos momentos de paixão e insensatez.

Cheguei a não querer mais, mas no fundo o queria ainda intensamente, nos distanciamos por um tempo, e ele sumiu da escola.

No segundo ano, ele volta e eu não resisto a suas investidas, mas sempre naquela mesma loucura, uma paixão desenfreada, e no fim do orgasmo, silêncio e frieza. Era aquilo que eu representava um mero brinquedo, um objeto, que poderia ser jogado de lado quando se cansava de tê-lo e brincar com seu jogo particular.

Ele casou, teve filhos, constituiu uma família, e eu continuei sozinho, sem companhia verdadeira para os momentos bons e ruins. Mas sempre estive pronto para satisfazer seus desejos e vontades. Sempre fui a outra pessoa. Nunca soube nada da minha vida ou eu da dele. Tudo se resumia a 5 minutos, até ele gozar.

Só tínhamos a mais uma sensação de prazer quando eu me afastava dele, e ele vinha de mansinho inflando meu ego para que eu cedesse. E eu cedia, queria aquilo. Me fazia me sentir importante, eu sumia sempre para ele vim atrás de mim.

E por muito tempo pensei que só assim que deveria ser, isso é o que importava, mas com o tempo o vazio começava a crescer dentro de mim. E percebi que nunca senti um toque de carinho, de contentamento, de proteção, de amor simples, por mais que não soubesse o que significava essa expressão e mesmo hoje não saberia te responder.

E ficamos nesses encontros e desencontros da vida por mais de 10 anos, até o momento que eu decidir que deveria dar um ponto final nessa história. Até carta escrevi relatando o fim do nosso caso, mas ainda sim cai. Só faltava aparecer pessoas novas que me fizeram me sentir e perceber o que eu queria de verdade. Hoje estou fazendo essa cirurgia dolorida e lutando para escrever esse ponto final, está doendo muito, mas preciso disso é aqui que finalizo essa loucura, quem sabe se surgirão outras. Mas sei que isso tudo precisava acontecer, eu até o agradeço sabe, hoje posso escrever uma nova história, uma nova vida, não dou mais detalhes pois não conseguiria para de escrever, seria um livro e não um conto.

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Comentários

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Sempre tive vontade de ser mulher de alguém!

Mas ainda não encontrei quem tirasse a virgindade do meu cuzinho.

Lpedrorio@gmail.com

@LuRio1

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Cara. Que escrita! Li de supetão, queria mais, você mandou muito bem. Esperando os próximos contos!

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Que bom que tenha gostado. Escrevi mais uma parte de um pedacinho de mim.

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