Dois dias haviam se passado desde que entreguei os documentos para o Jonas, foi preciso insistir muito para que ele se precavesse, afinal as provas que conseguiam indicavam que eles ainda queriam prejudicar o trabalho dele, se advogado era um sonho para mim, mas também é do meu irmão e não conseguiria ver a carreira dele sendo manchada e ficar sem fazer nada, mesmo tendo conhecido Jonas a pouco tempo nossa conexão é diferente de tudo que já tive, com ele me sinto bem, à vontade, seguro até, é como se eu pudesse confiar nele cegamente, parece até que fomos criados juntos, o melhor de tudo é que Jonas me demonstrou se sentir exatamente assim como eu nesses dias, Isaac me disse noite passada que nunca tinha visto ele tão relaxado e feliz assim antes, nas palavras dele era como se Jonas finalmente fosse completo.
Sei que nem toda relação de irmãos é assim, mas a nossa é e nem sabemos explicar, a distância só fez com que quisermos recuperar o tempo perdido, estive com ele nas últimas duas noites, ontem quando ele veio me deixar em casa Felipe me vi saindo do carro, bem se estou mais próximo do Jonas não posso dizer o mesmo dele, Felipe voltou a ser um estranho para mim, tentei me aproximar, mas ele passou a me evitar esses dias, falando comigo o mínimo possível, pior é que achei que era isso que queria, mas agora que ele não me dá aberturas estou sentindo falta da risada bonita dele, do seu jeito carinhoso e principalmente do seu corpo quente no meu, estou esperando uma brecha para conversar com ele, espero que ele não esteja agindo assim por ter se arrependido do que fizemos.
Hoje acordei cedo, tenho umas demandas no escritório, vou para a cozinha tomar meu café e vejo Felipe esperando o café da máquina ficar pronto, ele deve ter algo na faculdade, porque está lindo, cabelo penteado, uma blusa social justa em seu corpo magro, e a calça social que valorizou demais sua bunda, Felipe ficou tão sexy com essa roupa que não pensei, apenas me aproximei e o abracei por trás, deixando um beijo em seu pescoço, minha excitação veio na hora e sei que ele sentiu pois estamos colados um no outro, ele empurra sua bunda contra meu membro duro e vira o rosto por cima do ombro em busca da minha boca, mas não me deixe beijá-lo, é como se ele lembrasse de algo e tenta se afastar, mas o seguro pela cintura. “Fala comigo” Falei em seu ouvido, estou desejando esse moleque mais do que gostaria de admitir e ele trava uma luta interna em sua cabeça, posso ver com clareza, que ele quer se entregar, mas algo o impede.
O viro para que fique de frente para mim, mas escutamos uma aproximação dos demais moradores na cozinha e nos soltamos, faço o melhor que posso para disfarçar minha excitação e ele também, assim que patrick entra na cozinha Felipe sai sem nem tomar seu café falando que não vai poder esperar pelo amigo, patrick também faz medicina junto com Felipe e embora seja um cara bonito e trajado nas roupas sociais não me chama tanta atenção quando Felipe, Patrick dá de ombros com a pressa do amigo e começa a preparar seu café da manhã, depois disso não tenho muito o que fazer, e vou para o trabalho, cheguei quase uma hora antes do meu horário e comecei a adiantar o serviço de hoje, nem vi a hora passar, quando deu hora de ir almoçar não estou com muita fome então descido trabalhar mais um pouco, afinal trabalhar me ajuda a não pensar na bagunça que minha vida está prestes a se tornar, mas aí finalmente o que fiz vem a tona, recebo uma ligação da Vanessa estagiária do doutor Venâncio um dos figurões do escritório, ela diz que ele quer conversar comigo, sei que tem algo errado já que não respondo a ele, mesmo assim vou para saber o que ele quer me dizer.
“Iuri, você vem fazendo um bom trabalho, mas soube que você andou imprimindo documentos que não podia, posso saber o motivo disso?” Sabia que esse momento chegaria mais cedo ou mais tarde e resolvi que não vou mentir, “Como advogado deve seguir a lei doutor Venâncio.” Respondi. “Bem espero que entenda que o que você fez vai colocar o escritório em uma situação delicada com nossos parceiros e principalmente que não devia ter feito isso por causa do seu contrato de confidencialidade.” Pela forma que ele falou Jonas já deve ter seguido em frente com algumas providências. “Dada as circunstâncias, não tenho outra opção a não ser desligá-lo imediatamente e lhe aconselhar que arrume um advogado, pois vamos fazê-lo se arrepender de ter traído a confiança da nossa empresa.” Venâncio deixou bem claro que eu pagaria em sua ameaça, mas fiquei firme, não posso me render a eles dessa forma, devolvo meu crachá, depois passo na minha mesa para pegar minhas coisas e saio do escritório puto da vida, porque minha chefe nem teve a coragem de falar comigo pessoalmente.
Com minhas coisas na mochila deixei o escritório e fui para casa, mandei uma mensagem para o Jonas contando o ocorrido e depois avisei ao meu coroa, afinal ele quem me banca aqui, meu pai me liga no momento em que visualiza minha mensagem, explico todo o ocorrido para ele e para minha sorte ele fica do meu lado. “Filho, não se preocupe que com isso, posso aumentar sua mesada de novo para o valor que era antes de você arrumar esse estágio e vamos encontrar o melhor advogado possível para você.” Fico tranquilo com o apoio dele. “Desculpa pai.” Falo me sentindo mal por dar preocupação e mais despesas para ele. “Iuri, eu não podia estar mais orgulhoso de você filho, você sabe que seu velho já fez muita coisa errada na vida e embora eu amasse muito sua mãe não foi justo com o Sérgio o que eu fiz, então fico muito feliz que você seja melhor do que eu fui e que esteja apoiando o Jonas dessa forma.” Antes de descobrir a verdade sobre minha família eu literalmente não conhecia meu pai, tive tanta raiva dele quando descobri que ele não queria que minha mãe me tivesse e mesmo assim depois de tudo isso hoje consegui perdoa-lo por tudo e não só isso, hoje eu amo meu pai, ele é o meu herói, o meu exemplo de homem, isso é muito louco.
“Te amo coroa” falei e ele me respondeu. “Também te amo filho.” Encerramos a ligação e foi a vez do Jonas me ligar marcando comigo no Sushi bar, fui direto para lá, ele deve ter saído do trabalho já que pela hora ainda deveria está no escritório, quando chego ainda está fechado — só abre no início da noite — mas Isaac me recebe e me deixa entrar, ele me oferece algo para comer, mas recuso, estou começando a me dar conta do peso que está em minhas costas agora e isso está me deixando mal, Isaac percebeu meu humor e se sentou na cadeira de frente para mim, ele me olhou nos olhos e falou com o tom mais sério possível. “Iuri, você se colocou em uma situação muito delicada para ajudar o Jonas, eu quero que você saiba que vou ser eternamente grato a você por isso, Jonas é muito especial para mim e agora você pode contar comigo para qualquer coisa que precisar, entendeu?” Faço que sim com a cabeça, percebi que ele está falando sério mesmo. “Jonas é meu irmão, precisava fazer isso por ele.” Respondo, e ele continua. “Quero que meu veja como um irmão também porque é assim que passei a te ver quando Jonas me contou sobre quem era você, de verdade Iuri, Jonas é minha família e se você é irmão dele então é meu irmão também.” Suas palavras me tocam de uma forma que não esperava, lágrimas estão caindo em meu rosto sem minha permissão, estou com tanta coisa na cabeça que só agora começo a me dar conta de com Isaac vem sendo protetor comigo esses dias, ganhei mais um irmão afinal de contas.
Ele levanta e vem para o meu lado me abraçando, me seguro forte nele, estou com tanta coisa presa dentro de mim que esse abraço e essa confissão acabam mesmo que sem intenção aliviando parte da dor que sinto, desde que conheci o Jonas sinto que minha vida está se reconstruindo, estou sendo capaz de viver e de respirar de novo, mesmo que para isso algumas das minhas dores tenham que ser reabertas, Jonas chega e nos pega abraçados, por um momento tenho medo de que ele pense algo errado sobre a situação, mas ele abre um sorriso para mim e vem se juntar a gente no nosso abraço, a anos não me sento assim acolhido, se bem que acho que nunca me senti assim. “Iuri, eu sinto muito que você tenha que passar por isso.” Ele fala e mais uma vez falo que não precisa se preocupar, Isaac tem que voltar para a cozinha para não atrasar seu trabalho, “Iuri, vou começar a trabalhar na sua defesa hoje mesmo, você pode me mandar o seu contrato de estágio e o de confidencialidade para mim poder estudá-los?” Fico surpreso, sei que essa é uma área que ele domina, mas não passou pela minha cabeça que Jonas me defenderia. “Posso, mas você vai ser meu advogado?” Ele sorri e me indica a cadeira para sentarmos. “Mesmo que não fosse responsável por você está nessa situação eu seria seu advogado, você é meu irmão, família é importante para mim Iuri.” Ele fala e começa a me sentir mais tranquilo até. “Eles podem alegar conflito de interesses, já que passei os documentos para você” Falo. “Não se preocupe que com isso, me deixe dar uma olhada nos seus contratos e vamos encontrar um jeito nesse caso nem chegar a julgamento, eles vão tirar essa ação ridícula, eles sabem que estão agindo de má fé e vamos pegá-los ou não me chamo Jonas Faria.
Jonas é um advogado brilhante, parte do peso em minhas costas começa a se aliviar, passo os contratos para ele, e respondo algumas de suas perguntas, ele toma nota do que considera importante e faz umas ligações, não vai ser fácil, mas ele não parece desanimado, na verdade a dificuldade do caso o deixa ainda mais animado para o trabalho, Jonas diz que é motivador quando está trabalhando por uma causa certa, uma causa de que ele mesmo acredita, no inicio da noite Isaac preparar um yakisoba para a viagem e Jonas vai me deixar em casa só que de moto dessa vez, entregou o capacete para ele e vejo Felipe chegando com Patrick em casa, estão voltando da faculdade agora, Felipe está com o sorriso de que tanto gosto, mas quando ele me ver com Jonas fecha a cara e aperta o passo, eles passam Patrick deseja boa noite e respondemos, mas Felipe passa sem falar nada entrando no prédio, parecendo ainda mais irritado do que a última vez, Patrick o segue sem parecer perceber toda a situação deixando apenas Jonas e eu na entrada do prédio.
“Não falou com ele ainda?” Jonas pergunta, ele é mesmo um excelente advogado, foi capaz de ler a situação ainda melhor do que eu. “Não tive como, ele vem me evitando, deve ter se arrependido.” Falo com um pesar na voz, mas a risada do Jonas me tira de meus pensamentos. “ Fala sério Iuri, você é mesmo meu irmão.” Ele fala rindo. “Do que você está falando?” Ele rir mais ainda e por fim fala. “Esse cara está muito afim de você irmão, acorda e fala com ele antes que seja tarde, afinal ele parece ser gente boa.” Não pode ser, até pensei que ele pudesse estar com ciúmes do Jonas por achar que temos algo, já que ninguém, além do meu pai e do Isaac sabe sobre isso ainda. “Não viaja Jonas.” Falo desviando meu olhar do seu. “Parece até que é filho do pastor para ser cabeça dura desse jeito, Iuri faz o que to falando, conversa com ele e não digo isso como seu advogado, digo isso como seu irmão mais velho.” Ele fala agora com um tom um pouco mais sério, então faço que sim com a cabeça, completamente rendido.
Entro no meu apartamento e ele não está nas áreas comuns, deve está no quarto então vou tomar meu banho logo e visto uma roupa mais folgada — uma bermuda e uma camiseta branca — esquento meu yakisoba e vou comer pois agora a fome me pegou, estou comendo na sala e vendo tv, algo inédito para as pessoas que moram comigo, mas é a única forma de conseguir falar com Felipe quando ele sair do quarto, estou de tocaia esperando por ele, já que não tenho razão para bater na porta do quarto e ele não visualizou minha mensagem, umas sete da noite estou quase desistindo quando vejo Bruna saindo do quarto dela com um vestido preto brilhante e que mau cobre sua bunda toda e ainda deixa um de seus ombros amostra, ele está muito gata, mas minha atenção se prende em Felipe que saiu do quarto com uma calça jeans preta colada em suas pernas, deixando sua bunda do jeito que me deixa maluco, uma blusa polo branca justo em seu corpo e um sapatênis branco, seu perfume entra direto em minha mente. “Vão sai em plena quinta?” Patrick que vem saindo da cozinha pergunta. “Quinta é a nova sexta Pat.” Responde Bruna com todo seu charme. “E outra o Lipe disse que vai pagar então não sou louca de recusar” Ela diz passando seu braço no dele, Felipe evita me olhar, mas percebo seu desconforto, e não sei porque mais essa proximidade dos dois me deixa incomodado também.
“Para onde vocês vão?” Quando percebo estou perguntando algo que nunca fez diferença pra mim. “Parem as máquinas Iuri está doente.” Patrick brinca e olhei feio para ele. “Vamos na Absolut, vai ter calourada da Med hoje lá” Bruna, fala toda empolgada. “Verdade, tinha esquecido dessa festa, depois do trabalho que tivemos hoje eu só quero jogar um pouco e dormir.” Patrick responde. “Só vou porque sou presidente do CAOC — Centro acadêmico do curso de medicina — “E eu porque vou entrar de graça.” Disse Bruna pulando de alegria, posso até estar enganado, mas achei que ele estava meio que justificando sua saída para mim, mas pode ser coisa da minha cabeça, de qualquer forma eles estão na porta quando me pego mais uma vez agindo por impulso. “Pode por meu nome na lista também?” Pergunto olhando diretamente pra ele, que ficou surpreso com minha pergunta, na verdade todos no recinto ficam. “Até parece.” Bruna fala rindo. “Estou falando sério, estou precisando sair de casa.” Falo ainda com meus olhos nele. “Tudo bem, vou deixar seu nome na entrada.” Ele fala e sai com Bruna porta afora sem falar mais nada, não sei o que estou pensando da vida, essas festas de calourada são a coisa mais chata do mundo, pelo menos para o Iuri atual, porque o antigo eu iria amar uma festa cheia de gente de bebida, talvez, só talvez eu posso ser o Iuri de antes de novo, só por uma noite.
