O Vizinho - Capítulo I

Da série O Vizinho
Um conto erótico de M.K. Mander
Categoria: Gay
Contém 6075 palavras
Data: 13/10/2023 02:46:37

CAPÍTULO I

*** ERIC VIANA***

A PELE BRONZEADA enchia minha boca d’água enquanto os gominhos no abdômen, as veias saltadas nas mãos e os músculos dos braços se contraiam e ele tirava a blusa, deixando tudo aquilo à mostra: o corpo alto de ombros largos, peito aberto e barriga definida, agora, coberto apenas por uma bermuda de linho, que eu implorava com os olhos que fosse retirada também, enquanto permanecia ali, mudo,abandonado, estático, como se tivesse sido mumificado. Incapaz de pronunciar qualquer palavra, mover o dedo mindinho ou lamber meus próprios lábios, completamente hipnotizado pela verdadeira festa erótica se desenrolando diante dos meus olhos.

Pedras verdes escuras me encararam provocativas, e os lábios perfeitos e rosados, destacados pela pele clara e pelos fios loiros e escuros da barba espessa, se curvaram em um sorriso zombeteiro. A janela enorme deixava que a luz entrasse, e minha santa das gays desesperadas para que um homem tire logo as calças! O infeliz parecia uma pintura, sensual e, deliberadamente, provocativo.

Meu ar faltou, minha visão escureceu, minha pele arrepiou e aqueceu, e ele ainda nem tinha me tocado. Lutei contra o estado de paralisia que insistia em tomar conta de mim e consegui morder o lábio, desesperado. Os lençóis e cobertores me abraçavam, mas não eram seus toques em minha pele que eu queria. Era o dele. Era o toque daquelas mãos grandes que, agora, desabotoavam a bermuda em uma tortura lenta e agonizante. Cristo santo! Que homem é esse?!

Sem dó de mim, e, arrisco dizer, até gostando do que sua provocação fazia comigo, continuou passeando os dedos pelo tecido lentamente, sensualmente, sem jamais desviar os olhos dos meus, fazendo-me vibrar, ofegar, implorar com o olhar. Meu pau se contraía em um ritmo ansioso, me deixando sentir a dureza. Não havia dúvidas, minha cueca estava arruinada, e aquele maldito homem, ainda, nem mesmo, tinha ficado a um passo de distância de mim.

A bermuda finalmente deslizou pelas coxas deixando-as expostas. Músculos fortes, torneados e saltados, cobertos por pelos loiros, apareceram diante dos meus olhos e meu corpo implorou para tocá-lo. Meu peito subiu, desceu, em uma respiração profunda, e passei a língua sobre os lábios, precisando fazer alguma coisa com ela. Qualquer coisa.

Ele sorriu. Não mais de canto, ou sutilmente. Sorriu aberto, escancarado, sonoro, atraindo minha atenção para o seu rosto antes que meus olhos pudessem focar naquilo que me chamava, como um verdadeiro encantador de serpentes. Puta merda! Era a serpente quem estava me encantando! Ali, tão perto. Tão deliciosamente perto!

Quando se deu por satisfeito de me distrair com sua diversão as minhas custas, o olhar esverdeado baixou, me convidando a fazer o mesmo e eu não me fiz de rogado, deslizei meus olhos por todo aquele monumento à minha frente, senti uma necessidade imparável de me movimentar e me apoiei na cama sobre os cotovelos. O desejo, cru e desesperado por aquele homem, por tocar e ser tocada, me sufocava.

A cabeça, redonda e grossa que saía pela cueca chamou minha atenção imediatamente, e eu gemi. Gemi, porque pai do céu! Eu queria tanto passar minha língua ao seu redor e chupá-la que minha boca secou e inundou instantaneamente.

Mordi o lábio, remexi-me na cama macia, apertei minhas coxas, ainda completamente vestidas por uma calça jeans, desesperado, necessitado por algum alívio, mas sem conseguir desviar meu olhar, ou impedi-lo de continuar a exploração até encontrar aquela ereção poderosa dentro de uma cueca box branca, que falhava miseravelmente na missão de contê-la. Puta merda! Ele é enorme! Enorme para caralho!

Ensaiei um movimento para me levantar, mas ele estalou a língua e balançou a cabeça em uma negativa lenta. Eu queria protestar, reclamar, me rebelar, mas tudo o que fiz foi observar enquanto ele finalmente dava passos à frente, acabando com o espaço entre nós. Com a aproximação, meu nariz resolveu se juntar à festa da qual meus olhos vinham participando há minutos e o cheiro dele inundou meus sentidos de maneira atordoante. Perdido, eu estou completamente perdido.

Quando ele finalmente chegou à beira da cama, eu já me sentia pronto para implorar por um contato, qualquer contato. Mas, antes que eu pudesse sair do meu torpor e dizer qualquer coisa, seus joelhos subiram sobre a cama e afundaram no colchão, prendendo minhas pernas entre as dele, ainda sem encostar em mim. Foi da sua mão o primeiro contato que eu senti e juro que a eletricidade de mil usinas elétricas atravessou meu corpo, matando-me de tesão e desespero.

Com o pau completamente duro e pulsante, a respiração acelerada, o peito arfando e a boca seca de tanto desejo, senti o leve explanar de seus dedos sobre a maçã de meu rosto, deslizando, descendo, até encontrar meus lábios e afundar dentro da minha boca. Fechei meus olhos, recebendo aquela mísera intimidade como um sedento no deserto.

Envolvi minha língua ao redor daquele único dedo, saboreando-o, deixando que minha imaginação ditasse os movimentos que ela implorava para fazer em qualquer outra parte do corpo glorioso que praticamente pairava sobre mim, e me rendi. Deliciei-me com a sensação de tê-lo dentro de mim, ainda que tão pouco dele e tão pouco em mim.

− Ah, Eric! O que eu faço com você? -A voz rouca me perguntou, me lançando ainda mais profundamente na névoa de perdição e desejo que me cercava, arrancando de mim mais um gemido, dessa vez, arrastado e manhoso. Senti seu rosto se aproximar, sua boca desceu sobre meu pescoço e sua língua esticou-se, varrendo da junção entre meu ombro e pescoço até minha orelha. Abri a boca sem emitir som algum, sentindo meu corpo estremecer inteiro em antecipação e deleite por finalmente tê-lo mais um pouquinho para mim.

− Será que eu faço você gozar sem tocar no seu pau? - sussurrou, enquanto seu corpo roçava leve e provocativo em mim, em flexões que hora me incendiavam com o simples raspar, hora me faziam sentir frio, quando me abandonavam. Perguntou, não porque tinha dúvidas de ser capaz, mas para me provocar. Funcionou, a pergunta despertou em mim muito mais do que o desejo por mais, despertou a necessidade.

− Não, por favor, não! -Implorei em um gemido manhoso e completamente despudorado.

− Não, o que, Eric? -perguntou, mesmo sabendo o que eu queria dizer. Elevando minha tortura, roçando o nariz pela curva do meu pescoço, aproximando sua boca da minha, respirando o mesmo ar que eu, desafiando-me a conseguir falar. Abri a boca, mas som nenhum saiu. Ele lambeu meus lábios abertos e coloquei minha língua para fora, buscando a dele com fome e sede, mas ele se afastou milímetros, estalou a língua e balançou a cabeça levemente.

− Não o que, Eric? Fala! -exigiu, pausadamente, logo depois, mordeu meu lábio e puxou-o entre os dentes, deixando seu peso tocar meu corpo, amolecido, preenchendo o último espaço vazio de mim com uma necessidade latente dele.

− Você! Eu preciso de você! -Gemi: − Preciso que me toque. Minhas mãos lembraram que ainda funcionavam, subiram por seus braços, sentindo cada relevo e reentrância, a pele macia sob meus dedos, o calor que emanava dele e incendiava até os cantos mais escuros e escondidos de mim mesmo. Movimentei a cabeça, passeando meu nariz por seu rosto, esticando a língua por seu pescoço, puxando sua barba loira com os dentes. Ele se contorceu sobre mim, encarando-me. Os olhos verdes me atraiam, me sugavam, me desconectavam de absolutamente tudo ao redor.

Não havia nada, só ele, eu, e um desejo consumidor.

− Eu preciso de você me tocando, me lambendo, me chupando! - Finalmente, disse, ofegante e deslumbrado, com a língua cheia do seu gosto. Minhas roupas pinicavam na pele, porque tudo em mim sabia que havia coisas demais entre nós, tecido demais, espaço demais.

− Fala! -ordenou em um sussurro.

− Me fodendo! Eu preciso de você me fodendo! -As palavras irromperam para fora da minha boca e sua língua invadiu-a. Dominou-a, conquistou-a, tomou absolutamente tudo de mim. Seu corpo colou completamente no meu e impulsionei meus quadris para cima, desesperado, esfregando sua ereção no ponto exato do meu maior desespero. Gemi, desnorteado, e sua boca deslizou pelo meu queixo, pescoço, colo, até chegar à camiseta fina que eu vestia. Ele sorriu, puxou o tecido para baixo.

Estremeci, me partindo em um gozo súbito e gostoso enquanto ele tinha um dos meus mamilos na boca e o mamava, contornando o bico duro com a língua e, depois, chupando-o, arrastando os dentes sobre ele, ao mesmo tempo em que suas mãos desciam pela lateral do meu corpo e enrolavam a blusa para cima, e interrompendo o trabalho de sua boca por breves segundos, apenas o suficiente para finalmente deixar meu tronco nu e completamente a sua mercê.

Ele abaixou a cabeça sobre a minha barriga, plantando um beijo abaixo do meu umbigo e subindo, lentamente, roçando a ponta do nariz e dos lábios por minha pele arrepiada, antes de fazer o caminho de volta, agora, parando com a boca no cós da minha calça. Vibrei, ansioso pelo que viria a seguir, e ele viu isso no meu olhar.

− Você não quer a minha boca em você agora, quer? -perguntou, sorrindo de canto, se sentando sobre os meus quadris e desabotoando minha calça jeans

− Não... -Respondi com os olhos focados nos seus. Com um sorriso escancarado, ele abaixou a cabeça, curvando o corpo e enfiando o nariz justamente naquele espaço, para logo depois, puxar uma inspiração profunda, aspirando meu cheiro.

− Tem certeza? -Perguntou, com a voz abafada pela posição, fazendo seu hálito quente atravessar a barreira do tecido fino que cobria meu púbis e meu pau contrair, desejoso.

− Sim!!! -Respondi, arrastadamente, fechando os olhos e ele finalmente levantou-se. Suas mãos me despiram com rapidez, tirando cueca e calça de uma vez, e quando ouvi o farfalhar de roupas caindo no chão, abri os olhos para ele, que agora descia a própria cueca em um movimento ágil. Assim que o tecido deslizou pelos quadris, seu pau saltou, duro e grosso, glorioso, apontando para cima, com as veias evidentes e a cabeça brilhando.

Ofeguei, desejoso de tantas coisas ao mesmo tempo, sem saber o que escolher. Queria tocá-lo, lambê-lo, mas também queria encaixá-lo dentro de mim e deslizar sobre ele até o fundo, sentir-me sendo invadido e preenchido por completo, engolindo-o. Rebolar, para que ele alargasse minhas paredes e fodesse meu cuzinho ansioso, pedinte por ele.

Dessa vez, os passos que o trouxeram até mim não foram lentos ou provocativos, foram ágeis e determinados, eu não fui o únicl que cansou de brincar. Sentei-me na cama, não resistindo à vontade de senti-lo em minhas mãos e agarrei seu pau com firmeza quando tudo o que nos separava era o fato de eu estar sentadl e ele ainda em pé. Ele gemeu e o som me rasgou inteirl. Sua mão segurou minha nuca, lambi os lábios, seus olhos brilharam, e decidi que teria tudo o que eu queria, mesmo que fosse um pouquinho de cada coisa.

Sem dar chance para resistência, curvei meu pescoço, abocanhei a glande e chupei-a como se fosse um pirulito delicioso. Foi a minha vez de gemer. Me remexi na cama, esfregando o pau sobre os lençóis e, precisando de mais enquanto o olhava e chupava a cabeça de seu pau, levei um dedo até minha bunda e pressionei meu cuzinho. A onda de prazer que me atingiu me fez fechar os olhos e abrir a boca em um gemido deliciado, ele aproveitou o momento, investindo duro e enfiando o pau até o fundo da minha garganta, quase me fazendo engasgar.

A sensação me despertou, e engoli com seu pau preso à minha boca. Um som parecido com um rugido escapou dele e em segundos minha boca foi abandonada e ele desceu o corpo sobre o meu na cama, me beijando, sentindo o próprio gosto na minha língua. Encaixei meu quadril ao redor de suas pernas e, rebolando, seu pau em minha entrada. Nos olhamos, ofegantes, por apenas um segundo e, sem delicadeza, ele me penetrou. Gritei, recebendo a bem-vinda ardência do preenchimento.

Minhas costas arquearam, saindo da cama. Minha boca abriu, ele agarrou meus quadris e fez exatamente o que pedi, meu fodeu! Duro e rápido enquanto lambia, sugava e mordia minha pele, meus mamilos, minha barriga e pescoço. Rebolei sem pudor e seus olhos se fecharam enquanto ele se perdia nas mesmas sensações em que eu me afogava.

Sua boca voltou a minha, lambendo-me e chupando.

Descontrolados, respirávamos o mesmo ar, nossos peitos subiam e desciam com velocidade, colados. Rolamos. Deitado por cima do seu corpo, tive minhas coxas agarradas, até me ver sentado em seu colo. Usando os pés como impulso, subi pela primeira vez e, quando seus dentes arranharam minha garganta antes de chupá-la, bati minha bunda em suas coxas, engolindo seu pau de uma vez e arrancando de nós dois gemidos altos e deliciados.

Sua mão deslizou pelas minhas costas, alcançando a raiz dos meus cabelos, puxou minha cabeça para trás, obrigando-me a dar livre acesso ao meu pescoço. Sua língua brincou ali e eu perdi o controle, subia e descia, cavalgando-o deliciosamente, gemendo cada vez mais alto, com meu corpo implorando por libertação com mais desespero a cada estocada, e quando sua mão puxou meu cabelo com força e seu quadril investiu contra mim ao mesmo tempo em que eu investia contra ele, me perdi.

Com um grito agudo e tremores, gozei, desmoronando em seus braços, amolecido e saciado. Mas seus quadris não me deram folga, continuaram em busca da própria libertação enquanto eu me agarrava ao seu corpo como se ele fosse um bote salva-vidas, até que ele também estremeceu embaixo de mim, e caímos os dois, de costas, na cama, um sobre o outro. Uma confusão de braços, pernas, suor e satisfação.

O riso veio solto, começou nos meus pensamentos, se apossou dos meus lábios, até irromper pela minha garganta em uma gargalhada gostosa de homem bem fodido. Afundei meu nariz em seu peito, aspirando seu cheiro, e logo pude ouvir sua risada se juntar a minha. Durou segundos, segundos de felicidade genuína.

Até que o som se transformou, e, de repente, não eram mais risadas, e sim o trim-trim irritante, como um toque de celular. Foi instantâneo, a sensação de languidez e saciedade do meu corpo virou-se em dormência, aquela sentida quando se está há muito tempo parado na mesma posição.

Os cheiros e sons voltaram, eu podia aspirar o amaciante das roupas de cama ao meu redor, além do trim-trim irritante, podia ouvir alguns pássaros, buzinas de carros e a maldita música da Rita que o vizinho do prédio da frente adorava escutar, até mesmo a claridade tentava se infiltrar pelas minhas pálpebras fechadas. Então, me dei conta, tinha acordado.

*************

Com os olhos fixos na parede de cortiça lotada de calendários, post its, e anotações sobre prazos finais, não consigo evitar pensar sobre os primeiros minutos do meu dia. Gozado. Acordei gozado. De novo. Quanto tempo faz agora? Três semanas, certo? Mas quem se importa? Além do meu vibrador, é claro, que desde que o corredor resolveu bater ponto nos meus sonhos diariamente, tem ficado abandonado na gaveta da mesinha de cabeceira, pelo menos, hoje, foi um dos dias bons. Consegui gozar duas vezes.

Ouço a porta do apartamento do lado batendo. Lá se vai meu vizinho pervertido... Será que eu deveria agradecer a ele pelos orgasmos? Repito meu dilema diário e rio de mim mesmo. Mas não é como se isso realmente fosse possível, já que há alguma força mágica que sempre me impede de vê-lo, desde que se mudou para cá, há dois meses atrás.

Ouço sua porta abrir e fechar em diferentes horários do dia, mas não importa quão rápido eu chegue ao corredor, nunca consigo pegá-lo entrando ou saindo do apartamento. Nunca consigo vê-lo, e bem, a santa dos vizinhos curiosos é testemunha de que eu tentei! A dos vizinhos enraivecidls, e a dos vizinhos excitados com os sons de sexo do apartamento do lado também são.

Quando vi a empresa descarregando a mudança, era só curiosidade, então fiquei atento aos sons do elevador, toda vez que ele apitava no andar, eu corria para o olho mágico da porta do meu apartamento, querendo saber se era o novo vizinho chegando em casa. Um, dois, três dias nesse vai e vem corrido pela minha própria casa, e nada. Fiz o vizinho do andar de baixo achar que eu tinha começado a treinar funcional em casa à toa, porque não vi nem mesmo um pedacinho da bunda do vizinho novo enquanto ele virava a esquina do corredor.

Na semana seguinte, reparei que ele tinha uma rotina, porque sua porta sempre se abria e fechava nos mesmos horários, e quando estava certo deles, passei a fazer tocaia no olho mágico, mas, então, ele mudou os horários, e eu ficava plantado na porta como uma árvore criando raízes a troco de nada, porque ele simplesmente não aparecia. E todas as vezes em que eu ouvia a porta, nunca conseguia chegar ao corredor à tempo de vê-lo. Saía correndo feito um louco desvairado de onde quer que eu estivesse no meu apartamento, só para dar de cara com o corredor vazio.

Exceto por uma vez, em que eu fiz a alegria do seu Marcelo, o vizinho do apartamento que fica do outro lado. Acontece que eu saí tão desabalado do banheiro, quando estava penteando o cabelo despois do banho, que esqueci que estava de cueca, e foi exatamente assim, que o seu Marcelo, meu vizinho de 72 anos, saindo pela porta com um saco de lixo na mão, me viu. Com os cabelos loiros molhados, o colo vermelho pela corrida rápida, e nada mais além de cueca branca e pequena cobrindo o corpo.

Os olhos do pobre velho ficaram tão arregalados, que me preocupei. Pedi desculpas e voltei correndo para dentro, mas só ouvi a porta do seu Marcelo bater quase dez minutos depois. Acho que piripaqueei o velho. Passei uma semana assim. E foi na terceira semana que a indignação tomou o lugar da curiosidade. Aparentemente, bem ambientado em sua nova casa, o vizinho decidiu que o prédio inteiro precisava ter conhecimento das suas atividades noturnas, e, então, meu pesadelo travestido de gritos, gemidos e pancadinhas na parede do meu quarto, que é a mesma do quarto do infeliz, começou.

Todas as noites, religiosamente, meu querido vizinho transa escandalosamente com uma pessoa, e nunca a mesma! Sempre, sempre uma diferente! Como eu sei disso? Porque a voz e o som dos gemidos nunca é o mesmo! Puta merda! Onde foi que eu cheguei? Minha mãe ficaria orgulhosa, me tornei um exímio analista de gemidos e sons de foda.

Minha fúria durou duas semanas. Duas semanas em que todos os dias, eu queria encontrá-lo, apenas para pedir que ele, encarecidamente, amordaçasse seus parceiros de foda, porque eu realmente gostaria de conseguir dormir uma noite sem estar melado, excitado e latejando pelo sexo alheio. Era uma porra! Uma mistura de raiva e inveja em igual medida que estavam me tirando do sério. Cheguei ao ponto de pensar em passar bilhetes por baixo da porta dele, já que não conseguia encontrá-lo.

E ele morava aqui há pouco tempo para eu reclamar com o síndico. Além disso, o que eu diria? “Olha, seu Moacir! Preciso conversar com o senhor! Não está dando mais para aguentar! O meu vizinho novo transa demais! Pois é, seu Moacir! Toda noite, quase a noite toda! Não sei como o infeliz aguenta, mas aguenta, seu Moacir! Os caras gritam tanto que tá impossível não sentir inveja!” É claro que não! Eu simplesmente não podia dizer uma coisa dessas.

Então engoli toda a minha raiva. Deixando-a livre apenas nos momentos em que permitia que minha imaginação corresse solta, planejando formas de fazer o maldito vizinho comedor brochar. Pensei, por exemplo, em deixar um bolo na sua porta, um bolo batizado com algum remédio que o fizesse brochar, se aquela situação não melhorasse, eu não me responsabilizaria pelos meus atos! Mas, para minha imensa surpresa e, literalmente, satisfação, duas semanas depois, toda a minha indignação se transformou em gratidão.

Com uma xícara quente nas mãos, me debruço sobre o balcão da cozinha americana do apartamento e marco um x na terceira tarefa do meu check list mental do meu ritual diário. A primeira, acordar gozado. A segunda, me fazer humano depois de acordar, e, a terceira, namorar minha casa e dizer para mim mesmo que falta muito pouco para que ela se torne completamente minha, de papel passado.

Quinze minutos depois, confiro as entregas dos próximos três dias.

Preciso concluir um livro e começar a tradução de um artigo científico. A manhã passa em um borrão de palavras traduzidas do português para o francês, e quando a hora do almoço chega, meus pobres olhos só querem um descanso da tela brilhante do computador. Me levanto da cadeira e estico os braços atrás das costas, ouço o estalar da minha coluna e aproveito para relaxar o pescoço também.

O início da tarde já não passa tão rápido quanto eu gostaria. Acontece que o trabalho com o artigo já começa chato. Mas não sei porque me espanto, afinal, é impossível que qualquer coisa sobre beringela seja realmente legal, e é justamente este o seu tema. Cristo! Eu amo meu trabalho. Amo a língua francesa, amo o ato de transformar textos ao traduzi-los, amo procurar e esconder sentidos em palavras, frases e parágrafos. Para mim, é muito mais do que um processo mecânico, eu realmente gosto de fazer o que faço.

Gosto, principalmente, da liberdade que trabalhar para mim mesmo me dá. Eu escolho meus dias e horários de trabalho, eu estipulo e lido com meus próprios prazos, eu não preciso lidar com colegas chatos ou com um ambiente de trabalho tóxico. Trabalho em casa, confortavelmente sentado na minha sala ou no meu quarto. Ao meu ver, só tem benefícios.

Mas, às vezes, acontece de um texto me dar uma surra. E, aparentemente, o maldito artigo sobre os benefícios do consumo de beringela será um desses textos. Sério, quem usa a palavra estoicamente? Ninguém em sã consciência, certo? Errado! O autor do maldito artigo utilizou, e eu já estou há mais de quarenta minutos procurando uma palavra equivalente, mas vejam só? Aparentemente, os franceses são mais sensatos que os brasileiros, e para que ninguém decida que porque a palavra estoicamente existe, ela deve ser usada, os moradores da França simplesmente decidiram que não precisavam que ela existisse em seu vocabulário.

Uma porra! Com um suspiro frustrado, totalmente imerso no trabalho, começo a me preparar para procurar formas de substituir a palavra pelo seu significado, mas sou interrompido pelo alarme do celular que começa a tocar, anunciando a chegada da primeira melhor hora do meu dia. Não consigo me impedir de sorrir e, largando absolutamente tudo o que estou fazendo de lado, corro para a cozinha, pego uma garrafinha de suco, antes de me plantar na pequena varanda do apartamento, como todos os dias nesse horário.

Com os olhos fixos na rua, espero. Depois que o semáforo abre e fecha duas vezes, eu o vejo. Em seu ritmo habitual, ele corre. O short preto de tecido leve quase se agarra às coxas musculosas, a camiseta fina deixa seus bíceps e tríceps flexionados a mostra, o cabelo loiro, curto dos lados e cumprido no topo, balança, enquanto seus lábios se movem, provavelmente, cantando em silêncio a música que ouve nos fones de ouvido.

Os óculos escuros protegem seus olhos do sol e acrescentam um que a mais de tesão naquela imagem teste de problemas cardíacos. O homem é um deus loiro! Grande em todos os sentidos, alto, largo, com uma bunda deliciosa, e um rosto, que nem mesmo os óculos escuros conseguem fazer qualquer coisa para esconder a beleza.

Passo a língua pelos lábios, me debruçando sobre a grade de proteção e levando a garrafinha de suco de uva aos lábios enquanto o corredor passa, na calçada, seis andares abaixo de mim, e eu praticamente babo por ele. Faz quase um mês que o vi pela primeira vez. Eu estava aqui, nesse mesmo lugar, olhando para o nada, querendo abstrair minha mente, depois de muitas horas seguidas sentado diante da tela do computador, então ele passou. Correndo, gostoso, suado, e eu até apertei meus olhos para ter certeza de que eu não estava alucinando, afinal, o Thor só existe em filmes, certo?

Chamei pela santa dos gays que não acreditavam no que os próprios olhos viam em voz alta, falando sozinho, me abanei, e quando ele estava quase sumindo da minha visão, achei que algum som tivesse chamado sua atenção, porque ele virou a cabeça, e foi quase como se estivesse olhando para mim, exceto pelo fato de que eu estava dez andares acima, olhando, pela sacada minúscula de um prédio, em meio a tantos outros dentro de um conjunto de prédios.

Ele não poderia estar olhando para mim, mesmo assim, a simples ideia fez minhas pernas bambearem e eu tive que me agarrar ao guarda-corpo da varanda para não cair de bunda no chão. Em alguns segundos, ele sumiu.

Coincidentemente, no dia seguinte eu estava no mesmo lugar, estendendo algumas roupas no varal de chão que deixo na varanda, na verdade, estendendo a cueca que eu tinha molhado ao olhar para aquele homem na tarde anterior, quando ele passou outra vez. E, bem, no dia seguinte, eu precisei estender outra cueca, e no outro, e no outro, e no outro...

Porque, desde então, todos os dias, às 15h, eu tenho um encontro com o deus nórdico corredor, e todos os dias, quando está quase chegando ao final do trecho que meus olhos alcançam, ele olha para mim, tudo bem, tudo bem, não para mim, na minha direção. No início, achei que era um som, mas, depois, descobri que tem um outdoor com uma propaganda de lingerie bem na direção do meu prédio. Aparentemente, o deus corredor gosta muito de renda vermelha.

Foi na quarta noite daquela semana que eu sonhei pela primeira vez. Fui dormir com a porta do quarto fechada, um travesseiro na cara e o ar condicionado ligado, tudo para diminuir o som da foda do meu vizinho pervertido, mas não adiantava, eu continuava ouvindo. Nas semanas anteriores, meu vibrador vinha fazendo hora extra, mas desde que o corredor tinha aparecido, ele não estava dando conta da minha mente fértil.

Porque ainda que eu me masturbasse e tivesse orgasmos deliciosos, bastava voltar a ouvir o comedor grunhir e gemer, para a imagem do gigante loiro invadir a minha mente e eu imaginá-lo diante de mim, grunhindo e gemendo enquanto fazia o que queria com o meu corpo. Estava foda.

Aos trancos e barrancos, duro, excitado, dolorido e sem conseguir tirar aquele corpo suado da cabeça, depois de muito rolar na cama, eu dormi, e sonhei. Foi um sonho sem preâmbulos, começou com a sua boca se banqueteando na minha, chupando, mordendo e lambendo, terminou com ele gozando, enterrado fundo dentro de mim, enquanto eu estava mole e jogado em cima da cama, saciado, satisfeito, feliz. E tem se repetido todas as noites desde então.

Nas noites seguintes, descobri que nos meus sonhos é ele o meu vizinho pervertido, e que é sempre comigo que ele faz suas perversões. Minha mente criativa já inventou tantas formas quanto foram possíveis de tudo começar. Ele já bateu na minha porta, me pedindo uma xícara de açúcar, nós já nos esbarramos no hall e sentimos uma atração irresistível, que fez com que começássemos a nos agarrar ali mesmo.

Eu já fui bater na porta dele, pedindo uma colher de sal, e tantas outras coisas... Mas, invariavelmente, não importa como comece, quando meu sono não é importunado, sempre termina igual, exatamente como no primeiro dia, com ele enterrado em mim até o fundo, logo depois de nós gozarmos, esses são os dias bons.

Algumas vezes fui acordado antes da hora por um barulho na rua, ou uma ligação, esses são os dias ruins, dias em que eu tive meu orgasmo negado. Era sonho, mas a coisa toda é tão real, que meu mau humor ao acordar foi realíssimo!

Do alto do sexto andar, observo o vizinho dos meus sonhos se afastar de mim com a pele morena suada, e os cabelos, molhados de suor, jogados para trás. Então, como sempre, quando está quase saindo do meu campo de visão, ele olha para trás por apenas alguns segundos, e eu me permito acreditar que ele está me dizendo até mais tarde.

− Até mais tarde, corredor!

*********

— Ai, Li! Eu mal posso acreditar que finalmente tenho o suficiente! Meu Deus! Finalmente! Acho que no dia em que eu assinar o contrato, vou gritar da janela do prédio que aquele apartamento agora é meu! digo, afobado, como uma brincadeira, mas a cada segundo que passa, a ideia parece mais memorável na minha cabeça e eu decido que sim! Vou fazer isso. Minha irmã me encara divertida do outro lado da mesa do restaurante em que estamos.

— Ah, claro! Os vizinhos vão adorar, e os passantes vão te achar louco, na verdade! Tenho uma ideia! -diz, com um olhar diabólico no rosto: ͞ Por que você não dá esse show pontualmente às três horas da tarde do dia? Nem um minuto a mais, nem um minuto a menos...

Estreito meus olhos para ela, entendendo exatamente qual é o seu ponto e passo as mãos pelos meus cabelos, organizando-os todos de um lado só do pescoço, depois, brinco com o pingente do meu cordão.

— Não sei... talvez essa não seja de todo uma má ideia, sabe? Isso pode fazê-lo me notar...

Lívia revira os olhos.

— É sério, Eric! Você precisa parar com essa obsessão! Foi bonitinho no começo, mas, agora, já tá ficando esquisito...

Inclino minha cabeça e a observo.

— Achei que tivéssemos saído pra comemorar meu futuro, novo, velho apartamento... -levo a taça de vinho à boca, tomando um gole, deixando que o gosto amargo e doce, ao mesmo tempo, inunde meu paladar.

— E nós saímos...

— Então porque nós estamos falando sobre o que você insiste em chamar de minha obsessão pelo corredor gostoso? É sempre você a trazer o assunto à tona... Talvez seja você a obcecada no final das contas... -Comento e tomo mais um gole. É a vez dela de estreitar os olhos para mim.

— Malditas aulas de argumentação e clube de debates! Eu juro por Deus que quando eu tiver filhos, eles nunca vão participar dessas coisas. -Gargalho!

— Você sabe que eu estar certo não é culpa dos debates que venci na época da escola, né?

— Uma ova! Duvido que sem todo aquele treino você seria tão bom em encontrar argumentos tão convincentes mesmo quando está errado! E, Eric, você pode dizer o que quiser, mas está errado! Isso não é normal! Já faz quase dois meses que... -Ela para de falar subitamente e eu sorrio.

Lívia olha para os lados, procurando qualquer curioso atento à nossa conversa, e, não encontrando nenhum, aproxima a cabeça da minha, por cima da mesa, antes de sussurrar: ͞ Que você sonha que está transando com um homem que nunca viu e acorda gozado, droga! -Gargalho alto, agora sim chamando atenção das demais pessoas no restaurante para nossa mesa.

— Por que você está sussurrando, Lívia? Todo mundo transa! E quem não transa, devia transar! Aliás, acho que é esse o seu problema! Quanto tempo faz desde a última vez, em? -O rosto da minha irmã é tingido de vermelho e eu volto a gargalhar, Deus! Nós não poderíamos ser mais diferentes!

Ela sonha com o príncipe encantado chegando no cavalo branco, e, só perdeu a virgindade, porque foi enganada por um sapo travestido de príncipe, mas desde que se decepcionou com a verdade, parada nem começar a definir sua vida sexual. E eu, bem, não é como se eu saísse por aí à caça, mas também não dispenso boas oportunidades, e tampouco preciso de um homem para me satisfazer, meu amigo vibrador que o diga. E é isso o que digo a ela.

— O que você chama de obsessão, eu chamo de oportunidade, Lívia! Porque gozar com um vibrador é bom, mas gozar com um homem fazendo o que bem entende de mim, Deus! Isso é incrível! E, se no momento eu não tenho um real, não serei eu a me esforçar para dispensar aquele que me visita em sonhos!

— Mas você não acha que isso te impede de encontrar justamente esse cara real? -pergunta, ainda com a pele avermelhada, ignorando completamente o questionamento que fiz, como eu sabia que faria.

— Não, eu não acho...

— Isso quer dizer que você tem um encontro para o dia dos namorados? -Suas sobrancelhas estão arqueadas, entre a dúvida, e a animação.

— Dia dos namorados? -Franzo a testa.

— Tá vendo só? É disso que eu estou falando! O dia dos namorados é em um mês e você nem tinha se dado conta! E nunca, Eric! Nunca! Desde a adolescência, você deixou de ter um encontro pro dia dos namorados! -ouço suas palavras e não posso dizer que ela está errada, porque seria mentira.

Mas, curiosamente, diferente de todos os anos anteriores, esse ano eu simplesmente não me importei com essa data, porque, honestamente, fazer questão de companhia nunca foi uma coisa emocional, foi sempre algo físico.

Eu simplesmente queria saber que ia transar no dia dos namorados, não é menos preocupante, eu sei, mas, bem, cada um com as suas manias, certo? Algumas pessoas colecionam palitos, outras, roubam, quando pensam que ninguém está olhando, eu? Eu marco noites de sexo todos os anos no dia dos namorados... é a vida... ela é estranha. Não há o que fazer quanto a isso.

Olho para o rosto da minha irmã, e enquanto penso no que dizer, muitas opções me passam pela cabeça, inclusive, a de virar a mesa e perguntar, novamente, sobre a sua própria vida emocional e, ou, sexual, mas decido pela honestidade.

— Bem, se você pensar bem, isso é um avanço, não um retrocesso... De alguma maneira, algo que não era exatamente saudável, precisar ter companhia no dia dos namorados, simplesmente perdeu a importância, na verdade... Acho que eu deveria agradecer ao corredor por isso também! -Ela revira os olhos.

— Eric...

— Tudo bem, Li, você fez seu ponto... Agora podemos voltar à nossa comemoração?

— Eu só acho que...

— Lívia! -A interrompo com um tom definitivo e ela expira com força, antes de fixar seus grandes olhos castanho-escuros em mim, fazer um biquinho contrariado, e então, se render.

— Tudo bem! Tudo bem! Quando você vai falar com o seu Felipe?

— Amanhã mesmo! Não quero esperar nem mais um segundo, se ele quiser assinar os papéis amanhã, eu assino! -Minha irmã ri.

— Calma, Eric. Não é tão simples assim, ele ainda vai precisar analisar os documentos que fizemos, se você não tivesse uma brilhante advogada como irmã, seria ainda pior. De nada, aliás!

— Pelo quê? Por ter nascido? Se manca, Lívia! Eu nunca pedi você! Mesmo assim, um belo dia, mamãe chegou em casa com um pacotinho que mais parecia uma bola, de tão pequeno e redondo, e eu tive que viver com isso! Você quebrava minhas coisas, roubava meus brinquedos, era sempre o centro das atenções...

Definitivamente, um péssimo negócio! Pedi a mamãe várias vezes pra te devolver, mas ela disse que era impossível, então, minha cara, nada que você fizer por mim, jamais vai ser o suficiente pra pagar tudo o que eu perdi ou tive que dividir com você!

Declaro e, ao final de meu discurso, minha irmã está se contorcendo em risadas, porque ela sabe que cada palavra é mentira. Eu pedi por ela sim, eu amei cada segundo da sua existência, penteei seus cabelos e troquei suas fraldas. Eu a ensinei a escovar os dentes e a andar de bicicleta. Eu dei a ela sua primeira camisinha, e expliquei como usar, eu fui irmão mais velho e ela, a caçula, na verdade, ainda interpretamos esses mesmos papéis, mesmo que eu já tenha vinte e seis e ela vinte e dois, e que, frequentemente, Lívia insista em invertê-los.

Não me seguro por muito tempo e, em instantes, somos dois gargalhando descontroladamente no meio do restaurante italiano. Depois que nos acalmamos, Lívia segura em minha mão e, ainda com sorrisos estampados em nossos rostos, ela diz que me ama, e ao invés de responder que eu também, aperto sua bochecha, apenas para irritá-la, afinal, é disso que se trata o amor fraternal, não é?

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