Bernardo [28] ~ Explicações

Um conto erótico de Bernardo
Categoria: Gay
Contém 2241 palavras
Data: 03/12/2023 18:02:46
Assuntos: Gay, Início, Sexo, Traição

E foi assim que começou o que eu chamaria depois de “noite das grandes surpresas”.

A primeira surpresa foi a da minha irmã caçula ao encontrar um rapaz nu no meu quarto. A cena era a seguinte: eu nu, enrolado no lençol sentado na cama sem reação; Rafael nu e com o pau completamente duro, igualmente sem reação; e minha irmã caçula, que olhava de um para outros. Foram alguns segundos sem falar nada, sem ninguém conseguir tomar nenhuma atitude, mas pareceu que foram horas.

Primeiro, deixa eu falar um pouco sobre a minha irmã. Laura era a caçula da família. Mesmo sendo gêmea de Caio, ela foi a última a ser retirada da barriga da minha mãe. Eles nasceram prematuros, então passaram por alguns problemas de saúde quando eram mais novos. Eu não me lembro muito bem da época, mas me lembro deles crescendo com todos à nossa volta mostrando uma preocupação excessiva com eles. Não se trata de mimar, a família toda sentiu ao ver dois bebês minúsculos lutando pra sobreviver logo nos seus primeiros dias. Assim, eles foram criados numa espécie bolha, diferentemente de mim e do meu irmão mais velho. Digo isso, porque é essencial para se explicar a personalidade dos dois, principalmente a de Laura.

Ela é a princesa da família e se comportava como tal. Na bolha que ela foi criada, o mundo lá fora não conseguia atingi-la, pois ela nunca entrava em contato com ele. Enquanto eu e meu irmão mais velho já andávamos sozinhos pela cidade, Laura sempre contou com um de nós como seu motorista particular. Enquanto já nos reuníamos com nossos amigos em shoppings e praças, Laura sempre teve liberdade para trazer suas amigas para dentro de casa, tornando o local um inferno às vezes. Tinha sempre alguém por perto para fazer as suas vontades, enquanto nós sempre tivemos que correr atrás, até certo ponto, do que queríamos. Ter notas altas o suficiente para justificar um videogame novo, por exemplo.

Laura era uma patricinha? Sim, mas foi porque nunca deram outra opção a ela que não fosse a alienação. Não era culpa dela. Ela não sabia que tinha algo de errado com seu jeito de ser e agir.

Arrisco-me a dizer que ao me ver nu junto com Rafael, eu estourei a bolha de Laura.

_Laura?! Você só devia chegar às seis da tarde!

_E você não devia estar pelado com outro cara no seu quarto!

Ambos falamos com voz de desespero. Rafael se deu conta que estava nu, pegou sua roupa no chão e correu para o banheiro. Laura ainda estava atônita. Me enrolei ainda mais no lençol, embora ela não pudesse me ver.

_Bernardo, você é...

Senti meu estômago cair de um precipício. Vi minha vida inteira passar diante dos meus olhos. Senti que aquele era o derradeiro momento, minha família inteira descobriria sobre minha homossexualidade e eu nunca mais seria o mesmo aos olhos deles.

_Você é gay!

Ela falou mais para ela mesma do que para mim. Era como se fosse uma grande revelação para ela mesma, como se a última peça do quebra-cabeça finalmente se encaixasse.

_É lógico que você gay! Meu Deus! Tudo faz tanto sentido agora.

_Laura, olha..._ tentei me explicar sei saber muito o que dizer.

Negar? Confirmar? Implorar por confidencialidade?

Antes que eu pudesse falar alguma coisa, Rafael saiu do banheiro, já vestido. Mas ele nunca perde a pose. Abriu seu melhor sorriso e estendeu a mão à Laura:

_Rafael, prazer!

_Laura._ ela respondeu a seu cumprimento.

_Vocês dois podem sair para que eu ao menos me vista?

_Ah, sim, claro._ ela respondeu saindo do quarto com Rafael atrás.

Coloquei minhas mãos na testa e caí na cama sem forças. Eu não tinha a mínima ideia do que fazer agora. Qual estratégia adotar com ela? Aliás, qual seria a sua reação? Não foi uma surpresa para mim ela reagir friamente à descoberta, mas isso não significava que ela estava bem com isso. Sem ter um plano claro na cabeça, me vesti correndo e fui procurar por Rafael e Laura. Conhecendo os dois, quanto menos tempo eles passassem juntos para conversar melhor. E meu instinto estava certo, quando cheguei à sala, os dois riam juntos.

Se por um lado isso era bom sinal por mostrar que Laura não tinha grandes preconceitos, por outro era uma passo perigoso de Rafael rumo a uma zona proibida para ele: minha família. A última coisa que eu precisava no momento é que ele tivesse uma aliada dentro da minha casa, alguém que certamente o convidaria para todas as festas da família, me deixando andando na corda bamba.

_Pelo visto, vocês estão se dando bem.

_Sim. Namorando hein, senhor Bernardo?_ falou Laura em tom de gozação.

Olhei com raiva para Rafael, mas ele ignorou. Ele estava se divertindo com aquilo. Ele estava adorando o fato ter Laura como uma aliada.

_Laura, precisamos conversar._ falei me sentando de frente a eles.

_Sim...

_Bom, então, acho que já está na minha hora._ falou Rafael se levantando.

Eu levantei e abri a porta para ele.

_Posso te ligar mais tarde?_ perguntou.

_Não sei no que isso vai dar. Deixa que eu te ligue.

_Desculpa, amor, eu não sabia que isso aconteceria.

_Não foi sua culpa, Rafa. Estamos bem. Só me deixe lidar com isso, sozinho, ok?

_Certo. Eu te amo, viu.

_Eu também, tchau.

_Tchau

Fechei a porta e me virei para encarar Laura. Ela estava comportadamente me esperando para conversar. Eu tinha que confessar que ela era o espécime mais bonito da família, a versão final depois de três rascunhos. Ela era loira e tinha traços finos, como a minha mãe, mas ao contrário dela, ela era leve, despreocupada, alegre e extrovertida, o que lhe conferia um aspecto luminoso. Até certo ponto, ela me lembrava muito Rafael.

_Laura, eu...

_Você é gay.

Respirei fundo e fechei os olhos. Reuni todas as minhas forças para lhe responder.

_Sim, eu sou gay.

_Ahhhhhhhhhhhhhhhh!

Ela soltou um grito agudo de excitação que quase me deixou surdo. Por mais que eu conhecesse a personalidade dela, não esperava aquela reação.

_Que tudo, Bernardo! Eu tenho um irmão gay! Lindo, lindo, lindo!

_Laura, fala baixo! A gente mora num prédio, os vizinhos vão escutar!

_Você tem que gritar pro mundo, Bernardo! Isso é fabuloso!

_Não, não é. Eu não vou gritar isso pro mundo._ eu protestava, mas ela parecia nem estar me escutando.

_Eu sempre quis um amigo gay, e agora eu tenho um irmão gay! Isso é demais! Finalmente a gente vai ter assunto, você vai poder me acompanhar ao fazer compras, eu vou poder te apresentar às minhas amigas. Nossa, elas vão ficar com tanta inveja!

Laura me enxergava como um estereótipo clássico de gay. Por isso fiz questão de expor sua personalidade de antemão, pois isso é justamente devido ao fato dela ter crescido naquela bolha.

_Laura! Acorda! Eu sou gay, eu não sou uma menina.

_Ai, deixa de ser chato._ falou rindo.

_Isso é sério, Laura. Eu continuo sendo a pessoa que sempre fui, só que agora você sabe que eu gosto de meninos.

_E tem um namorado gato.

_E... Tenho um namorado.

_Mas isso é tão legal, Bernardo!

_Você não pode contar isso a ninguém, Laura.

_Mas...

_Ninguém! Nem mamãe, nem papai, nem Caio, nem Tiago, nem pras suas amigas. Isso é nosso segredo.

_Que bobeira, Bernardo.

_Não, não é!_ frisei.

Ela me olhou sem crédito. Era o que sempre fazia quando alguém lhe contrariava. Eu tinha que tomar atitudes drásticas para garantir que aquilo não vazaria.

_Vem comigo, Laura.

_Pra onde?

_Só vem._ falei me dirigindo ao meu quarto.

Sentei na mesa do computador e o liguei. Ela observava calada atrás de mim. Abri a internet e procurei no histórico o link que tinha chamado minha atenção num portal de notícias pela manhã. Era a notícia do assassinato de um casal de rapazes de dezenove anos na Bahia, vítimas de homofobia. Foram mortos a golpes de barra de ferro quando os viram se beijando à noite numa rua. Ninguém lhes prestou socorro, apenas o dono de um bar relatou o que viu à polícia. Os agressores fugiram. E tinha fotos. Os rostos estavam cobertos, mas era possível ver seus corpos cheios de sangue, com fraturas expostos e membros quebrados. Sujos de terra e sangue, vítimas da intolerância de uma cidade de interior.

Laura olhava para as imagens com os olhos vidrados. Ela nunca tinha visto imagens como aquelas, com certeza. Era um choque pra ela, sempre presa no seu perfeito mundinho cor de rosa. Eu sentia muito por ser o responsável por furar a sua bolha, mas era preciso.

- Isso não é um filme, Laura. Na vida real, é isso que acontece quando descobrem que você é gay._ falei olhando dentro dos seus olhos _Você não quer que aconteça a mim ou a Rafael o que aconteceu a esses rapazes, quer?

_Não..._ ela balançou a cabeça com olhos cheios de lágrimas, num som quase inaudível.

Era um golpe baixo, mas era necessário para que ela entendesse a gravidade da situação. Era preciso mostrar a ela as consequências se o que ela viu virasse fofoca por aí. Era extremo? Era, mas eu acho que os fins justificariam os meios.

Então, veio o inesperado. Eu ainda estava sentado e ela ainda estava em pé, mas Laura achou um jeito de me dar um abraço. Eu já falei que a minha família, tirando a minha mãe, nunca foi muito calorosa. Não era de sair distribuindo beijos e abraços por aí. Entre mim e os meus irmãos então, era raríssimo. Por isso a surpresa quando senti seus braços se fecharem com força nos meus ombros e ela encostar sua testa no topo da minha cabeça. Foi impossível segurar minhas lágrimas. Era inesperado, mas era tão bom. Nunca colocávamos nosso amor em palavras, mas era uma sensação indescritível quando isso era colocado em gestos. O efeito era ainda mais poderoso em mim por entender que eu era amado por minha irmã mesmo ela sabendo quem eu sou. Era como tirar (parte de) um peso das costas. Nenhum de nós dois disse nada, ficamos algum tempo ali e depois nos soltamos.

_Eu vou para o meu quarto._ falou.

_Ok.

E foi assim que o primeiro membro da minha família ficou sabendo que eu era gay. E a reação dela me pegou totalmente desprevenido. Foi a segunda surpresa daquele dia.

Mas aquela era a noite das surpresas, então tinha mais coisa pela frente. Lá pelas dez da noite, logo após telefonar para Rafael e lhe dar um resumo dos acontecimentos, meu celular tocou. Era Pedro. Eu não estava no clima para conversar com ele, porque sempre acabava soltando algum comentário ou piadinha homofóbica. Mas eu gostava dele de verdade. Ele poderia estar precisando de mim.

_Alô?

_Você não acredita no que aconteceu!_ falou com uma estranha excitação na voz.

_O que?

_Eu transei com a Alice!

_O QUE?!

_Sim!

E as surpresas da noite continuavam...

_Como assim?! Quando isso?

_Nós ficamos lá no bar à tarde depois que você sumiu e acabamos esticando a noite num motel._ ele estava claramente excitado com aquilo tudo, mal conseguia falar _Isso vai soar meio gay, mas foi maravilhoso, cara! Foi tudo o que sempre sonhei!

Eu sorri sozinho, mas mais pela surpresa da situação do que por felicidade pelo casal. Conhecendo bem a situação, Pedro entendeu aquilo como o começo de um relacionamento sério, o que eu sabia que Alice abominava quando se tratava dele.

_Que bom..._ eu não sabia bem o que dizer a ele _E ela? Onde está?

_No banheiro.

_Você não esperou nem ela sair daí pra me ligar?

_É que você é nosso padrinho, tinha o direito de saber.

Ri sem saber se devia aceitar aquilo como um elogio.

_Depois a gente conversa sobre isso, Pedro. Se ela sair do banheiro não vai pegar bem você falando com outra pessoa no telefone.

_É! Tem razão. Tchau, cara. Te ligo amanhã.

_Até!

Foi realmente inesperado. E foi impossível não rir quando meu celular voltou a tocar e o visor mostrou o nome de Alice.

_Oi, Alice!_ falei cínico.

_Bernardo!_ ela falava quase sussurrando, provavelmente do banheiro do quarto do motel _Eu fiz uma cagada!

_Transou com o Pedro?

A linha ficou muda por alguns segundos.

_Como diabos você sabe?!

_Ele acabou de me ligar também, foi mais rápido que você.

_Que tipo de cara liga pro amigo depois de trepar?

_Você está fazendo a mesma coisa. Quer que eu ponha nós três numa conferência telefônica pra vocês discutirem a relação?_ perguntei me divertindo com a situação.

_Não seja idiota!_ ela estava aflita _O que eu faço agora?

_Sei lá, saia do banheiro e lide com ele. Ele está apaixonado por você e você foi até onde não devia com ele. Deu esperanças. O bichinho tava quase dando piruetas de alegria no telefone.

_Merda!

_Agora saia e enfrente as consequências.

Ele soltou o ar num sinal de cansaço. Mas não havia outra saída.

_Tá._ falou, enfim.

_E Alice?

_O que?

_Minha irmã me pegou na cama com o Rafael.

_QUÊ?!

_Pois é, quer almoçar no shopping amanhã pra discutirmos as nossas tragédias pessoais?

Ela parou um instante pra pensar.

_Ok, combinado.

_Então, tá. Tchau, boa sorte com o Pedro.

_Tchau.

Definitivamente, uma noite cheia de surpresas...

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Primeira vez que Alice faz uma merda. E, pelo jeito que ela estava querendo beber, acho que ela planejou fazer merda.

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