A TRAVESTI E O NEGÃO DO AEROPORTO

Um conto erótico de Nadja Cigana
Categoria: Gay
Contém 4450 palavras
Data: 16/01/2024 05:45:00

Um hotel 3 estrelas em Brasília, domingo, fim de feriadão, três da tarde. O Brasil tinha FHC na presidência e uma bela e gostosa travesti de 19 anos, toda produzida e vestida, tinha na boca a linda rola grossa, de glande lilás, pela qual era apaixonada.

Leia não havia resistido à saudade antecipada da pica de seu homem. O feriadão acabava e a viada e Gil estavam prontinhos para pegar um táxi para o aeroporto, faltando pouco menos de duas horas para o voo do soldado, de volta a Guarulhos. E o rapaz já ia metendo a mão na maçaneta da porta do quarto de hotel, quando sentiu a mãozinha da travesti puxar seu punho com uma urgência uterina.

- Amor, péra! Vem aqui, por favor!

Quase que num só golpe, a linda boiolinha puxou a cadeira do vestíbulo e sentou, trazendo Gil para perto. Ao lado da bichinha, sobre a mesa, estavam restos do almoço dos dois em bandeja de aço, pratos e talheres. Restos que contavam uma história muito direta: não era por falta de pica que Leia puxava Gil para junto de si, com ele de pé e todo fardado e ela de calça jeans colada e blusinha ciganinha, branca e curta, os dois já prontinhos para sair. Muito pelo contrário!

A travesti havia sido muito bem servida de rola, ao longo do feriadão. Desde que ela e Gil haviam entrado naquele quarto, os dois viveram uma sucessão de fodas maravilhosas, até pouco antes do almoço daquele domingo.

Originalmente Leia havia pensado em conhecer com Gil alguns museus, restaurantes, a catedral da cidade, a torre de TV, e até se interessara por uma visita guiada ao Congresso Nacional. Mas isso havia sido antes, quando a bichinha ainda tinha dúvidas sobre ela e Gil se entenderem, em razão do tempo e da distância. Leia achava que seria bom para os dois esse tipo de programa cultural juntinhos.

Mas depois que os dois se beijaram cheios de tesão um pelo outro, já no aeroporto, e que Gil a comera cheio de fome assim que entraram no quarto do hotel, sem nem fecharem a porta, Leia sabia que nenhum desses passeios aconteceria.

Eles passaram todo o tempo dedicados a fazer amor, conversar e trocar carinhos, desde o resto da sexta em que se reencontraram, até aquele momento no domingo em que Leia mamava a rola de Gil com eles já vestidos para irem pro aeroporto.

Os empregados do hotel comentaram sobre o jovem casal gay que não saía do quarto e só pedia comidas e bebidas. E cada um que levava os pedidos logo contava aos demais como a travesti era bonita e gostosa ou como seu amante era fortão e tesudo, com um ponto importante em comum nas narrativas: todos falavam do cheiro de porra que perfumava o quarto de Leia e Gil.

A única saída dos dois havia sido uma rápida ida a um shopping que viam da janela do quarto e que como tudo em Brasília descobriram que era “perto-longe” quando foram andando. E tinham um único objetivo nessa rápida fuga, que foi comprarem um par de anéis de noivado, no qual Leia gastou o resto de suas economias.

Agora Leia se esmerava no boquete de despedida punhetando a rola de seu macho com a mão direita e vendo seu próprio anel de noiva ir e voltar para pertinho de sua boca.

A travesti gemia de boca cheia e se dedicava àquela gulosa de corpo e alma, sabendo que ainda demoraria mais de um mês para que eles se reencontrassem em Belém. Foi com um gostinho de adeus que ela havia sacado pra fora de calça e cueca a piroca linda de seu noivo para a chupada final. E em menos de dez minutos a bichinha foi premiada pela gala sagrada de Gil, enquanto ele urrava pela última vez no quarto de hotel.

- Ái, Florzinha!... ÚÚÚRRR...

Gil encheu a boquinha sedenta de Leia, segurando carinhosamente a cabeça da viada, enquanto ela quase chorava de emoção, com uma mãozinha na base da trozoba cuspidora e a outra sopesando o sacão raspado de seu macho.

Só bem depois do último jato de esperma e da engolida de tudo, Leia tirou a rola babada da boca e cuidadosamente guardou seu bem mais precioso na cueca de Gil, em seguida fechando a calça e apertando o cinto de fita. Então, muito feliz com tudo o que acontecera, a viadinha se levantou para se pendurar no forte pescoço de seu macho.

- Prontinho! Agora podemos ir.

- Tua doida!

- Doidinha da vida, por tu!

Os dois se beijaram com Gil curtindo o sabor da própria pica e esperma na boca de sua noivinha trans, mas logo Leia interrompeu o beijo, preocupada com o vôo.

No trajeto, dentro do táxi, a viada ainda massageou bastante o pau de seu homem dentro da grossa calça camuflada e em determinado momento cochichou no ouvido de Gil:

- Teu pau tá tão babado de mim que vai coçar muito, daqui até São Paulo.

- Maldade tua!

- É pra tu lembrar de mim a cada vez que coçar.

Gil estendeu pra ela o dedo anelar da mão direita e respondeu:

- Eu nunca que esqueço de tu. Muito menos agora que tenho esse anel.

Leia então levantou o óculos escuro, segurou com as duas mãozinhas a manopla que seu macho mostrava e começou a chupar o dedo anelar de Gil como se fosse uma rola, olhando para seu homem com uma expressiva cara de puta.

E pelo retrovisor o motorista via tudo e experimentava uma tremenda ereção.

Leia, essa deusa do amor, provocava reações em todos ao redor e a caminhada de braços dados com Gil até o portão de embarque não foi diferente. No meio do caminho, um negro enorme e bonito, de terno preto e cabeça raspada, que conversava animadamente com um funcionário de empresa aérea em um quiosque de venda de passagens, teve o olhar capturado pela tesuda travesti.

Se Leia não estivesse tão apaixonada por Gil, curtindo os últimos momentos juntos agarradinha ao bração de seu macho, teria reparado que o negro era um tesão de 1,90m e que o funcionário com quem ele conversava era visivelmente viado. Mas naquele momento a travesti só via seu noivo e muito menos ouviu o que o elegante negão disse para o rapaz gay.

- Olha, Docinho! Que viada gostossérrima! Puta que pariu!

- Nooossa! É mesmo! Quase passa por mulher.

- Quase, nada. Se a gente não fosse entendido, não sacaríamos nunca.

- Sei não. A bicha é meio over.

- Num gosta, num põe defeito, Docinho.

- Sabe, Ajax? Ela tem o perfil que teu patrão tá procurando, não tem, não?

- Pior que tem, mesmo!

- Se desse, você devia chegar nela. Mas acho que vai embarcar.

- Huuummm... só com aquela bolsinha?

- O soldado que ela tá agarrada tá de mochilão.

- E tu acha que uma boneca assim produzida não ia viajar de mala e cuia, cheia de maquiagens, produtos de beleza e outras frescuras. E eles nem despacharam bagagens.

- Talvez...

- Talvez nada! Ela tá só levando o namorado no portão. Guenta aí que vou lá sacar.

- Você se assanhou pra pegar a boneca, né, safado?

Ajax, o negão, respondeu olhando para o amigo com um lindo sorriso, largo e muito branco e piscando um olho malandramente:

- Se rolar, tu vai ser o primeiro a saber!

- Aff!

Já bem perto do portão, Leia de novo se pendurou no pescoço taurino de Gil, dessa vez para o beijo de despedida. E a trans morria de tesão quando, separando as bocas, cochichou no ouvido do homem de sua vida:

- Nunca pensei que por tua causa eu fosse me arrepender de ter esse corpo feminino!

Gil olhou para a noiva meio assustado e a viada respondeu ao “por que?” estampado no rosto de seu homem com outro cochicho:

- Se eu ainda conseguisse me disfarçar de menino, eu te puxava agora pro banheiro do aeroporto pra tu me comer gostoso até a gente gozar juntinho!... que nem no banheiro da escola, alembra?

Os dois riram, se beijaram de novo rapidamente e Gil passou pelo portão. Leia permaneceu parada até perder seu homem de vista e então caminhou pelo setor de lojas do aeroporto, que naquela época era só externo, aberto ao público geral.

Enquanto andava, a travesti exalava feromônios de acasalamento, tomada pelo tesão como qualquer fêmea saudável de 19 anos. Leia provocara Gil demais com o último boquete e com a pegação no táxi e no aeroporto. Tudo o que ela queria agora era gozar, de preferência sendo possuída com vontade por um macho pauzudo.

Tentando se distrair e tirar momentaneamente o sexo da cabeça, a viada parou em frente à lojinha da editora da Universidade de Brasília e olhava os títulos de livros quando foi abordada por uma voz grave, em tom doce e respeitoso.

- Boa tarde, Senhorita. Perdão pelo incômodo, mas a Senhorita é de Brasília?

De início, Leia realmente se sentiu incomodada e fechou a cara lamentando estar com o óculos escuro no alto da cabeça, achando que com os olhos protegidos a expressão de desprezo pelo desconhecido seria ainda mais eficaz. Mas quando a travesti olhou para onde partira a voz, ela quase perdeu o fôlego.

O que Leia viu foi um negro alto, de uns 30 e poucos anos, forte sem aparentar ser musculoso, trajando um bem cortado costume preto, com gravata também preta e camisa branca. O homem era bonito, com um olhar carinhoso, cabeça raspada, lábios muito grossos e um sorriso charmosíssimo.

Impactada, Leia murmurou um “Eu...” pretendendo começar a responder, mas o homem foi mais rápido e estendeu uma mãozona maior do que a de Gil, esperando a mãozinha de Leia para o cumprimento, e falou:

- Muito prazer, meu nome é Ajax...

Ainda bestializada pela estupenda visão, Leia pensou alto, oferecendo a mãozinha delicadamente, com o dorso para cima e os dedinhos para baixo:

- Ajax maior, filho de Telamon...

Envolvendo cavalheirescamente apenas os dedinhos de Leia em sua enorme mão escura, Ajax abriu mais ainda os olhos e o sorriso, para comentar, antes de beijar respeitosamente as costas da mãozinha que a travesti oferecia, notando no dedo da viada o anel de noivado:

- A senhorita conhece a Ilíada! É, portanto, linda e erudita! Uma rara combinação!

Ruborizada por ter sido pega pensando alto, Leia se apresentou:

- Meu nome é Leia. Prazer.

- O prazer é todo meu! Mas eu gostaria de lhe perguntar se a senhorita tem algum compromisso. Sabe, o voo do meu patrão atrasou e eu tenho ainda uma hora de espera. A senhorita aceita tomar um café?

Leia desconfiava do excesso de bondade. O negão era um tesão mas tinha um ar de malandragem que deixou a travesti de pé atrás. Misturando medo e desejo, Leia pensou que enquanto estivessem em local público não haveria o que temer.

- Onde, o café?

- Oh, aqui mesmo no aeroporto. É rapidinho.

- Antão está bem.

O “antão” revelou a Ajax um sotaque que ele não identificou. E como dos regionalismos brasileiros ele só não conhecia os da região Norte, logo deduziu que a viada vinha de lá.

Caminhando, os dois começaram a conversar.

- Tem um café que fica aqui embaixo, perto do portão de desembarque, se a senhorita não se incomodar.

- Está no meu caminho, de qualquer modo. Eu ia mesmo descer pra pegar um táxi.

- A senhorita trabalha em Brasília?

- Não. Estou de passagem.

- Ah, logo vi. Sabe, Brasília pode parecer grande, mas no nosso meio todo mundo se conhece.

- “Nosso meio”?

- Sim. De “entendidos”.

Leia riu da naturalidade com que o negão se identificou gay e riu graciosamente, enquanto segurava a mãozona de Ajax, gentilmente oferecida para a trans sair da escada rolante.

Demonstrando bastante habilidade para construir intimidade com a recém conhecida travesti, Ajax tocou no assunto da construção da identidade sexual, assim que sentaram.

- Eu preciso perguntar uma coisa pessoal. A senhorita se incomoda?

Leia tinha certeza de que ela seria o assunto e deixou o homem à vontade.

- De forma nenhuma.

- A senhorita está pela primeira vez em Brasília?

- Sim, primeira vez.

- Ah, adoro as primeiras vezes... A senhorita veio se despedir de seu noivo e continua em Brasília até quando?

- Como você...

Ajax apontou para o anel no dedo de Leia e a travesti corou o rosto pela segunda vez com aquele estranho. Entendendo a dedução do negro, a viada respondeu:

- Só até amanhã.

Surpreendentemente, o negro abriu um enorme sorriso de satisfação.

- Puxa, mas é perfeito! Esse nosso encontro foi obra dos deuses!

Leia riu do jeito exagerado de falar. Ajax era expansivo, mas nada afetado. Se o negro era gay, não parecia à travesti que fosse passivo de jeito nenhum e isso apimentou o tesão dela.

- Perfeito para que?

- Eu já explico. Mas fale-me um pouco da senhorita, por favor. A senhorita é de onde?

- Belém.

- Ah, Belém!

- Conhece?

- Não, mas gostaria. Ainda mais depois de conhecer a senhorita.

- O senhor é muito lisonjeiro.

- Apenas trato a senhorita como merece. E a senhorita descende de nosso querido povo indígena?

- Não. Muita gente confunde, mas minha mãe é mulata.

Olhando maliciosamente para as coxonas e pernocas de Leia, bem destacadas pelo jeans colado que a viada usava, Ajax observou:

- E pelo visto a senhorita herdou muita coisa dela!

- Obrigada!

- E, se não for incômodo... quando foi que a senhorita descobriu que gostava de “meninos”?

A ênfase em “meninos” soou com um claro sentido de “quando você descobriu que gostava de pica”, mas Leia agora já estava à vontade com seu interlocutor e não se constrangeu. Ao contrário, a viada respondeu lascivamente, bebericando um pouquinho de nada do fumegante café expresso no meio da frase:

- Muito cedo, ainda... slurp... muito cedo descobri que gostava de ter um menino na minha boca...

Começando a ter uma ereção, Ajax viu a linda trans passar a língua pelos grossos lábios sensuais e continuou, sempre sorrindo:

- Só na boca?

Leia apontou um indicador para a cara do negro, fazendo um gesto que queria comunicar algo como “você tocou num ponto importante da conversa” e respondeu:

- Tu pode não acreditar. Mas durante anos foi só na boca. Até que conheci meu noivo. Ele que me desvirginou.

- Nooossa! Que raro!

- Né?

- E que idade a senhorita tinha quando foi “desvirginada”?

Leia riu lindamente e balançou os cabelos para afastá-los dos ombros, depois respondendo:

- Catorze aninhos!

- E... suponho... apenas suponho, se me permite e não lhe soar como grosseria... seu noivo não foi o único homem de sua vida, dos catorze aninhos até agora.

Leia soltou sua gargalhada de pomba gira, olhando para o alto teto do saguão e aproveitando para prender os cabelos na indefectível liguinha de pulso, pois sentia calor. E respondeu rindo à indagação.

- Não mesmo! Mas diz...

Leia olhou Ajax insinuantemente e perguntou:

- Por que é “perfeito” que eu só viaje amanhã?

- Porque lhe dá tempo de conhecer um pouco do nosso meio, aqui em Brasília. Sabe, existe uma boate gay no Conjunto Nacional que é um ambiente muito divertido. Tenho certeza de que a senhorita gostaria de conhecer.

- Huuummm... pode ser interessante.

- E é! E, claro, sei que seu tempo deve ser caro...

Ajax jogava a pedra que faltava, deixando claro que Leia era puta e perguntando o preço. E aquilo, longe de ofender a travesti, atiçou Leia ainda mais. Mas ela, experiente na vida de prostituta, sabia jogar aquele jogo muito bem e com uma tremenda cara de sirigaita respondeu:

- Antes de tu saber do meu preço, eu é que quero saber quem é a pessoa que acha que pode me alugar.

Com um belo sorriso compreensivo, Ajax comentou:

- Justo!

- Antão, meu caro Ajax Maior, filho de Telamon, vou te fazer umas perguntinhas também.

O negro abriu os enormes braços, e sempre sorrindo disse:

- À vontade, minha cara senhorita.

- Com que idade que tu começou a gostar de bundinha de “menino”?

- Eu não definiria a senhorita exatamente como “menino”.

- Tu me entendeu.

- Certo. Ah, bem... acho que eu tinha uns 13, ou 12... sabe como é... negão, alto, precoce, chamando a atenção...

- Chamando a atenção tanto de meninas como de meninos “diferentes”. Por que passou a preferir “meninos”?

- Prefiro mesmo! Adoro! São tão delicados, carinhosos... e não têm como fingirna hora de gozar.

- Isso! A senhorita me entendeu!

- E tu é só ativo?

- Sou totalmente flex, tanto com meninos quanto com meninas. Espero que a senhorita não se incomode com isso.

- De forma alguma!

- Mas há outra coisa que me atrai muito nos meninos.

- Que seria?

- Sexo oral.

Leia tomava café com muito açúcar e ao final ela gostava de pegar do fundo da xicarazinha a massa de cristais não dissolvidos e escurecida pelo café. Com a colherinha já perto da boca e com uma tremenda cara de puta, Leia falou:

- Jura?

E Ajax via a travesti lamber sensualmente o pequenão montinho de açúcar, quando confirmou.

- Eu amo! Mas, a honestidade me faz advertir a senhorita sobre uma coisa.

- O que?

- É que amo tanto felatar como ser felatado.

Leia fingiu uma cara de decepção com direito a biquinho nos grossos lábios e disse:

- Nesse caso, meu caro Ajax, talvez eu é que não seja do seu agrado, pois creio que tenho muito pouco a oferecer à essa sua boca grande e bonita...

- Mas a senhorita tem o que oferecer... quero dizer... não...

- Não sou operada. Mas meu picolé não é assim um Corneto...

A cara do negro era de um tesão incrível, quando ele aprovou o dote diminuto de Leia.

- Perfeito!

A viada perguntou rindo:

- Perfeito?

- Perfeito, repito! Quanto mais o picolé dos “meninos” for... quero dizer... “diferente” do meu, mais isso me dá prazer.

Leia estava já com muita vontade de ver o “picolé” daquele negro, mas quis saber mais dele:

- Para nos conhecermos mais um pouquinho: “Ajax” não é teu nome, né?

- É o nome que escolhi. Tanto quanto a senhorita escolheu “Leia”.

- Touché! E o que tu faz da vida, Ajax?

- Eu sou segurança e “faz tudo” do meu patrão. Um político importante. E preciso deixar a senhorita a par, desde já, que ele é que pagaria.

O homem viu na cara da viada a frustração, quando Leia imaginou que o negro seria só um intermediário. A bichinha foi dura na pergunta que se seguiu:

- Quer dizer que o glorioso Ajax, filho de Telamon, se tornou um mero cantor de churrascaria? Aquele que canta, para os outros comerem?

- Não é bem isso, senhorita. Por favor deixe-me explicar.

- O voo de seu patrão deve estar chegando.

- Se a senhorita me permitir, temos tempo.

Ajax rapidamente contou que era carioca mas radicado em Brasília desde a infância e que devia a conclusão do ensino médio e da faculdade de relações públicas ao patrão, um político baiano muito importante.

- Falam muito mal de meu patrão, na imprensa e no Congresso, mas ele é muito bom para mim.

- E tu é um “faz tudo” mesmo? Tu come teu patrão, Ajax?

- Nunca! Ele não curte. Ele gosta é de ver!

- Oi???

- É assim: quando estamos em Salvador, ou a esposa dele o acompanha aqui em Brasília, eu tenho a obrigação de satisfazer a mulher dele.

Leia voltou a se interessar pela história.

- Que babado! E ele sabe?

- Ele que me manda comer a mulher dele. E fica assistindo.

- Bicha! Que loucura! Mas... não é complicado pra tu, que é entendido?

- Eu consigo de boa. E eles dois sabem do que eu gosto. Tanto que, às vezes, eles dois me pedem para levar um ou outro viadinho, ou senhoritas com “detalhes”. Mas nenhuma delas jamais foi tão bonita e gostosa quanto a senhorita!

- Brigada!

- Não posso receber agradecimentos por apenas dizer a verdade.

- Você é um cavalheiro, Ajax.

- Bondade da senhorita. Mas veja... acontece que meu patrão dará uma festinha íntima...

- Uma suruba!

Ajax riu e respondeu:

- Às vezes evolui para uma suruba, às vezes, não. Nessa, que será uma espécie de homenagem para outro político importante, a esposa de meu patrão não virá, então... há grandes chances de evoluir, sim.

- Será aqui?

- Sim. Na mansão dele, aqui em Brasília, no fim de janeiro.

- Eee...

- Eu gostaria muito de convidar a senhorita para essa festinha... pagando a viagem, hospedagem e seus honorários, claro.

- Pensei que você me tivesse oferecido dinheiro para ir contigo à boate gay, hoje.

Ajax arregalou os olhos e pegou numa das mãozinhas de Leia, animado.

- Mas claro! Eu jamais convidaria a senhorita para a festinha do meu patrão sem antes lhe oferecer uma melhor experiência sobre a minha pessoa!

Leia traduziu mentalmente: “antes de me contratar pra suruba do chefe, ele que fazer um test drive pra saber se eu sei dar”. E como ela nada falasse, o negro continuou:

- A senhorita me daria a honra de sua companhia, hoje à noite?

A jovem trans pensou rápido. Ela não tinha nada para fazer até o voo de volta a Belém, no dia seguinte, e havia gastado mais do que podia com os anéis de noivado. Qualquer reforço de grana seria bem vindo e, além disso, Leia havia ficado curiosa quanto à boate gay e mais ainda pelo caralho daquele negro grandalhão e todo serelepe.

- Está bem!

Ajax bateu palmas de felicidade e pediu.

- Se a senhorita me informar seu hotel e quarto, eu a pego por volta de 7 da noite, está bem?

- Cedo assim?

- Hoje é domingo e a boate fecha meia noite. É o tempo de jantarmos antes e nos conhecermos melhor.

- Tudo bem.

Leia disse o nome do hotel e o quarto, e o negro se levantou e tirou seis notas de cinquenta reais da carteira para deixar na mesa, sob o açucareiro, Ajax fez outros pedidos a Leia, antes de se despedir da travesti com um novo beijo nas costas da mão.

- Se não for inconveniente, gostaria de pedir à senhorita mais dois favores:

- O que é?

- O primeiro é aceitar essa quantia simbólica, para pagar a conta do café por mim.

- O café em Brasília é tão caro, assim?

- O troco é pelo tempo que lhe tomei, para fazer esses dois convites, o de logo mais e o da festinha.

- E qual o outro pedido?

- Vou receber meu patrão ali no portão e passarei com ele por aqui. Peço encarecidamente que a senhorita nos guarde passar e se deixe ver. Eu... sabe? A imprensa acompanha muito meu patrão, então ele só lhe verá de relance e nem eu deverei falar com a senhorita.

- Você está me pedindo para deixar seu patrão “ver o material” mas já diz que ele mal vai me olhar!

- A senhorita se subestima. Basta uma fração de segundo para qualquer um que entenda de fêmeas se apaixonar pela senhorita!

Ajax se adiantou e Leia pediu outro café, se ajeitando na cadeira em pose estudada para a rapidíssima inspeção: bumbum empinadinho, tronco ereto, coxas bem destacadas numa cruzada de pernas sensual.

Minutos depois passou perto da travesti um bolinho de engravatados, na maioria assessores e seguranças de costumes azul escuro e preto, tendo no meio um cinquentão barrigudo, alto, totalmente grisalho, ao lado de quem Ajax indicou sutilmente Leia. O coroa quase que só piscou os olhos, vendo a linda e jovem viada, e fez que sim com a cabeça, sem no entanto aparentar nenhuma expressão no rosto. E o grupo passou reto.

Do aeroporto Leia foi para o shopping onde comprara com Gil os anéis de noivado e lá adquiriu uma meia calça arrastão barata, preta e rasgável, e um corpete de lingerie preta, os dois para usar com o minivestido vermelho, à noite.

Durante esse tempo sozinha a viada chegou a refletir porque não tinha nenhum medo de sair com um estranho, numa cidade estranha. Mas Leia concluiu que, além de ter reconhecido o patrão de Ajax, figura fácil na mídia, havia algo no negro que não era só sedutor. Algo que demonstrava uma doçura e fragilidade que faziam a travesti se sentir mais forte do que ele. Assim, quando às sete da noite em ponto o telefone do quarto de hotel de Leia tocou, com a recepção avisando da chegada de Ajax, a trans estava maquiada, produzida e confiante para sair com o macho.

E Leia estava excitada. Com o cuzinho muito usado por Gil, naquele reeencontro, a viada fez uma chuca cuidadosa e se lubrificou muito, antes de descer e desfilar sensualmente até a portaria, esbanjando sedução no alto dos escarpins e provocando os machos com suas coxonas expostas, em meias arrastão.

No portão de vidro, Ajax estava à espera da paraense de camisa e calça sociais e sapatos.

- Em nome dos deuses, a senhorita está linda!

- Brigada!

- Brigada, nada! Essa formosura toda me acompanha num jantar?

Os dois saíram de táxi e logo Leia chamava a atenção de homens e mulheres no restaurante, um espaço aberto e bem animado, onde a conversa fluiu fácil.

- Quer dizer que seu patrão gosta de ver você comendo a mulher dele?

- Gosta muito! Ele já me disse, em segredo, que é a única coisa que o anima, hoje em dia.

- E como é que é? Ele se punheta?

- Não. Ele não se toca e nem toca na gente. Ele fica sentado, pelado, olhando.

- E ele não goza?

- Goza. Ele exige que ela pague um preço.

- Conta!

- A senhorita está excitada?

- Lógico!

Rindo charmosamente para Leia, o negro continuou, os dois já animados pelos chopes.

- Será que a senhorita gosta tanto de sexo oral, quanto eu?

- Duvido. Com certeza gosto mais do que tu!

- Então talvez a senhorita compreenda meu patrão. Ele só goza de um jeito. Depois que eu faço a mulher dele gozar umas quatro vezes...

- Égua!

- É mesmo! Ela é a verdadeira “égua loura”.

Leia riu da expressão e explicou o significa de “égua” no dialeto paraense. Ajax continuou.

- Então, só depois dela estar muito bem comida, meu patrão exige que ela o mame até gozar e a obriga a engolir tudo.

- Nooossa! – Leia acariciou as costas da mãozona de Ajax por cima da mesa e perguntou – E tu? Tu não goza?

- Às vezes gozo dentro dela, de camisinha, claro, quando consigo combinar meu gozo com o último dela. Mas em geral nem gozo. Ele nunca disse, mas acho que meu patrão prefere que eu não goze com ela. Acho que é tipo uma punição pra ela. Pra que ela se sinta desimportante.

- Que horror!

- É. Também acho doentio. Mas confesso que tenho esse tesão de me exibir. Me dá prazer.

- Pelo teu tamanho, pelo tamanho das tuas mãos... desconfio que tu tenha muito o que exibir!

Os dois riram e Ajax se ofereceu logo.

- A senhorita talvez goste, não sei.

- Tu é modesto!

- Não! Eu torço para que a Senhorita goste! Mas, antes, acho que gostará de conhecer nossa pequena boate.

- Quero conhecer, sim! A boate e aquilo que tu tem pra exibir!

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Comentários

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A história de vida da Léia é cheia de surpresas... nunca que eu iria imaginar que a Léia fez Programa com político de Brasília

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Não subestime nossa Leia. Ela não faz programa com reaça.

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Bom saber que a nossa heroína além de ser linda é também gente boa, com posicionamento ético-político. Assim fica bem mais fácil torcer por ela.

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