Helena Matozzano - Parte 5

Da série Helena Matozzano
Um conto erótico de Al-Bukowski
Categoria: Heterossexual
Contém 7374 palavras
Data: 09/12/2023 18:41:06
Última revisão: 13/01/2024 11:54:01

#Quarta-feira

Exatamente uma semana se passara desde a minha descoberta da traição de Geraldo, ao lavar suas roupas e encontrar os vestígios de uma outra mulher. E, nesse período, o que antes era uma desconfiança, acabou se consumando ontem na certeza de seus pecados ao vê-lo saindo daquele bordel em meio a trocas de carinho com Marta, a cortesã dona daquele lugar.

Apesar de sentir um certo alívio por finalmente ter descoberto o que acontecia fora das minhas vistas, eu passei parte da manhã remoendo amargurada as lembranças da véspera. Pensava muito e o tempo todo sobre aquilo. E o único consolo que tinha era acreditar que, por ser uma prostituta, ele não seria louco de me trocar por ela e acabar com nosso casamento. O fato de ela ser uma puta, apesar de ultrajante, era menos ruim do que se ele estivesse de caso com uma amante numa vida amorosa paralela. Eu não concebia que meu Geraldo pudesse estar enamorado pela Marta, ele sabendo muito bem quem era ela e o que fazia para ganhar a vida, se entregando em sua cama e "abrindo as pernas" por dinheiro a todo tipo de homem.

Saber melhor o que enfrentava, já com tudo às claras, me deu mais condições para poder decidir como agir dali para frente. E meu primeiro movimento foi procurar Laura, para desabafar e dividir com ela aquele peso todo. Confiava muito na sua amizade e discrição, tendo certeza de que ela nunca comentaria nada sobre aquele assunto com outras pessoas, incluindo ai seu próprio marido. Dando uma desculpa para Cidinha, combinei dela preparar e acompanhar o almoço das crianças, enquanto eu iria visitar minha amiga.

- O que aconteceu, Helena? Você parecia muito aflita ao telefone... - Laura me questionou assim que nos sentamos na sala de sua casa, como sempre, lendo todas as minhas angústias em minha fisionomia.

- Laura, minha amiga. Estou tão constrangida com o que vou lhe contar, mas você é a única pessoa em que posso realmente confiar.

- Então desembucha logo, Helena. Coloca tudo para fora, que parece que isso está te corroendo por dentro. Vamos, me diga, o que aconteceu?

Respirei fundo e contei toda a história para ela, partindo do dia anterior com as minhas deliciosas redescobertas que me haviam sido incentivadas por ela. E, depois disso, todo o drama desde as marcas na roupa de Geraldo, e terminando pela perseguição de ontem e, ao final, vendo-o saindo enganchado do bordel com aquela prostituta. Laura me escutou atenta o tempo todo, volta e meia perguntando algo para esclarecer algum ponto, mas respeitando e me apoiando sempre. Isso, inclusive, quando não resisti e chorei amparada por ela.

- Bom, é isso, minha amiga. Geraldo anda se encontrando desde há muito com essa vagabunda. Pelo jeito, toda semana ele a procura. Enquanto lá em casa... você sabe... Ai, Laura. O que é que tem de errado comigo? Eu... eu... simplesmente não sei o que fazer!

- Calma, Helena. Primeiro que já conversamos sobre isso, e não há nada de errado com você. Esquece isso, pois você é uma mulher maravilhosa.

- Mas então, por que ele fez isso? Por que, Laura?

- Olha, Helena. A grande maioria dos homens tem seus, hã... deslizes. Essa coisa que vem de criação, de serem os machos predadores atrás de qualquer rabo de saia que se insinue para eles. Geraldo não é, de forma alguma, um mau marido. É um ótimo pai e tenho certeza que lhe ama muito. Mas...

- O que foi, Laura? Diga-me!

- Eu acho, sinceramente, que falta diálogo entre vocês dois. Você já me disse de como se sente travada, e só agora vem superando seus traumas da adolescência. Ele, por sua vez, com aquele jeito todo controlado e respeitador, aposto que também teme te ofender se for mais audacioso. A forma como ele te idolatra, o jeito como ele te olha é o de um homem amando a pureza da mãe dos filhos dele. Ele não te vê como uma mulher para se saciar e com quem dividir os desejos sujos da cama, sabe?

- Por isso, então, que ele procurou... a Marta? Aquela puta? Para fazer o que tem receio de me pedir? - Laura parou um instante, me olhando pensativa antes de me responder.

- Sim, provavelmente sim, Helena. Certamente não é amor, não há nada além de sexo, safadeza e talvez alguma afeição entre eles. Disso você pode ficar tranquila.

- Então eu devo ficar parada e aceitar? Conviver sabendo disso, enquanto fico ali relegada a termos aquele "prazerzinho" rápido e sem graça?

- Eu não falei isso! Mas vamos ter que trabalhar e mudar isso também, Helena. Temos que tirar essa mulher da cabeça dele, e fazer Geraldo começar a te ver de outro jeito, de uma forma que ele não precise mais procurá-la.

- Laura, me ajuda, então! O que eu devo fazer?

- Bom, Helena. Você disse que o nome dela é Marta, não é? Que tem uma casa famosa no Largo do Arouche?

- Sim, foi o que o taxista me disse, quando a vimos saindo abraçada a Geraldo daquele bordel. Por que a pergunta?

- É que... bom, tenho, então, que te contar algumas coisinhas sobre mim também...

O que Laura veio me confidenciar a seguir ao meu desabafo foi completamente inesperado, me deixando de queixo caído. Eu sabia que ela era bem moderninha, depreendendo isso do que me contava de algumas de suas travessuras com o marido, as fazendo ajudados pelo fato de não terem filhos até então. Porém, eu sinceramente não imaginava até onde eles tinham levado essa vida mais desregrada. Tudo começou no tempo em que viveram nos Estados Unidos, numa época de muita liberdade e experimentação, numa onda de novos hábitos que assolou os jovens americanos do pós-guerra. Ela e Sérgio, seu marido, eram recém-casados e foram para lá conduzir alguns negócios da abastada família dele; e logo se viram engajados no modo de vida do "high-society" da costa oeste americana. Em pouco tempo convivendo com amigos e conhecidos, experimentarem drogas de muitos tipos, e se envolverem em muitas práticas sexuais apregoadas pelo moderno amor livre.

Nesse meio tempo, Laura teve várias experiências com outros homens e mulheres, tanto casados como solteiros, e, em algumas delas, inclusive, sem ter Sérgio ao lado. Segundo me contou, logo ela ficou conhecida como "a brasileira", fazendo sucesso num círculo particular de festas e orgias, todas regadas a muita bebida e drogas. Ela contou que foi um período muito louco, mas que felizmente ambos conseguiram refrear e impor alguns limites antes que entrassem num caminho sem volta. Contudo, essa liberdade lá conquistada foi algo do qual nunca mais abriram mão, mantendo um relacionamento de casal que incluía "algumas vantagens", usando as palavras dela. E, sem entrar em mais detalhes, ela chegou ao assunto de como a tal da Marta entrou também em suas vidas.

- Quando voltamos ao Brasil, Sérgio, que nunca foi santo, discretamente fez contatos com pessoas que, digamos assim, também apreciam esse mesmo tipo de relacionamento mais aberto, sabe? Helena, você não acredita no que acontece na calada da noite e entre com tantos famosos e poderosas de nossa sociedade.

- Nossa, Laura. Estou chocada... Quer dizer, não tenho nada contra o que vocês fazem, minha amiga. Você me conhece, e não sou preconceituosa. Apenas é algo... você sabe... tão distante de mim, que me parece um outro mundo.

- Eu sei, Helena. E eu não te contaria isso se não confiasse muito em você e em nossa amizade.

- Sim, lógico, Laura. Eu nunca vou comentar isso com mais ninguém. Mas... o que isso tem a ver comigo e com o Geraldo?

- Então, Helena. Há algum tempo, em uma dessas festas, nós conhecemos a Marta. Sim, ela mesma. E conhecemos, você sabe, na intimidade, sabe? Dividindo nossa cama com ela...

- Uau... Poxa, não esperava por isso, Laura! Mas... bom... e como ela é, então? Quem, afinal, eu estou... hã... enfrentando, minha amiga?

- Olha, Helena. A Marta, apesar de ser mesmo uma cortesã, é uma mulher diferente. Muito inteligente e insinuante, ela conseguiu se envolver com as pessoas certas e poderosas. E que lhe devem muitos favores.

Laura, então, contou-me tudo o que sabia sobre ela, seus negócios e de como funcionava a casa onde eu flagrara Geraldo. Apesar de nunca ter estado lá, minha amiga tomou conhecimento, mais ou menos, de como funcionava o bordel, mesmo porque em várias festas a Marta fazia questão de trazer algumas de suas meninas para animarem a bagunça toda. Confidenciando, Laura me disse que Marta era uma mulher fabulosa em tudo que se pode pensar em matéria de sexo. Não só por sua experiência, mas principalmente por sua beleza e sensualidade, juntando com a maneira como dominava a arte da sedução e em como se entregava ao prazer. Laura mesmo não pôde negar que teve momentos deliciosos com ela e Sérgio na cama, arriscando a dizer que talvez tenha tido com ela os orgasmos mais fortes que já sentira na vida. Por fim, ela me disse que desde algum tempo, Marta passara a escolher a dedo seus poucos e especiais clientes, dedicando-se apenas àqueles a quem ela realmente desejava.

- E ela não é apenas uma meretriz, apesar de esse ser, basicamente, o negócio dela. Ela já está em outro nível, Helena. Tem muito charme e classe, um glamour que esconde e valoriza muito do que faz entre quatro paredes.

- Você está dizendo isso para me desanimar, Laura? É isso??? - meu desespero se revelava em minha voz.

- Não, nada disso! Mas... bem... Geraldo não encontrou apenas uma prostituta, sabe? Ela é diferente, Helena!

- Ai... Estou ferrada, então, né? Como vou conseguir superar essa mulher? Eu, boba e ingênua, pouco sabendo de tudo... - minhas palavras já saiam engasgadas com o nó que se formava em minha garganta.

- Calma, Helena. Ela tem certamente os segredos dela, mas você está repleta de trunfos que ela nunca terá, amiga.

- O que, por exemplo? - respondi em meu a um choro travado e contido.

- Intimidade, cumplicidade, um casamento sólido com filhos... Isso só para começar! São coisas que ela nunca terá com ele. Além disso, sexo é uma coisa boa, mas com amor se torna algo insuperável. Você tem o principal, Helena. Só temos que trabalhar mais o que está faltando nessa equação entre vocês dois.

Nossa conversa naquele dia foi longa, com Laura me contando mais sobre encontros ocorridos entre eles, tanto com Marta como também não ocultando outros tantos que tiveram em clubes e festas privadas. Aos poucos, talvez pela naturalidade como ela me apresentava aquele mundo, eu fui ficando um pouco menos ansiosa, chegando mesmo a ter alguma curiosidade em um dia vir a experimentar algo assim com Geraldo. Quem sabe até mesmo levados por Laura; um pensamento rápido e leviano, que me causou uma certa vergonha ao considerar dividir uma cama com minha amiga e nossos respectivos maridos. Mas tratei logo de deixar isso de lado, pois o meu problema era muito mais básico e imediato, e era nele em que eu precisava me concentrar.

Acabamos almoçando juntas em sua casa, e depois seguimos para o centro da cidade, Laura empenhada em primeiro me ajudar no rejuvenescimento de minhas roupas, em particular de minhas peças íntimas. Eu me vestia bem, procurando sempre estar elegante com meus vestidos combinando com joias e demais acessórios. Além disso, também me preocupava com perfumes e maquiagem, sendo uma mulher vaidosa na essência. Contudo, na intimidade, eu tinha que admitir que seguia um estilo mais tradicional e respeitoso; Laura já tinha reparado nisso em algumas ocasiões particulares quando nos reuníamos para experimentar modelitos novos em casas de amigas, e ela me vira em roupas de baixo.

Passamos a tarde andando por várias lojas, experimentando e ousando com várias roupas e lingeries, de forma que, com a ajuda dela, eu terminei retornando para casa com um enxoval completo e renovado de vestidos, meias, calcinhas e sutiãs, acompanhadas de cintas-ligas e outras tantas peças que basicamente se destinavam quase que apenas para a pura sedução. Todas lindas e delicadas, além de muito mais atrevidas do que as que eu vinha utilizando; predominando rendas e transparências que certamente revelariam muito de minha intimidade a um simples olhar. Foi uma tarde divertida, com Laura me assessorando, e fazendo caretas ou aplaudindo entusiasmada a cada abertura da cortina do provador, quando eu lhe mostrava como cada peça e conjunto havia ficado em meu corpo. Por estranho que parecesse, aqueles momentos com minha amiga chegaram mesmo a me causar uma gostosa excitação, massageando meu ego e me dando mais confiança, ante os elogios e os olhares por vezes mais intensos que ela lançava sobre mim.

Chegando em casa, tratei de disfarçar e guardar minhas compras longe dos olhos sempre curiosos de Soninha e Cidinha, tomando um demorado banho até esperar o horário do jantar com todos presentes à mesa. Logicamente que meu remorso e rancor com o que Geraldo vinha fazendo comigo ainda estavam muito fortes e presentes. Mas, pela primeira vez naqueles últimos sofridos dias, eu tinha esperanças em agir e superar aquilo tudo de alguma forma. Sentia minha autoestima trabalhando ativamente no sentido de me dar segurança em procurar minha felicidade, vencer meus bloqueios e retomar o caminho que vinha trilhando de autodescoberta e libertação. Meu sono foi muito mais repousante, trocando o choro no travesseiro por uma carinha travessa, eu rejuvenescida e cheia de planos para o futuro.

#Quinta-feira

A manhã do dia seguinte transcorreu dentro da absoluta normalidade, no que eu esperava da rotina comum de cuidados com a casa e no apoio às atividades de meus filhos. Contudo, após o almoço, e enquanto eu ajudava Juninho a concluir suas tarefas da escola, fui surpreendida por Cidinha, avisando-me que Henrique me aguardava ao telefone. Desci a escada imaginando se ele não estaria me procurando para atualizar algo em relação ao processo de minha família, mas não negando também uma certa ansiedade em poder o rever ou ao menos escutar um pouco de sua sedutora voz.

- Alô, Henrique! Que surpresa você me ligar. Está tudo bem?

- Olá, Helena! Sim, está tudo bem. Não se preocupe! É que estou andando com o seu processo e estou precisando de sua ajuda.

- Oh... sim, o processo. Aconteceu algo? - eu o escutava falando em meio a um burburinho de muitas conversas ao fundo, imaginando não estar ele em seu local de sempre de trabalho.

- Sim. Não é nada muito crítico, mas necessitamos agir logo. Preciso que você assine com urgência alguns termos para que eu possa seguir com a obtenção das matrículas do terreno e outras documentações. Burocracia chata, mas inevitável. E temos pouco tempo, pois o prazo para revisão está próximo. Assim, o quando antes você puder, seria importante para não travar tudo.

- Eu entendo, sei mesmo como são essas coisas. Mas como fazemos? Você quer que eu vá até seu... escritório? - cheguei a enrubescer ao me convidar daquela forma, lembrando-me de como sai atormentada da visita anterior.

- Não, Helena. Na verdade, eu estou participando daquele congresso que comentei com você. E se você não se incomodar, me ajudaria muito se você pudesse vir me encontrar aqui amanhã. Seria possível?

- Ah... bom... sim. Eu posso sim, consigo ajeitar as coisas aqui em casa e vou sim. E onde seria? A que horas?

- Que bom, Helena! Olha, o congresso está acontecendo no Hotel Jaraguá, próximo da Praça da República, conhece?

- Sim, conheço. Não é longe do consultório do Geraldo.

- Perfeito. Se você concordar, podemos almoçar juntos no restaurante dele, que, por sinal, é excelente! E assim eu lhe coloco a par da situação do processo e você assina os papeis. Podemos fazer assim, Helena?

- Oh, bom... está certo. Amanhã, não é? Por volta de 12h00, pode ser?

- Sim, o que estiver melhor para você. Nossa... vou adorar sua companhia, Helena! - e completou falando mais baixo ao telefone - Você não tem ideia da quantidade de chatos que ficaram me rodeando nesses dias... Você vai ser minha salvação!

Rimos de seu comentário, e terminamos combinando mais alguns detalhes antes de finalizarmos a ligação. Ele claramente estava ocupado com as atividades no congresso, e não tinha mais tempo para esticarmos a conversa ou para me dar outros detalhes sobre a situação, o que deixaríamos naturalmente para o dia seguinte.

Como resultado dessa inesperada ligação e do convite para almoçar com ele, eu passei alguns bons minutos ainda sentada ao lado do telefone na sala, perdida em pensamentos e refletindo sobre minhas dúvidas e emoções. Em meio ao turbilhão pelo qual vinha passando, eu percebia se formando em minha mente a figura cada vez mais sedutora de Henrique, que passara a me atrair de uma forma inesperada e inexplicável. Algo que não ficou esquecido desde nossa reunião em seu escritório, onde, mesmo sem ultrapassarmos os limites, ficou inegável a troca de alguns olhares cheios de segundas intenções. E isso de ambos os lados.

Eu me sentia um tanto desorientada, meu corpo se manifestando por algo que a mente queria negar, e que as palavras se recusariam a verbalizar. Eu o desejava sim, e era como mulher, mesmo sem ter plena consciência disso. E o que antes eu vira como errado e pecado, agora eu já chegava a encarar como também um direito meu, numa resposta ao que meu marido vinha me fazendo, me machucando e humilhando. Formava-se, sem minha autorização, uma perigosa mistura de mágoa e excitação em meu íntimo, adicionando um ingrediente a mais para confundir minha razão.

O período da tarde até o início da noite daquele dia foi, de certa forma, muito torturante para mim. Aquela comichão foi gradativamente aumentando e me consumindo mais e mais por dentro, e nem mesmo um bom período sozinha em meu banheiro, com meus dedinhos trabalhando agilmente entre minhas pernas, foi suficiente para arrefecer meu estado. Ao contrário, aquelas carícias, que recentemente eu retomara e aprendera serem uma fuga altamente prazerosa, me deixaram ainda mais nervosa, numa sensação de insaciedade e incompletude.

Juntando-me às meninas no preparo do jantar, eu decidi, então, sair um pouquinho da linha e abrir uma garrafa de vinho para relaxar um pouco. Geraldo já chegara e tomara seu banho, e se juntou a mim para degustarmos alguns cálices de um tinto chileno delicioso que havíamos comprado recentemente. Logo estávamos conversando e rindo muito, num clima de descontração que foi contaminando a todos naquele jantar. E que, ao mesmo tempo, foi concentrando minha libido e me convencendo aos poucos de que aquela noite teria que terminar diferente... e que seria do jeito que eu queria.

Assim, quando nos recolhemos a nossos quartos, eu segui para tomar um banho e me preparar para meu homem. Apesar de não ter bebido muito, o efeito dos goles a mais daquele vinho geravam uma confusa mistura de sensações em minha cabeça. Nua enquanto me secava defronte ao espelho, eu sentia uma combinação de extrema excitação com uma raiva contida contra Marta e meu marido. Mas, estranhamente, naquela noite aquilo parecia mais me desafiar do que me deprimir, e foi dessa forma que escolhi algumas peças novas do meu enxoval para retornar ao quarto depois de um tempo.

Eu precisava me reafirmar como mulher e como esposa, reconquistar e demarcar o meu território, aquele onde eu deveria ser a soberana: a minha cama. E foi pensando assim que me mostrei a Geraldo com os cabelos ainda levemente úmidos e usando uma camisola curtíssima e bem transparente; e que em nada escondia da calcinha preta cavada, de tamanho significantemente menor do que todas as minhas outras antigas peças. Andando de forma calma, mas claramente lasciva, eu desfilei despreocupada por alguns segundos na frente do meu marido, que imediatamente assimilou o golpe e não conseguiu mais tirar os olhos de mim:

- O que foi, Geraldo? Por que você está me olhando assim, amor? - e dei uma parada à sua frente, com as mãos na cintura, num tom divertido de desafio.

- Hã... eu... não... é que nunca te vi com essa... hã... roupa, Helena - sua voz titubeava, claramente incomodado e surpreso com o que via à sua frente.

- Mas você gostou? Achei que ficou bonita no meu corpo, o que você acha? - e me virei de costas para ele, deixando-o admirar as curvas do meu traseiro, mais do que valorizadas pela calcinha justa e pequena, e que invadia inapropriadamente muito do vão entre minhas nádegas.

- Hããã, hummm... (coff)... Está, é.... muito bonita. Nossa, está linda, para ser sincero! - e eu sorri, escondida do olhar dele, e bem mais confiante de que estava indo pelo caminho certo.

- Sabe, amor, os modelos mais novos são todos assim, menores e mais insinuantes. E eu adorei! Acho que só vou usar desse tipo agora... principalmente com você! - e me virei sorrindo provocante para ele, vendo sua cara de bobo, ignorando tudo o que realmente vinha acontecendo com sua esposa.

Sem deixar de manter contato visual, eu desliguei a luz do banheiro e fechei a porta atrás de mim. Fui andando de forma lenta e provocante, ensaiando um jeito levemente maliciosa; mas lhe passando uma clara mensagem do que esperava dele. Ajoelhada na beira da cama, eu mordi o lábio inferior sorrindo meio sapeca para Geraldo, ao mesmo tempo em que puxava devagar o lençol que o cobria. Logo atentei para o volume que se formava dentro de sua calça do pijama, algo que eu antes nunca pudera admirar de forma tão direta crescendo assim em meu homem. Geraldo, talvez receoso do meu olhar ali fixado nele, fez menção de desligar a única luz ainda acesa no quarto, do abajur ao seu lado. Mais do rápido eu intercedi, querendo derrubar também aquela barreira tola, de sempre fazermos de luz apagada. Eu queria ver tudo e poder me mostrar por inteira a ele, sem qualquer tipo de vergonha ou bloqueio:

- Deixa a luz ligada, meu amor... Por favor! - lançando o pedido de uma forma meiga e sedutora, minha voz levemente rouca pela bebida, tornando irrecusável o meu apelo.

Ciente de estar, pela primeira vez na vida, no controle da situação, decidi seguir além e fui de gatinhas em direção a ele, passando por cima do seu corpo em busca de um beijo em sua boca. Meu álibi era a bebida, mas ela não explicava nem metade do desejo e calor que me dominava naquele momento. Logo eu estava sentindo suas mãos e braços fortes me envolvendo, num abraço pegado e só menos gostoso que o sabor da língua dele dentro da minha boca. Avançando o sinal e quebrando meus freios internos, meus dedos foram desabotoando a camisa do seu pijama, indo se enroscar nos pelos do seu peito assim que venci aquela barreira. Respirando mais fundo, resisti a ficar apenas presa a seus beijos, indo procurar seu ouvido enquanto mordia o lóbulo de sua orelha; ao mesmo tempo em que pedia, em meio a gemidos, com suas mãos apertando minha bunda e me puxando contra ele:

- Hummm, Geraldo... amor... Eu quero você... me possua, meu amor! Me come, Geraldo!

Aquele jeito mais atrevido não era o da esposa que ele conhecia, a fiel Helena de tantos anos de uma intimidade morna e sem graça. Não parei para examinar suas feições, mas tive certeza de que uma mudança começava a acontecer ao vê-lo me deitando de costas na cama, ao mesmo tempo em que tirava minha camisola e me deixava apenas de calcinha e sutiã. Eu me contorcia lânguida, minhas próprias mãos passeando pelo meu corpo e o atraindo para se juntar a mim, para descobrir mais daquilo que sempre foi dele. E antes que ele pudesse recair no modo marido respeitador, eu o provoquei mais me insinuando abaixando um lado da calcinha, o convidando para me ajudar:

- Vem, amor... tira minha calcinha, tira! - e dizia isso baixinho, com um jeito meigo mas tentador, me antecipando em todas as ações que conhecia "de cor e salteado" que ele teria comigo.

E Geraldo mordeu minha isca, pois sem perder tempo ele veio ávido com suas mãos no entorno de minha cintura, procurando o tecido da minha pequena calcinha para, a seguir, ir puxando para baixo, revelando aos poucos e saboreando o momento de desnudar sua mulher. Minha boceta, antecedida pelos densos pelos negros que cobriam meu ventre, foi se apresentando; ao mesmo tempo em que eu afastava as pernas e esfregava meus dedos em minha entradinha, mostrando-lhe o caminho com meus lábios molhados e entreabertos.

Aquela visão que ele teve de mim, e principalmente pelo jeito como eu me comportava, teve o efeito que eu tanto desejava. Vi nos olhos dele o macho predador se encorpando com ele se livrando rapidamente das últimas peças do pijama, e me satisfazendo com uma clara visão, por mim tão imaginada, de seu falo duro e imponente. A luz acesa fazia toda diferença, me dando a noção do quanto ele era grande e grosso, uma peça de carne bruta, nascendo de seu corpo peludo e terminando na cabeça roxa toda exposta.

- Aqui, me come Geraldo! Eu quero tanto, me possua meu amor... Sou sua, faz de mim o que quiser! - e pronunciando essas palavras eu afastei o que pude de minhas pernas e com os dedos expus minha bocetinha toda aberta, totalmente indefesa ante a pujança de seu pau.

A penetração veio logo a seguir, Geraldo se ajeitando sobre mim enquanto conduzia e posicionava seu membro em minha entradinha, deixando o corpo cair sobre o meu. O estado de umidade e excitação em que me encontrava era tamanho que o recebi deslizando e entrando fácil, sentindo, contudo, toda a pressão ao me alargar e me preencher por completo. Sua boca procurou a minha para mais beijos, até o momento em que sua respiração começou a acelerar com seus movimentos, seus quadris batendo contra minhas coxas com força e virilidade. Livrada de minha passividade costumaz, busquei acariciar seu corpo todo, em especial cravando os dedos de minhas mãos na bunda de meu homem, o puxando mais para dentro de mim.

O desejo e excitação de ambos era tanto que nem mesmo me dei conta que ficara vestida com meu sutiã. O que acabou servindo como uma pitada a mais de tempero ao me sentir como uma cortesã atuando num encontro improvisado e nada amoroso. Um para o qual eu fosse uma vagabunda qualquer, onde o único papel era ser possuída e usada para o bel prazer de seu cliente. O calor e suor de nossos corpos, as batidas mais intensas do que nunca que eu sentia vindo dele, tudo isso catalisado pela ação do vinho, passou a me confundir os sentidos me transportando para o corpo de Marta. Sim, naquela hora, eu queria e era de fato a puta do meu marido, meu prazer vindo do fato de não mais controlar minhas ações e nem refrear minha libido.

- Ahhh, Helena!!! Eu te amo... não estou aguentando mais... - Geraldo resfolegando, chegou a anunciar que gozaria dentro de mim. Mas eu queria mais, queria chegar lá junto com ele, e tratei de agir o controlando para adiar mais aquele momento.

- Espera, amor. Para... eu quero... por trás... vem, me come de quatro! - E o segurei, fazendo força para o retirar de cima de mim enquanto me movia para virar de bruços.

Meu marido se afastou um pouco, indo se ajoelhar segurando firme no corpo do seu pau, possivelmente represando o gozo que estava prestes a explodir. E me viu me posicionar de quatro à sua frente, com as pernas bem afastadas e arqueando a coluna para empinar o quando podia meu traseiro para ele. Lembrando-me de como me vira no espelho, sabia que a luz acesa estava lhe dando a visão de minha boceta logo abaixo do profundo vale de minhas nádegas, naquela hora escorrendo e arreganhada entre meus pelos e sentindo a falta do pau que vinha lhe moldando a abertura. Uma posição extremamente erótica, que também o presenteava com o vislumbre total do meu delicado e exposto cuzinho.

Sem precisar de convite, Geraldo logo estava me segurando firme pelas cadeiras, ao mesmo tempo em que mirava a cabeça do seu pau na entrada de minha desprotegida fenda. A estocada veio mais funda e mais forte ainda, como uma resposta ao fato de tê-lo interrompido na iminência do gozo anterior. E se intensificou mais e mais, os sons das batidas de suas coxas contra minha bunda ecoando pelo quarto como nunca antes, acompanhados de alguns gemidos incontroláveis de ambas as partes, naquele momento sem causar a mínima preocupação quanto ao que nossos filhos poderiam ouvir de seus quartos.

O mundo parou naquele momento para mim, e muitas Helenas pareciam nascer e brotar de dentro de mim. A mãe e esposa fiel ainda presentes, mas agora acompanhadas da adolescente que acordara do seu longo sono e vinha a se conhecer tardiamente como uma desejosa vadia. Geraldo metia mais e mais, circulando o polegar no meu anelzinho proibido e pela primeira vez me apertando e me causando uma dor gostosa nas carnes de minha bunda. Isso tudo me fazia me sentir como uma espécie de Marta ordinária, mas com um ódio por vingança, na procura por um gozo egoísta e particular. Minha mente voava longe, e acabei me vendo abaixada e procurando meu pontinho do prazer com meus próprios dedos, indo buscar meu orgasmo na companhia daquele pau delicioso que incessantemente me fazia mulher.

Mexendo e dedilhando meu grelinho durinho e inchado, a imagem de Henrique se formou inesperadamente como que por encanto. E, na minha fantasia de entrega e vingança, era para ele que eu dava naquele momento, próximo da hora do meu gozo. Geraldo era quem me comia a carne. Mas assim como ele não tivera escrúpulos em buscar os carinhos de Marta, era para Henrique que eu me molhava toda e daria o meu derradeiro gozo. E foi dessa forma que ele veio, intenso e pulsante, o meu primeiro orgasmo de fato com um homem, num prazer verdadeiro que toda mulher merece sempre ter na sua cama. Senti minha boceta expelindo e irradiando uma intensa energia por meu corpo todo, me arrepiando o corpo inteiro em ondas de calor indescritíveis. E tudo isso dedicado a ele, a Henrique, a quem minha alma sentia de fato que era quem me rasgava por dentro.

Quase ao mesmo tempo, os jorros de Geraldo me inundaram por dentro. E que para mim foram como os de todos os incontáveis homens com quem ele já compartilhara o corpo de Marta. Eu me sentia suja e usada, tornando-me uma vagabunda como ela, tendo os gozos de todos os seus clientes me sendo trazidos por tabela, misturados com o do meu marido. Todos aqueles pecados e luxurias cometidos sendo depositados dentro de mim pelo esperma de Geraldo, contaminando minha ilusória pureza e fidelidade. Fora um caminho sem volta, com ele tendo trazido a devassidão do mundo promíscuo daquela piranha para a nossa cama e antigo ninho de amor, destruindo para sempre dogmas e as últimas travas morais que ainda fingiam resistir dentro de mim.

Tudo foi de um grande estranhamento, mesmo com o fato daquele gozo ter sido extremamente libertador. Mesmo com a autoestima afetada, eu não me senti deprimida, mas sim relaxada e renascida. Enquanto nos recuperávamos do prazer atingido, nos abraçamos com afeto, trocando mais alguns beijos lascivos, ele me apertando a bunda e eu, audaciosamente, acariciando seu ventre e chegando a tocar com carinho, e pela primeira vez, seu pau melado e amolecendo, mexendo e brincando com a pele cobrindo e descobrindo a cabeça rombuda. Mais tranquilos, Geraldo então rompeu o silêncio me questionando:

- Você estava... diferente hoje, Helena... - e disse isso de forma tenra, sem insinuar nenhuma desconfiança.

- Sim? Você achou? Mas... foi bom?

- Ah... sim... foi bom sim... Foi ótimo! - e o sorriso no seu rosto, seguido de um novo beijo, confirmou o que pensava.

- Que bom que gostou! Talvez devêssemos comprar mais garrafas daquele vinho!

Dito isso, e me levantei sem dar maiores explicações, saindo nua e faceira em direção ao banheiro, forçando-lhe a apreciar meu rebolado num acentuado maior que meu andar natural. Lá chegando, sentei-me no vaso sanitário ainda sentindo o esperma dele quente dentro de mim. Não resistindo a um último momento de excitação, levei meus dedos novamente para minha boceta, indo buscar meu grelo e me tocando enquanto sentia o excesso da porra dele escorrendo e pingando de dentro de mim. Contendo-me para não gemer alto, tive mais um leve e último prazer relaxante, escutando apenas os sons de meus dedos melados se esfregando nos lábios da minha fendinha, antes de ir me banhar apropriadamente.

#Sexta-feira

O dia seguinte teve cenas de estranheza no café da manhã. Eu havia acordado com uma disposição e felicidade que há muito não sentia, solicita a todos e exalando bom humor. Geraldo, por sua vez, tinha um olhar meio bobo, como que estranhando e com cara de ponto de interrogação, sem ainda ter entendido o que ocorrera na noite anterior. Já as crianças nos lançavam olhares curiosos, em particular Soninha, que não conseguia parar de sorrir de forma contida, trocando olhares comigo a todo momento.

Despachados todos para o trabalho e para a escola, passei o restante da manhã numa ansiedade juvenil contando os minutos para a hora de partir ao encontro de Henrique e o nosso planejado almoço. Os efeitos da noite anterior ainda reverberavam na minha memória, mas já um tanto atenuados pela volta à realidade, separando a fantasia do meu mundo do dia a dia. De qualquer forma, isso não me impediu de me preparar apropriadamente para viver aquele momento diferente em minha rotina. Recorrendo ao novo estoque de roupas íntimas que havia comprado com Laura, escolhi um provocante e sexy conjunto de lingerie vermelha, escondida sob um vestido comportado, mas decotado o suficiente para causar interesse a meu acompanhante.

Obviamente nada acenava com a possibilidade de algum encontro romântico ou algo nessa linha. Contudo, mesmo que fosse apenas para massagear minha autoestima, eu fiz questão de curtir aquele momento e explorar mais aquele meu lado novo, de redescoberta de mim mesma como mulher e do poder de sedução e prazer que eu amortecera desde mais nova. Tratei de deixar minha mágoa ainda latente por Geraldo de lado, e na espera por o reconquistar quando conseguisse o fazer esquecer definitivamente de Marta. E, assim, segui de táxi para o centro da cidade, rumo ao hotel Jaraguá.

Cheguei antes do horário combinado, e, seguindo as orientações dos atendentes, consegui ainda entrar num auditório lotado na audiência e, do fundo, assistir o final da palestra de Henrique. Notei como ele era desenvolto sobre o palco, chamando a atenção e envolvendo a todos os presentes. Apesar de pouco entender do assunto abordado, era nítido como ele dominava o tema, chegando mesmo a brincar com algumas questões para depois voltar a se aprofundar em algum ponto. Foi com um misto de admiração e excitação que vivenciei aqueles últimos momentos, antes de um encerramento coroado com uma longa salva de palmas antes do convite para todos irem almoçar.

Pacientemente esperei um grupo enorme de outros advogados e clientes o cumprimentarem e tirarem mais algumas dúvidas antes de conseguir me aproximar dele. Ainda meio tímida ante a celebridade daquele momento, fui chegando perto até que ele me notasse, e, com um sorriso lindo, me acenasse para me juntar a ele. Trocamos um cumprimento, antes dele me falar:

- Helena, querida! Que bom que conseguiu vir. Chegou bem na hora para almoçarmos.

- Na verdade eu cheguei um pouco antes, e ainda consegui assistir um pouco de sua palestra. Parabéns, parece que causou uma boa impressão em todos.

- Ah sim, é um assunto de minha especialidade. Então tenho facilidade em expor o tema. Mas espero que não tenha sido entediante para vc.

- Imagina, pelo contrário. Fiquei até entusiasmada ao lhe ver no palco envolvendo/dominando a plateia daquele jeito... - nem bem terminei de falar e achei que tinha exagerado um pouco na bajulação, e naturalmente enrubesci baixando levemente o olhar.

Henrique sorriu e agradeceu os elogios, terminando de pegar o material utilizado em sua apresentação. Dali seguimos direto para o restaurante do hotel, de quando em quando parados para mais alguém cumprimentar Henrique pelo trabalho feito. Assim que adentramos o local, notei como era prazeroso e bem decorado, estando muito movimentado, mas não totalmente lotado. Henrique me explicou que muitos participantes de fora aproveitavam a estadia para conhecerem outros pontos da cidade. Mas que mesmo assim ele havia reservado nossa mesa para garantir que não tivéssemos problemas com nossos lugares. Fomos então conduzidos pelo garçom até uma mesa mais afastada, próxima de uma das janelas que tinha uma linda vista da Praça da República e dos arredores.

Acomodados, analisamos o cardápio e escutamos as sugestões do garçom, eu me decidindo por uma leve salada enquanto Henrique optou por um filé JK, famoso pela referência a nosso querido ex-presidente. Seguimos descontraídos, conversando diversos assuntos enquanto aguardávamos os pratos, seguindo com eles mesmo depois de sua chegada. Sem pressão por compromissos imediatos, podíamos estender o tempo juntos até as 3h00 da tarde, quando ocorreriam as últimas palestras e o fechamento do evento. Henrique era todo atencioso comigo, escutando e se interessando por minhas histórias, por mais tolas que pudessem ser. Era inegável um clima sedutor, nossos olhos a todo instante se medindo, as mãos próximas na pequena mesa que dividíamos.

Terminada a refeição, e pensando no real motivo de minha vinda ali, perguntei sobre meu processo e os papéis que precisava assinar. Henrique, então me surpreendeu, dizendo que os havia deixado no quarto do hotel, pois não queria correr risco de os misturar com o material da palestra.

- Você está hospedado aqui, Henrique?

- Sim, Helena. Como é um congresso longo e sempre temos muitas atividades extras, preferimos ficar junto com os clientes e assim aproveitarmos melhor o tempo.

- Ah, sim. Entendo… faz sentido. Mas como fazemos, então?

- Podemos ir até meu quarto, eu lhe explico os detalhes, e você assina tudo que preciso - e disse isso já se levantando da mesa e me estendendo a mão me convidando com um charmoso sorriso no rosto - Vamos?

Ainda surpresa com o inesperado convite, eu peguei em sua mão e aceitei sua ajuda para me levantar e vestir de volta meu sobretudo. A partir dali, simplesmente me deixei levar de mãos dadas com ele, calada, passiva e não opondo nenhuma resistência ou fazendo qualquer questionamento sobre aquela situação. Mesmo sabendo não ser o certo, mesmo entendendo as implicações do que, de alguma forma, podia estar sinalizando a ele ao concordar em ir ao seu quarto, eu consenti. Parecia que meu subconsciente, e não mais o racional, era que novamente me controlava; as emoções e meus anseios misturados entre desejo, renascimento, ruptura e justiça, todos atuando juntos para dar um chacoalhão na minha vida.

Pelo caminho entre salões e corredores do hotel, por vezes meu olhar se cruzava com o de Henrique. Tirando uma ou outra observação sem importância, aos poucos foi ficando claro que não eram mais com palavras que conversávamos. Minhas respostas a ele vinham com meus olhos assustados, mas brilhantes, assim como na minha respiração mais intensa realçada no arfar de meus peitos. Eu tentando esconder minha luta interna com o calor na pele que me queimava por dentro e começou a me derreter entre minhas pernas.

À medida em que entrávamos nas áreas mais reservadas do hotel, o ambiente ia ficando mais íntimo, algumas vezes eu vendo outros casais em movimentos semelhantes. E essa intimidade se tornou quase explicita, ao sairmos do elevador e seguirmos nosso caminho suspeito pelo corredor até seu quarto. Ali cruzamos com outro casal que saia de um quarto, voltando de sua incursão. O homem, um senhor de idade, grande e entroncado, ao lado de uma pequena e jovem garota, ela claramente com jeito de prostituta se insinuando, e não escondendo uma certa vulgaridade.

Vi quando o homem, com um jeito arrogante, envolveu e apalpou com sua grande mão a metade da bundinha dela, enquanto se voltavam para nós. Percebi o sorriso cúmplice trocado entre ele e Henrique, que se seguiu com o senhor me medindo de cima abaixo, atestando e aprovando o que via. Foi nesse momento que eu me senti outra vez como Marta, entendendo o mundo dela… e chegando mesmo a gostar da sensação, do medo e humilhação, mas ao mesmo tempo daquela sensação de tentação e pecado.

Caminhando mais um tanto pelo corredor, chegamos finalmente a seu quarto, com Henrique abrindo a porta e me conduzindo para dentro com sua mão em minha cintura. Ao entrar observei a organização de tudo, o material de trabalho sobre a mesa, as roupas cuidadosamente penduradas em cabides no armário; e até mesmo suas loções, perfumes e itens de higiene sobre o mármore da pia, vistos de passagem ao passar defronte da porta entreaberta do banheiro. Estremeci quando escutei a porta se fechando atrás de mim, me percebendo sozinha e fechada num quarto com outro homem que não meu marido.

- Deixe eu tirar seu sobretudo, Helena. Está quente aqui dentro! - escutei e aceitei calada, quando as mãos dele me ajudaram a me desvencilhar de mais uma das minhas proteções, eu ficando ainda mais indefesa naquela situação.

Quando me virei para ele, Henrique estava tranquilo e me indicava alguns dos papéis sobre a escrivaninha que precisavam da minha assinatura. Um tanto nervosa, me limitei a assinar tudo o mais rápido possível, fazendo-o sem nem mesmo me sentar. A seguir, enquanto ele guardava os documentos em sua pasta e me explicava algo que eu não escutava, me movi mais para perto da janela, observando sem ver a paisagem da cidade ao longe. Fazia isso sentindo a ebulição de meus hormônios que me provocavam uma confusão de sentimentos, não sabendo bem o que esperar e como me portar ali sozinha com ele. Dúvidas se confundindo com esperanças, e inseguranças com desejos.

Após breves instantes, notei que Henrique parara de falar comigo, sentindo um silêncio palpável naquele quarto, assim como o olhar dele sobre mim. Eu não tinha coragem de me virar para o encarar, fugindo de ter opções ou ter que decidir algo. E assim esperei, num torturante tempo numa postura passiva que acenava uma resposta a Henrique, e ao o que ele poderia ainda estar se perguntando se poderia fazer.

Então, o que eu menos queria e mais desejava aconteceu, sentindo aquele homem se aproximando de mim. Primeiro veio um toque sutil, experimentando o terreno com suas mãos em minha cintura, agora de uma forma mais intensa e controladora. Ante minha inação, ele me fez, a seguir, sentir seu corpo se tocando ao meu, seu rosto próximo do meu pescoço, seu volume entre as pernas se insinuando em meu traseiro. Fechei os olhos querendo acordar para entender que era tudo um sonho ou devaneio de minha parte. Mas ao abri-los novamente, vi que suas mãos ainda estavam lá, e que eu não fazia nada para as evitar. Apenas suspirei e estremeci, soltando o ar preso e sufocante de meus pulmões, esquecida de respirar que fiquei naquele últimos e infinitos segundos.

Suas mãos logo avançaram rápido, tanto de desejo como de receio de uma recusa de minha parte, que não viria tampouco. Uma delas veio acima, apalpando o que pode de um de meus seios, primeiro sobre o vestido e depois se insinuando por dentro do decote e do sutiã, em busca de um bico já duro e inchado. E, enquanto eu, ainda de costas para ele, procurava acariciar seus cabelos, com a outra mão ele avançava pela fenda de minha saia, indo encontrar o tecido molhado da minha pequena calcinha de renda, com seus dedos me provocando e tocando a fronte de minha boceta; num dedilhar que eu não conseguia impedir, mesmo fingindo me opor ao segurar sem força seu braço forte e decidido.

A boca dele procurou, então, meu pescoço e se insinuou puxando meu rosto para o beijo tão ansiado, e que se misturou às lembranças de meu ato imaginado com ele em minha cama, enquanto era possuída por Geraldo na noite anterior. Meu marido que, naquele momento, havia desaparecido por completo de minha mente, quando fechei novamente os olhos e não consegui mais resistir ao convite implícito de ceder a Henrique. Procurando, naquela atitude intempestiva, algo que apagasse finalmente o meu rancor e mágoa, ao mesmo tempo em que pudesse me libertar para uma nova fase de minha vida.

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Comentários

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É pouco estranho,uma mulher toda recatada aceitar um convite e ir a um quarto de hotel com um outro homem sem ser seu esposo,ainda mais nos anos 60,um tempo cheio de preconceito,mesmo que o esposo dela corneou ela,jamais uma mulher de boa índule faria isso.

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Obrigado pelo comentário, Fazedor de Cornos. O contexto da situação tem algumas atenuantes, como o fato do homem em questão ser seu advogado, e tudo acontecer de forma meio circunstancial. De qualquer forma, creio que vale a leitura do próximo capítulo, onde as coisas podem ficar mais claras. 😉

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Meu caro, sou fã de sua escrita, adoro contos longos, livros grossos desde que li Moby dick com 7 anos de idade. Leitura é meu passatempo favorito, sinto inveja de uma mente tão criativa como a sua, pois os seus textos tem de ler como se fosse degustar de um vinho de ótima safra. Parabéns

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Muito obrigado, J67. São incentivos assim que nos movem a continuar batalhando por criar histórias envolventes e que sejam também divertidas de se escrever.

Literatura é tudo de bom nessa vida, pois podemos entrar de cabeça na história, mas cada um com sua forma particular de ver e sentir cada cena e situação. Eu tenho uma visão personificada da Helena, por exemplo, que será diferentes da sua e de cada um dos leitores. E isso é fantástico e bem mais rico do que um filme ou série na TV (e não que não sejam também muito bons).

Espero que vc continue "degustando os vinhos que produzimos", e que eles lhe tragam boas experiências. Aliás, lançamos ontem o último dessa safra de 2024! Rsrsrs

Abs

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Espetacular!

A traição pode ter sido o gatilho mas o que levou Helena ao quarto de Henrique foi muito mais profundo. Ela voltou do baile deprimida, percebeu a intimidade física entre Henrique e sua esposa, algo que ela nunca teve com Geraldo. Não adianta amar a esposa, ser um bom pai e ótimo provedor, se o marido não entende que sua esposa é, antes de tudo, uma fêmea, as coisas desandam.

A ideia predominante nos anos 50 e 60 era que a mulher de família era imune as tentações da carne. Tudo se resumia no famoso ditado:

"Existem dois tipos de mulheres, a para casar e a para foder."

O conto mostra como tal premissa é absurda. Com a traição Helena escapou de uma vida medíocre, boa parte das mulheres de sua geração foram marcadas pela frustração sexual,

Traiu? Agiu de forma imoral?

Sim! Graças a Deus!!

A moral de uma época é reflexo dos valores que ela defende. Nesse sentido Helena quebrou a moral da época, não aceitou o papel de mãe/mulher submissa que aceita o marido buscar prazer fora de casa e a condena a um sexo protocolar. Contudo, nem sempre os valores de uma época são justos. Helena foi uma guerreira, merece cada orgasmo que conseguir arrancar da rola de Henrique!

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Valeu Himerus! Como sempre, uma leitura e análise perfeita do que estou tentando passar com essa série da Helena. Já havia dado o tom no conto “Os Matozzano”, mas ficou a sensação de missão incompleta e eu precisava “dar um destino” no relacionamento entre Helena e Geraldo, como a Ana_Escritora bem disse lá naquele primeiro conta, quase um ano atrás.

E é tudo isso que vc resumiu acima sim. Não sei a idade de todos, mas creio que muitos como eu tenham exemplos até dentro da própria família de como as coisas eram naqueles tempos e mesmo antes, onde o homem tinha todos os direitos e as “mulheres corretas” apenas obrigações perante os patriarcas.

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Baita conto... que primor de escrita...

Quanto a Helena... ela pode ter sido rápida, mas ela não está errada...

O marido vacilou, a situação chegou a esse ponto pela permissividade dele...

A falta de diálogo ocorreu é claro... mas na boa, o marido tem que puxar isso... ele é o líder e provedor

Ela pode se arrepender disso, com certeza, contudo, as vezes melhor acordar arrependida do que dormir com vontade...

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Muito obrigado, Dany/Joana!

Adorei esse último comentário, de melhor acordar arrependida do que dormir com vontade. É mais ou menos como, “se um cavalo passar selado na sua frente, monta que pode não aparecer outro!”! Rsrsrs

Concordo com você, mas apenas adiciono a questão do perfil de Geraldo, um homem “de princípios” (dos anos 50,60) que preserva a esposa longe dos “pecados da carne”, o que leva a esse relacionamento frio e sem vida de ambos na cama, apesar de todo o carinho e atenção. Equação difícil, quando nela somamos o caráter até então passivo e reprimido de Helena.

Mas as coisas estão mudando, não é? 😉

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O falso conservadorismo... falam de família e tem amantes...

Tu sabe que muitas vezes o que estraga um casamento é justamente isso que tu pontuou, deixar a mulher em segundo plano e impor uma "agenda" familiar...

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muito bom, muito excitante.

Ela realmente esta e libertando, mas acho que fazendo muito rapidamente, tomara que não se arrependa ou que isso traga muitos problemas para ela.

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Obrigado, Neto! É sempre um incentivo ler seus comentários!

Tentando entender “minha cria”, acho que a Helena está meio sendo levada pelos acontecimentos. Ela despertou, mas no meio de um furacão de coisas que vão desde o autoconhecimento do prazer até a sedução de Henrique, passando pela decepção com o marido. Não é nada fácil conseguir olhar de fora e manter algum equilíbrio, por mais ponderada que ela seja.

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E Helena mostrando como é que se faz... errada ela não está está. Chifre trocado não dói. E que belo chá ela deu no marido.

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Verdade, Matrisse. Depois de uma tremenda humilhação, a reação dela é mais do que compreensível. Só complemento o que você observou de “chifre trocado não dói” com outra para essa situação dela: “o que os olhos não veem, o coração não sente!”

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Eu pensei que, apesar de toda mágoa e raiva que ela tivesse sentindo do Geraldo, a Helena iria resistir ao Henrique e sair correndo do quarto hahahahahaha.

Como bem disse a Laura: Falta de diálogo. E essa falta resultou no que lemos neste capítulo.

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Diálogo é tudo para um casal, que vive sempre numa gangorra entre uma relação estável e uma mais erótica e sexual. Naqueles tempos as mulheres não tinham opção, mas o mundo foi mudando e Helena estava justamente no meio dessa transição tanto da sociedade como de autocompreensão. A pergunta que fica é até onde ela está disposta a arriscar, não é?

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Muito bom, venha o próximo conto

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Obrigado, JD97. O próximo capítulo está já indo para o forno, faltando uma revisão final para não deixar nenhuma ponta solta na história.

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