Fui descabaçado pelo filho do patrão

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Gay
Contém 13825 palavras
Data: 21/10/2023 08:40:20

Fui descabaçado pelo filho do patrão

Vizinhos de quarteirão na rua residencial de uma pacata cidade do interior, éramos muito parecidos fisicamente, porém, as semelhanças terminavam aí. Os dois tinham aquele corpo de adolescente, nem criança, nem homem, que transita na indefinição de ambos. Os rostos imberbes guardavam a inocência que se perderia dentro em breve. O do Mauricio já se encontrava bem mais avançado nesse estágio do que o meu, talvez pelo fato de ele não ser o filho caçula como eu. As duas irmãs mais velhas eram as principais responsáveis pelo Maurício ter perdido essa característica mais precocemente, pois ambas viviam à caça de machos, sendo bem pouco seletivas nessa procura. Bastava o sujeito ser boa pinta e ter cara de cafajeste que o acesso às suas bucetas estava liberado. Por influência delas é que o Maurício tinha aquele comportamento um pouco afeminado, não que o fizesse conscientemente, era apenas o resultado do convívio com três mulheres que o faziam ser assim. Contudo, isso nunca foi empecilho para a nossa amizade. Nessa época eu já desconfiava que também era gay, embora lutasse ferrenhamente contra o destino que havia sido traçado para mim; não por preconceito, mas pelo receio de ser diferente, o que durante a adolescência ninguém deseja para si. Queremos mais é fazer parte da galera, ter comportamentos em comum, gostar e fazer as mesmas coisas, e não ser aquele patinho feio que vira chacota de todos. O Maurício parecia não se importar com isso, ser alvo da gozação dos colegas apenas o tornava mais arredio, agressivo até, provocador em muitas ocasiões, mesmo que no final levasse a pior.

Lembro-me de quando nossas mães nos levavam com elas nas missas de domingo, onde o padre Anselmo logo nos recrutou para coroinhas. Ingênuos e tolos, achamos que aquilo era um grande privilégio e nos empenhamos dedicadamente a auxiliar o padre em tudo o que ele nos pedia; o que muitas vezes não acontecia diante dos fiéis, mas na privacidade da sacristia. Padre Anselmo investiu primeiro nele, aqueles trejeitos, o riso fácil, o desejo de servir era bem mais evidente nele do que em mim. E o Maurício gostava de satisfazer os pedidos do bondoso padre. Foi assim que ele, ao ser recrutado para a sacristia logo após as missas e permanecer um tempo por lá, enquanto eu me mantinha ocupado ajeitando as coisas na nave central da igreja após a saída dos fiéis, conheceu a piroca devassa do padre Anselmo. Quando eu lhe perguntava por que tinha se demorado tanto, ao fazermos o caminho para casa, ele me respondia que padre Anselmo tinha redimido seus pecados.

- Mas que tantos pecados você tem para isso demorar tanto? E não é no confessionário que ele deveria estar te redimindo desse montão de pecados? Faz mais de uma hora que eu estou te esperando. – questionava eu

- É que na sacristia o padre também me benze com o leitinho dele! – respondeu, dando uma risadinha para lá de suspeita e maliciosa

- Leitinho dele? Desde quando padre Anselmo benze as pessoas com leite?

- Tu é meio burro mesmo, hein veadinho?

- Por que sou burro? Nunca ouvi falar que os padres benzem os fiéis com leite. Não é água benta que se usa para isso?

- Não é leite, leite! É porra, leitinho de macho, leitinho que sai do pinto, sua bicha burra! Sabe de uma coisa Diego, você é o amigo mais burro que alguém pode achar! – exclamou, sem paciência. – Depois que ele tira os paramentos, bota o caralho para fora e eu faço um boquete nele até ele gozar, aí eu bebo a porra dele e sou dispensado.

- Você é uma puta! Cara, que coisa de doido! Você não tem vergonha nessa cara de pau? Se eu sou o amigo mais burro que alguém pode encontrar, você é o mais pervertido e sem-vergonha! – exclamei estarrecido

- O padre Anselmo já me pediu para falar com você, para te convencer, na verdade, a chupar o pau dele também.

- Tá maluco! Eu não vou colocar nenhum pau na minha boca! Que nojo!

- É gostoso seu bobo! Você precisa experimentar, é uma delícia! – afirmava ele.

De fato, padre Anselmo andava atrás de mim como se eu fosse uma cadela no cio que ele estivesse louco para montar. Eu já tinha notado suas carícias, a maneira como me abraçava, um certo frenesi que se apossava dele quando me apertava contra seu corpo bem maior que o meu. Contudo, fiquei apavorado no dia em que ele enfiou a mãozona dele dentro da minha calça e agarrou minha bunda, amassando-a como se fosse um padeiro a sovar a massa. A partir daí não quis mais ser coroinha e, chegando em casa, contei tudo para a minha mãe, que nunca mais insistiu para que eu a acompanhasse a missa, enquanto meu pai encurralou padre Anselmo na mesma noite quando chegava a casa paroquial e o cobriu de porradas, o que o afastou do serviço eclesiástico por mais de duas semanas para esconder as marcas da surra que levou. Nas poucas vezes em que ainda fui, em datas especiais, o Maurício estava lá no altar, durante a missa, com aquele sorriso safado de quem só tem carinha de inocente, mas que não vê a hora dos ritos acabarem para cair de boca na pica esporradora do padre.

Minha mãe chegou a comentar com a mãe dele o que o padre estava fazendo com o Maurício nos bastidores da igreja, mas ela pediu para minha mãe esquecer esse assunto e me pedir para ficar de bico calado, pois tinha receio de que seu macho, o padrasto que enfiou goela abaixo do Maurício e de suas irmãs só para não perder o status, passasse a se interessar pelo filho boqueteiro e deixasse de a procurar. Nunca mais tocamos no assunto.

Quando uma empresa de desenvolvimento de softwares se instalou na cidade o Maurício e eu nos candidatamos as vagas, uma vez que ambos estavam terminando o curso técnico em desenvolvimento de sistemas. Era uma empresa familiar em fase de expansão, tinha aportado na cidade pela proximidade com outros centros de tecnologia, o que nos permitiria desenvolver nossas carreiras junto com a empresa. Ambos foram contratados e passamos a trabalhar no mesmo setor. Naquela época eu achava que, de alguma forma, nossas vidas sempre estariam atreladas, pois éramos como a sombra um do outro.

Quem comandava a empresa era um empresário que trouxera para a administração os dois filhos, um na casa dos trinta anos, casado e com uma filha pequena, e outro na mesma faixa de idade minha e do Maurício, talvez dois ou três anos mais velho. Roberto, por seu jeito descolado, atrevido e bonachão, logo passou a ser tratado por Betão pelos funcionários. Tudo o que o irmão tinha de circunspecto, sério e comprometido, o Betão tinha de mulherengo, safado e descompromissado. O Sr. Mendoza vivia às turras com o filho caçula, fazendo cobranças, dando esporros nele que podiam ser ouvidos por toda a empresa e tentando domar aquele gênio do capeta. A primeira vez que o vi, pouco depois da entrevista conduzida por seu pai, meus olhos brilharam, e eu devo ter dado tanta bandeira que ele acabou focando seu olhar escrutinador em mim, o que me fez sorrir timidamente como um completo palerma.

Meu quarto tinha as paredes forradas e fotografias e pôsteres de machos parrudos, com aquela quantidade certa de músculos enormes e pelos que pareciam exalar testosterona por todos os poros. Eram galãs de cinema, esportistas, modelos fotográficos que enchiam meus olhos de satisfação e me faziam sonhar praticamente todas as noites com libertinagens licenciosas com aqueles corpos sarados e esculpidos, me fazendo acordar no meio da noite todo suado e com o pinto tão duro que mal se podia tocar nele. O Betão personificava, em carne e osso, aqueles machos que eu colecionava e com os quais tinha os mais lindos e tórridos sonhos, o que fez com que meu cuzinho praticamente entrasse em convulsão quando nos cruzamos pela primeira vez. Cheguei em casa após a entrevista convicto de que era mesmo gay, pois aquele rosto e aquele corpão não saíam da minha mente. É um cara assim que quero para a minha vida, é um cara desses que eu quero como parceiro, é para um macho desses que eu quero entregar meu coração e tudo o mais que ele quiser, concluí. Eu só precisava entender o significado daquele olhar que ele lançou sobre mim, daquele indisfarçável sorriso que se esboçou em sua boca que eu só pensava em beijar.

- Você viu aquele filho mais novo do Sr. Mendoza? Meu rabo está assanhado até agora! E aquele volumão no meio das pernas dele, você reparou no tamanho daquilo? Santo protetor dos cuzinhos aflitos, o que é aquele troço? Imagina a quantidade de leite que aquilo deve despejar numa gozada, não consigo nem imaginar eu engolindo aquela jeba inteira. – sentenciou o Maurício todo assanhado, quando fazíamos o trajeto de volta para casa.

- Nem reparei! A qual deles você está se referindo? – disfarcei, pois eu detestava quando o Maurício ficava tentando me fazer parecer tão veadinho quanto ele.

- Você é cego ou é uma besta por completo? Cai na real, bicha! Não adianta ficar fingindo que seu negócio não é macho, e sim garotas! A quem você pretende enganar se escondendo atrás da realidade? Eu duvido que você não reparou nele, é uma cópia viva daqueles caras que você tem colados na parede do seu quarto. Aliás, eu não sei como seus pais ainda não se deram conta de que tem um filho veado! Parece que todos na sua casa padecem de uma cegueira emburrecedora. – retrucou ele.

- Só por que você é uma puta, não quer dizer que todos tenham que ser! Tá eu confesso, eu dei uma olhadinha nele. É bonito, e daí? – admiti

- Bonito? Bonito é o papagaio lá de casa! Ele é um tesão, um puta de um machão gostoso! Um tesudo do caralho! Um tudo de maravilhoso! – exclamou ele, soltando sua verborragia costumeira de quando via um cara daquele tipo.

- Até hoje não consegui entender porque você diz que um cara é gostoso! Gostoso é um bolo de chocolate, gostoso é risoto de cogumelos e não um cara só porque tem um rosto mais viril. – argumentei

- Se você tivesse seguido meu conselho e chupado a rola do padre Anselmo, você saberia o que é um macho gostoso! – devolveu ele, como se fosse um expert no assunto.

- Credo! Nem me lembre daquele desgraçado, parece que ainda sinto aquelas mãos pegajosas agarrando minha bunda. – retruquei.

- É por isso que você continua sonhando com o impossível, esperando que um príncipe encantado caia do céu direto nos teus braços. Sabe quando isso vai acontecer? Nunca! Você precisa ir à caça, precisa rebolar esse rabão que Deus te deu e que, diga-se de passagem, até eu fico com vontade de foder às vezes, para que os machos o notem e queiram enfiar as picas deles no seu cu! – eu chegava a me assustar com o vocabulário chulo do Maurício, e me perguntava de onde ele tirava tanta sacanagem.

- Não sou assim! Príncipes encantados existem, pode até demorar, mas sei que um dia vou encontrar o meu e ser muito feliz com ele. – contrapus.

- E viveram felizes para sempre! Só você para acreditar numa besteira dessas! Esqueceram de colocar um cérebro em você enquanto te concebiam, só pode ser isso. Quisera eu ter o teu rabo, aí sim, eu seria a criatura mais feliz desse mundo. – devolveu ele.

- Será que você não consegue pensar em outra coisa que não sexo? Você é obcecado, tudo na sua vida se resume a um pinto e a um cu. Eu vejo uma vida feliz de oura maneira, com um cara por quem esteja apaixonado, que também me ame, que me respeite enquanto pessoa, que valorize quem sou. Claro que sexo vai fazer parte desse conjunto, mas não será o objetivo único e primordial, fará parte da paixão, do romance, nos fundindo num único ser. – ponderei

- Balela! Pura balela! Desde que o mundo é mundo, machos só pensam em foder as fêmeas e, de quebra, outros não tão machos, como nós, gays com quem possam transar sem compromisso. Você deveria levantar as mãos aos céus por ter sido dotado de um corpo escultural, essa carinha de anjo virgem e essa bundona de fechar o comércio, pois é disso que os machos gostam, não se importando nem um pouco se você pensa, ou o que pensa, se você tem um coração com sentimentos ou não, eles só querem te foder.

- Fico me perguntando o que te tornou tão cético, tão descrente do amor para você ficar dizendo essas coisas descabidas.

- Eu vou te dizer o que me deixou assim! Esses caras com os quais você sonha e que não existem na vida real, foram eles que me deixaram assim quando só se aproveitaram de mim. Agora sou eu quem se dispõem a usá-los, a manipulá-los a meu favor, se tiverem uma rola grande e forem bons de transa muito que bem, caso contrário, são tão descartáveis quanto um pedaço de papel higiênico usado. – sentenciou, deixando sua revolta brotar do fundo da alma.

Que o padre Anselmo tinha muito a ver com essa revolta eu não tinha dúvida, nem do montão de caras com os quais ele andou, pois não os selecionava ou, se o fazia, era justamente por terem uma pica grande, e nada mais.

Por meu lado, a convivência com o Betão na empresa, começou a despertar em mim um sentimento inusitado, comecei a gostar dele de um jeito especial. Suas funções na empresa o mantinham noutro setor, mas ele vinha regularmente ao nosso. A princípio, pensamos que o fazia ordenado pelo pai, para nos vigiar e verificar como andava o trabalho. Porém, com aquelas aparições constantes e que sempre acabavam com ele se aproximando da minha mesa para bater papo, os rumores começaram. Quem os capitaneava era o Maurício, espalhando na surdina que o Betão estava a fim de me enrabar por eu ser um gay enrustido. Fiquei tão abalado que pensei em deixar o emprego, pois até então nunca alguém fizera qualquer alusão a eu ser homossexual.

- Sabe o que eu não entendo, como foi que suspeitaram que eu sou gay? – perguntei ao Maurício numa ocasião em que apareceu lá em casa, como era seu costume.

- Vai saber! Você deve ter deixado escapar alguma coisa. – respondeu de pronto. – E que mal tem que saibam que você é gay? Isso vai facilitar as coisas para você. – emendou

- Facilitar as coisas, ficou maluco!

- Claro, facilitar! Vão saber que você está a fim de dar o cu e vai que numa dessas o teu tão sonhado príncipe encantado aparece! – argumentou

- Você não pode estar falando sério! Até onde eu sei gays são discriminados, e você sabe muito bem disso. O Sr. Mendoza ter essa diversidade de pessoas em seu quadro de funcionários é uma exceção, uma rara e louvável exceção. Ou você acha que com esse seu comportamento festivo, bem como o do Davi, outro gay assumido, da Lourdes, uma negra, seria fácil encontrar emprego em qualquer outra empresa? O preconceito e as portas fechadas para essas pessoas costumam ser a regra nas empresas, não a exceção! É por isso que me preservo, que procuro a discrição, não quero que me julguem pela aparência, mas pelo conteúdo. Com quem vou para cama só interessa a mim e à pessoa com quem me deito. – afirmei.

- Que no seu caso é com ninguém! – exclamou enfático.

- Isso não importa! Estamos falando de outra coisa!

- Falando em outra coisa, você sabe que o Betão também é gay, não sabe? – disparou, querendo mudar o foco da conversa para a desviar do caminho que me levaria a desconfiar que os boatos que rolavam pela empresa tinham sido produzidos por ele.

- Como é que é? O Betão gay? Pirou de vez! Com aquele corpão de macho alfa, só pode ser gozação! – respondi

- Desde quando um gay não pode ter um corpão daqueles, um jeitão viril de macho, uma rola como aquela que ele tem no meio das pernas? O Betão é um gay exclusivamente ativo, daqueles que só enrabam e não se deixam enrabar, daqueles que, quando veem um gay gostosinho feito você, só conseguem racionar com a cabeça de baixo. Você nunca desconfiou das visitas constantes que ele faz ao seu local de trabalho? Sabe o que ele está querendo? O seu cuzinho virgem, ou você acha que ele já não farejou sua virgindade de longe? – retrucou

- Ele deve estar verificando se estamos trabalhando direito. Você com essa sua mente suja é que fica vendo coisas que não existem. Além do mais, ele é mulherengo e todo mundo sabe disso, talvez você seja o único que não vê como ele canta a mulherada. – devolvi

- Santa ingenuidade! Ou melhor, santa burrice! Me responde, com quantas dessas garotas ele já saiu ou teve um caso? – questionou, balançando a cabeça.

- Eu sei lá, não fico controlando a vida dele!

- Eu também não, mas sei te responder facilmente essa pergunta, com nenhuma. Ele só faz isso para disfarçar, para que ninguém desconfie que é gay. Eu boto a minha mão no fogo se ele já se envolveu com qualquer garota. É só fama, vai por mim. – asseverou. Não contra argumentei pois, de fato, nunca vi o Betão saindo com uma garota, ele apenas dava em cima delas, mas a coisa parava por aí.

Os boatos que o Maurício espalhava a meu respeito pelas costas, começaram a produzir efeitos. De um nada, alguns caras começaram a me perseguir, a fazer insinuações, a me propor obscenidades, a tomarem liberdades comigo, me encoxando discretamente, me apalpando as nádegas quando ninguém podia ver, ou me exibindo seus cacetes quando me encontravam no banheiro. Passei a redobrar os cuidados para esconder minha sexualidade, a negá-la veementemente com receio das consequências.

Por mais que eu estivesse gostando daquelas visitas do Betão, comecei a me esquivar e a arranjar alguma desculpa para ficar longe dele. Um misto de tristeza e frustração se instalou em meu peito, eu o desejava, mas precisava afastá-lo de mim. Enquanto isso, a paixão por ele só crescia. Tudo nele me fascinava, os olhos verdes expressivos, a barba densa que sempre estava por fazer, o queixo anguloso, a boca sensual, aqueles ombros imensos, o tronco maçudo, os braços musculosos e peludos, os tufinhos de pelos sobre as falanges dos dedos, as coxas maciças que mais pareciam troncos de uma árvore frondosa e, não vou negar, aquele volume entre suas pernas. Isso tudo, sem mencionar a maneira como ele me encarava, como me sorria, como ficava me observando de soslaio, como se dirigia a mim quando falávamos sobre algum assunto do trabalho. Havia gentileza, doçura e carinho em suas palavras e na maneira como as expressava. Eu estava completamente apaixonado por ele, não dava mais para negar. Minha primeira paixão. Como toda primeira paixão, ela carregava deslumbramento, expectativas, medos, dúvidas; eu nunca tinha sentido nada igual e com tanta intensidade.

Com tudo isso rolando no trabalho, achei que havia chegado a hora de me abrir dentro de casa. Ensaiei um discurso durante dias, e nalgumas noites insones. Minha família precisava saber que eu finalmente me descobri gay, pois já era sem tempo, eu estava com vinte anos e não podia mais viver aquela mentira que usei para me proteger.

Meu maior temor era meu pai, um homem que sempre se esforçou para ter uma família honrada, que sempre apoiou a mim e a meu irmão, nos incentivando a ter aquela ambição saudável que leva ao progresso contínuo. Como vou dizer a ele que não sou o homem que ele pensou estar criando? Como posso decepcionar um pai tão amoroso e protetor, jogando na cara dele que sou gay e quero me assumir como gay? Escolhi um domingo frio e chuvoso quando todos estavam em casa, algumas horas depois de um almoço tranquilo numa tarde que transcorria devagar e pacífica.

- Pai, mãe, e você Rafael, preciso revelar uma coisa! – comecei, sentindo que as palavras mal conseguiam sair da boca seca. – Juro que não fiz nada intencionalmente, até porque fui descobrindo isso aos poucos, até me dar por convencido e impossibilitado de mudar o rumo das coisas. – continuei, procurando descobrir em cada um daqueles olhares o que se passava em suas mentes.

- Desembucha de vez, mano! Só pode ter feito alguma cagada para fazer tanto rodeio! – exclamou meu irmão, impaciente.

- Acho que sou gay! Quer dizer, eu sou gay! Mas, nunca fiz nada com outros caras, eu juro! Eu só queria que vocês soubessem por mim e não através dos outros, ou de boatos. – despejei apressado, já esperando uma enxurrada de objeções, recriminações e, quem sabe, até algo bem mais duro.

- Tá, e onde está a novidade disso? – voltou a questionar meu irmão. – As paredes do quarto cheias de fotografias e pôsteres de homens, o que você acha que isso significa? E vai saber o que não tem no seu computador no histórico de pesquisas na Internet. – continuou.

- Deixe o Diego falar, Rafael! Não é hora das tuas gracinhas! – interrompeu-o minha mãe.

- Não está mais aqui quem falou! Vão passar a mão na cabeça do caçulinha protegido mesmo, de que adianta falar alguma coisa? – disse meu irmão.

- Chega, Rafael! Ninguém aqui trata vocês com discriminação, os dois sempre receberam os mesmos cuidados e atenção. – sentenciou meu pai. – Dentre as bobagens que seu irmão acaba de mencionar, só existe uma verdade, não estamos sendo pegos de surpresa, Diego. Já desconfiávamos que no dia em que você se sentisse pronto, viria ter essa conversa conosco. Sinto orgulho de ter um filho como você, franco e que confia em nós. Minha preocupação nunca esteve no fato de você se assumir homossexual aqui dentro de casa, onde podemos cuidar e proteger você, mas no que acontece fora dessa casa, na sociedade que ainda não aprendeu a lidar com as diferenças dos seres humanos. Me preocupo que te machuquem, que te magoem, que façam coisas com você que o faça descrente da vida. – sentenciou meu pai. Minhas lágrimas escorriam pelo rosto a despeito do esforço que fazia para segurá-las.

Quando ele terminou seu discurso e me abriu os braços, fui me alojar neles, e deixei que ele acariciasse meus cabelos com todo aquele carinho que havia em seu coração. Minha mãe chorava, e se aproximou abraçando a ambos. Até o Rafael, meu carrasco desde a mais tenra infância, estava com os olhos marejados e me fazia caretas para disfarçar a emoção que tomava conta dele.

- Então, a partir de agora, posso te chamar de veadinho sem nenhum problema! – exclamou meu irmão, pouco dado aquelas cenas de fraternidade.

- Não abuse, Rafael! O Diego é seu irmão e você é tão responsável pela felicidade dele quanto nós, trate de fazer muito bem o seu papel! – exigiu minha mãe.

Na segunda-feira, a caminho do trabalho, contei tudo ao Maurício, que me ouviu calado de um jeito estranho, como se invejasse o desfecho da revelação que fiz aos meus pais.

- Você sempre se dá bem, sortudo do caralho! – exclamou quando terminei meu relato.

- O que isso tem a ver com sorte? Somos uma família unida, prezamos pela felicidade um dos outros. – afirmei

- E se isso não é sorte, é o que então? Sabe o que minha mãe me perguntou quando sua mãe contou para ela sobre as coisas que o padre Anselmo fazia com a gente? Ela quis saber o que eu tinha feito para o padre me mandar chupar o cacete dele. E sabe o que o meu padrasto fez depois disso comigo, ele chacoalhava a rola na minha cara e me dizia para experimentar a porra dele. – revelou, me deixando estarrecido.

- E você contou para sua mãe o que ele fez com você? – perguntei

- Se liga, ô otário! Ela achou que eu tinha provocado o padre Anselmo, e por isso ele me mandou chupar o pau dele. Para ela o desgraçado é o santo e eu o diabo. Ela está pouco se lixando para o que o meu padrasto faz comigo, contanto que ele continue botando dinheiro dentro de casa e comendo ela de vez em quando. Por que você acha que eu quero que o mundo se exploda, que todos vão à puta que os pariu? Botam no meu rabo e eu boto no rabo dos outros, é assim que o mundo funciona. – sentenciou num desabafo. Isso me fez enxergar a redoma de amor e proteção em que fui criado e, pela primeira vez, tive pena do Maurício. Um sentimento pouco nobre, eu sei, mas que não consegui evitar.

À medida que os meses passavam, o Betão ia se acercando de mim. Primeiro foram os assuntos de trabalho que o traziam até minha mesa, depois vieram os convites para uma pausa para o café, feitos com displicência, como se o acaso o levasse a fazê-los e, posteriormente, vieram os convites para almoçarmos juntos, para uma carona para casa no final dos expedientes, até chegarem a um cineminha no sábado à noite. Aquele assédio envolvente ia me conquistando aos poucos, nunca antes um homem se mostrou tão interessado em mim, especialmente um homem com os atributos do Betão, e eu me deixava levar como as águas caudalosas de um rio arrastam as folhas das árvores que o margeiam. Sentia-me apaixonado, meu primeiro amor, cujo esboço se tornou real numa noite após a sessão de cinema durante a qual ele, seguidas vezes, roçou seu joelho na minha perna e sutilmente tocava seus dedos na minha mão, me abrasando por dentro como se lenha estivesse queimando no meu corpo.

Ele me levou ao topo de uma colina nos arredores da cidade, do qual se podia enxergar ao longe até onde começava a serra que a circundava. Era um lugar ermo à noite onde os casais ficavam namorando e transando dentro dos carros. Meu coração palpitava forte quando percebi que ele entrou na estrada de terra que serpenteava até o topo da colina, só imaginando o que ia acontecer quando chegássemos lá em cima. Num primeiro momento, após ele estacionar o carro e fazermos alguns comentários sobre a noite enluarada e a paisagem que se descortinava lá embaixo, formou-se um silêncio que pareceu durar uma eternidade. De repente, ambos o cortaram começando a falar ao mesmo tempo.

- Você primeiro. – disse ele, me cedendo a vez.

- Não, fale você primeiro! – devolvi gentil, pois o que eu ia dizer já tinha se evaporado de minha mente quando vi a maneira como aquele par de olhos me encarava.

- Gosto de você! – exclamou ele

- Eu também, acho você muito legal! – retruquei

- Você não entendeu! Eu gosto de você! – enfatizou, pegando na minha mão gelada e úmida. – Estou apaixonado por você! É isso que estou querendo dizer com esse – eu gosto de você. – repetiu

- Eu ... eu ... – o beijo veio antes que pudesse continuar, me salvando de falar uma idiotice, e foi tão intenso, quente e sensual que todo meu corpo começou a tremer.

A língua dele foi entrando na minha boca, invadindo-a como um exército se apossa de um território no qual ninguém reage e se deixa conquistar. Fui sendo puxado lentamente para os braços dele, para o torso sólido e quente, e fui me rendendo ao sabor viril daqueles beijos que entorpeciam meus lábios. Quase parei de respirar quando senti sua mão entrando por baixo da minha camiseta e levando-a consigo até um dos meus mamilos surgir com o biquinho tão saltado e rijo que seria impossível negar o tesão que eu estava sentindo. Ele sorriu ao passar as pontas dos dedos sobre ele palpando sua consistência excitada, inclinou-se na direção dele e com a ponta da língua molhada circundou-o seguidas vezes, extraindo gemidos contidos da minha boca, na qual seu sabor ainda estava presente.

- Vejo que também gosta de mim! – exclamou radiante. – Muito provavelmente suas palavras não expressariam tão bem o quanto gosta de mim. – emendou, me fitando fundo nos olhos.

- Mas eu disse que gostava de você! – reafirmei, tocando naquela barba que me fascinava desde a primeira vez em que o vi.

- Gosta dela? – perguntou, enquanto o toque suave dos meus dedos sendo pinicados a percorria sem pressa.

- Adoro! – devolvi com um sorriso acanhado.

- E do que mais gosta em mim? – ele sabia que tinha me conquistado e começava a fazer o joguinho de caça à presa se deliciando com a pureza das minhas respostas.

- De tudo! – respondi, afagando ousadamente aquele rosto másculo.

- Como sabe que gosta de tudo se ainda não viu tudo? – indagou

- Vi o suficiente para saber que te quero! – o tremor que abalava meu corpo desde o momento que ele começou a dirigir colina acima estava desaparecendo como por encanto e, no lugar dele, uma convulsão se instalara no meu cuzinho, à medida que minhas mãos iam tocando naquele peito discretamente exposto pela abertura da camisa dele.

- Você não faz ideia do quanto me deixa feliz ao dizer que me quer! Eu te quero por inteiro, Diego! Quero hoje, quero agora, quero para todo o sempre! – ele me agarrou com força, nunca tinha sentindo uma pegada forte de macho e me entreguei de corpo de alma.

Enquanto os beijos se sucediam, nossas mãos vagavam céleres por nossos corpos explorando cada contorno, cada detalhe, se descobrindo mutuamente. Ele levou uma das minhas mãos até sua ereção e eu a acariciei sentindo suas pulsações desenfreadas. Não sei o que me levou a recordar da cena em que vi o Mauricio chupando o caralhão do padre Anselmo após a missa na sacristia e, por uns instantes, quis repelir a ereção do Betão, como se aquilo fosse um sacrilégio.

- O que foi? Não pare, Diego! É todo seu, estou amando as tuas carícias. – murmurou excitado o Betão.

- Me desculpe, não sei se consigo fazer isso! Acho melhor você me levar para casa. – pedi, tomado de um pavor inexplicável.

- Olhe para mim, Diego, olhe! Você não precisa fazer nada que não queira, mas não me peça para levá-lo para casa. Por favor, fique, só me beije como estava fazendo, não precisa fazer mais nada, só me beije. – sentenciou, voltando a colar sua boca na minha e me apertando contra si.

Fomos praticamente os últimos a deixar o topo da colina quando os primeiros raios do alvorecer anunciaram o novo dia. Estava me sentindo um imbecil por não ter sido capaz de continuar e colocar a pica dele na boca, eu sabia que ele esperava por isso. Ele não se mostrou contrariado, ficou conversando comigo como se fossemos amigos de longa data, apenas interrompendo o diálogo para depositar mais beijos libidinosos na minha boca, ou tomar minhas mãos entre as suas acalentando-as para me devolver a coragem perdida.

- Me desculpe, Betão! – disse antes de sair do carro diante do portão de casa.

- Pelo quê? Foi uma noite maravilhosa, e você vai me prometer agora que teremos outras em breve, promete! – seu olhar era doce, compreensivo e eu acenei afirmativamente com a cabeça e um leve sorriso de concordância.

- Você deve estar me achando um babaca, nos dias de hoje quando até os adolescentes não hesitam em transar com o primeiro que lhes aparece pela frente, eu tendo esse comportamento medieval, cheio de receios e pudores. Me perdoe, não se zangue comigo! O que eu disse é a mais pura verdade, eu gosto de você, gosto muito! – enfatizei.

- Nem por um segundo pensei em me zangar com você! Leve o tempo que precisar, não vou te forçar a nada. Estarei aqui, pronto para você, quando quiser. O que eu quero com você não é algo passageiro, eu quero você na minha vida para todo o sempre, Diego. E, vou te esperar, ansioso, com muito tesão como você viu há pouco, cheio de esperança, mas vou esperar você se sentir pronto. – beijei-o com toda ternura e paixão que carregava comigo.

Dei de cara com meus pais ao entrar em casa. Isso nunca tinha acontecido antes, eu chegar com o dia raiando, e eles se entreolharam, disfarçaram o riso e me perguntaram como tinha sido o filme que fui assistir no cinema.

- Hã? Ah, o filme! Sim! O filme foi bem legal! – respondi confuso.

- E você, por acaso, lembra do nome do filme ou de qualquer cena dele, ou só das cenas que rolaram entre esse tal filho do seu patrão e você? – perguntou minha mãe, disfarçando a ironia.

- Claro que lembro, mãe! Que pergunta mais besta! – exclamei depressa, torcendo para ela não voltar a fazer a pergunta, pois repentinamente um lapso de memória havia me feito esquecer o nome do filme. Subi para o meu quarto feito um raio, antes que me visse numa situação embaraçosa, mas ainda consegui ouvir os dois rindo na cozinha.

Eu era a própria emoção ambulante, estava tão excitado com tudo o que aconteceu no topo daquela colina que parecia que ia explodir de felicidade a qualquer momento. Dançava pela casa com os fones de ouvido tocando meu álbum de músicas no celular, abria um sorriso aparvalhado sem um motivo aparente, estava tão aéreo que demorava a responder qualquer pergunta que me faziam e só me lembrava do sabor da boca do Betão, do toque firme de suas mãos, daquela ereção vibrante.

- Ihhh! Paixonite aguda! – exclamou meu irmão em dado momento.

- O quê?

- Sua doença! Paixonite aguda! Filminho longo o que você foi assistir ontem à noite, durou a madrugada toda! – exclamou sarcástico debochando de mim.

- Vá se catar, Rafael! – retruquei

- Pelo visto foi você quem andou catando no que não devia! Pegou na rola do cara? Aposto que ele também está cantarolando feito um passarinho na primavera depois do que vocês fizeram noite passada! Onde foi, no mirante da pedra careca? – perguntou, mencionando o nome pelo qual toda a cidade conhecia o topo daquela colina que era dominado por uma rocha lisa num formato que se assemelhava a uma cabeça.

- É isso que as garotas fazem com você quando as leva para lá? Vá cuidar da sua vida! Sem graça! – revidei

- Isso e muito mais! Já entrei em cada xaninha gostosa naquela colina que você nem faz ideia! – gabou-se

- Lógico! Um tarado pervertido feito você ia fazer o que naquele morro, curtir a paisagem é que não é.

- E você deve ter feito o mesmo com o sujeitinho, como é mesmo o nome dele? – continuou provocando. – Confessa, irmãozinho, ele tirou seu cabaço, não foi? – empurrei-o para fora do meu quarto, enquanto ele simulava estar trepando movendo seus quadris para frente e para trás.

No começo da semana, de volta ao trabalho, o Maurício fez a observação que eu estava estranho. Ele não sabia que o Betão havia me convidado para o cinema. Levei dois dias me controlando antes de contar que tinha saído com ele e que nos beijamos na pedra careca.

- Agora eu sei o porquê desse sorriso abestalhado que não sai da sua cara há dias. Você deu o cu para o Betão! Me conta tudo, sua bicha enrustida! Tudo, tudo mesmo, quero detalhes, quero saber do tamanho daquela rola, quero saber como ele mete. – implorava ele, quase delirando de tão exaltado.

- Larga mão de tanta veadagem! A gente só se beijou! Cada beijo, nem te conto, um mais gostoso que o outro! Ele é um cara maravilhoso! – exclamei desatinado ao me lembrar do sabor daqueles beijos que trocamos.

- O quê, vai me dizer que vocês não transaram? Você está mentindo! Me conta como foi que o Betão enfiou aquela coisa no teu cu, é isso que me interessa! Não quero saber de beijos, quero saber da foda! – insistiu

- Não estou mentindo! Não transei! Como eu disse, a gente ficou se beijando a noite toda. – asseverei.

- Você é uma besta! Um cara feito o Betão que está querendo te enrabar e você me diz que só se beijaram! Que tipo de veado idiota é você, me explica?

- Eu gosto dele, estou apaixonado por ele, e ele me disse que também está apaixonado por mim. Para mim é isso que importa! Sei que um dia vou transar com ele, mas vou fazer isso amando ele, e não trepando por trepar. – retruquei.

- Você é uma besta, a maior e mais burra besta que eu conheço! – exclamou inconformado.

A partir desse dia, sem eu saber, o Mauricio começou a dar em cima do Betão. Cercava-o por todos os lados, com os mais diversos argumentos, provocava-o sexualmente, oferecia-se como uma meretriz na porta do bordel, queria ter aquilo que ele estava guardando para mim. Depois que ficou sabendo do interesse que o Betão tinha por mim, deixou que aquela inveja que carregava dentro de si há anos aflorasse com toda a força. O Maurício se achava um injustiçado ao comparar sua vida com a minha. Eu nunca desconfiei daquelas observações que ele fazia ao mencionar que os caras cobiçavam mais a minha bunda do que a dele, que todos queriam ficar comigo e o usavam como trampolim para se aproximar de mim, que só os caras mais tesudos e legais me desejavam, que minha família aceitara numa boa o fato de eu ser homossexual, enquanto a dele o execrava por conta disso, que eu sempre fui o queridinho de todos, enquanto ele era visto apenas como uma bicha sem-vergonha. Até no trabalho, quando o Sr. Mendoza elogiava meu trabalho ele me questionava o que eu tinha feito para merecer o elogio, ou o aumento no salário.

- Chupou as bolas do velho para ele te dar o segundo bônus no ano? Ninguém na empresa ganhou o bônus, só você! Ou será que é o Betão que está pleiteando esses bônus para o cara que ele está enrabando? – questionava com despeito

- Que absurdo, Maurício! Nem uma coisa nem outra, ele deve estar contente com o meu trabalho, e eu me esforço para isso. – respondi

- Sei! Imagino o tipo de esforço que você deve estar fazendo para aquele velho e seus filhos!

- Se não fossemos tão amigos eu te mandava à merda, Maurício! Você me conhece desde a infância, sabe que eu jamais faria uma coisa dessas! E, se tornar a repetir isso, juro que nossa amizade acaba por aqui. – devolvi enraivecido.

- Tá, esqueci que você é uma bicha santa! Não falo mais nisso! – revidou, embora seu plano de me roubar o Betão, a qualquer custo, seguisse firme em seus pensamentos.

Paralelamente, eu lhe contava tudo o que rolava entre mim e o Betão, na mesma confiança que sempre norteou nossa amizade. Revelava a evolução daquela paixão que ia nos unindo dia a dia, sem suspeitar que a inveja crescia dentro do Maurício.

- Como foi seu final de semana? Passei na sua casa para ver se fazíamos algum programinha e sua mãe me disse que você tinha saído com o Betão. Ele já conseguiu te comer, ou você ainda continua regulando o cu para ele? Uma hora ele acaba se enchendo de tanto esperar e vai atrás de um cuzinho mais fácil. – sugeriu.

- Meu final de semana foi ótimo, e não precisei dar o cu para que fosse maravilhoso! – devolvi.

- Isso quer dizer que ficaram só nos beijinhos! Nem na pica dele você pegou, ou ele na sua bunda? Imagino que relação mais insossa vocês estão tendo. – debochou

- Não é insossa, muito pelo contrário. O entrosamento só aumenta, estamos descobrindo tantas coisas em comum, não é assim que as pessoas vão se apaixonando para viver um amor verdadeiro? – indaguei.

- Você acha que um cara como ele, rico, filhinho de papai, que pode ter tudo o que quiser, está mesmo a fim de algo sério com você? Se pensa assim, só pode ter perdido o juízo! Ele só quer te foder, sabe que você é virgem e quer tirar o seu cabaço, quando conseguir, vai te dar um pé nessa bundona, por mais gostosa que ela seja. O Betão nunca vai assumir que é gay e que gosta do cu de outros caras, pois sabe que o pai e a família jamais vão aceitar uma coisa dessas. – afirmou, como se tivesse certeza do que estava falando.

- Você não o conhece! Ele não está comigo só por causa do sexo, ele gosta de mim, eu sinto! – retruquei, o que fez o Maurício cair na gargalhada, uma gargalhada cínica e debochada.

- Quem não o conhece é você! Continua se enganando, vamos ver quando seu castelo de sonhos desmoronar! – nossas conversas ultimamente sempre terminavam assim, ele me deixando inseguro e temeroso com suas afirmações, que tinham uma convicção quase absoluta.

Quando eu estava com o Betão, nos braços dele, sentindo sua boca cobiçosa junto a minha, eu perdia o medo e as dúvidas, mas quando não estava, ficava pensando naquilo que o Maurício enfiava na minha cabeça e sofria temendo perder aquela paixão. Também ficava me questionando se devia aceitar o conselho dele e entregar minha virgindade ao Betão, pois assim o elo que nos unia se tornaria mais forte.

- Você gosta de mim mesmo a gente não fazendo sexo? – perguntei ao Betão, quando ele me comprimia contra o tórax e me apalpava as nádegas durante um daqueles beijos que trocávamos. – Seja sincero, você sente falta de a gente não ter transado ainda?

- É claro que eu gosto de você, mesmo sem ter feito sexo ainda! Que pergunta é essa agora? Eu já não te falei que vou esperar até você se sentir pronto? – questionou ele. – Não nego que não vejo a hora disso acontecer e você pode constatar o quanto só de olhar como fico de pau duro quando você me beija e me acaricia. – acrescentou.

- Então o que temos não é o suficiente para você? – não era eu quem tinha todas essas dúvidas, mas aquelas frases que o Maurício plantava na minha mente.

- Eu não disse isso! Você é o suficiente para mim, e eu sei que vai chegar o dia em que vai querer transar comigo, deixar que eu entre no seu corpo e então seremos um só, unidos pelo amor e carnalmente, seremos completos. – respondeu. Agarrei aquele rosto e o cobri de beijos. Era no Betão que eu acreditava e não no Maurício.

Contudo, ele continuava semeando seu veneno. Me dizia que eu era um sortudo, que tinha tudo na vida, que as portas sempre se abriam com facilidade para mim, sem eu precisar fazer o menor esforço. Eu refutava as alegações dele, pois eram inverídicas e fruto da inveja que o corroía. Mas isso não lhe bastava, ele precisava conquistar algo que eu tinha, tirá-la de mim, me fazer sentir como é ter a felicidade roubada, e agiu.

O Betão já andava farto da perseguição dele, tinha-lhe dado um ultimato para parar com o assédio, dizendo que não queria nada com ele, nem mesmo os boquetes ou as trepadas sem compromisso que o Maurício lhe propunha para aliviar seus colhões constantemente abarrotados, e que eu não me propunha a aliviar.

- Sai fora, cara! Pela centésima vez, não curto caras como você! Está com fogo no rabo, vai procurar outro! Se voltar a insistir, vou me valer da minha condição de patrão e vou te demitir, você escolhe! – asseverou o Betão, quando foi novamente abordado pelo Maurício.

- É do cu do Diego que você está a fim, não é? Garanto que sei como te satisfazer mil vezes melhor do que ele! – retrucou.

- Esse papo termina aqui! Está avisado! – determinou o Betão, instalando o ódio no Maurício.

Passaram-se alguns dias depois dessa conversa entre os dois, que o Betão me contou na íntegra, para me alertar a respeito do amigo que eu julgava ter. Passional e apressado, fui cobrar explicações do Maurício, que negou tudo e alegou que era o Betão que estava dando em cima dele e que ele estava se recusando em nome da nossa amizade.

O Maurício armou a armadilha com cuidado, devia ter perdido horas de sono para engendrá-la. A demanda na empresa havia aumentado substancialmente nos obrigando a fazer horas extras. Era o Betão que permanecia na empresa até mais tarde acompanhando o serão, pois o pai e o irmão começavam mais cedo, pela manhã, do que ele.

- O chefinho acabou de me ligar, quer nos ver no escritório dele, primeiro eu depois você! – comunicou-me o Maurício durante um desses serões.

- O que ele quer? É estranho porque é ele quem sempre vem ao nosso encontro quando precisa de alguma coisa. Só nós dois, ou os demais funcionários também? – perguntei

- E eu que vou saber! Só sei que estou indo para lá, e vê se não demora muito a aparecer! – sentenciou, subindo em direção aos escritórios.

- Só vou terminar de enviar esses e-mails que o cliente está esperando e já subo! – devolvi.

Minha tarefa nem chegou a levar 20 minutos, e me apressei a subir a escada saltando dois degraus de uma vez. O escritório do Betão era o último do corredor, a porta não estava completamente fechada, havia uma fresta de mais de um palmo pela qual vi o Maurício ajoelhado diante do Betão sentado na beira da escrivaninha com o cacetão de fora sendo chupado avidamente pelo Maurício, como se dele estivesse jorrando um néctar. Não consegui dar mais nenhum passo, tive vontade de sair correndo, mas meus pés pareciam ter enraizado no chão. Minha visão foi sendo embaçada pelas lágrimas que não conseguia conter e que desciam abundantes pelo meu rosto. Quem dizia a verdade era mesmo o Maurício, o Betão precisava de sexo e eu não lhe dava aquilo de que tanto precisava. Os gemidos guturais que saiam da boca do Betão me atingiam como punhais sendo cravados na carne. Ele não me amava, ele nunca me amou, era minha virgindade que ele queria, bem como o Maurício havia me alertado. Segurei-me no batente da porta para não cair quando tudo começou a rodar a minha volta. Meus olhos não conseguiam se desviar daquela cena, por mais que eu tentasse. O celular no meu bolso começou a tocar me tirando daquele transe, ao mesmo tempo em que os dois se assustaram e o Maurício se levantou limpando os lábios cheios de esperma, enquanto o Betão lutava para enfiar rapidamente aquele cacetão, ainda duro, que não cabia dentro da braguilha.

- Diego! O que faz aqui? Espere Diego! Eu posso explicar! Volta aqui Diego, vamos conversar, não é o que parece, acredite em mim, Diego! Pare! Volta aqui! – berrava o Betão correndo atrás de mim enquanto eu descia a escada aos saltos, e corria em direção a saída sem nem passar pela minha mesa, eu só queria chegar em casa, eu só queria me jogar na minha cama e chorar.

Aleguei não estar me sentindo bem na manhã seguinte quando meu pai entrou no quarto para me acordar, e pedi que ligasse para a empresa dizendo que eu não ia trabalhar. Havia mais de vinte ligações do Betão no meu celular, e uma do Maurício. Não me animei a ler as mensagens que também abarrotavam a tela. No final da manhã o Betão bateu à porta de casa, eu estava sozinho e não atendi. Porém, quando ele já estava entrando no carro para partir, fui até ele com uma decisão em mente.

- Vou passar na empresa amanhã e pedir minha demissão ao seu pai. Nunca mais quero te ver! Nunca mais me procure! – exclamei com firmeza.

- Não é nada do que você está imaginando, eu juro! Não tenho nada com aquele sujeito, e já o demiti esta manhã. Por favor, me ouça Diego! Eu amo você, está lembrado?

- Me ama e pede para outros te darem aquilo que eu não dou! Eu vi, Betão! Eu vi, ninguém me contou; eu vi ele mamando a sua pica! O que você acha que pode me explicar? Não tem nada para explicar! – respondi.

- Sei que pode parecer estranho, mas tem uma explicação sim, e quero que você a ouça!

- Não quero mais nada com você! Lamento ter te conhecido! – revidei, voltando a entrar em casa. Ele ficou mais meia hora insistindo para eu abrir a porta que esmurrou com força.

- Que porra está acontecendo aqui? Quem é você, babacão? – perguntou meu irmão que chegava em casa e flagrava a cena.

- Preciso falar com seu irmão, manda ele abrir a porta e vir conversar comigo! – ordenou o Betão, sem paciência.

- Como é que é? Você não manda porra nenhuma por aqui, meu chapa! Vá se foder antes que eu quebre a sua cara! – devolveu meu irmão, partindo para cima do Betão. Me vi obrigado a abrir a porta e apartar a briga, os dois se socavam e não se largavam, como dois cães de rinha.

- Parem, parem já com isso! Vai embora Betão! Não temos mais nada para falar. – intervim

- Quem é esse filho da puta, Diego? Você conhece esse cara? Que porra ele está fazendo aqui esmurrando a porta desse jeito? – exigia furioso meu irmão.

- Sou o namorado dele! O único filho da puta aqui é você, e eu vou falar com ele por bem ou por mal, seu desgraçado! Não se meta no nosso assunto! – ameaçou o Betão, o que fez a pancadaria recomeçar.

Prometi ouvir o Betão para que a briga cessasse. Meu irmão ficou furioso comigo quando entrei no carro dele e ele saiu cantando os pneus e socando o volante. Ele dirigiu até a pedra careca, a visão que se tinha de lá durante o dia era bem diferente daquela que se descortinava a noite. Ouvi as explicações dele sem interrompê-lo, sem muito interesse, queria apenas que aquilo tudo acabasse. As palavras que saiam de sua boca não faziam sentido e não acreditei nelas. Ele desistiu quando percebeu que estava dando murros em ponta de faca.

- Você não acredita em mim, não é? Não acredita no nosso amor! Bem, eu fiz o que precisava fazer, agora é com você! Eu te amo, Diego! Sei que está confuso e com raiva de mim, mas eu nunca tive nada com aquele seu amigo que, aliás, nunca foi seu amigo. Ele não presta, armou tudo aquilo e continua me ameaçando para acabar com o que nós dois temos. – afirmou, decepcionado com a minha frieza.

- Terminou? Então, por favor, me leve para casa! Você me pediu para te ouvir, eu ouvi!

- Seu cabeça dura, não está acreditando em mim! Mas vou te provar que estou falando a verdade e que seu amiguinho é um canalha. – garantiu.

Em casa foi como se uma bomba tivesse caído no telhado. Ninguém sabia do meu envolvimento com o Betão, ninguém nem desconfiava que eu estava saindo com um homem há meses. Não escondi nada, contei do envolvimento, contei do que achava que sentia pelo Betão, e afirmei que não ia ter volta, que estava tão decepcionado que nunca mais me envolveria com homem algum. Meu pai riu, o que me deixou zangado.

- Sei que está furioso, foi sua primeira decepção amorosa, mas te garanto que haverá outras com esse sujeito ou com qualquer outro. Esfrie a cabeça, dentro de alguns dias vai conseguir analisar tudo com mais clareza, e só então tome a decisão que precisar. – aconselhou.

- Por que não nos disse que estava saindo com o filho do seu patrão? Você gosta dele? Ele gosta de você? – perguntou minha mãe.

- Não contei por que estávamos escondendo isso de todos. Agora não sei mais se gosto dele de verdade. Ele me traiu! – respondi

- Por que estavam escondendo esse relacionamento? Já não te dissemos que te aceitamos como você é, e que vamos acolher quem você resolver namorar? Não devia ter escondido isso de nós, somos sua família, queremos seu bem! – continuou ela.

- Eu sei! Mas a família dele nunca vai aceitar que ele seja gay! Por isso não contamos nada para ninguém. Só o Maurício sabia, por que ele também é gay como vocês estão cansados de saber.

- E você preferiu contar para o Maurício e não para nós que somos seus pais o que está acontecendo com você? – questionou meu pai.

- Não é bem assim!

- E foi justamente seu amigo Maurício que estava com ele quando os flagrou, não acha isso muito estranho? Há tempos vimos notando que o Mauricio te inveja! Não acredite piamente nas pessoas, meu filho! – disse meu pai.

Fui me encontrar com o Mauricio para esclarecer tudo aquilo. Ele continuou jurando que foi o Betão que o assediou e que ele foi obrigado a fazer aquele boquete para não ser despedido. Pela primeira vez não acreditei nele. O olhar tinha algo de suspeito, os gestos não eram espontâneos, a voz soava falsa e me dei conta de que já a ouvira com aquele mesmo timbre outras vezes.

No dia seguinte, fui a empresa pedir demissão como tinha prometido ao Betão. O Sr. Mendoza não a aceitou, quis saber o motivo, e os que lhe dei não o convenceram.

- Não vou te deixar partir! Ou você me diz o que realmente te levou a pedir demissão, ou pode voltar ao seu local de trabalho e continuar a me dar os resultados que sempre deu. – sentenciou determinado.

- Não posso continuar, Sr. Mendoza! É só o que posso dizer! – devolvi

- Então só me resta fazer isso aqui com seu pedido de demissão! – exclamou, rasgando a folha de papel que lhe pus nas mãos. – Meu filho demitiu o Mauricio, e eu ainda estou querendo entender o porquê, não posso prescindir de você, estamos atolados de trabalho. – Vou te dar dois dias para pensar sobre o assunto e, depois disso, quero te ver sentado naquela mesa, entendido?

Eu havia esgotado meus argumentos e achei melhor fazer o que ele determinou, pois até meus pais acharam uma idiotice eu pedir demissão no calor da emoção. Eu estava deixando o escritório quando topei com o Maurício. Ele entrou na sala do Sr. Mendoza sem passar pela secretária e sem ser anunciado. Tinha uma cara estranha, seu olhar carregava algo de maligno.

- Vou processá-los por discriminação! – soltou, assim que o primeiro pé adentrou a sala do Sr. Mendoza. – Vou processá-los por assédio e discriminação! – repetiu exasperado. – Seu filho é gay como eu, e durante o expediente me mandou chupar a rola dele. Eu tive que fazer para não perder meu emprego, eu dependo dele. – continuou, deixando o Sr. Mendoza tão estarrecido que pensei que ele fosse enfartar.

- Como é? Meu filho, o quê? Do que você está falando, seu moleque? Vejo que a decisão dele de te demitir foi mais do que apropriada. Não quero mais te ver na minha frente! – berrou o Sr. Mendoza, levantando-se e dando um soco na mesa.

- Seu filho querido é veado! É isso que estou afirmando! Veado, bicha, boiola! Não sabia? Pois agora sabe! E se quiser uma comprovação, pergunte ao Diego aqui se não é verdade, pois os dois estão fazendo sabe-se lá o que juntos há meses. – soltou o Maurício. Foi aí que comecei a suspeitar de sua integridade, que aquele flagrante foi armado, já não restava dúvida.

- É verdade isso que ele está dizendo, Diego? Caralho, que tipo de pessoas são vocês? Me esforço para manter um time diversificado nessa empresa sem discriminar ninguém e vocês agem com todo esse mau-caratismo aqui dentro. Talvez seja melhor você também deixar a minha empresa, Diego, a menos que tenha uma explicação muito convincente. – proferiu.

- Fala, Diego! Fala que o filhinho dele está correndo atrás do teu rabo desde o primeiro dia que você entrou aqui. – exigiu o Maurício

- Cala essa sua boca! Eu não tenho nada para falar! Você é um cretino e falso! – revidei

- Ah, a bichinha santa vai negar! Claro, vai negar para proteger o namoradinho! Vai negar para não perder a chance de entregar a virgindade para a rola do filho do patrão! – os olhos esbugalhados e cuspindo ódio do Maurício não tinham precedente.

Nesse instante o Betão entrou no escritório do pai, a discussão podia ser ouvida no andar de baixo e tinha colocado todos os funcionários voltados para ela.

- Bom que está aqui! Agora vamos esclarecer essa situação de uma vez! – exclamou o Sr. Mendoza quando o filho entrou. – O que há entre você e o Diego? – perguntou. Eu olhei brevemente para o Betão, ele empalideceu com a pergunta do pai.

- Estou apaixonado por ele! Temos nos encontrado frequentemente fora da empresa. E sei que o que sinto por ele é recíproco. – revelou, deixando o Sr. Mendoza tão estarrecido que ele voltou a se sentar em sua cadeira.

- Você perdeu o juízo, seu depravado? O que está me dizendo? Você é um homem, não um homossexual que sai por aí praticando sodomia! Quer arrastar meu nome na lama, seu desgraçado ingrato! Se você pensa que vou aceitar que continue trepando com outros homens e lançando toda a nossa família para essa putaria, está muito enganado! Me diz que não se envolveu com esse ... esse ... esse veado do caralho! Me diz, Roberto! – exigiu enfurecido.

- Não sou menos homem por ser gay! E não vou me esconder só porque esse desgraçado me ameaçou de contar a verdade. Deixei ele me intimidar uma vez, mas nunca mais vou permitir que alguém faça o mesmo. Eu espero que o Diego consiga me perdoar, pois não suportaria a ideia de perdê-lo por causa de uma chantagem. Eu o amo, e vou lutar por esse amor, quer você goste ou não, quer o mundo aceite ou não! – revidou determinado o Betão.

- Jamais vou compactuar com tamanha sem-vergonhice! Quer uma vida de libertinagem, tenha-a, mas fora da minha casa, fora dessa minha empresa, fora de nossa família. Se insistir nisso, não conte com mais nenhum centavo meu! – explodiu o Sr. Mendoza, ameaçando o filho. – E vocês dois, fora daqui! Não quero mais ver a cara de nenhum de vocês aqui dentro, fora! – gritou, para mim e para o Maurício, em cuja face havia um quê de contentamento.

Fui o primeiro a sair do escritório, correndo escada abaixo, me sentindo a pior das criaturas. O Betão disparou atrás de mim, foi me alcançar na rua, e agarrou meu braço exigindo que eu o ouvisse. Eu estava com medo, receava não conseguir outro emprego na minha área devido ao que aconteceu, e estava envergonhado por não ter acreditado nas palavras do Betão.

- Vai continuar fugindo de mim depois disso tudo? – perguntou, ao me prensar contra um murro, enquanto olhares curiosos de transeuntes nos observavam.

- Me desculpe por não ter acreditado em você! Mas me deixe, vá se entender com seu pai! É melhor esquecermos o que aconteceu. – sugeri

- Você ouviu o que eu disse lá dentro? Eu afirmei que te amo e que vou lutar pelo nosso amor, porém, não posso fazer isso sozinho! É você que vai se acovardar agora? – questionou

- Veja no que deu a gente se envolver um com o outro, seu pai te expulsou de casa e da vida dele, não posso permitir que você prejudique a sua vida por minha causa. – respondi

- Você só vai prejudicar a minha vida se não ficar comigo, se me disser que não me ama, e eu sei que isso não é verdade! – ele estava me esmagando contra o muro sem perceber a força que estava usando para me conter. – Quem estragou tudo foi aquele filho da puta, mas ainda vou me entender com ele, ele não perde por esperar! E, quanto a mim, eu vou me virar, já fazia algum tempo que estava planejando sair de casa e ter meu próprio lugar. Quando você entrou na minha vida esse virou meu objetivo maior, eu queria ter um local para onde te levar, um lugar onde pudéssemos nos amar sem sermos perturbados. Esse episódio só apressou as coisas. Não vou morrer de fome só porque meu pai não quer me dar mais nenhum centavo. Sou capaz de me sustentar por conta própria, tanto quanto sou capaz de cuidar de você e de te proteger de tudo, basta que esteja ao meu lado e confie em mim, Diego. – à medida que suas frases ficavam mais enfáticas ele sacudia meus ombros com a mesma intensidade.

- Se continuar me sacudindo desse jeito vai me quebrar antes que eu possa responder que confio em você, e que te amo pelo que disse ao seu pai. – afirmei. Ele afrouxou a pegada, me encarou e colou sua boca na minha, eu o envolvi em meus braços e retribuí o beijo.

Contei cada detalhe daquele episódio aos meus pais quando cheguei em casa. Eles precisavam saber que havia perdido o emprego e que minha relação com o Betão não era algo passageiro e fugaz. Percebi que ficaram apreensivos, mas me deram o suporte que precisava naquele momento. Eu também sabia que o assunto não se encerraria ali, que viriam outras conversas das quais eu talvez não fosse gostar. Contudo, ficaram felizes com a minha ruptura com o Maurício; finalmente suas objeções para com ele tinham resultado em algo positivo.

- Sempre dissemos que o Maurício não era boa influência para você, ainda bem que agora abriu os olhos para a realidade. – disse minha mãe

- Sinto muito por não ter dado ouvidos a vocês, estavam certos, aquilo não era uma amizade, ele me invejava desde a infância e fez o que fez intencionalmente, só para me prejudicar. – afirmei. – Só lamento que o canalha também tenha prejudicado a relação do Sr. Mendoza com o filho. Eu ainda não tinha dito, mas o Sr. Mendoza expulsou o Betão de casa e da empresa e ameaçou puni-lo, cortando-lhe a mesada.

Quando o Betão veio ter comigo no dia seguinte, apresentei-o oficialmente aos meus pais, não havia mais razão para esconder nosso relacionamento. Fiquei feliz por eles o acolherem com simpatia e, ao que me pareceu, gostaram dele.

Ele tentou se reconciliar com o pai, mas o Sr. Mendoza continuava reticente não dando o braço a torcer. Enquanto isso, o Betão procurava emprego, ao mesmo tempo em que investia suas economias num pequeno apartamento com apenas um dormitório que adquiriu de uma viúva que estava deixando a cidade para ir morar com um dos filhos. A primeira vez que me levou para conhecer o lugar, ele estava explodindo de felicidade.

- Só falta você aqui dentro comigo agora! – exclamou, com sua voz grave ecoando nos cômodos vazios.

Eu me aproximei dele, envolvi seu rosto nas minhas mãos, beijei-o com paixão e ternura e fui enroscando meu corpo no dele. Assim que sentiu a cumplicidade daquele beijo, me agarrou e me apertou contra si, enfiando a língua na minha boca com voracidade. Não nos soltamos, o tesão se instalava em nossos corpos, o meu tremia nas mãos vigorosas dele, o cuzinho se contraía; o dele estava quente com a musculatura se retesando e ficando ainda mais proeminente e rija, o cacete ia se avolumando dentro da calça e, quanto mais duro ficava, mais intenso ficava o beijo e mais forte ficava a pegada com a qual me mantinha colado ao seu corpão. Fui desabotoando a camisa dele aos poucos, sob o olhar atento dele, enquanto lhe dirigia um sorriso lascivo. Espalmei as mãos sobre aquele tórax ligeiramente peludo e as fiz deslizar carinhosamente por aquela solidez. Ele me sorriu. Eu comecei a abrir a calça dele, a descer o zíper e enfiei meus dedos naquela trilha de pelos que iniciavam abaixo do umbigo dele e desciam virilha adentro. Não demorei a encontrar o que queria, o cacetão estava duro, a cabeçorra úmida completamente exposta, eu o retirei devagar, senti-o pulsando na minha mão e começava a ficar tão alucinado com aquela visão máscula que meu cuzinho não negava o tesão que estava sentindo. Fui me ajoelhando diante dele ao mesmo tempo em que puxava a calça e a cueca para baixo. O caralhão saltou para fora, pesado, babando, espalhando seu perfume almiscarado pelo ar, eu o envolvi com uma das mãos e o guiei até meus lábios, que se fecharam entorno dele tão logo o tocaram com suavidade. Ouvi o gemido longo e gutural do Betão, e comecei a sugar a babinha viscosa que minava da cabeçorra estufada. Até então, eu sempre imaginei que colocar a rola de um homem na boca seria algo repugnante, mas eu estava completamente enganado, era delicioso. O sabor alcalino e amendoado daquele sumo, o cheiro viril da caceta excitada, sua consistência e as pulsações potentes e regulares que a mantinham cada vez mais dura era algo quase divino. Eu lambi, suguei, chupei, comprimi delicadamente meus dentes em toda a extensão daquela tora de carne que pulsava na minha mão num frenesi sem precedentes. Tinha vontade de engolir tudo aquilo, mas por mais esforço que fizesse pouco além da cabeçorra entrava na minha boca e já alcançava a minha garganta cerceando a respiração. Minha obstinação não me deixava soltá-la, chupei-a com afinco e devoção, enquanto meus dedos passeavam dentro da virilha pentelhuda e acariciavam o par de testículos que pendiam pesados dentro sacão. O Betão se contorcia, liberava o tesão que ia se acumulando através de rugidos graves que vinham do fundo de seu peito, agarrava meus cabelos e movia os quadris socando o caralhão na minha garganta, enquanto lançava a cabeça ligeiramente para trás e fechava os olhos para usufruir daquele prazer.

- Vou gozar! – preveniu. Eu simplesmente ignorei, estava tão entretido chupando meu primeiro cacete de macho que não podia me furtar desse prazer.

A primeira esporrada, grossa e cremosa, entrou direto na minha garganta; as demais, vieram numa sequência tão rápida que mal tive tempo de engoli-las para não sufocar. O Betão me encarava em êxtase ao me ver engolindo, um a um, aqueles jatos de porra que pareciam nunca acabar. Eu os devorava como se estivesse engolindo o mais saboroso néctar, lambendo até a última gota de esperma que melava a glande do cacetão dele.

- Você é tão gostoso, Betão! – sussurrei ao deixar o cacete completamente limpo.

- Ah, Diego! Gostoso é a palavra que te define! Quero você! – devolveu ele num murmúrio, inclinando-se sobre mim até ambos estarem deitados no chão duro.

A cobiça nunca esteve tão nítida no olhar dele, enquanto tirava as minhas roupas até me ter completamente nu em seus braços. Pendurei-me em seu pescoço troncudo, beijei-o com todo meu tesão, e sussurrava que o queria tocando suavemente meus lábios em sua orelha. Ele me virou de bruços, deitou-se sobre mim e esfregou a rola dura nas minhas nádegas, enquanto beijos e chupadas afoitas eram depositadas no meu cangote, descendo lentamente para os ombros e as costas. Meu corpo convulsionava, espasmos incontroláveis o agitavam tanto quanto aquele desejo que crescia dentro de mim. Senti a primeira mordida na bunda e, de tanto tesão, gemi. Veio a segunda, na outra nádega, cravada com firmeza até eu sentir dor e gemer mais alto. As demais, na voracidade de um leão faminto, foram adentrando ao meu reguinho estreito que o Betão mantinha aberto com as duas mãos espalmadas sobre as nádegas. Quando sua língua úmida deslizou sobre as minhas preguinhas escapou-me um gritinho tresloucado. Ele lambeu, mordiscou a rosquinha anal, fazia a língua rodopiar sobre o buraquinho corrugado como se fosse me devorar por inteiro. Eu gemia e empinava a bunda me oferecendo como uma cadela no cio. Ele enfiou o dedo indicador no meu cuzinho, soltei outro gritinho, e senti aquele devasso deslizando para dentro de mim.

- Tesão da porra, Diego! Você é tão apertado que está me deixando maluco! – ronronou ele, fazendo aquele dedo rodopiar no meu cuzinho.

Cauteloso, ele uniu o dedo médio ao indicador e voltou a enfiá-los no meu orifício anal distendendo as preguinhas e sentindo como meus esfíncteres se fechavam ao redor deles num espasmo constritivo. Com um vaivém cadenciado ele os movia no meu introito quente e macio prevendo o prazer que o esperava quando fosse enfiar a caceta ali dentro. Eu já me sentia sendo possuído e me entregava aquele prazer gemendo lascivamente. Aos poucos, ele veio para cima de mim, abraçou meu torso, chupou minha nuca, apertou o biquinho de um dos meus mamilos entre os dedos e começou a forçar a pica contra minha fendinha anal que ia se distendendo enquanto eu gemia. Com uma estocada firme a cabeçorra melada entrou no meu cuzinho, eu gritei ao sentir minhas pregas se rasgando como se o fio afiado de uma faca as estivesse cortando. O Betão parou, virou meu rosto em sua direção e me beijou. Ambos arfavam, eu sentia dor. Ele voltou a forçar e meu gritinho foi abafado pelo beijo, meus esfíncteres se contraíram abrupta e voluntariosamente ao redor do cacetão grosso dele, aguardando temerosos pelos próximos impulsos que foram atolando o caralhão inteiro no meu cuzinho até apenas o sacão ficar entalado entre as bandas rijas e quentes da minha bunda. O que eu estava sentindo era indescritível, havia um macho latejando forte dentro de mim e nem em sonho eu poderia ter imaginado e sentido algo tão sublime. A emoção que me dominava era tão intensa que senti brotarem lágrimas em meus olhos, enquanto o Betão sussurrava, com seu hálito quente, um – eu te amo – junto ao meu ouvido. Fui empinando a bunda contra a virilha dele e deixei que me fodesse com todo tesão e avidez que o consumia, apenas gemendo baixinho, o que aumentava sua excitação e o levava ao delírio.

- Está doendo? Acho que acabo de arregaçar seu cuzinho apertado! – perguntou ele.

- Nunca senti nada parecido! Amo você, quero você! – devolvi, me entregando por inteiro.

Quando ele me colocou na posição de frango assado seu peito e costas estavam suados. Segurei-me em seus bíceps e ele meteu novamente o cacetão no meu cuzinho esfolado. Contive o grito deixando escapar apenas um ganido, enquanto o pauzão deslizava fundo em mim. Puxei o Betão para mais perto e o beijei, ergui a pelve e rebolei o que terminou de atolar a pica no meu rabo. Ele gemeu de satisfação enquanto minhas mãos passeavam por seus ombros e costas largas, onde eu me apoiava para aguentar suas estocadas potentes. Minhas vísceras pareciam estar convulsionando a cada impulso vigoroso dele, e aquela sensação de sermos um único corpo era a mais pura definição de felicidade. Com ela reverberando por todo meu corpo, comecei a gozar esporrando sobre o meu ventre, enquanto ele me encarava maravilhado com aquela demonstração de prazer. Aos poucos, sua pelve foi se retesando, os movimentos que socavam a jeba fundo no meu cuzinho foram se tornando truncados, o abdômen dele ficava mais rijo, o peito enfunado, a respiração entrecortada, até o grunhido selvagem eclodir em sua boca, rouco e quase desesperado. O sêmen profuso brotava do caralhão como a lava de vulcão e ia inundando minhas entranhas com aquela tepidez viscosa aderindo às paredes do meu ânus dolorido e esfolado. Minha virgindade era dele, eu todo era dele, e ele sorria com doçura afagando meu rosto, enquanto eu cobria o dele com beijos delicados.

Com os corpos saciados e o espírito em jubilo adormecemos enlaçados sobre o chão duro do cômodo vazio. Quando acordei uma luz baça e alaranjada do entardecer entrava pela janela delimitando um quadrilátero exatamente onde nossos corpos nus repousavam. O Betão, apoiado sobre o cotovelo, me observava em silêncio quando acordei. Ao me ver abrindo os olhos, imediatamente se formou um sorriso em seu rosto, que eu retribuí, um tanto quanto perdido no espaço e no tempo.

- Você é tão lindo! – exclamou quando teve a certeza de que eu estava desperto.

- Por que não me acordou?

- E perder a oportunidade de admirar a sua beleza? Quero acordar assim todas as manhãs, ao seu lado, sendo grato pelo destino ter te colocado no meu caminho. – disse ele

- Também te acho lindo! Muito lindo! – exclamei. – Especialmente como está agora, pelado. Essa é a primeira vez que te vejo assim. – devolvi, desviando ligeiramente meu olhar para seu sexo que continuava visivelmente excitado. – Sinto orgulho de você pela maneira como enfrentou seu pai e como lidou com toda a situação. – emendei, quando ele pegou minha mão e a levou ao rosto hirsuto.

- Não me imagino mais sem você! Vou lutar o quanto seja necessário para ficarmos juntos! Nunca amei alguém com tanta intensidade! – afirmou.

- Mas eu não quero que você se distancie da sua família por minha causa. Temos que fazer alguma coisa para que se reconcilie com seu pai. – argumentei.

- Ele nunca vai aceitar! Esse discurso sobre tolerância e diversidade é só para impressionar e fazer o que é politicamente correto, no fundo, ele não se importa com nada disso, até abomina.

- Me sinto mal por você ter que abdicar de tanta coisa para ser feliz!

- Se meu pai, ou qualquer outra pessoa, não acreditar em mim ou não confiar em mim, eu não me importo, mas você não, Diego. – afirmou ele, tão próximo que dava para suas mãos inquietas.

- E por que não, Betão? – o que eu mais queria ouvir era aquilo que eu sabia que ele estava guardando dentro dele.

- Porque eu te amo, Diego! – respondeu, sem desviar seu olhar do meu. Fiquei sem saber se me atirava em seus braços ou se devia controlar minha ansiedade. Seu corpão rolou lentamente sobre mim, muito mais lentamente do que eu podia suportar. Quando estava deitado em cima de mim, enlacei seu tronco, nossas bocas se uniram e o beijo prolongado exprimiu tudo o que estava em nossos corações.

- Eu te amo, Betão! – sussurrei, ao tomar fôlego no breve instante em que nossos lábios se afastaram antes do beijo continuar, e de eu abrir as pernas para ele enfiar novamente seu membro duro no meu cuzinho.

Alguns dias depois, enchi-me de coragem e fui procurar o Sr. Mendoza na empresa.

- O que quer aqui? Se pensa que vou readmiti-lo seja lá com que historinha triste, pode dar meia volta! Eu já disse que não quero mais olhar para a sua cara! – despejou, tão logo ficamos frente a frente.

- Não vim pedir meu emprego de volta, vim pedir para ouvir o que o Roberto tem a lhe dizer. Ouça-o como um pai amoroso, um pai que realmente se preocupa com a felicidade do filho, e não um pai que não consegue se desvencilhar de seus preconceitos. – retruquei

- Você é muito abusado! Como tem coragem de vir aqui me desafiar, me dizer quem eu sou e como devo agir com meu filho? Isso não é da sua conta, moleque! – revidou

- Não estou te desafiando! Só me preocupo com a felicidade do Roberto, e ela nunca será completa sem o apoio da família. – argumentei

- Ele devia ter pensado nisso antes de se transformar num homossexual e se envolver com você! – sentenciou ele.

- O senhor acha mesmo que alguém se transforma em homossexual, assim como num estalar de dedos no momento que quiser? Se pensa assim, fico decepcionado com o senhor, a quem admirei desde o primeiro dia que nos conhecemos. Esteja certo Sr. Mendoza, ninguém escolhe ser homossexual, a nós só cabe aceitar quem somos e viver nossas vidas da melhor maneira possível, procurando a felicidade como qualquer outra pessoa. Se o senhor nunca percebeu quem o Roberto é de verdade, é porque nunca olhou para ele como deveria, o que é bastante triste sendo o pai dele. – afirmei

- Quem você pensa que é, moleque, para vir aqui e me dizer como devo ser pai? Eu devia te colocar daqui para fora aos pontapés, seu atrevido! – vociferou ele

- Sou a pessoa que ama seu filho, Sr. Mendoza! Sou a pessoa que ama seu filho do jeito que ele é, e amo tanto que o senhor não faz nem ideia. É por isso que estou aqui tentando fazer com que faça o mesmo por ele. Que o ame como ele é! – repentinamente senti que o olhar dele deixou de exprimir aquela raiva que havia nele. – Eu convivo bem com a minha sexualidade porque meus pais continuaram a me amar como sempre fizeram quando me abri com eles. E eu só espero que um dia o senhor tenha a mesma nobreza de amar seu filho e defender a felicidade dele acima de qualquer outra coisa. – concluí. Eu não tinha mais o que argumentar, virei-me e caminhei em direção a saída. Estava descendo as escadas quando ele veio atrás de mim.

- Como ele está? Não o vi mais depois que mandei sair de casa, onde ele está? – perguntou-me

- Ele está magoado, sente a sua falta! Eis aqui o endereço dele! – exclamei, tirando do bolso um papelzinho no qual havia anotado o endereço do apartamento. - Adeus, Sr. Mendoza!

- Você já arrumou outro emprego? – perguntou, enquanto fazia o papelzinho girar entre seus dedos.

- Não, ainda não!

Saí de lá tenso, não sabia se tinha sido uma boa ideia procurá-lo, ou se isso ia piorar a situação entre os dois. Contudo, parecia que um peso havia saído das minhas costas. Embora o trajeto até em casa não fosse tão curto, resolvi fazê-lo a pé, precisava caminhar e extravasar aquela opressão que havia em meu peito. No caminho, a apenas alguns quarteirões de casa, encontrei o Maurício. Inicialmente pensei em atravessar a rua e mudar de calçada, mas não era eu quem precisava se esconder, quem tinha que se envergonhar pelo caráter deturpado, e resolvi enfrentá-lo também.

- Queria mesmo falar com você. – disse ele, quando o encontro inevitável aconteceu.

- Não temos mais nada para falar!

- Quero te pedir desculpas!

- Acha que me pedir desculpas resolve a questão? Você me traiu, Maurício! Traiu uma amizade de infância, uma amizade que sempre cultivei com sinceridade e dedicação. Lamento te dizer, mas eu não acredito que tenha se arrependido do que fez. – retruquei

- É fácil para você assumir essa posição de bom moço, sempre teve tudo o que quis, tudo de bom sempre caiu do céu direto no seu colo, a sorte sempre esteve ao seu lado! – exclamou, sem esconder a arrogância.

- Você é um cretino, um canalha, Maurício! Isso que você chama de sorte é fruto de muito esforço, de dedicação, de cultivar relações saudáveis e sinceras com as pessoas, algo que você nunca fez. Você só invejou tudo o que os outros tinham, e fazia de tudo para tirar isso delas. Eu demorei a perceber quem você era, mas bastaram essas poucas palavras que você acaba de pronunciar para eu saber que você não mudou e que nunca vai mudar. Você é um mau-caráter, Maurício! É tão mau-caráter que até o padre Anselmo pagou por ter abusado de você; ou você acha que eu também não fiquei sabendo que você passou a chantageá-lo depois que ele te fez chupar a rola dele, ameaçando denunciá-lo se ele não te desse dinheiro toda vez que vocês transavam? E essa sorte que você atribui à felicidade dos outros jamais vai chegar em você, pode ter certeza! A única coisa que eu ainda preciso te dizer é – Foda-se! Foda-se com sua maldade! Foda-se a sua vida! – pois é isso que você merece. – despejei.

Era domingo, havia chovido a semana toda, algo atípico para o inverno, mas um sol fraco havia despontado desde cedo. O Betão acordou ao meu lado, na minha cama, na minha casa. Era a terceira vez que ele dormia em casa com a total anuência dos meus pais que já o encaravam e tratavam como genro, o que até certo ponto chegava a ser engraçado, pois nunca os imaginei chamando um parceiro dos filhos de genro, dado que tiveram dois filhos homens. Porém, eles estavam lidando com isso com tanta naturalidade que aquele parecia um domingo normal entre a família. Meu pai e o Betão dividiam as tarefas na churrasqueira, não sem um pouco de competição e, observá-los discutindo sobre algo tão corriqueiro quanto o ponto certo da carne enchia meu coração de alegria, uma vez que isso provava que não havia nenhuma barreira entre eles. Foi quando o celular do Betão tocou que a expressão em seu rosto se anuviou.

- É meu pai! Ele quer nos ver! Na minha casa, esta tarde! – ele soltava as frases num ritmo telegráfico.

- É um bom sinal! – exclamei de pronto, sem refletir muito. – Vão fazer as pazes, e tudo volta ao normal. – continuei.

- Eu não teria tanta certeza! Conheço o velho Mendoza, conheço sua inflexibilidade! – afirmou o Betão, enquanto eu acariciava sua mão, e meus pais e meu irmão o olhavam apreensivos.

Ia deixá-lo ir sozinho conversar com o pai, mas ele insistiu que eu fosse com ele. Ambos guardavam um silêncio pesado enquanto ele dirigia, talvez no íntimo estivéssemos esperando enfrentar uma batalha. Não posso dizer que a recepção foi calorosa, inclusive da mãe dele, o que me surpreendeu, pois tinha a minha como parâmetro. O Sr. Mendoza tomou a dianteira, calculava as palavras embora não tivesse abdicado da sua costumeira objetividade, algo que provavelmente a vida empresarial tenha lhe ensinado. No transcorrer da conversa dele notei que minha ida ao escritório dele não tinha sido em vão, ele estava disposto a reatar com o filho e a trazê-lo de volta ao seio familiar. Vi como o rosto do Betão se desanuviou, fazia tempo que não o via com aquela expressão descontraída.

- Obrigado pai! É muito importante que estejamos bem, vamos passar uma borracha sobre tudo o que aconteceu e voltar a ser uma família entrosada como antes. Porém, já era tempo de eu procurar meu próprio caminho, por isso quero continuar morando no meu apartamento e trabalhar na empresa onde fui recém contratado. – comunicou o Betão, com uma firmeza que me fez sentir orgulho dele.

- Tudo bem! Não vou mentir e dizer que estou feliz com isso, mas respeito sua decisão, assim como todos nós aqui vamos respeitar suas decisões e escolhas de agora em diante. Quero que saiba que pode voltar a ocupar sua posição na empresa no momento que quiser. – afirmou o Sr. Mendoza quando abraçou o Betão calorosamente.

- Obrigado! É bom saber que conto com o apoio de vocês!

- E você, moleque, o que me diz de voltar a trabalhar comigo? Depois de ter entrado no meu escritório e me esculachado como fez, o mínimo que pode fazer agora é voltar e fazer seu trabalho tão bem como sempre fez. – pediu, ao me incluir no abraço.

- Posso pensar alguns dias a respeito da proposta? – perguntei, com um sorriso de gozação, só para provocá-lo.

- O caralho que pode! É sim ou não agora mesmo ou retiro a proposta! – exclamou, entendendo a brincadeira. – Se eu fosse o pai desse moleque já tinha dado umas bofetadas nesse atrevido! – exclamou, me puxando para junto dele e desalinhando meus cabelos.

- Então não me resta outra coisa que não aceitar! – exclamei, todos riram.

- Obrigado, Diego! Obrigado por devolver a harmonia a essa casa! Queremos te ver sempre por aqui, você faz parte dela agora! – asseverou o pai do Betão.

- Eu que digo obrigado! Obrigado por ter posto no mundo o cara mais maravilhoso que eu já conheci! – devolvi emocionado. O Betão me beijou diante de todos.

No final daquele mês eu estava instalado no apartamento do Betão, e quando seguia para o trabalho todas as manhãs eu ainda sentia o contato do corpo dele com a minha pele, as juras de amor e tudo que dissemos abraçados um ao outro continuavam ecoando no meu ouvido numa demonstração do quanto estávamos coesos, meu cuzinho ainda estava ardendo de tanto que o cacetão dele me esfolara durante a noite, e seu esperma se fazia sentir aderido a mucosa anal. Se isso não fosse a felicidade, eu não saberia dizer o que era.

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Comentários

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Eu ainda não entendi porque o Betão foi chupado pelo Maurício no escritório. Você poderia me explicar? Li e não entendi qual foi a “explicação”.

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Oi Alisson! O Maurício chantageou o Betão, ameaçando contar ao pai que o filho era gay e não o garanhão que fingia ser. Porém, ele logo cortou o barato do Maurício, não se deixando chantagear mais pelo amor que sentia pelo Diego, e assumindo ser um gay ativo. Espero que tenha ficado claro! Obrigado por ler meu conto e um abraço carinhoso para ti!

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Kherr seia interesses se um dos seus próximos contos fosse sobre traição e desse um tempo e destaque maior para a cena da descoberta

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Oi Obelisco! Vou pensar a respeito. Muitos leitores abominam a traição, também não lido bem com essa questão, mas vou avaliar uma situação mais detalhada. Super abraço! Ah! respondi ao seu comentário no conto Dispusta pelas bolas do jogador de futebol.

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Eu acho que o ponto de abordar uma história com traição é a pessoa traída não perdoar porque é aquilo quem trai uma vez traí duas .

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Oiii. Kherr obrigado pelo conto. Sua primeira história publicada com um aval de homossexuais ativos e passivos. Gostei muito, um belo conto romântico. Posso fazer mais um pedido. Faz um conto cujo o protagonista seja alguém como o Mauricio fruto de tanto infortúnio, e que mesmo assim encontre seu príncipe encantado. Pois todos os tipos de princesas merecem.

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Seu pedido é inusitado Ilhapluvial, creio que muitos leitores não concordariam com a sua generosidade quanto ao Maurício, embora eu concorde que todos os seres têm direito a felicidade, mas precisam merecê-la. Vou pensar no assunto. Contudo, tenho alguns temas na fila esperando para serem desenvolvidos e não prometo nada para logo. Abração carinhoso!

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Parabéns, pelo excelente conto, muito bem narrado e com muita objetividade

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Muito obrigado Quem sou eu! Fico feliz ao receber devolutivas como a sua. Abraço!

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Excelente conto Kherr. O conto me fez lembrar um caso parecido que um amigo passou. Nao era assumido por causa de fatores familiares e trabalho e uma pessoa igual ao Maurício expôs ele por não aceitar ficar com ele. Meu amigo perdeu o emprego e sofreu muito. Infelizmente dentro da comunidade LGBT existe muito preconceito e as vezes pessoas assumidas não aceita que não assumidos mantenha essa condição e os expõe. Lamentável isso.

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Pois é, nego@, não só com os héteros que enfrentamos problemas de aceitação, muitos homossexuais também carregam preconceitos contra seus semelhantes. Abração!

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Incrível como todos seus protagonistas parecem os mesmos, mesmas características, passivos,bunda grande, Românticos, falam no diminutivo, todos os machos querem eles, e vários outros detalhes sempre semelhantes.

Você é um excelente autor, sabe principalmente criar ambientes e descrever rotinas e lugares, mas seus personagens geralmente são unilaterais, você começa a ler o conto e já lembra de outros antigos e já acerta como será o desfecho final.

Você é um dos melhores autores do site, mas desafio a testar novos personagens, homens versáteis, não usar o esteriotipo feminino para os passivos, geralmente suas histórias remetem a romance heteros justamente por conta dessa unilateralidade de seus personagens.

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Olá Henrique! Talvez meus contos tenham personagens parecidos porque refletem um pouco o tipo de pessoas com as quais convivo, e talvez porque me falte criatividade para criar outros. Nem todo mundo é perfeito! Você tem razão ao mencionar que quase não me valho de personagens versáteis, e minhas experiências com eles tanto em relações de amizade quanto amorosas são a causa disso, pois sempre foram desastrosas e traumáticas. Acho que criei aversão. Abraço e obrigado pelo comentário!

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UAUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU. MINHA NOSSA SENHORA DOS APAIXONADOS, DOS CORAJOSOS, DOS BONS E DOS JUSTOS. COM CERTEZA MAURÍCIO TEVE O QUE MERECEU. BOM SABER QUE TUDO QUE MAURÍCIO QUERIA ELE NÃO CONSEGUIU. E FICO FELIZ EM SABER QUE PRÍNCIPES ENCANTADOS AINDA EXISTEM. ESSE CONTO ME FEZ ACREDITAR NISSO DE NOVO. RSSSSSSSSSSSSSSSSSSS A ÚNICA OBSERVAÇÃO É QUE PODERIA TER SIDO DIVIDIDO EM CAPÍTULOS. A CDC PRECISA DE MAIS CONTOS ASSIM. PARABÉNS.

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Obrigado ValterSó! A estória é clássica, triunfam os bonzinhos, padecem os maus; mesmo assim ainda fazem certo sucesso. Abraço!

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Nossa, já tive dois "amigos" na adolescência que eram igual ao Maurício! Sorte minha que percebi logo a real intenção deles e me afastei! No ensino médio, sempre fui muito tímido e retraído, então me enganar era muito fácil. Queria muito saber a versão do betão sobre o flagra que o Diego deu no boquete do Maurício no betão! Foi uma recaída do betão? Se ele sentia tanta repulsa pelo Maurício, porque aceitou um boquete?? Fica o questionamento. Me identifico muito com o Diogo, pois tenho 20 anos e ainda não perdi a virgindade, tenho até vergonha em falar isso hahaha. Me sinto bastante inseguro com isso. Espero encontrar um betão por aí. Obrigado por mais um conto maravilhoso ❤️❤️

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Oi rixerboo! No texto está a explicação que o Betão deu para o boquete que deixou o Maurício fazer nele, ele foi chantageado e teve receio da ameaça de ter sua sexualidade exposta. Ainda bem que resolveu não se deixar chantagear mais e assumiu o amor que sente pelo Diego. Abraço carinhoso. Ah, e quanto a sua virgindade, não se apresse a perdê-la, guarde-a para quem realmente a merece e valorize. Super abração!

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Nós cá em casa estamos cada vez mais atarefados e com o recomeço das aulas dos netos o tempo torna-se escasso. Quando um de nós fica entediado vem à CDC, lê os títulos dos contos e começa a ler os que lhe chamam a atenção. Se a leitura está agradável prosseguimos. Raramente lemos os nomes dos autores logo no início. Mas ao 3º parágrafo reconhecemos imediatamente o estilo narrativo do Kherr e até as personagens que cria. Fui ver lá acima e não me enganara. Achamos tão especial a forma como constrói romances que se desenvolvem normalmente entre um passivo exclusivo e um ativo à prova de fogo. E é um pouco emocionante este atrativo sexual, mesmo para quem se "diz" versátil ou bissexual. O bissexual que vive vidas paralelas tende a separar as águas. Em casa é o autor da cena de machão, tipo marido dominador. Fora de casa, procura tudo menos qualquer pitada de feminino. Mesmo quando se mantem ativo na relação homossexual, o bissexual aprecia a virilidade incontestável do parceiro porque, mulher, já tem em casa. A sexualidade tem realmente tantas nuances que são como os milhares de tons de cinzento que medeiam entre o preto e o branco. Apreciamos cada vez mais os seus contos. Mas decidimos propor-lhe um desafio muito efetuoso. Experimente a contar o mesmo gênero de contos, mas colocando-se na óptica do ativo.

O que mais nos encanta são as relações homoafetivas plenamente assumidas por ambos os parceiros, independentemente do posicionamento da cada um na relação, como passivo, ativo ou versátil. E o que mais nos enoja são os bissexuais que nunca se contentam com uma relação exclusiva e vivem quase sempre no conforto social de casamentos heterossexuais, com ligações homossexuais paralelas, em que não amam ninguém senão a si próprios usando todos com um desprezo total pelos sentimentos das suas vítimas. Os nosso muito obrigado por mais este conto excelente. Grande abraço

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Olá Favo! Seu comentário não podia ser mais elucidativo e pertinente, e concordo 100% com seu posicionamento. A sexualidade é sem dúvida um prisma de cores incapaz de ser definida em apenas alguns tipos. Alguns a vivenciam em tons suaves, outros só a expressam em tons escuros e obscuros sem se importar com os sentimentos dos outros. É uma satisfação saber que estão envolvidos nos cuidados com os netos, a história de amor de vocês dois é um exemplo de que vale a pena lutar por esse sentimento, não importa os caminhos árduos que tenhamos que percorrer para alcançá-lo. Forte abraço aos dois!

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Afinal, qual a explicação da traição? Pq o Diego viu o Maurício chupando o Betão e ele tava de boa, até gemendo. Duvido muito q alguém como o Betão, se não quisesse, conseguiria impedir o boquete do Maurício.

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Pelo o que eu entendi o Maurício estava ameaçando a expôr a sexualidade e o relacionamento do Betão para o pai dele

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Chantagem Atheno! Até se dar conta de que o amor que sentia pelo Diego superava todos os seus medos, o Maurício conseguiu exercer seu poder sobre ele, ameaçando expor sua sexualidade, e cedeu. Chantagistas sempre se valem de alguma fraqueza e se tornam algozes sedentos que nunca param com suas exigências, a menos que o chantageado supere sua fraqueza, a enfrente e todas as consequências que vêm com ela. É a única maneira de não ser mais manipulado. Perder o Diego fez o Betão superar sua fraqueza. Abração!

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Eita, mais um conto gostosissimo de ler! Kherr, esses seus tipos são muito bons. Consigo enxergar alguns parecidos mesmo. Obrigado!

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Bom dia meu amigo. Obrigado pela bela manhã que tive lendo mais essa pérola que você nos presenteia sempre que escreve. Seria capaz de ler o dia inteiro o que você escreve. É sempre gratificante e prazeroso sem falar no tesão e sensualidade quando você descreve os momentos de intimidade e para coroar aquele sentimento gostoso que todo mundo almeja; Amor. Você é ótimo e seus contos são perfeitos, irretocáveis. Só me resta mais uma vez agradecer e te dar os parabéns. Forte abraço do fã carioca.

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Valeu Roberto! Ah se não fosse o amor, o que seria de nós? Somos criaturas incessantes nessa procura. Super abração!

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Esse conto tem quase tudo o que eu amo, romance, drama, traição, angústia, intrigas, um antagonista falso amigo, só faltou ser de época kk Adoro quando você coloca esses flagras nos seus contos, pq é um acontecimento que realmente mexe na estrutura do relacionamento do casal, e é sempre interessante ver que rumo você vai dar pra eles depois que isso acontece.

Se não for pedir muito, você bem que podia nos trazer mais um daqueles contos de protagonistas sem vergonha que passam o rodo nos machos até encontrar alguém que faça ele se aquietar hehe

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Oi Tomás, me alegra saber que curte os ingredientes dos meus contos, só tenho a agradecer. Vou pensar na sua gestão. Abraço!

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