Bernardo [72] ~ E a noite dos corações partidos

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2378 palavras
Data: 06/12/2023 14:14:41
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

A noite do aniversário de Pedro seria conhecida mais tarde como a noite dos corações partidos. Quando eu digo “conhecida”, leia-se “nomeada por Alice e Pedro”. Seria naquela noite que a minha relação com Rafael presenciaria seu grande ponto de inflexão. E as vítimas seriam Ricardo e Carolina.

O ar estava tenso. Ninguém ousava falar nada. Ricardo, apesar de eu ter pedido para ele evitar, estava sim provocando Rafael. Sua mão permanecia erguida no ar, embora Rafael não mostrasse o mínimo interesse em retribuir o cumprimento. Rafael simplesmente não tinha o sangue frio necessário para tanto. Carolina estava constrangida. Pela minha foto do Orkut, ela devia saber o que Ricardo significava, e devia estar sendo atingida pela reação de Rafael.

Rafael só olhava para mim. Seus olhos me queimavam. Embora eu não tivesse feito nada de errado, eu sentia culpa por estar ali com Ricardo. Não era difícil imaginar o que Rafael estava pensando, eu acho que pensaria o mesmo se estivesse no seu lugar. Para ele era uma traição. Eu traí ele com Ricardo. Nada mais longe da realidade, mas eu entendia seu pensamento e me culpava por ele. Me culpava por fazer ele se sentir o lixo que devia estar se sentindo.

Antes que alguém pudesse falar qualquer coisa, o portão se abriu e de lá saiu Pedro já um pouquinho alto.

_Casal! Vocês demoraram!_ ele abriu os braços quando viu Ricardo e eu.

Ele não poderia ter escolhido piores palavras. Só então ele viu Rafael e Carolina parados ali perto. Ele viu o tamanho da burrada e quase ficou sem palavras.

_Carol! Rafael! Vocês vieram!_ falou tentando fingir a mesma empolgação.

Rafael saiu arrastando Carolina pela mão para dentro da festa. Quando passou por Pedro, se limitou a lhe dar um tapinha nas costas e dar um “parabéns, cara” apressado. Pedro continuou muito constrangido.

_Desculpa, cara. Eu juro que não vi eles ali._ ele falou para mim.

_Não foi sua culpa, não tem do que se desculpar. Está tranquilo.

_Como ficam as coisas agora?

_Não sei. Posso conversar a sós com o Ricardo por um instante? Já entramos.

_Claro._ falou entrando de volta na festa, mas deixando o portão.

Ricardo me olhava com um sorriso sem graça.

_Ele é bonito, sem dúvidas...

_Ricardo...

_Desculpa, eu não devia ter falado nada com ele.

_Te conheço o suficiente pra saber que você sabia o que está fazendo. Mas tudo bem. Você deve ser a pessoa que está menos errada nesta história.

Ele não me respondeu, permaneceu me olhando em silêncio.

_Quer ir embora?_ ele perguntou.

_Não..._ falei suspirando _Só vai piorar as coisas. Sem contar que Pedro nunca me perdoaria. Vamos entrar. Seja o que Deus quiser.

E lá fomos nós festa a dentro. Estava tudo já muito animado. Eu conhecia boa parte das pessoas, já que tinha muita gente da faculdade. Ricardo ia andando ao meu lado, mas eu tomava o cuidado de não andar colado nele. Era uma coisa idiota, eu sei. Eu não devia nada a ninguém ali. A quem eu devia alguma satisfação, já sabia. Acho que nem era medo de preconceito, mas medo de Rafael ver. Eu tinha medo dele achar que eu tinha voltado com Ricardo e desistir de mim de vez. O que eu não percebi naquele momento, é que Ricardo notou tudo, e isso o machucou

_Que história é essa de que vocês chegaram juntos com o Rafael?_ Alice já chegou pelas nossas costas atrás de fofoca.

_Não chegamos juntos, aconteceu dele ver a gente juntos.

_E...?

_E... Nada. Ele não disse nada. Entrou e não o vi até agora.

_Tá ali com cara de poucos amigos._ falou apontando com a cabeça.

Olhei na direção que ela apontou. Carolina conversava com o pessoal da rodinha em que eles estavam, mas Rafael nos encarava bebendo.

_Isso vai acabar mal..._ comentei antes de desviar o olhar.

_Quem sabe assim ele não toma uma atitude?_ falou Ricardo.

Eu e Alice olhamos para ele curiosos com aquele tipo de comentário.

_Quem sabe ele não sai do caminho de vez?_ ele completou com um sorriso maldoso.

_Ricardo..._ falei pedindo cautela enquanto Alice ria.

_O que foi?_ ele perguntou se fazendo de inocente _O juiz não apitou o final da partida ainda. Todo resultado é possível.

Alice arrastou Ricardo para apresentá-lo a não sei quem. Eu fui pegar uma bebida e Pedro logo apareceu.

_Complicado..._ falou meio sério, meio rindo.

_Você falou com Ricardo para insistir comigo?_ perguntei sem olhá-lo.

A cara de sem jeito que ele fez deixou bem claro que ele tinha culpa no cartório.

_Pedro, Pedro, Pedro..._ balancei a cabeça em reprovação.

_Desculpa. Eu só queria ajudar.

_Ajudar como? Enchendo o Ricardo de esperanças?

_Mas eu vejo vocês dois juntos, funciona muito mais do que com Rafael.

_E daí que funciona mais?! As coisas não são assim!

_Mas...

_Você acha que não sei!_ minha voz ia se erguer, mas tratei de baixar o tom e sussurrar para ele _Você acha que não sei como é com Ricardo? Eu não sou cego!

_Então!

_Eu amo Rafael mais! Eu não escolhi isso. Se eu pudesse, é lógico que eu teria escolhido Ricardo.

Ele me olhou penalizado. Eu sei que ele queria me ajudar, que as intenções eram as melhores possíveis, mas aquilo ia machucar Ricardo. Eu não era capaz de realizar suas expectativas.

_Desculpa..._ ele pediu novamente.

_Tá. Agora já foi. Vou ver o que eu faço.

Procurei Ricardo pela festa e o encontrei em uma roda de conversa com Alice. Ele falava e as pessoas em volta riam. Eu sorri mesmo sem saber o teor da conversa. Ricardo tinha esse poder, ele conquistava as pessoas. Fui chegando perto e descobri que o assunto era eu.

_Ah, Bernardo, ainda bem que você chegou_ falou me puxando para perto dele _Conta da vez que você tava bêbado e cismou de pular no rio Sena.

_Essas coisas não se contam, Ricardo!_ falei fingindo raiva e todos riram.

Ricardo teimava em contar mil histórias sobre a nossa estadia em Paris, sempre evitando falar sobre nossa relação. Talvez as pessoas soubessem, afinal tinham visto a nossa foto junto no perfil do Orkut, mas não pareceram se importar.

Eu até teria relaxado, se não fosse os olhos de Rafael fixos em nós. E ele continuava bebendo, o que eu previa que ia dar em merda. Pelo canto do olho, vi que Carol começou a brigar com ele, mas ele pareceu não dar importância. Decidi que eu o melhor a se fazer era deixar passar, se fosse conversar com ele, ia dar confusão. Mas ele não parecia compartilhar da minha ideia. Foi só eu ir ao banheiro. Assim que saí, fui brutalmente puxado pelo braço para dentro de um quarto.

_O que você está fazendo?_ perguntei assustado.

Rafael estava com o rosto a poucos centímetros do meu. Seu hálito denunciava que ele tinha bebido bem mais do que devia, mas seus olhos marejados me comoveram.

_O que você está fazendo com ele?_ ele perguntou com a voz embargada.

_Rafa..._ falei tentando afastá-lo, sem sucesso.

Estávamos no escritório da casa de Pedro, as pessoas não podiam nos ver, mas a porta estava aberta. Eu fiquei receoso do que as pessoas poderiam falar por aí ao nos ver tão próximos daquele jeito. Não por causa da minha sexualidade, mas por ele ainda namorar. Eu não queria ser “aquele” tipo de cara.

_Você desistiu de mim?_ ele perguntou já chorando.

Foi a minha vez de começar a derramar lágrimas. Eu não resisti e o abracei. Ele deixou a cabeça cair em cima do meu ombro e me apertou entre seus braços.

_Não, eu não desisti de você, Rafa..._ falei enquanto acariciava seus cabelos _Ricardo veio como meu amigo. Eu nunca vou desistir de você...

Ele chorava baixinho no meu ombro. Meu peito se aquecia com o calor do seu corpo tão próximo do meu. Eu nem pensei que alguém poderia nos pegar naquela situação.

_Desculpa..._ ele falava entre pequenos soluços _Eu sou um covarde. Eu estou perdendo você...

Eu não disse nada. Eu queria apenas aproveitar o calor do seu corpo, a oportunidade de acariciá-lo.

_Eu não posso nem pedir para você esperar por mim, porque eu não esperei por você um dia... Deixei você cair na escuridão sozinho... Eu nunca vou me perdoar... Eu não sei o que faria se você tivesse...

O apertei ainda mais forte no meu abraço para que ele não terminasse a frase. Todo aquele tempo, Rafa reagiu com raiva à minha tentativa de suicídio, mas era só um disfarce. Com ajuda do álcool, ele revelou que era apenas medo, medo de me perder. Não que algum dia eu tivesse duvidado.

_Nossa história não teria graça se não fosse nossos desencontros..._ falei sorrindo para ele.

Ele levantou a cabeça e sorriu para mim também. E como eu amava vê-lo sorrindo para mim daquele jeito tão sincero e amoroso. Eu o amava e pronto.

_Me desculpe se alguma vez fiz você duvidar..._ ele falou me encarando como se repentinamente sóbrio _Eu te amo. Você e mais ninguém. É só você que eu quero.

Eu queria dizer que fui forte e resisti ao seu beijo. Mas não fui. Eu cedi. Quanto eu desejava aqueles lábios. Quando fora a última vez? Quando terminamos nosso namoro? Quase dois anos... Mas o sabor daqueles lábios era o mesmo. Aliás, era melhor, porque tinha o gosto da saudade assassinada. Tinha urgência e tinha calma. Tinha amor e desejo. Tinha desespero e tinha a eternidade naquele beijo.

Eu estava em transe, só me separei dele ao pensar ver uma sombra perto de nós. Abri os olhos rapidamente e não havia ninguém. Rafael me olhava sorrindo.

_Rafa, a gente não devia...

_Eu vou terminar com ela. Nada mais importa. Que o mundo caía então! Já perdemos tempo demais!

Ele falou aquilo sorrindo e saiu correndo do quarto. Fiquei feliz por um mísero segundo, pois logo após eu me lembrei do seu estado etílico e temi que ele fizesse algo errado. Mas era tarde demais. Quando saí daquele quarto para ir atrás dele, me deparei com Ricardo sentado no sofá tampando o rosto com as mãos.

Senti minha garganta queimar. Eu não precisava ver rosto para ver a sua dor. Eu o tinha machucado. De novo. Todo o meu corpo parecia doer, como se me punissem pelo meu crime.

_Ricardo..._ falei choramingando e chegando perto dele.

Ele levantou a cabeça. Seus olhos estavam molhados, mas ele sorria. Era um sorriso triste e fraco, mas era um sorriso.

_Você não fez nada, Bernardo. Ele também não. Eu teria feito a mesma coisa. Mentira. Teria feito antes.

Ele se levantou e acariciou meus cabelos.

_Eu vim sabendo no que estava me metendo. Você foi muito claro comigo. Eu me iludi porque sou assim mesmo, fazer o que?

_Se eu pudesse...

_Você teria me escolhido? Você já me disse isso antes, e eu acredito. Infelizmente, não podemos mudar o que sentimos. Você o ama, eu entendo e aceito, mesmo que doa._ ele deu um longo suspiro _Mas dói. E é uma idiotice sem tamanho continuar me machucando assim. Eu acho que preciso de um tempo de você, Bernardo. Eu preciso me afastar para poder respirar. Eu preciso não ver ou falar com você para dar a chance de outra pessoa aparecer.

Não ver Ricardo? Não falar com ele? Como? Ele já era uma parte de mim. Por mim, ele estaria sempre por perto. Mas eu não podia pedir isso a ele. Era injusto, era cruel.

_Quem sou eu pra te pedir pra ficar?_ falei com a voz embargada.

_Adeus, Bernardo._ ele falou me dando um beijo no rosto _Se despede do Pedro e da Alice por mim.

_Eu te levo pro hotel.

_Não precisa.

Ele foi caminhando para fora da casa de Pedro e eu fui atrás. Eu insistindo para levá-lo de carro e ele recusando.

_Tem um ponto de táxi ali embaixo, Bernardo._ ele falou quando chegamos na rua.

_É o mínimo que eu posso fazer, Ricardo.

Antes que ele pudesse responder, escutamos um burburinho vindo de dentro da casa. Certo, era uma festa grande e tinha muito burburinho, mas tinha uma voz que se destacava: Rafael. Aos poucos, todos foram se calando para ouvir o que ele falava e eu pude ouvir claramente suas palavras.

_Não dá mais, Alice! Eu não posso fazer isso mais. Eu amo ele!

Meus olhos se arregalaram. O que Rafael estava fazendo?! Ele resolveu terminar com Carolina e se declarar para mim na frente de todo mundo?

Ricardo sorriu triste.

_Você vai ter uma longa noite pela frente, boa sorte._ ele colocou a mão nos bolsos e caminhou em direção ao ponto de táxi _Adeus, Bernardo. Eu te ligo um dia...

E foi embora. Eu não sei se deveria tê-lo impedido. Eu não sabia bem como reagir. Tudo acontecia muito rapidamente.

_EU AMO O BERNARDO!_ gritou Rafael eufórico.

Cobri meu rosto com as mãos e me deixei cair encostado no portão de Pedro. Ali, do lado de fora, ninguém podia me ver, mas era como se pudessem, tamanho era a vergonha que eu sentia.

Alguém passou por mim rapidamente, saindo quase correndo da festa. Levantei a cabeça: Carolina. Ela chorava e eu tive muito pena dela. Ela me olhou e vi raiva nos seus olhos. Mas acho que quando ela viu no meu rosto a dor e a vergonha, talvez ela tivesse visto que eu nunca quis que aquilo terminasse daquele jeito. O olhar dela transformou-se em conformação, mas ela não me disse nada. Apenas caminhou mais calmamente até seu carro, ainda que não tivesse parado de chorar.

Lá iam embora dois corações partidos. Partidos por mim e Rafael. Era o preço do nosso amor. Para que ficássemos juntos, alguém tinha sempre que estar triste: Eric, Carolina, Ricardo... Eu e Rafael... Será que tinha que ser sempre assim? Era nosso destino? Nunca teríamos paz?

Talvez um dia tivéssemos a tão sonhada paz, mas ela tardaria. Ao ouvir os gritos apaixonados de Rafael do lado de dentro da casa, eu tive certeza que eu não teria paz por muito tempo...

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Comentários

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Você domina a arte do romance. Aqui, num sitio de contos eróticos, você escreve uma história de vidas. Com amor, sexo, desencontro, sofrimento, prazer, dor, gozo, tristeza, aprendizado, alegria, redenção, culpa... tudo junto e misturado, tudo ao mesmo tempo agora, como a vida é!

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Você foi perfeito no seu comentário. Por isso esse conto tem mexido tanto comigo. É uma tradução da vida (de vidas).

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Hahaha! Essa história não eh escrita por mim!

Eu estou repostando da antiga comunidade do Orkut! Todas as história que eu posto são de lá! Pq na época me ajudou mto! Daí esse mês tive a ideia de postar as minhas favoritas pq assim como me ajudou podia ajudar outras pessoas! E essa eh tá em segundo lugar no meu top 3 qdo eu postar a top1 vc vai se encantar ^^

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Quer nos matar de emoção, né seu safado?

Te amo cara! Obrigado por compartilhar!

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Não sei se fico triste ou feliz com esse capitulo, queria no inicio o Bernado com o Rafael, mas agora preferia ele com o Ricardo, ele foi uma pessoa que cativou e merecia ser feliz com o Bernado.

Não que a felicidade esteja com alguem, mas mereciam os dois a ficarem juntos, um grande plost seria isso, no final ele reencontrando o Ricardo e ficando juntos, seria tudo na minha vida mas já sei que não vai rolar pelo final desse capitulo kk, ansioso pelo proximo.

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É tão complicado. Eu já pensei também que Bernardo combina mais com Ricardo. Seja qual for o desfecho, a escolha trará ganhos e perdas. Como a vida pede.

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Não aguento mais chorar com esse conto. Estou mexido mesmo. Sofrendo por Ricardo, por Carol e feliz por Bernardo e Rafael. É um misto muito louco de sentimentos, emoções. São vidas! Decisões que mexem e orientam vidas.

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