Meu nome é Maria Cecília Ferreira, tenho 46 anos, bom pelo menos é o que consta nos meus documentos, nem sempre tive esse sobrenome e não sei a minha idade, ninguém sabe exatamente o ano e muito menos o dia que nasci
A história que me contaram é que meus pais saíram de uma região muito pobre e sofrida no norte de Minas para trabalhar nas lavouras de café aqui no Sul do estado, eles ficavam em um pequeno barraco que alugaram no fundo de uma casa em um bairro pobre aqui da cidade, eu não tenho lembranças dos meus pais
Eu era uma bebê na época, meus pais pagavam a filha da vizinha para ficar comigo durante o dia enquanto eles trabalhavam, mas um dia o caminhão que fazia o transporte dos trabalhadores perdeu o freio e caiu em uma ribanceira, poucas pessoas sobreviveram, na época não tinha nenhuma segurança nesse tipo de transporte, geralmente era caminhões velhos e as pessoas iam amontoadas na carroceria sem nada pra protegê-las
Meus pais morreram naquele dia, junto com eles várias outras pessoas aqui da cidade e algumas outras eram do norte também, não foi encontrado nenhum documento do meu pai ou da minha mãe, só sabiam que os nomes eram Francisco e Tereza, eles foram enterrados no cemitério da cidade porque não sabiam direito de que cidade eram, naquela época era tudo mais complicado, não tinha como devolver os corpos para a família porque ninguém sabia onde é que a família estava, se é que tinham família, a prefeitura pagou tudo porque o dono da fazenda nem no velório ajudou, como era um fazendeiro muito rico e poderoso nada foi feito contra ele
A família que estava comigo não tinha condições de me criar e eu fui levada por uma assistente social e colocada em uma casa de adoção, lá eu dei meus primeiros passos, a falei as primeiras palavras, também conheci a Dona tonha, ela que cuidava de mim a maioria do tempo, era uma mulher alegre, eu tenho boas lembranças dela dessa época
Lá eu vivia junto com outras crianças, não lembro exatamente quantas eram porque quase todo mês saiam umas e chegavam outras, eu era uma criança muito quieta, não falava muito, brincava sempre sozinha, por isso as outras crianças não gostavam muito de mim, a única que fazia eu rir e falava comigo era a Dona tonha, eu a via como uma mãe
O local era um casarão antigo, a prefeitura reformou e transformou em uma casa de adoção, Dona tonha tomava conta de tudo junto com outras pessoas, a gente ganhava alguns doações de fazendeiros e moradores da cidade, a prefeitura ajudava no que podia e pagava os funcionários
A gente não comia muito bem mas não passava fome e tinha um teto pra morar, eu fui crescendo ali, nunca houve o interesse de nenhuma família em me adotar, eu parecia uma pequena Índia e sempre estava de cara feia, isso não ajudava muito
Eu não fazia aquilo por mal, eu era uma criança, era meu jeito, eu não me dava bem com as pessoas, não gostava de conversar, lembro de Dona tonha falar que eu tinha um sorriso lindo e que eu devia sorrir mais, mas acho que nessa época só ela conhecia meu sorriso
Bom eu já estava com mais ou menos 7 anos, como eu não tinha nem registro de nascimento basearam minha idade, só sabiam meu nome porque a menina que cuidava de mim sabia porque minha mãe contou a ela se não nem meu nome saberiam
Já tinha entrado e saído muitas crianças dali mas eu continuava, na verdade eu não queria sair dali, era como se fosse minha casa, então não fazia questão de ir falar com nenhuma família que ia ali atrás de uma criança para adotar
Minha vida mudou no final daquele ano, eu me lembro desse dia com detalhes, estava no jardim da entrada sentada debaixo de uma árvore quando vi através das grandes um carro parar no portão, a porta se abriu e saiu uma mulher alta e meio magra, usava umas roupas bonitas e tinha um rosto muito sério
Ela deu a volta no carro e abriu a porta, eu não consegui ver direito quem tinha saído daquela porta, quando deram a volta no carro e entraram eu vi que era uma menina com um vestido lindo, cabelo loiro e um sorriso de orelha a orelha, tinha olhos azuis e ficava olhando pra todo lado com aquele sorriso no rosto
Ela me viu, olhou para mim direto nos olhos e sorriu, eu não sei porque mas sorri de volta, ela chamou a mulher e apontou o dedo na minha direção, a mulher me olhou com uma cara que me deu medo, a menina falava algo mas eu não conseguia ouvir, a mulher falou algo de volta e seguiram mas a menina não parava de me olhar, logo elas chegaram até a porta e sumiram para dentro do casarão
Eu continuei ali até que depois de algum tempo Dona tonha chega na porta e me chama, eu me levantei e fui até a porta onde ela estava, ela me segurou pela mão e me levou até seu escritório em um dos quartos da casa, quando entrei vi a mulher e a menina sentadas
Tonha: Maria Cecília essa é a senhora Ferreira e sua filha Clara, você vai com elas para casa delas, vão ser sua nova família
Quando ela disse aquilo minha reação foi gritar um não é sair dali correndo, fui para meu quarto me jogar na cama e abrir a boca a chorar, logo Dona tonha entra e vem falar comigo, eu não queria ouvir mas ela me pegou e me sentou na cama, vi a mulher parada na porta me olhando com aquela cara feia, vi o rosto da menina atrás dela, o sorriso tinha sumido, seu rosto estava triste
Dona tonha tentava me acalmar, eu não me lembro direito o que ela falou mas não estava adiantando muito, eu só chorava, por fim acho que ela desistiu e saiu, a mulher a seguiu, eu voltei a me deitar e continuei chorando
Senti alguém tocar meu ombro, me virei e vi a menina ali do meu lado, ela estava com algumas lágrimas no rosto
Clara: porque você não quer ser minha irmãzinha?
Eu não falei nada
Clara: por favor vamos comigo e com a mamãe, eu tenho um monte de bonecas para gente brincar, eu te empresto elas até a mamãe comprar as suas, prometo que a gente vai se divertir muito
Ela falou aquilo e estendeu sua mão, eu já tinha parado de chorar, limpei meus olhos e olhei ela por um instante, seu rosto era tão bonito, ela parecia um anjo, eu simplesmente segurei sua mão e ela me levou de volta ao escritório
Clara: mamãe ela vai com a gente, ela vai ser minha irmãzinha
As duas mulheres olharam a gente ali de mãos dadas, a mulher se levantou e se despediu de Dona tonha, a menina saiu me puxando pelas mãos mas me soltei dela e corri até Dona tonha, dei um abraço nela e voltei a chorar
Logo a soltei e voltei até a menina e segurei sua mão e sai com ela, não sei o porque fiz isso, mas a segui até o carro, sua mãe abriu a porta para nós, entramos e nos sentamos no banco de trás, a menina não soltou minha mão e seu sorriso lindo voltou, eu devolvi o sorriso, logo o carro saiu, eu olhei para trás e vi o casarão ficar cada vez mais longe conforme o carro ia seguindo
Continua
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(Como já disse em outros conto, minhas histórias não tem como foco sexo a todo instante, são pequenos romances com algumas partes com sexo sim mas não é o foco principal ok
Espero que gostem 😁)