Amor no Paraíso - Episódio 2: que situação

Da série AMOR NO PARAÍSO
Um conto erótico de Escrevo Amor
Categoria: Gay
Contém 1704 palavras
Data: 28/09/2023 00:33:16

As reuniões desempenham um papel fundamental na vida de César Trajano como empresário. Ele participa de encontros para discutir negócios com outros chefes hoteleiros, representantes políticos, líderes empresariais, equipes de marketing e advogados. Nessas reuniões, ele trata de assuntos como expansão de negócios, acordos com parceiros, eventos luxuosos e outras atividades envolvidas no seu nicho de trabalho.

Era o seu segundo dia no hotel e ele não tirava o rapaz misterioso da cabeça. Porém, não havia tempo para pensar em mais nada. Às 10h, o empresário recebeu uma mensagem de Eliezer. A sua última reunião com a diretoria do desfile foi um sucesso e eles adoraram fazer o evento no lançamento do Hotel Trajano Búzios. A junção dos negócios traria um burburinho para o Hotel.

Naquela semana, haveriam diversos desafios para os funcionários do Hotel Trajano. A partir daquele momento, não havia margem para erros ou antiprofissionalismo. Todos deveriam dar o seu melhor para o local, uma vez que ele traria benefícios para a região.

Cada novo detalhe ou vitória era celebrada no grupo de funcionários. Para tentar se aproximar da equipe, César pediu para ser inserido no grupo, mas digamos que ele gastou boa parte do seu tempo olhando foto por foto dos contatos para encontrar o rapaz do outro dia.

— Para com isso, César. — ele diz para si mesmo, deixando o celular de lado e olhando uma planilha de preços. — Quem não usa foto no perfil do Whatsapp? Isso é loucura. O cara deve ser hétero. Meu Deus. — levantando e indo até a janela para respirar.

Nem preciso dizer que Hugo estava do mesmo jeito. Inclusive, sonhou com o homem misterioso, algo que não era comum, afinal, digamos que Hugo é um cara com espírito livre. Ele sempre foi um paquerador, mas nunca manteve um relacionamento por mais de três meses. Fora que anos atrás, Hugo era um atleta e não tinha tempo para frivolidades.

Morador de Moranguinhos, um dos diversos bairros de Búzios, Hugo pedalava todos os dias para o trabalho, que ficava próximo à Praia da Ferradura. De bicicleta eram quase 15 minutos, ou seja, ele não costumava se atrasar e isso chamou a atenção de Adelaide, que amava funcionários pontuais.

Pouco a pouco, a equipe do Hotel Trajano Búzios ia se integrando e aparando as arestas. O diretor executivo do local, Eliezer também acompanhava a evolução de cada setor e ficava orgulhoso como um pai que vê de perto o desenvolvimento do seu filho.

Entre uma limpeza e outra, Hugo pensava nos olhos de diamantes. Esse foi o nome que ele deu a César. Ele foi designado para limpar os corredores do quinto andar. Enquanto lutava contra um tufo de cabelo que se negava a entrar no aspirador de mão, Hugo foi surpreendido com uma música alta que saiu do sistema de som.

A canção era "When a Look at You", da Miley Cyrus. Desesperado, pois, ele sabia que o dono do hotel estava naquele andar, Hugo pegou uma cadeira e tentou desconectar a caixa de som, que insistia na música.

No mesmo instante, César acordou assustado e levantou da cama em um pulo. Sua visão ainda estava prejudicada, mas o som alto o deixou maluco. Com dificuldade, ele abriu a porta do quarto e viu Hugo lutando para desligar o sistema do som. Porém, a cadeira quebrou e Hugo quase ia caindo no chão.

Usando os poucos reflexos que uma pessoa possui às 6h, César segura o funcionário no colo e fica espantado ao perceber que se trata do rapaz misterioso. De novo, eles sentiram uma forte conexão, tanto que Hugo nem se importou com a cara de sono de César.

***

Você aparece como um sonho para mim

Como as cores de um caleidoscópio

Me dando tudo que eu preciso

Cada respiração que eu dou

Você não sabe? Você é lindo

Quando as ondas estão inundando o litoral

E eu não consigo encontrar o meu caminho de casa

É quando eu, Eu, eu olho para você

Eu olho para você

E você aparece como um sonho para mim

***

Enquanto Miley Cyrus entoava sua famosa canção. César e Hugo continuavam na mesma posição, ou seja, César carregava Hugo nos braços. Porém, o som do elevador fez Hugo dar um salto e ficar no chão. Ele aproveitou para pegar a cadeira quebrada e colocar em seu carrinho de limpeza.

— Você está bem?! — questiona César, que passa as mãos nos olhos para se livrar de qualquer 'caquinha' que estivesse em seu rosto.

— Sim, senhor. — respondeu um nervoso Hugo, que não imaginava estar sonhando com o dono do hotel. — Eu estou ótimo. Perdão pela cadeira, senhor. Se quiser descontar do meu salário...

— Calma, — César olha o broche com o nome do funcionário. — Hugo. Você estava tentando resolver o problema do som. Não tem nada demais com isso.

Uma apressada Adelaide sai do elevador e encontra o patrão conversando com Hugo, que parece estar constrangido. Ela explica toda a situação para César e avisa que uma equipe especializada está vindo resolver o problema, já que a área do T.I não conseguia encontrar o motivo do som estar desregulado.

A voz de Adelaida parecia ser abafada pelo seu coração palpitante. Só depois de muito tempo, que César se deu conta que saiu do quarto usando apenas uma cueca samba canção preta. Ele reparou a forma como Hugo o olhava e por sorte evitou uma ereção.

— Bem, Adelaide, por favor, resolva esse problema o quanto antes. Não queremos os nossos hóspedes sendo acordados por esse despertador tão incomum, não é? — brincou César, porém, ele sempre esquecia que era temido pelas pessoas e Adelaide o olhou com um semblante assustado.

— Sim, senhor. Isso vai ser prioridade. — Adelaide anotou alguma coisa no tablet. — Hugo, por favor, continue a limpeza do corredor. E, senhor Trajano, nos perdoe. Não vai se repetir.

— Com licença. — pediu Hugo, empurrando o carrinho no corredor e fazendo uma cara de pânico ao relembrar a situação que aconteceu minutos antes.

Risos. Essa foi a reação de René ao saber de toda a história de Hugo e o dono do Hotel. Eles sempre tiravam o horário de almoço juntos. Ao lado da cozinha, havia uma espécie de refeitório para os funcionários. Todos os dias, René dividia a marmita com o amigo, que não tinha como preparar refeições balanceadas.

— Eu queria muito ter visto essa cena. — afirmou René, tirando o sapato e mexendo os dedos dos pés.

— Eu quase infartei. Agora, o chefe é forte viu.

— Vish, Hugo, que tom apaixonado é esse?

— Cê pirou, o cara é o dono do hotel. Eu sou um zé ninguém. Nem se eu quisesse uma chance.

— Para não é pra tanto. — René continuava com a missão de colocar comida em seu prato. — O problema é que você é safado. Hugo, seja sincero comigo. Do ensino médio até agora, quantos carinhas você iludiu?

— Qual é. Cê sabe que não é assim. Eu tinha o skate e os treinos. Era uma vida fodida, Rê. — Hugo se defendeu e pegou um prato para servir comida.

— Graças a Deus, que a equipe do T.I ainda não ligou o sistema de câmeras. — ressaltou René.

Ainda no quarto, César escolheu roupas mais agradáveis para combater o clima de Búzios. Ele parou na frente do espelho e aprovou o look. Os cabelos também receberam um trato especial. Já a barba era um tópico sensível para o empresário. O seu sonho sempre foi ter uma barba cheia, mas apenas nasciam pequenos pelos. Ele até tentou uns tratamentos, mas nada funcionava.

Ao arrumar a roupa, César passou o coração em cima do seu peito e sentiu uma palpitação diferenciada. Ele lembrou de Hugo e a forma como o funcionário o olhou. Infelizmente, o empresário já passou por uma situação parecida e não deu muito certo. Até hoje, a família julga a imprudência do rapaz de se envolver com alguém do staff do hotel.

— Alexa, — solta César, que espera a assistente pessoal virtual responder. — tocar 'When I Look at You', da Miley Cyrus.

— Tocando 'When I Look at You', da Miley Cyrus no Spotify. — respondeu uma voz robótica, que vinha do sistema de som do quarto. A música começa a tocar.

— Pelo menos, o sistema interno dos quartos não foi afetado pelo problema. — pensou César, que sentou em sua cadeira e abriu o notebook.

O turno de Hugo acabou e ele pegou a sua bike no estacionamento dos funcionários. O caminho de volta era sempre mais tranquilo, pois não havia sol para atrapalhar o seu percurso. Porém, às quintas-feiras, Hugo tinha um compromisso especial.

Ao invés de pegar o caminho de casa, Hugo seguiu para um bairro oposto. Depois de 20 minutos pedalando, Hugo chegou ao 'Residência do Aconchego', uma instituição para idosos. O rapaz prendeu a sua bicicleta a uma grade de segurança e seguiu para o prédio.

Aquele já era um lugar conhecido para Hugo. Os idosos já eram familiarizados com o rapaz, que, vez ou outra, fazia trabalhos para ajudar no pagamento da estadia de seu pai na instituição. Os pais de Hugo o tiveram tarde, sua mãe, Dona Ana, por exemplo, teve uma gravidez de risco, pois descobriu carregar um bebê em seu ventre aos 45 anos. Ela faleceu há três anos.

Seu pai, o Sr. Horácio Gaspar Martins, um renomado professor universitário, aos 68 anos, perdeu a luta contra a demência. Por esse motivo, Hugo precisou parar todos os seus projetos e sonhos para cuidar do pai. Sem irmãos ou parentes próximos, ele precisou se desdobrar para dar os cuidados necessários ao seu progenitor.

— Oi, pai. — Hugo sentou ao lado do pai, que jogava xadrez sozinho.

— Gael, finalmente. Vamos jogar, mas hoje eu não quero apostar feijões. — disse o senhor, que usava óculos de grau e parecia muito animado com a presença de Hugo.

— Pai, Gael é o seu irmão. Ele faleceu. — Hugo já nem lembrava quantas vezes repetiu essa frase para o pai. — Eu sou Hugo, o seu filho.

— Ah, — soltou Horácio confuso com a informação. — então, você quer jogar, Hugo?

— Quero, pai. Eu quero muito. — Hugo se emocionou, pois adorava quando o pai o chamava pelo nome. — Eu quero muito. — ele deixou uma lágrima escapar, mas logo limpou e passou o resto da noite jogando xadrez com o seu Horácio.

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