Bernardo [77] ~ Meus sogros

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 1912 palavras
Data: 06/12/2023 17:16:04
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

Foi uma situação extremamente desconfortável. Por mais que a mãe de Rafael sorrisse para mim, tinha algo de estranho naquele sorriso. Sim, era falso, mas ela não estava fingindo para mim e sim para Rafael. Ela parecia querer deixar bem claro para mim que ela não estava feliz com nosso namoro.

_Mãe, esse é o Bernardo._ falou Rafael.

_Eu sei, meu filho. Ele já veio aqui, lembra?_ ela respondeu sem tirar os olhos de mim.

_Mas é a primeira vez que ele vem como meu namorado.

Ela arqueou as sobrancelhas ao ouvir aquilo. Não que ela esperasse outra coisa depois de nos ver de mãos dadas.

_E suponho que isso nada tenha a ver com você terminar seu namoro com a Carol?_ ela perguntou irônica.

Rafael abaixou a cabeça envergonhado. Meu primeiro impulso foi defendê-lo, mas eu me contive. Era a mãe dele e eu precisava causar uma boa primeira impressão, por mais que eu acreditasse que esse momento já tivesse passado.

_De qualquer jeito, prazer, Bernardo._ falei me adiantando e lhe estendendo a mão.

Ela me deu um comprimento leve, quase que nem tocando a minha mão, embora ainda sorrisse para mim.

_Joana.

Rafael voltou a levantar a cabeça e ficou encarando a mãe, que completou:

_Você fica para jantar, Bernardo?

_Sim, ele vai!_ respondeu rapidamente Rafael.

Eu não queria. Ia dar qualquer desculpa e ir embora. O clima ali não era o mais amistoso possível, e eu interpretava isso como um choque da parte dela por ter sido pega de surpresa. Mas não era, ela realmente tinha algo contra mim.

_Ótimo!_ ela respondeu _Daqui a pouco eu chamo vocês.

Ela se virou para dentro da geladeira novamente e eu podia jurar que seu corpo estava todo travado. Antes que pudesse tirar qualquer conclusão mais profunda, Rafael já estava me puxando de volta para o seu quarto.

_Cinquenta por cento da tarefa concluída._ comentou rindo _Agora só falta meu pai.

_É..._ respondi ainda desconcertado.

Eu disfarçava muito mal o que sentia para Rafael. Eu me entregava com um olhar.

_O que foi?

_Nada, Rafa. Bobeira minha.

_Não, estava tudo bem. Você ficou assim depois de encontrar com minha mãe. O que aconteceu?_ perguntou sério.

_Não sei..._ me sentei em sua cama _Sei lá, parece que ela não gostou de mim.

_Que bobagem! Você já encontrou com ela antes.

_Nunca como namorados.

_Minha mãe está tranquila quanto à minha sexualidade.

_Eu sei, eu sei... Não acho que seja isso.

_Então?

_Acho que o problema é comigo.

Rafael riu e me deu um selinho, como se dissesse “que bobeira, amor“

É sério._ falei.

_Por que ela não gostaria de você?

_Sei lá. Você namorava Carolina, uma menina linda e gente boa que ia dar muitos netos a ela, e agora...

_Não tem nada a ver, amor. Minha mãe não é dessas. Até porque minha irmã e meu cunhado já estão encomendando o primeiro neto.

_Tá. Eu não sei o motivo, mas senti que ela não gosta de mim.

_Não tem porque ela não gostar de você..._ ele respondeu, mas foi perdendo a voz.

Rafael ficou fitando o vazio pensativo.

_O que foi, Rafa?

Ele abriu a boca pra respondeu algo, mas pareceu não saber como começar a falar. Felizmente, eu já sabia interpretar Rafael muito bem.

_Por que sua mãe não gosta de mim?_ perguntei sério.

Ele coçou a cabeça, sem jeito. Ele caminhou lentamente até a cama e se sentou ao meu lado.

_Lembra que eu te falei que contei pros meus pais sobre você só depois que a gente terminou?

_Sim.

_Então, não te dei os detalhes, dei?_ perguntou tentando soar brincalhão para descontrair.

_O que aconteceu, Rafael?_ perguntei ainda mais sério.

Ele deu um longo suspiro e começou.

_Lembra da noite que terminamos? Na festa dos seus pais?_ fiz que sim com a cabeça e ele continuou _Então, vim pra casa a pé.

_Mas estava caindo uma tempestade naquele dia.

_Sim... Então, imagina a cena: eu entro em casa e meus pais me veem molhado até os ossos, com olhos vermelhos e uma expressão de quem parecia ter acabado de enterrar seu animal de estimação.

_E..._ falei pedindo para ele continuar, mesmo sabendo para onde aquilo caminharia.

_E eu contei tudo._ falou meio envergonhado _Eu estava mal, magoado com você. Então, eu posso ter te pintado meio que como o vilão da história...

_Rafael!

Me levantei bruscamente da cama e fiquei dando voltas no quarto com as mãos no rosto. É lógico que ela não gostava de mim! Eu fiz o filho dela sofrer por meses enquanto namorávamos!

_Desculpa, desculpa, desculpa._ ele pediu me abraçando por trás.

Relaxei e aceitei o abraço. Não tinha pelo que desculpá-lo.

_Você não fez nada de errado, amor._ falei com a voz cansada _Eu meio que fui o vilão da história enquanto namorávamos. Não faz sentido estar numa relação se não for pra crescer como indivíduo, e ao meu lado, você só regrediu.

_Não é bem assim, Bernardo...

_É assim, sim, Rafa. Eu fui um péssimo namorado._ eu me virei ficando de frente para ele, a ponto de me ver refletido em seus olhos _Você me perdoa por ter sido um péssimo namorado?

_Não tem o que perdoar, amor. Sim, você tinha atitudes que me deixavam mal, mas eu escolhi ficar mesmo assim. Eu te amava, mas em nenhum minuto deixei de me amar a ponto de alimentar uma relação doentia. Tanto é que quando cheguei ao meu limite, terminei com você, não fiquei dando murro em ponta de faca.

Ele me apertou ainda mais em seu abraço e encostou sua testa na minha.

_Você me perdoa por ter terminado com você?_ ele perguntou _Por não ter permanecido ao seu lado? Por não ter segurado sua mão?

Eu lhe dei um demorado selinho.

_Não tem mais o que ser perdoado aqui. Não é uma retomada do nosso namoro, é um novo começo. Se aprendemos com nossos erros, não há porque pedirmos perdão por eles.

Rafael sorriu e me beijou carinhosamente. Só nos separamos ao ouvir a porta do apartamento se abrir novamente. Seu pai havia chegado. Dei um longo suspiro.

_Eu vou falar com eles, amor. Eles vão entender._ falou Rafael ao ver minha expressão de desânimo.

_Tudo bem, Rafa. Acho que isso não vai ter que partir de você, mas sim de mim. Eu vou ter que provar para eles que não vou te magoar. E não vou conseguir fazer isso num jantar, vai ser com nossa convivência. Até lá, faz parte engolir uns sapos._ falei tentando parecer confiante.

Ele fez um cara de culpado.

_Eu passo muito pior com minha mãe diariamente, amor._ falei _Seus pais são fichinha.

Ele riu sem graça, mas não tentou rebater.

_Vamos lá conhecer seu pai?_ falei.

Ele pegou minha mão e me guiou até a sala. Os pais de Rafael cochichavam bem baixo, e pararam quando nos viram. Sem sombras de dúvidas, eu era o assunto. O pai de Rafael fingiu melhor que estava feliz em me ter como genro. Veio me oferecer a mão com um sorriso diplomático no rosto.

_Você deve ser o Bernardo. Eu sou Edgar.

_Prazer.

Edgar era um tanto baixo e acima do peso, apesar de não ser exageradamente. Contrastava com a esposa, que era bem magra. Rafael era uma mistura dos traços dos dois. Diferente de meu pai, meu sogro parecia ser um daqueles senhores muito simpáticos, do tipo que fazem um churrasco reunindo a família e os amigos todo fim de semana.

_Sente-se, por favor._ falou me apontando o sofá.

Eu estava nervoso com a situação, mas atendi seu pedido e sentei no sofá. Rafael se sentou ao meu lado, mas não segurava mais minha mão. Seu pai se sentou de frente para mim. A mãe de Rafael voltou sua atenção para a preparação do jantar.

_Então você é o famoso Bernardo..._ ele falou me encarando.

_Espero que seja uma fama boa._ respondi e ele riu.

A risada dele indicava mais que minha fama não era boa, do que ele tinha achado graça do meu comentário.

_Rafael comentou por alto que você estava em Paris.

_Sim, passei um ano lá no intercâmbio. Voltei a um mês.

_E já estão namorando de novo? Não conseguiram se separar?

Ele falava tudo num tom de brincadeira e eu ria. Mas havia indiretas ali. Eu tentava não deixar a bola cair. Rafael não dizia nada, apenas nos observava. Decidi usar aquela conversa para tentar abrir os olhos deles de que eu não era o mesmo que machucara Rafael no passado.

_Na verdade, minha viagem foi uma promessa que fiz pro Rafael.

_É mesmo?

_Sim. Eu fui com a intenção de me entender melhor, de aprender a gostar de mim mesmo. Só assim eu conseguiria ser o namorado que ele merece._ completei alisando a mão de Rafael.

Rafael sorriu tímido para mim. Não olhei de imediato para meu sogro, nem pra minha sogra que disfarçava (mal) que estava prestando atenção só na comida. Eu não sei como tive coragem de falar aquilo. Eu estava muito nervoso de conhecer os pais do meu namorado, então evitaria aquele tipo de situação, com demonstrações claras de carinho. Mas eu me vi impulsionado a fazer aquilo. Eu precisava mostrar a eles que eu havia mudado.

_E conseguiu?

_É uma jornada sem fim. Mas eu acredito já ter evoluído o bastante.

_Evoluiu muito. Agora é o Bernardo que virou a cabeça do namoro._ falou Rafael.

_Como assim?

_É uma situação nova pra mim, pai._ Rafael respondeu _Por mais que eu tenha sempre idealizado, nunca realmente cheguei a namorar outro homem. Assumir, andar de mão dada, ser visto como casal. Bernardo já. Ele está sendo minha rocha nesses dias.

Eu percebi que Rafael tinha uma relação muito aberta com os pais. Por mais que meu pai já soubesse de mim, eu ficaria muito envergonhado de falar com ele abertamente do meu namoro daquela maneira.

_O que aconteceu?

Edgar mudou o tom de simpático-irônico para preocupado. Rafael abaixou a cabeça relembrando o dia que tivemos.

_A gente assumiu nosso relacionamento para a turma, e o pessoal que andava com Rafael se afastou dele._ respondi.

O resto do jantar foi sobre conversas sobre aquele tema. Seus pais ouviam e lhe davam conselhos. Eu dava uma ou outra opinião, mas procurava concentrar minha atenção no meu prato de comida. Constatei que eles tinham uma relação bem aberta, conversavam sobre tudo. Foi impossível não sentir uma pontinha de inveja. Quem sabe um dia eu não faria parte daquela família? Eu respondi mais algumas perguntas vagas sobre Paris e sobre a minha família, mas não quis dar muito detalhes. Não queria parecer desesperado pela aprovação deles. Eu tinha que fazê-los se acostumarem aos poucos com a ideia de que eu e Rafael estávamos juntos para valer.

Ainda era uma segunda-feira, mas eu já estava cansado como se estivesse no fim do semestre. Era a realidade caindo sobre a minha cabeça. Era muita coisa para se equilibrar no meu jogo de malabares. Tinha nossos colegas, minha família, a família de Rafael. Tinha Ricardo, que não tinha mais me dado notícias e deixava meu coração apertado. Procurei descansar o máximo possível, pois todos os meus problemas estariam de volta no dia seguinte. Todos eles se tratavam de longas lutas que travaria nos próximos meses.

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Equilíbrio. Essa é a leitura que tenho sobre a família de Rafael. Pais sensatos, equilibrados, amorosos, responsáveis e com cuidado pra não interferir na liberdade do filho em tomar suas próprias decisões sobre temas e fatos relevantes de sua vida.

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