Dores, odores e lembranças

Um conto erótico de O Bem Amado
Categoria: Lésbicas
Contém 3440 palavras
Data: 03/03/2024 00:02:58

A paisagem bucólica que se descortinava diante da janela do pequeno hospital pediátrico da cidade de Lyon era um colírio para o olhos de Nicole; do alto de seus noventa e três anos poucas eram as expectativas que a vida lhe oferecia restando apenas as lembranças, boas e também ruins, sempre reavivadas em sua memória. Durante o intervalo para almoço ela saboreou a refeição preparada pelas cozinheiras do setor de nutrição e depois foi dar seu passeio habitual pelo lindo jardim que rodeava a instalação hospitalar e na qual ela trabalhava havia quase sessenta anos; sentou-se em um banco de madeira e ficou apreciando os variados aromas das flores cultivadas com carinho pelo velho jardineiro naquela área mais reservada do jardim e como sempre um dos aromas se destacava trazendo consigo um amálgama de lembranças.

O aroma das rosas lhe remetia a imagem de Letice …, isso foi há muito tempo atrás em uma época sombria para a humanidade e que mudou radicalmente a vida de Nicole que nunca mais seria a mesma; a jovem Nicole saíra de Chartres com destino a Paris para aventurar-se na cidade-luz descobrindo todas as possibilidades que poderiam lhe ser oferecidas; porém naquela maio do ano de 1940 tudo era dor, medo, decepção e rancor. Ao longo da avenida Champs-Élysées rumo ao Arco do Triunfo marchavam orgulhosos os soldados da Wehrmacht com suas bandeiras e balizas ostentando uma expressão de austeridade típica dos invasores que agem pela força. A infantaria era seguida pela cavalaria e logo atrás vinham os blindados, veículos de assalto, motociclistas e ciclistas todos alheios à dor e ao sofrimento estampado no rosto dos parisienses que viam sua cidade e seu país ocupados e submetidos pela força.

Todos choravam e se lamuriavam, inclusive a jovem Nicole, porém ela decidiu que não se curvaria diante de um invasor frio e impiedoso e faria tudo que estivesse ao seu alcance para libertar seus país do jugo opressor do Terceiro Reich Alemão; dada a sua beleza incomum e jovial com seus cabelos negros e brilhantes, seu rosto angelical e seu corpo viçoso Nicole conseguia circular com certa desenvoltura pelas ruas da cidade ocupada e quando algum ponto de checagem lhe pedia documentos bastava um sorriso convidativo para fazer o soldado esquecer-se de suas obrigações. Próximo do minúsculo apartamento onde residia e cujo aluguel já não era mais cobrado porque o dono fugira dias antes da invasão, ela podia observar um antigo posto policial ocupado por uma guarnição da “SS” e todos os dias ela notava que os patrulheiros deixavam suas bicicletas displicentemente largadas jamais supondo que poderiam ser objeto da audácia de Nicole.

E em uma certa manhã eles encontraram todos os seus meios de transporte com os pneus rasgados e aros entortados; todos exceto uma que Nicole usara para fugir passando pelo Quartier Latin e rumando para a área mais periférica da cidade onde acabou por encontrar um grupo de Partisans liderados pelo Tenente Roland que era seu conhecido desde sempre. Ao vê-lo Nicole sorriu se lembrando daquela noite chuvosa em que no interior de um velho estábulo eles desfrutaram de uma intimidade única; fugindo de uma forte chuva durante o quase anoitecer, eles encontraram abrigo naquela construção paupérrima e o rapaz cuidou de acender uma fogueira para que eles pudessem se aquecer.

Não foi preciso trocarem palavras, pois seus olhares falavam tudo que era necessário; Nicole foi enlaçada por Roland que procurou seus lábios até conseguir selá-los aos dela num beijo quente, molhado e demorado; quando se afastaram a jovem não teve dúvidas em despir-se diante o olhar estupefato do sujeito que ao vê-la nua engoliu em seco; Nicole era uma linda morena de pele alva e seios médios dotados de intrigante firmeza que somavam-se ao ventre que culminava em uma vulva coberta por fina camada de pelos; o rosto dela era uma obra de arte com seus olhos negros envolventes, lábios finos e cabelos castanho escuros que lhe concediam uma beleza comparável a uma obra de arte realística feita de carne e osso. O casal estava enredado pelo desejo que naquele momento imperava acima de tudo e de todos.

Roland não perdeu tempo em improvisar um leito com o auxílio de montes de feno e uma lona usada pedindo que Nicole ali se deitasse; enquanto ela atendia ao seu pedido, Roland tirou suas roupas ostentando uma ereção tão arrebatadora que Nicole não foi capaz de conter uma expressão de espanto; o rapaz deitou-se sobre ela e ambos começaram uma intensa troca de beijos e carícias com Roland dedicando-se a saborear os mamilos intumescidos ao mesmo tempo em que apertava as mamas de sua parceira apreciando sua forma e firmeza; entre gemidos e suspiros Nicole suspirou profundamente ao ser penetrada pelo rapaz experimentando a inexplicável sensação de ver-se preenchida pelo membro viril de um macho; Nicole já não era mais virgem a partir daquele momento e viu-se envolta por um êxtase carnal que fazia seu corpo estremecer vibrando em uma frequência desconhecida cujo ritmo logo a conduziu ao seu primeiro orgasmo.

E depois dele outros sobrevieram sacudindo seu corpo sob o domínio de Roland que se incumbia de propiciar todo o prazer que ela merecia; após um bom tempo em que os sentidos de Nicole se tornavam ao mesmo tempo aguçados e intensos ela experimentou um torpor de quase inconsciência que culminou no gozo estrondoso do macho inundando-a com a seiva quente e espessa que redundou em um derradeiro gozo ainda mais veemente; suados e exaustos eles permaneceram unidos procurando recuperar a respiração e o ritmo cardíaco tendo como fundo sonoro o despencar da chuva feroz e a doce escuridão da noite em que eles se tornaram amantes.

Unida aos Partisans de Roland, Nicole empreendeu diversas missões visando abalar as estruturas militares do invasor; eram ataques furtivos a pequenas guarnições locais, comboios alemães e incursões em instalações de armazenamento de armas e munições; sempre ágil e dotada e um raciocínio febril, a jovem engendrava planos e conspirações que na maioria das vezes dava certo; aprendera o manuseio de armas de fogo, em especial metralhadoras, tomando uma como sua arma pessoal logo após um ataque bem sucedido a um pequeno comboio que trazia um lote desses armamentos para dentro das fronteiras francesas. Nas poucas manhãs em que podia desfrutar de algum merecido descanso, era surpreendida por Roland com café, brioches e pequenos maços de cravos recém colhidos.

Ela ficava encantada com os gestos do Tenente, mas devido ao momento pelo qual passavam, o desejo via-se abalado entre os escombros de um país dominado e não havia espaço para envolvimentos de qualquer espécie; todavia, aquela vida furtiva guardava sempre surpresas inesperadas; em uma dessas situações, Nicole descobriu outra forma de amar …, e essa forma desabrochou sob a forma de uma mulher chamada Elza.

Em uma de suas incursões o grupo revolucionário viu-se obrigado a buscar refúgio diante da perseguição implacável de um grupamento “SS”, procurando abrigo em um amontoado de casebres situados nos arredores de Chartres; para maior segurança o grupo decidiu se separar se acautelando contra colaboracionistas e delatores disfarçados de bons samaritanos. Nicole acabou por encontrar um casa de alvenaria romana onde morava uma viúva ainda enlutada pela morte do marido que também integrava um grupo de resistência “maquis”, cujo nome era Elza que não hesitou em acolhê-la diante da perseguição nazista.

Elza, mesmo sendo uma mulher sofrida e marcada pela vida, ainda guardava uma beleza icônica com seus longos cabelos castanhos sempre amarrados, seus olhos singelos e seu sorriso ora encabulado ora instigante; dotada de um corpo de formas exuberantes, Elza ocultava toda essa formosura em roupas largas e discretas, porém ainda assim ela chamou a atenção da jovem revolucionária que viu nela alguma coisa que a deixava excitada; no início Nicole sentiu-se desconfortável com aquele sentimento, porém a intimidade entre elas tornou-se um laço quase indestrutível. Com o inverno se aproximando a galope com lufadas gélidas soprando do norte, o calor da lareira de pedra não era suficiente; após saborearem uma apetitosa sopa conversaram um pouco e Elza sugeriu se recolherem.

No quarto da viúva haviam improvisado uma cama com estrado rijo, coberta por um desgastado colchão de penas que servia ao descanso de Nicole; todavia, assim que adentraram ao aposento, Elza segurou o antebraço de convidada que sentiu um arrepio percorrer sua pele; ao se voltar na direção de Elza a jovem revolucionária não foi capaz de resistir quando a viúva colou seus lábios aos dela selando um beijo carregado de volúpia e ansiedade; Nicole que até aquele momento havia feito de tudo para refrear a excitação que gritava em seu interior deu-se por vencida acolhendo o beijo como uma permissão para entregar-se ao desejo. E entre beijos e carícias as mulheres não hesitaram em despir-se mutuamente até verem a nudez de seus corpos turvar o pouco de consciência que ainda lhes restara.

Nicole tomou a dianteira acariciando os seios fartos de Elza que ao sentir o toque macio e quente das mãos da revolucionária não conteve um longo suspiro seguido de um gemido que foi seguido por outros ainda mais entusiasmados quando a jovem levou sua boca até os mamilos intumescidos sugando-os com desmedida voracidade; não foi preciso muito esforço para que o gesto fosse retribuído na mesma intensidade e em pouco tempo elas haviam se deitado sobre a cama da viúva engalfinhando-se em beijos lascivos e carícias veementes. Nicole levou sua mão até a vulva de Elza deliciando-se com a encantadora surpresa de senti-la muito quente e úmida.

Tomada pelo desejo que ardia como uma labareda dentro de si, Nicole aninhou-se entre as pernas de Elza mergulhando seu rosto entre elas até que sua língua conseguisse saborear a gruta numa carícia ousada e obstinada que causou tal impacto em Elza que gritou ao experimentar um primeiro orgasmo após tantos anos de abandono carnal. E ao longo da noite aquelas duas mulheres de diferentes destinos usufruíram de um prazer alucinante que não lhes dava trégua fazendo seus corpos serem sacudidos por um gozo irrefreável e delirante. Pouco importava que do lado de fora do casebre os ventos congelantes de um inverno rigoroso açoitassem a região, pois em seu interior um fogo etéreo queimava nos corpos e nas mentes daquelas mulheres cujo único anseio era mitigar as dores do passado e os fantasmas do presente.

Ao longo do período em que permaneceram juntas, Elza e Nicole deixaram o desejo fluir em experiências sensoriais inovadoras que sempre resultavam em mais prazer e as aproximavam ainda mais; em uma noite Nicole usou a ponta dos dedos para esfregar o clítoris túrgido de Elza que produziu orgasmos frutíferos que faziam o corpo da viúva estremecer entre gemidos, ao mesmo turno em que ela aproveitava para beijar e lamber os mamilos da parceira que se divertia com a carícia oral. De outra feita, Elza tomou a iniciativa de usar seus dedos para vasculhar a gruta de Nicole também resultando em uma sucessão orgásmica indômita que a fazia gemer e gritar descontroladamente.

Lamentavelmente, aquela união que parecia ser eterna foi interrompida com a chegada do grupo do Tenente Roland em busca de Nicole; ao vê-lo a jovem revolucionária sabia que teria que partir; ao se despedir de Elza esta lhe deu um frasco com essência de lavanda que ela cultivava durante a primavera pedindo levasse consigo. “Leve para que não se esqueça de mim!”, disse Elza com os olhos marejados; seguindo seu instinto Nicole abraçou a viúva e a beijou na boca diante dos olhares estupefatos dos Partisans; durante o caminho em direção à Lyon, Roland não disse uma palavra e mesmo quando Nicole tencionou dar uma explicação ele a impediu. “Não precisa dizer nada …, se corpo, suas regras!”, afirmou ele com tom enfático.

O grupo permaneceu em Lyon apenas tempo suficiente para se organizar e planejar novas incursões contra o exército alemão quando retornassem a Paris; e esse retorno tornou-se ainda mais perigoso com ataques malsucedidos, algumas prisões de companheiros e a morte de alguns outros; com o grupo reduzido Roland considerou como melhor estratégia um recuo que Nicole recusou-se a aceitar chamando para si a responsabilidade de buscar reforços para a luta; em questão de dias a jovem havia reunido um bom grupo de homens e também algumas mulheres dispostos a combater o inimigo comum.

Coube ao Tenente Roland treiná-los enquanto Nicole se incumbia de conseguir armas, munições e suprimentos. Vagando disfarçada pelos arredores de Paris ela se deparou com uma rua bucólica cujas casas eram cuidadas apenas por mulheres já que seus maridos haviam se evadido para Vichy adotando uma postura de traição; caminhando pela rua pavimentada por paralelepípedos irregulares a jovem revolucionária vislumbrou uma residência térrea recuada do calçamento onde se destacava o jardim com roseiras; ao se aproximar notou alguém abrindo a porta e se apresentando. Nicole ficou pasma com o que via; diante dela estava uma bela mulher cuja jovialidade viçosa se revelava já no sorriso contagiante.

Ela se apresentou como Letice e convidou Nicole a entrar, pois havia acabado de preparar um café. “Melhor você não saber como consegui!” respondeu Letice ao ser inquirida onde obtivera o pó de café; surpreendida pela sagacidade da jovem, Nicole não conseguiu controlar uma risada que logo se tornou uma gargalhada mútua; saboreando a bebida enquanto Letice lhe contava um pouco de sua vida, a jovem revolucionária não conseguia evitar seus olhares intensos e curiosos; Letice era uma loira de longos cabelos esvoaçantes, olhos azuis cristalinos e lábios finos que pareciam sempre desenhar um beijo quando ela falava dotada de um corpo esguio com seios pequenos e firmes que eram delicadamente delineados pelo tecido da blusa de malha e longas pernas calçadas em sapatos sem saltos.

Mesmo dominada por uma excitação fortuita, Nicole não perdeu o foco de sua missão e Letice se propôs a ajudá-la naquilo que estivesse ao seu alcance. E a colaboração de Letice mostrou-se muito oportuna e providencial, inclusive oferecendo pernoite para alguns membros do grupo de Roland; com ataques massivos ao exército alemão em sua estrutura logística, Nicole e Roland angariavam algumas vitórias significativas, mesmo quando souberam que a GESTAPO também estava em seu encalço; mais uma vez Roland decidiu separar o grupo dispersando-os pela cidade e deixando Nicole encarregada de cuidar do armazenamento de munição e explosivos que foram transferidos na calada da noite de um pequeno depósito em Montmartre para a residência de Letice onde haviam descoberto um espaçoso porão.

Uma noite logo após o jantar as duas mulheres ficaram conversando na sala saboreando um café e Nicole não conteve sua impulsividade perguntando a Letice se ainda sentia desejo por seu marido; a loira exibiu um olhar receoso pouco antes de baixar a cabeça; a revolucionária achou por bem não insistir na pergunta, porém alguns minutos depois Letice desabafou que jamais sentiu desejo por seu marido fruto de um casamento arranjado e dominado pela abusividade do esposo tanto na cama como fora dela; sentindo-se confiante Letice prosseguiu narrando episódios tão dolorosos quanto dantescos deixando sua interlocutora abismada com o que ouvia até tudo culminar em lágrimas; seguindo um instinto inexplicável, a jovem revolucionária se levantou e estendeu sua mão para Letice que erguendo o rosto vislumbrou um doce sorriso.

No momento seguinte Letice e Nicole estavam abraçadas desfrutando de um doce momento de carinho que conduziu ao inevitável beijo repleto de desejo; suas línguas executavam uma dança lúbrica dentro de suas bocas seladas por lábios sedentos; os beijos se sucederam em uma eloquente espiral de prazer e plenitude tornando a vida de Letice repleta de razão de ser; tomadas pelo desatino carnal, elas se despiram enquanto avançavam em direção ao quarto onde a cama as aguardava com inimagináveis promessas de experiências sensoriais jamais antes conhecidas; Nicole não conseguiu esconder uma expressão estupefata ao vislumbrar a doce e também sensual silhueta desnuda de Letice com suas formas esguias dotadas de uma perfeição divinal. Já deitadas sobre a cama a jovem revolucionária dedicou-se a beijar, lamber e sugar o pequeno mamilos intumescidos enquanto uma de suas mãos executava um hábil dedilhado na vulva quente e molhada de sua parceira que em breve usufruía de orgasmos há muito represados suspirando, gemendo e murmurando palavras de agradecimento dirigidas a Nicole pelo prêmio que lhe concedia.

Ao longo da noite as duas mulheres desfrutaram de todas as formas possíveis e imagináveis de cumplicidade sensorial e mental em especial quando ambas decidiram tomar uma posição sobreposta e invertida possibilitando que ambas pudessem saborear o sabor do néctar que vertia copioso de suas grutas muito febris e umedecidas. O entrelaçamento dos corpos ardentes deu-se de outras formas ainda mais alucinantes como aquela em que esfregavam suas vulvas entesourando suas pernas; e tanto Letice como Nicole não arrefeciam tal era a magnitude do desejo que as envolvia dominando e submetendo seus gestos e movimentos. Letice balbuciava palavras doces dirigidas a Nicole chegando a proferir juras de amor eterno em um congraçamento arrebatador.

Nicole fez questão de aninhar-se entre as pernas de Letice insistindo em extrair dela todo o prazer possível com sua habilidade oral, valendo-se de boca e língua para explorar, provocar até conseguir uma sucessão delirante orgásmica que fez Letice beirar uma quase perda de sentidos tal era a volúpia dos gestos e ações de sua parceira que não cansava de afirmar que daria a ela todo o prazer que a vida lhe privara até aquele momento. E quando um novo dia nasceu, veio encontrar duas mulheres nuas e entrelaçadas tomadas por uma deliciosa e inebriante exaustão que as fazia sorrir sempre que seus olhares se entrecruzavam. Juntas, tomaram um banho reconfortante e depois preparam seu desejum matinal.

Nicole ajudou Letice a colher algumas rosas vermelhas e quando perguntou o que faria com elas recebeu como resposta um doce porém enigmático sorriso; e quando o manto da noite tornou a cobrir a terra Letice se despiu e ajudou Nicole a fazer o mesmo conduzindo-a ao quarto onde encontraram um leito coberto por pétalas de rosas cuja fragrância tomava conta do ambiente invadindo suas narinas e proporcionando um estímulo renovado de desejo que logo as envolveu entre beijos, carícias e cachoeiras de prazer vertendo de seus corpos engalfinhados em uma sucessão de novos gestos e movimentos sempre orientados para a obtenção de um gozo renovado e intenso. Todavia, na manhã seguinte o Tenente Roland seus homens vieram em busca de Nicole alertando sobre a caçada humana levada a efeito pelos soldados alemães decididos a fulminar a ameaça que eles representavam; não houve tempo para uma despedida adequada restando apenas uma troca de olhares e sorrisos.

A entrada triunfal das forças militares aliadas em Paris foi motivo de eufórica e desenfreada comemoração; Nicole via nos rostos sorridentes de seus compatriotas a expressão de alegria mesclada com o alívio da libertação do jugo inimigo; durante dias ela procurou por Letice sem obter êxito e foi Roland que a levou a um pequeno cemitério onde um jazigo tinha sobre si uma cruz de madeira entalhada com uma rosa encravada em seu centro. Letice tornara-se mais uma vítima da opressão e dos horrores da guerra …, com o fim da guerra no continente Nicole começou a pensar em seguir com a vida e foi nesse clima que Roland sugeriu que vivessem juntos, como um casal mesmo sabendo de todas as aventuras que a jovem desfrutara naqueles anos turbulentos; Nicole acariciou o rosto de Roland, sorriu e eles se beijaram.

Aquela lembrança encheu os olhos da enfermeira de lágrimas saudosas com a vívida lembrança do rosto doce e singelo de Letice, a sua dama das rosas; neste momento uma mão lhe estendeu um cravo aromático; ela olhou para a flor e depois para Roland, o jardineiro cujo rosto crispado ainda guardava um minúsculo viço da juventude em que ambos haviam desfrutado de uma noite tempestuosa de prazer indômito eternizado em seus corpos e suas mentes; com o cravo em uma das mãos a enfermeira idosa tomou a mão do jardineiro e juntos caminharam de volta para o hospital; inexplicavelmente na manhã seguinte ela encontrou sobre a soleira da porta de sua casa uma rosa vermelha cuja frescura e aroma denunciavam sua colheita recente …, em seu coração ela sentiu que aquela flor era um doce presente de Letice …

Nota: Simone Segouin (Thivars, 3 de outubro dede fevereiro de 2023, também conhecida por seu pseudônimo Nicole Minet, foi uma ex-combatente da Resistência Francesa que serviu no grupo Francs-Tireurs et Partisans. Um de seus primeiros atos de resistência foi roubar uma bicicleta de uma mensageira militar alemã, que ela usou para ajudar a levar mensagens. Passou a participar de missões de grande escala ou perigosas, como capturar tropas alemãs, descarrilar trens e atos de sabotagem (fonte Wikipedia) …, obra livremente inspirada.

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