#4 – Não dá Mais Pra Disfarçar

Um conto erótico de Nassau
Categoria: Heterossexual
Contém 9451 palavras
Data: 04/08/2023 23:59:23
Última revisão: 09/12/2023 16:32:28

Parte 04 da Série – Músicas Inesquecíveis

FAIXA 4: Why Worry?

O QUE SEUS LÁBIOS FALAM, SEUS OLHOS NEGAM

As leis americanas são diferentes em cada Estado, com cada um deles emitindo suas próprias leis e, desde que essas leis não sejam contrárias aos sete artigos e um pouco mais de trinta emendas da Constituição Federal, elas são válidas dentro daquele Estado. Além disso, é muito ágil.

Foi assim que na manhã seguinte Doralice foi levada ao Tribunal para a audiência obrigatória onde teria que se declarar culpada ou inocente. Caso se declarasse culpada a juíza daria a sentença e não haveria o julgamento. Caso contrário, ela iria a julgamento que, em quase todos os casos, é na presença de um corpo de jurados. Resta dizer que em sua grande maioria, restando ainda a possibilidade de haver um acordo entre a promotoria e a defesa e, quando isso acontece, o réu muda sua declaração de inocente para culpado e o juiz emite a sentença.

Embora não conhecesse a fundo a legislação norte americana, Doralice tinha noção de como os processos se desenvolvem por lá e sabia também que a preferência de todos envolvidos, menos do acusado, é claro, é da declaração de culpado, pois isso evita as despesas de um julgamento e trabalho para todos os envolvidos. Pensando ser o seu crime até irrelevante, entendeu que era melhor se declarar culpada achando que pagaria uma multa e ficaria livre para se encontrar com o pai de Richard, tentar descobrir o significado do pedido feito em seu sonho e depois retornar o Brasil.

Pensando assim, não teve dúvidas em se declarar culpada. Lógico que antes ela seria informada sobre seu direito de ser representada por um advogado e sua intenção era declarar que abria mão desse direito, porém, no exato momento em que se levantou para fazer isso, a porta do tribunal se abriu e uma voz feminina, quase infantil, se fez ouvir:

– Meritíssima. Fui contratada para representar a acusada.

– Aproxime-se, por favor. – Disse a bela mulher negra, aparentando mais de cinquenta anos e com uma aura de respeitabilidade condizente à sua função.

Doralice aguardou sem entender nada. Diante da Juíza, a mulher que acabara de entrar e o Promotor debatiam até que foi decidido por ela que a advogada poderia atuar e decretou um recesso de trinta minutos para que a defesa pudesse conversar com sua cliente.

Sem saber o que acontecia, Dora foi conduzida até uma sala confortável que ficava anexa ao tribunal, sentou-se em uma poltrona confortável e aguardou admirando o luxo e bom gosto da decoração, até que a estranha mulher que praticamente invadira o tribunal entrou na sala e, sendo direta, foi logo dizendo:

– Meu nome é Shyla e fui contratada para agir em sua defesa.

– E quem foi que te contratou? – Perguntou Dora prestando atenção na mulher pela primeira vez.

Não era apenas a voz dela que era infantil. Sua aparência também era apesar da roupa sóbria que usava. Poderia até se passar por uma adolescente, mas sua atenção logo foi despertada para o que a mulher disse:

– Você me contratou. – Dizendo isso, ela ocupou a cadeira que ficava atrás da mesa, abriu sua pasta e retirou de lá um documento redigido em duas laudas, entregando-as para Dora e dizendo:

– Assine esse documento. É um contrato entre nós duas.

– E quanto vai custar isso? – Perguntou Dora preocupada.

– Vai depender do andamento do processo. Está tudo explicado aí. Você consegue ler ou vai ser preciso de um tradutor.

– Não, pode deixar que eu leio.

Dora leu o documento e no final só fez uma pergunta:

– E se eu não tiver dinheiro para te pagar?

– Você dá um jeito depois.

– Você aceita cartão de crédito? Porque se não aceitar, vou ter que pagar com dinheiro do meu país.

– Isso também a gente vê depois. De repente é até bom, aí vou ao Brasil gastar essa grana. Tenho muita vontade de “sambar mulata”.

Doralice não conseguiu evitar o riso em virtude do jeito que ela falava e depois assinou o documento. Em seguida Shyla fez um resumo de como funciona o tribunal e depois censurou Doralice quando essa disse que ia se declarar culpada:

– Você só pode estar louca. Se você tivesse feito isso ficaria no mínimo seis meses em uma penitenciária.

– Por causa de uma simples agressão? Duvido muito.

– Não é uma agressão que está em jogo aqui moça. As eleições para Promotor Público estão próximas, a suposta vítima pertence à família mais rica da região e o seu caso nessa hora é perfeito para ele conquistar mais votos. Eles iam fazer picadinho de você.

– Nada que não pudesse ser anulado depois. Isso sem falar nos recursos.

– Hum! Parabéns. Parece que temos aqui alguém que conhece alguma coisa de leis.

– Também sou advogada.

Ao ouvir essa informação Shyla se desarmou de vez e logo as duas estivavam se comunicado, senão como grandes amigas, pelo menos com uma confiança mútua difícil de ser conquistada em tão pouco tempo.

Shyla alertou então para o fato de que não tinham muito tempo e, pulando as explicações de como funcionavam essas audiências, e também como eram os julgamentos, passou a falar sobre o que aconteceria a seguir, dando-se ao luxo de antecipar até mesmo algumas reações e fala do Promotor Público.

Doralice ficou impressionada ao notar que, reiniciando o julgamento, tudo acontecia exatamente como a garota previu. A única coisa que aconteceu sem que fosse comentado antes foi o brilho no olhar do Promotor Público quando ficou decidido sobre o julgamento.

“Esse filha da puta vai querer me foder só para ganhar uns votos. Olha o jeito desse homem! Pomposo tal qual um pavão antes do acasalamento!” – Pensou Doralice sem conseguir disfarçar a aversão que sentiu daquele homem.

Saíram do Tribunal depois que Doralice efetuou o pagamento da fiança cujo valor ficou dentro de suas possibilidades. Lógico que isso faria com que precisasse pedir para que Joelma lhe fizesse uma remessa de dinheiro. Depois foram para o estacionamento com Shyla dizendo que ia levar Dora para casa.

Doralice a acompanhou e ficou pasma quando viu Shyla abrir a porta do veículo mais decrépito que se encontrava naquele estacionamento. Tratava-se de uma caminhonete da GMC cujo modelo, se não fosse da década de sessenta, era anterior. Não bastasse isso, não existia caçamba e travava-se apenas de uma cabine enferrujada e do chassi que, de tão velho, parecia que se desmontaria no instante em que o motor fosse acionado, isso é, se existisse ali um motor, coisa que Dora duvidou. Então deu a volta e entrou pela porta do carona que, para sua preocupação maior, não se fechava completamente e ficou assustada quando viu Shyla puxar por uma borracha presa ao apoio de braço da mesma e prender a outra ponta em uma alavanca que, em algum tempo remoto, foi usada para acionar o freio de mão.

Quando Doralice percebeu que Shyla pegou uma rodovia e se afastava da cidade, comentou ansiosa:

– Para onde você está me levando? Estou hospedada no Motel Comfort e mais alguma coisa e o carro que aluguei está no estacionamento dele!

– Não está mais hospedada lá e também não tem nenhum carro alugado esperando por você.

Doralice olhou para Shyla sem esconder sua surpresa. Primeiro porque não havia como ela ter todas essas informações e segundo, se ela sabia disso, estaria oferecendo carona para onde? Só depois de um bom tempo conseguiu formular a pergunta:

– Se você já sabia disso, então porque está me oferecendo carona? Aliás, por falar nisso, quem foi que te contratou?

– Quem me contratou foi o Bobby. Ele é um amigo de infância de meu pai e me pediu para acompanhar seu processo e, se eu me atrasei foi em virtude do funcionário do motel se recusar a deixar que ele levasse o carro até a locadora e tive que ir até lá fazer uma pressãozinha. Sabe como é?

– Eu imagino, Nisso pelo menos seu país não é muito diferente do meu.

Depois disso não falaram mais nada. Dora sabia que não adiantava discutir e só abriu a boca para advertir Shyla para frear e outras sugerindo que ela mudasse a marcha do veículo para que desenvolvesse a velocidade que desejava sem forçar tanto o motor e, menos em meia hora chegaram a uma propriedade rural. Antes mesmo de o motor ser desligado, Doralice viu com alívio Ricardo saindo da enorme casa de madeira composta por dois pavimentos que, no inferior, uma espaçosa varanda circundava toda ela, e correr em direção a ela.

Depois de abraçar o filho que demonstrava estar muito preocupado foi que ela notou que a roupa que o garoto usava não lhe pertencia. Ricardo trajava um macacão de brim azul claro e uma camisa xadrez que era alguns números maiores que o tamanho que usava e, enquanto corria em direção a ela, um chapéu muito velho havia se soltado de sua cabeça e agora repousava a meio caminho enquanto o Robert, que caminhava atrás dele, se curvava para apanhá-lo e, vindo até eles, colocou o chapéu na cabeça do garoto e fez gestos enérgicos como se a dizer que estava contrariado pelo fato do chapéu ter caído. Doralice olhou surpresa para ele e disse em inglês:

– Não precisa ficar tão zangado por causa de um chapéu velho.

Roberto olhou para ela e em seu rosto dava para notar que ele se sentia ofendido com aquela simples observação. Então ele respondeu:

– Pode ser velho o chapéu, mas ele tem muita história que o torna mais importante do que você possa imaginar.

Dizendo isso, virou as costas e saiu andando apressado em direção à casa. Aquele gesto dele foi entendido por Doralice como sendo uma advertência.

– Mamãe, eu hoje ajudei a tirar leite das vacas! – Disse Ricardo depois que Robert se afastou e demonstrando estar feliz com seu feito.

Sem saber o que fazer, Doralice olhou para Shyla que, notando que tinha a atenção dela, falou:

–Tenho que combinar com o Bobby sobre a estratégia de sua defesa. Espere ali na varanda que eu falo com você depois.

Doralice olhou para a varanda da casa e notou que era convidativa, com cadeiras confortáveis e vasos contendo uma enorme variedade de flores. Porém, aquele não era o momento de apreciar nenhuma paisagem e ela respondeu:

– Se vocês vão falar sobre o processo, não se esqueça de que a acusada aqui sou eu. Nem pense em combinar nada sem a minha presença.

– Eu sei disso, não se preocupe. É só para dar uma satisfação a ele. Depois nós conversamos.

Concordando com isso, Dora foi se sentar em uma confortável poltrona colocada estrategicamente na varanda e ficou apreciando a paisagem enquanto Ricardo não parava de tagarelar ao seu lado, dando detalhes de como se faz uma ordenha. Não demorou nem cinco minutos e Shyla saiu pela porta seguida por Robert que, ao ver Doralice sentada na poltrona, começou a reclamar em voz alta, dizendo que ela não tinha o direito de se sentar naquele lugar. Doralice ficou muito constrangida, principalmente depois de Shyla lhe explicar que aquela poltrona era a preferida da esposa dele.

– Desculpe, eu não sabia. – Isso fez com que o homem parasse de reclamar e só então ocorreu a Doralice perguntar: – Por falar nisso, onde está a esposa dele?

– Ela faleceu há dez meses. Teve um ataque cardíaco e não resistiu. – Shyla falava em voz baixa e, ao ver que Doralice, ao ouvir a informação foi em direção ao Robert na intenção de expressar seus sentimentos, a interrompeu: – Não faça isso. Não toque no assunto. O Bobby mudou muito depois que o Richard morreu. Veio morar aqui e se afastou de todo mundo, mantendo vínculo de amizade apenas com meus pais e outros dois amigos do tempo em que serviu nos Fuzileiros Navais. Mas isso foi antes da morte da minha madrinha Elizabeth. Depois que ela faleceu, meu pai e eu somos as únicas pessoas que conseguimos nos aproximar dele. Ele rechaça todo mundo.

– Então ele deve apreciar muito a amizade de seu pai.

– É como se fossem irmãos. Por exemplo, eles são meus padrinhos e meus pais são padrinhos do Richard. O Bobby me trata como se eu fosse a filha que ele não teve.

– Bom. Pelo menos ele tem a você. – Percebendo que aquele assunto poderia enfurecer ainda mais ao Robert, Dora passou para o assunto prático: – Então, onde estão minhas coisas. Preciso voltar para a cidade e encontrar um hotel para ficar.

– Você não pode ficar em hotel nenhum. – Disse Shyla com energia.

– E por que não? – Vou dormir aonde?

– Escuta. Vou te explicar. Para você poder aguardar pelo julgamento em liberdade, era necessário informar um endereço fixo. Eu dei o endereço daqui. Já falei com o Robert e ele concordou. Não gostou nada disso, mas concordou. Você deve estar se perguntando por que aqui, não é? Então, não basta ser um endereço qualquer, tem que existir um vínculo entre você e a pessoa que ia lhe hospedar e eu dei a eles a informação de que você é a mãe do neto do Robert.

Para Doralice, o fato da advogada saber disso não foi surpresa nenhuma. Bastava olhar para o homem para perceber isso. Não que eles se parecessem muito. Mas o jeito de olhar, alguns gestos, era como se Richard reaparecesse alguns anos mais velho. Também havia a aparição da mãe de Richard no sonho e nas lembranças que a semelhança entre mãe e filho era impressionante.

Sabendo que não adiantava resistir e parecendo até mesmo ser coisa do destino, Doralice acabou por concordar. Isso ficou ainda mais claro quando, depois de Shyla se retirar prometendo retornar dois dias depois, Robert fez sinais para que Dora o acompanhasse e a conduziu para um quarto onde encontrou sua mala sobre uma escrivaninha. Como só havia uma cama de solteiro, ela perguntou:

– E o Ricardo vai ficar aonde?

– Ele está ocupando o quarto do lado do meu. – Apontou então para o final do corredor onde tinha duas portas, uma em frente da outra, sendo que a da direita estava aberta. Doralice andou até lá e se deparou com um quarto decorado com bom gosto e bem mais confortável que o seu, inclusive, tratava-se de uma suíte, enquanto ela teria que usar o banheiro que havia no corredor.

Dora não se incomodou com o fato do filho ficar mais bem instalado que ela. O que a deixava preocupada era o fato do quarto do filho ficar muito distante do seu. Porém, ao expressar essa preocupação, Robert apenas respondeu com desdém:

– O menino já é quase um homem. Ele não precisa de uma mãe grudada nele.

Quando Dora se virou para dar uma resposta, só viu as costas de Robert que já caminhava pelo corredor se afastando dela.

“Puta merda. O que tinha o filho de gentil tem o pai de estúpido” – Pensou.

As semanas a seguir foram uma prova para Dora que tinha que se esforçar para não perder as estribeiras com Robert. Ela nunca conhecera um homem tão grosso e mal educado que reclamava de tudo. Quando ela resolveu ser útil e foi preparar um almoço foi praticamente expulsa da cozinha e quando ficava sem fazer nada, pois isso parecia não ser permitido, ele a olhava com desdém como se ela fosse uma pária vivendo à custa dele.

Tiveram a primeira discussão por causa de dinheiro. Joelma fizera uma remessa em dólares para Doralice e ela resolveu ajudar nas despesas de casa e, com a ajuda da Shyla que passou a ser presença constante, foi até um supermercado e fez uma compra para abastecer a dispensa da casa. Robert, ao descobrir isso, esbravejou e chegou até mesmo a ameaçar jogar tudo o que ela comprara fora, só não o fazendo porque Dora perdeu as estribeiras e eles tiveram uma discussão feia. Todavia, ela se sentiu vitoriosa quando ele saiu bruscamente do recinto deixando-a a falar sozinha. Ela ficou ainda mais irritada e gritou para ele que subia as escadas para o pavimento superior onde ficavam os quartos:

– Volte aqui seu covarde! Você é tão covarde que não consegue sequer manter uma discussão. Volte aqui agora!

De nada adiantou sua valentia repentina. O homem simplesmente sumiu da vista dela naquele dia e nos três seguintes.

Para alívio de Doralice, aquele tipo de tratamento era usado só com ela. Com seu filho Ricardo era totalmente diferente. Robert parecia fazer questão de ter sempre o garoto por perto e, em vez de se irritar com a curiosidade enorme dele que vivia fazendo perguntas, pois já começava a dominar melhor o idioma, o homem demonstrava a maior paciência não só procurando responder a todas elas como também se dedicando a explicar os significados das palavras que Ricardo não entendia. Também era arrastado para as tarefas do dia a dia da propriedade rural e era possível notar que, embora permitisse que o garoto exercesse qualquer uma das atividades, estavas sempre próximo e atento para evitar qualquer algum acidente, muitas vezes intervindo antes que o necessário, demonstrando até mesmo preocupação acima do normal. Esse era um fator que tranquilizava Dora.

Isso até que teve o dia do episódio com o cavalo. Na fazenda havia vários cavalos e Ricardo até já havia montado em alguns deles, sempre com Robert de anjo da guarda. Mas quando Dora, ao chegar à varanda e olhar para a enorme área de pastagens que tinha a sua frente, viu uma cena que a deixou paralisada.

A cerca de trezentos metros de onde ela estava Ricardo estava em pé na frente de um alazão totalmente negro que, parado diante dele, balançava sua enorme cabeça fazendo sua clina longa esvoaçar, ao mesmo tempo em que batia com uma das patas no chão. Assustada e temendo pela segurança de seu filho, quis correr para protegê-lo, mas quando foi dar o primeiro passo, sentiu seu braço ser puxado, o que a impediu de ir em frente. Antes mesmo que olhasse para trás, ouviu Robert dizer:

– Não vá. Não vai acontecer nada de ruim. Não vá.

– Solte meu braço agora. Você está louco?

Ao se movimentar e puxar o braço para se ver livre, Doralice perdeu o equilíbrio e seu corpo foi ao encontro do de Robert e ele levou as duas mãos até sua cintura e a segurou firmemente. Com isso, seus corpos se colaram e Doralice, ao levantar os olhos, se deparou com o dele fixo nos dela. Era um olhar penetrante como se estivesse devassando sua alma e, apesar das semelhanças, não era como se fosse o Richard lhe abraçando. Ela estava plenamente consciente de que seu corpo estava colado ao corpo de outro homem depois de muito tempo.

Isso ficou ainda mais evidente quando ela sentiu a ereção de Robert pressionar sua barriga. Em outro momento, ela ficaria horrorizada ao perceber que o pai de seu grande amor estava demonstrando sentir desejos por ela e, em vez de ficar revoltada, teve que lutar contra o arrepio que tomou todo seu corpo. O cheiro másculo que exalava do corpo do homem foi um complicador e Dora, sem saber o motivo, se deixou levar pelo momento.

Doralice virou então o rosto que ficou a centímetros do peito de Robert e levantou os olhos encontrando os deles que a fitavam de uma forma que ela sentiu a pele de seu rosto queimar, ao mesmo tempo em que a pele de seu rosto ficava rubra. Doralice percebeu então naquele olhar uma expressão que lhe era desconhecida. Era como se os olhos de Bobby fossem transparentes e ela conseguisse ver a alma dele. De repente ele começou a baixar a cabeça e ela fechou os olhos e sentiu seu corpo tremer, sem acreditar que não conseguia reagir contra o que estava para acontecer, pois era evidente que seria beijada.

O beijo, porém, não aconteceu. Quando suas bocas estavam quase se encontrando Doralice sentiu a pressão dos braços fortes de Robert que a aperavam contra ele diminuir e depois deslocar para sua cintura e empurrar para que seus corpos se descolassem. Ouviu então a voz rouca e baixa dele dizendo:

– Eu falei que não tinha problemas. Olha o que está acontecendo.

Doralice deu um passo para trás se afastando de vez dele e se virou para a direção que ele apontava. Viu então que seu filho corria com os braços abertos e o cavalo negro o seguia. A princípio se assustou, mas logo alguns detalhes a tranquilizaram. Embora não pudesse ouvir, dava para perceber nitidamente que, enquanto corria, Ricardo estava rindo e que ele corria em zigue-zague e não em linha reta como seria de se esperar caso estivesse fugindo do animal que, dando sinais que não ia atacar o garoto, apenas trotava fazendo os mesmos movimentos. Tudo ficou ainda mais claro quando Ricardo parou. Naquele momento ela se apavorou ao ver o cavalo se apoiar apenas nas patas traseiras levantando as dianteiras enquanto balançava a cabeça causando um lindo efeito com sua longa clina esvoaçando ao vento, mas quando voltou a firmar as quatro patas no chão, caminhou lentamente até o garoto e abaixou a cabeça como se esperasse por um carinho, o que Ricardo fez imediatamente, abraçando a enorme cabeça do animal.

– Viu só. Eu tinha certeza de que existia uma ligação muito forte entre o menino e o cavalo. – Disse Robert usando um tom de voz tranquilizador, sendo essa a primeira vez que se dirigia à Doralice dessa forma.

– E como é que você sabia disso? – Perguntou Dora se controlando para não acrescentar na pergunta se o cavalo tinha contado isso a ele, porém, achou melhor não cutucar a onça.

– Aquele cavalo é filho de um garanhão de nome Arizon. Era o cavalo de Richard que foi o único a montar nele. A princípio porque o cavalo não permitia ser montado por outra pessoa e depois, quando o Richard foi trabalhar no Brasil, a Beth e eu resolvemos que o cavalo ficaria a espera do retorno de meu filho. No final, o Richard morreu e isso fez com que ninguém mais tocasse no cavalo.

– Ainda bem que o potro não ficou igual ao pai. Parece ser manso. – Comentou Doralice aliviada, embora ainda muito preocupada diante da proximidade de seu filho com o animal.

– Errado. Ele não é manso. Tal qual o pai, não permite que ninguém o monte.

Doralice ficou nervosa com essa informação, principalmente ao ver que, segurando firmemente na clina do cavalo, Ricardo se posicionava como se fosse montá-lo. Aquilo tinha tudo para terminar em tragédia, pois além de ter acabado de ser informada que o cavalo era arisco, Ricardo estava tentando montá-lo em pelo, sem sequer uma rédea que pudesse, pelo menos, tentar dominar o animal. Abafou o grito que nasceu em sua garganta com a mão ao ver o filho conseguir seu intento e só não saiu correndo em direção ao pasto porque Robert a segurou. Desta vez, ele a segurou pela mão, o que evitou novo acidente. Então ele falou calmamente:

– Fique calma. O cavalo também quis isso, caso contrário, não permitiria que o Richard Junior o montasse.

– Não te falei que não havia perigo? O cavalo queria ser montado pelo Junior!

– Ele não é Junior e não é Richard. O nome dele é Ricardo.

– E por que você colocou esse nome? Por que não Richard, já que é tão parecido?

– Quando ele nasceu o Brasil tinha um Presidente novo e lá o povo faz de tudo para agradar quem chega ao poder, então, havia um sentimento antiamericano e o tabelião implicou com o nome. Então coloquei dessa forma o que para mim é a mesma coisa. – Ao ver que Robert a encarava sem entender, explicou: – Coisa de gente idiota. Crianças são registradas todos os dias com nomes estrangeiros, mas eu tive esse problema. Poderia até ter tentado exigir isso através da justiça, mas as circunstâncias do momento não me davam tempo. Depois acabei me acostumando.

Notando que Robert apenas a encarava sem dizer nada e querendo aproveitar o fato de ser a primeira vez que tinham uma conversa amistosa, Doralice perguntou:

– E qual o nome dele?

– Ricardo, não é? – Respondeu Bobby surpreso com a pergunta.

– Isso eu sei! Perguntei o nome do cavalo. – Dora se esforçava para não rir daquela confusão.

– Nenhum. Não é muito comum darmos nomes aos cavalos por aqui. O outro só ganhou um nome por insistência do Richard.

– Não fique surpreso se o Ricardo não inventar um nome para esse também.

Robert sacudiu os ombros dando a entender que isso não tinha importância e depois virou as costas e entrou na casa.

Aquele episódio poderia ser o marco inicial de um relacionamento melhor entre Robert e Doralice. Pelo menos ela pensou assim, porém, logo descobriu que nada mudara, pois ainda naquele dia ele foi brusco com ela. Foi uma coisa banal. Doralice preparou um café e com toda gentileza o despejou em uma xícara e foi levar para ele, com a intenção de mostrar como é que ela preparava um café, já que o Robert, que não a deixava fazer isso, fazia algo que em algumas regiões do Brasil é chamado de ‘água de batata’ de tão fraco. Qual não foi sua decepção ao ouvir o homem dizer:

– Se eu quisesse café agora eu mesmo faria. – Não bastasse a grosseria, ainda se recusou a aceitar o café.

Doralice virou-se rapidamente pensando consigo mesmo que fazer para não jogar o café quente na cabeça daquele homem grosseiro. Isso ela pensava para fugir de seus sentimentos, uma vez que, ao se virar seus olhos se encheram de lágrimas que ela atribuiu à raiva que sentia. Isso, porém, foi a forma que ela encontrou para tentar enganar a si própria, pois no fundo ela sabia o real motivo de estar magoada.

Naquela noite Doralice foi se deitar um pouco mais tarde em virtude de se ver obrigada a ouvir o filho repetir incontáveis vezes sua aventura com o garanhão e sua programação para o dia seguinte, todas envolvendo o cavalo. Quando alertou ao filho de que isso podia ser perigoso, ele perguntou, não para ela, mas diretamente ao Robert:

– Você me ajuda colocar aquelas coisas no cavalo, Bobby?

Antes que ela tivesse tempo de chamar a atenção de Ricardo por tratar o homem com tanta intimidade, Robert já respondia:

– Ajudo sim. Não que você precise disso para dominar o cavalo e sim para evitar que você fique com a bunda assada.

Só quando já estava deitada para dormir que Doralice permitiu que sua mente se ocupasse com o que acontecera entre ela e Robert. Primeiro ela se lembrou do olhar intenso do homem e de como se sentiu ao perceber que seria beijada, com seu corpo todo se arrepiando e seu coração acelerando as batidas. Então, sem que planejasse nada, sua mão direita desceu por sua barriga atingindo suas coxas e retornou trazendo o tecido da camisola que usava sentindo sua pele que voltara a se arrepiar ao mesmo tempo em que um calor estranho invadia todo seu corpo. Chegou com a mão até sua xoxota e fez uma leve pressão ao mesmo tempo em que emitiu um gemido baixo. Sem perceber que não tinha o controle de seu corpo, sentiu a mão subir até a cima da calcinha e depois voltar forçando o elástico para se infiltrar por baixo do tecido fino da mesma e sentiu seu pelos púbicos curtos e ouriçados causando um efeito que ela não esperava, pois parecendo ganhar vida própria, seu quadril se ergueu levantando sua xoxota que ansiava pelo toque que estava por vir.

Os dedos apenas roçaram seu grelinho provocando outro gemido e depois seguiu em frente, em busca da fenda molhada e atendendo o anseio de ser tocada e invadida, Doralice mal teve tempo de virar o rosto e morder a fronha do travesseiro para impedir o grito que o intenso orgasmo que veio a seguir ecoasse por toda a casa.

Extasiada com o orgasmo intenso que a acometeu, Doralice dormiu logo a seguir, mas seu sono não foi muito prolongado, pois logo sonhou com Richard que olhava para ela com um brilho intenso nos olhos e um sorriso nos lábios e havia uma coisa que mais tarde a deixaria preocupada. A imagem dele estava diferente e emanava um brilho que, mesmo sendo opaco, dificultava prestar atenção em seu corpo e apenas os olhos brilhantes estavam nítidos. Enquanto isso, um solo de guitarra podia ser ouvido e logo uma voz suave começou a cantar a música cuja letra ficaria em sua mente pelos próximos dias:

Why Worry

Por Que Preocupar

Baby, I see this world has made you sad

Baby, vejo que o mundo magoou você

Some people can be bad

Algumas pessoas podem ser más

The things they do, the things they say

As coisas que elas fazem e dizem

But, baby, I'll wipe away those bitter tears

Mas, baby, vou enxugar essas lágrimas amargas

I'll chase away those restless fears

Vou afastar esse medo constante

That turn your blue skies into gray

Que nublou o seu céu azul

Why Worry?

Por que se preocupar?

There should be laughter after pain

Depois da dor vem o riso

There should be sunshine after rain

Depois da chuva vem o sol

These things have always been the same

Essas coisas são sempre assim

So Why Worry, now?

Então, por que se preocupar agora

Why Worry, now?

Por que se preocupar agora?

Baby, when I get down I turn to you

Baby, quando estou mal volto pra você

And you make sense of what I do

E você dá sentido ao que eu faço

And, no, it isn't hard to say

E sei que não é fácil dizer

But, baby, just when this world

Mas, baby, bem quando este mundo

Seems mean and cold

Parece mau e frio

Our love comes shining red and gold

Nosso amor brilha vermelho e dourado

And all the rest is by the way

E todo o resto fica pelo caminho

Why Worry?

Por que se preocupar?

There should be laughter after pain

Depois da dor vem o riso

There should be sunshine after rain

Depois da chuva vem o sol

These things have always been the same

Essas coisas são sempre assim

So Why Worry, now?

Então, por que se preocupar agora

Why Worry, now?

Por que se preocupar agora?

Why Worry?

Por que se preocupar?

There should be laughter after pain

Depois da dor vem o riso

There should be sunshine after rain

Depois da chuva vem o sol

These things have always been the same

Essas coisas são sempre assim

So Why Worry, now?

Então, por que se preocupar agora

There should be laughter after pain

Depois da dor vem o riso

There should be sunshine after rain

Depois da chuva vem o sol

These things have always been the same

Essas coisas são sempre assim

So Why Worry, now?

Então, por que se preocupar agora

Why Worry, now?

(Por que se preocupar agora?)

(Why Worry? Why Worry, now?)

(Por que a preocupação? Por que se preocupar agora?)

Doralice foi acordada por Ricardo que entrou em seu quarto e sacudiu seu corpo carinhosamente. Ela abriu os olhos preguiçosamente e estranhou quando viu seu filho vestido com suas próprias roupas, pois nos últimos dias o macacão largo e desajeitado parecia ter se tornado sua segunda pele, pois até para conseguir lavar ela teve que brigar com ele. Surpresa, perguntou:

– Uai meu filho! O que aconteceu com aquela roupa horrível que você se recusava a tirar?

– Oras mamãe, não dá para ir à cidade usando aquele macacão. Achei que você não ia gostar.

– Ir na cidade? Do que você está falando?

– Foi o Bobby que mandou trocar de roupa dizendo que temos que ir até lá. Acho que tem alguma coisa a ver com a escola daqui.

Aquela informação despertou de vez Doralice que, pulando para a cama, correu para o banheiro enquanto falava:

– Já vou descer. Espere por mim lá embaixo, Não saia antes que eu fale com você.

Não se passaram dez minutos e Doralice, já vestida, estava na sala onde Robert e Ricardo a aguardavam, prontos para partirem. Ela se dirigiu diretamente ao Robert:

– Que história é essa de colégio? O que o Ricardo tem a ver com o colégio daqui?

– Não sei se você sabe, mas as aulas aqui começam em setembro. Então eu vou levar o menino no colégio para fazer a matrícula dele.

– De que adianta isso? Logo estaremos de volta para o Brasil?

– Tudo bem que vocês vão embora logo, Só que eu não acho certo ele ficar aqui sem estudar. Isso não é bom.

Era um argumento válido, pensou Doralice. Além disso, lhe ocorreu que seria bom também no sentido em que seu filho estaria em contato com outras crianças e ele passara os dois últimos dois meses tendo apenas a ela e ao Robert como companhia. Isso sim, não era nada bom, porque seu filho já estava tão envolvido com a vida daquela pequena propriedade rural que, se continuasse daquele jeito por mais tempo, acabaria tendo dificuldades para se readaptar quando voltassem para casa. Então ela concordou, não sem reclamar por não ter sido consultada antes:

– Você pode até estar certo, porém, deveria pelo menos ter a educação de falar comigo antes de tomar uma decisão.

– Não precisa de uma assembleia para decidir algo tão lógico. Criança vai para a escola. É assim que funciona aqui nesse país.

– E daí? Nem eu nem meu filho pertencemos ao seu país. – Falou Dora irritada com a prepotência de Bobby ao dizer algo que, dito de outra forma, ela poderia até ter concordado com ele e, diante a expressão dele que apenas virou o rosto evitando encará-la, avisou de forma enérgica: – Sempre quando você tiver ideias sobre a educação ou qualquer outra coisa que diga respeito ao Ricardo, fale comigo antes Entendeu?

– Eu teria falado antes sim se você não ficasse dormindo o dia inteiro.

– Do que você está falando? Ainda não são nem sete horas?

– Bem vinda ao mundo onde as pessoas têm que suar para ganhar o seu sustento moça. Se você quer saber, já ordenhamos a vaca, despachamos o leite através do caminhão da empresa que vem todos os dias buscar e o que sobrou já foi fervido, engarrafado e está pronto para o uso. Pretendo separar o creme hoje para fazer manteiga. Não gosto dessas que vendem por aí tudo o que depende do leite eu faço aqui mesmo.

– E o que eu tenho a ver com isso? Esse é um problema seu, não é?

– Já que você está morando aqui e não faz nada o dia inteiro, poderia pelo menos tentar aprender alguma coisa e ser útil.

Aquilo foi demais para Doralice que, sem se controlar, esqueceu até mesmo da presença do filho e disparou:

– Quer saber de uma coisa Senhor Robert. Eu poderia ajudar, mas você nem... Oras, quer saber de uma coisa, VÁ SE FODER.

Ao ouvir isso Robert a encarou nos olhos e foi a primeira vez que fez isso em muitos dias, pois ele, além de evitar falar com Dora e sequer permanecer perto dela, nunca olhava para ela nas poucas vezes que trocaram algumas palavras. Ela não conseguiu decifrar a expressão do rosto dele. A princípio foi de surpresa, mas depois foi mudando e ela não decifrou se era de raiva, revolta ou se ele estava formulando alguma resposta para dar a ela.

Ele, porém, não fez nada disso e saiu andando enquanto falava se dirigindo ao Ricardo:

– Vamos andando garoto. Senão vamos ter que ficar aqui o dia inteiro ouvindo desculpas e palavrões. Onde já se viu isso? Não respeita nem ao filho!

Dora já ia dizendo mais alguma ofensa quando percebeu que não adiantaria de nada, Robert já saíra da casa e se dirigia apressado em direção à sua caminhonete, tendo atrás de si Ricardo que, sem querer escolher um lado naquela briga desnecessária, preferiu fingir que não escutara nada.

Extremamente irritada Dora se dirigiu à cozinha e se deparou com a mesa pronta, com tudo o que se pode querer para um excelente café da manhã. Ela olhou para as coisas gostosas que aguardavam por ela à mesa, porém, sua raiva era tamanha que sentiu seu estômago revirar e, fazendo um extremo esforço para não jogar tudo na pia, virou as costas e saiu apressada de casa.

Começou a caminha sem rumo até que viu uma árvore no cimo de uma colina. Era uma árvore frondosa que se movimentava suavemente com as carícias que o vento brando e fresco daquela manhã lhe fazia. Curiosa, resolveu andar até ela imaginando que lá poderia descansar apreciando toda a paisagem em volta. Gastou mais de dez minutos para fazer o pequeno percurso em virtude do declive acentuado e, quando estava chegando ao seu destino, algo lhe chamou a atenção.

Havia ali duas sepulturas. A primeira coisa que ela notou era que ambas estavam muito bem cuidadas, limpas e com uma espécie de flor que, mesmo tendo a mesma forma, eram de cores diferentes. Ela observou que havia flores amarelas, brancas, vermelhas e outra de um tom alaranjado. Aproximou-se mais e leu os nomes nas lápides dos túmulos. A primeira que leu não a surpreendeu, pois era o nome de Elisabeth, porém, quando leu a segunda, seu coração deu um salto. Era o nome de Richard.

Intrigada, se perguntou como podia seu grande amor, pai de seu filho, estar sepultado ali, se ela sabia que o enterro havia sido realizado na cidade onde ele falecera, há milhares de quilômetros dali.

Mesmo assim, não conseguiu evitar que as lágrimas escorressem de se rosto. Sentindo suas pernas tremerem, não resistiu e deixou-se cair ao lado da lápide e, ficando de joelhos, abraçou a pedra fria enquanto seu corpo todo sacudia em um pranto sentido.

Doralice não soube quanto tempo permaneceu ao lado do túmulo de Richard e, o que mais a impressionava, era que ela parecia sentir a presença dele ao seu lado. Era tão forte esse sentimento que ela jurava estar ouvindo os mesmos acordes que ouvira em seus sonhos nas últimas noites, Era, sem dúvida nenhuma, a mesma música. Uma música cuja letra a aconselhava a não se preocupar com nada e que tudo mudaria para melhor.

Teria ficado ali o dia todo se não fosse pelo barulho de um veículo se aproximando da casa da fazenda. Não precisou nem olhar para saber que, pelo barulho alto que fazia, era a caminhonete de Shyla. Levantou-se vagarosamente e usou a barra do vestido que usava para enxugar seu rosto, começando a fazer o caminho de volta, enquanto via que a advogada vinha ao seu encontro.

Shyla, sempre sendo direta ao falar com ela, começou a dizer quando ainda estava a dez metros de distância:

– Que bom que te encontrei aqui. Vim informar que temos uma reunião amanhã no escritório da promotoria.

– Reunião na promotoria? A troco do que?

– Não fique preocupada. Isso é comum. Provavelmente ele vai oferecer algum tipo de acordo.

– Acordo? Como assim?

– Das duas uma. Ou ele tem algum trunfo na mão e vai propor que você mude sua alegação de inocente para culpada em troca de uma pena leve, ou ele não tem nada e vai blefar propondo a mesma coisa.

– E daí? O que vamos fazer?

– Vamos ouvir primeiro o que ele tem a dizer. Depois vamos pedir um prazo para responder, isso também é comum. Então a gente volta a se falar e decidimos o que fazer.

– Ótimo. E a que horas será essa reunião?

– Às duas PM. Fique pronta que eu venho te buscar.

As duas continuaram andando em direção à casa e só quando estavam subindo a pequena escada que dá acesso à varanda foi que Doralice se lembrou de informar à Shyla:

– Estou sozinha em casa hoje. O Robert levou o Ricardo até a cidade, Disse que vai matricular meu filho na escola daqui.

– Eu sei. Encontrei com eles lá. – Ao dizer isso, Shyla deu um tapa na testa como se acabasse de lembrar de algo e então continuou a falar: – Ia me esquecendo. O Robert pediu para te avisar que o colégio pediu alguns exames de saúde. Isso vai levar algum tempo e eles só voltarão para casa no final do dia.

Aquela exigência de exames de saúde, embora parecesse excesso de cuidados, foi encarada como normal da parte de Dora que apenas assentiu e, depois de ficar em silêncio por alguns minutos, ela desabafou:

– Pelo menos vou ter um dia de paz.

– O que foi Dora? Está difícil ficar aqui?

– Difícil é eufemismo. O Robert é insuportável e eu tenho até medo de, a qualquer hora, atirar alguma coisa bem pesada na cabeça dura dele.

Shyla, para surpresa de Doralice, emitiu uma sonora gargalhada e só quando conseguiu se controlar que falou:

– Olha que seria bom até bom isso. Muito embora eu ache que tem que ser algo bem pesado mesmo, pois do jeito que ele tem a cabeça dura, se você jogar uma panela qualquer, certamente que vai levar a pior será a panela.

Agora foi a vez de Dora rir, imaginando uma panela toda amassada depois de se chocar com a cabeça de Robert. Depois, desabafou:

– Como alguém pode ser tão grosso, presunçoso, prepotente, sem educação, implicante e chato desse jeito? Olha que tem horas que acredito que o Richard foi adotado. Como pode um pai tão grosso ter criado um filho para ser tão gentil.

– Bom. Apesar de ter alguns desses defeitos aí que você falou serem sinônimos, eu concordo com você, mas apenas em relação à forma como ele está agindo agora. Quanto às diferenças com o Richard, você está enganada. O Robert sempre foi um homem gentil, educado e gozava de um respeito invejável diante dos moradores de Ruston. Depois que o Richard morreu, ele se tornou um homem mais fechado, mas mesmo assim ainda se dava bem com todos. Ele ficou assim depois da morte de Elisabeth. A mudança foi tão radical que muitos dos seus antigos amigos hoje o evitam. Para você ter uma ideia, ele se ficou tão intolerante, que por mais de uma vez tive que intervir junto à empresa com quem ele tem contrato de fornecimento de leite por eles quererem romper esse contrato em virtude de algumas atitudes radicais do Robert.

– Nossa! Difícil imaginar que aquele homem algum dia foi gentil com alguém. Mas se você está falando, eu acredito.

– Então Doralice. O pior de tudo para você deve ser assistir ele tratar mal ao seu filho. Afinal, ele é quase uma criança e sua cabecinha deve entrar em parafuso ao ser tratado mal. Muitas vezes o Robert chega a desprezar aos outros.

– Bom. Quanto a isso eu não estou tendo problemas. Robert e Ricardo se dão muito bem. Aliás, tem hora que eu sinto até ciúme em ver que meu filho não se separa dele. Os dois estão sempre juntos e ele demonstra ter muita paciência com o garoto.

– Poxa vida. Isso sim é uma boa notícia. Meu pai vai adorar quando eu contar isso para ele. Ah sim. Meu pai e eu somos os únicos com quem ele nunca se estressa.

– Sorte de vocês. É muito difícil conviver com ele.

Conversaram mais um tempinho e Shyla se despediu depois de pedir à Doralice eu tivesse paciência com Robert.

Aquela conversa toda acabou por provocar efeitos inesperados em Doralice. De repente ela tentava ver em Robert, não o homem grosso e intolerante, mas uma vítima de suas perdas. Pensando nisso, ela começou a procurar uma forma de mudar alguma coisa nisso e, quando foi dormir, tinha tomado uma resolução.

Novamente ela sonhou com Richard, porém, com uma pequena modificação no sonho. Apesar da música ao fundo ainda ser a mesma, ele tinha uma aparência de quem estava feliz e aprovava alguma coisa nela, o que fez com que ela ficasse imaginando por vários dias o que poderia ser.

No dia seguinte, quando Robert desceu de seu quarto e foi até a cozinha, ficou paralisado ao ver que Doralice estava em acordada e já tinha preparado um café que ofereceu a ele de uma forma despretensiosa. Ele aceitou o café, porém, permaneceu em pé olhando para o corpo dela que estava de costa para ele, fazendo alguma coisa na pia.

Ela estava vestida de uma forma que ele ainda não tinha visto. Usava uma calça jeans apertada que valorizava suas formas, com sua bela bunda preenchendo totalmente a roupa. Usava também um collant feminino, também conhecido como body que, como todos, ficava grudado em seu corpo mostrando sua cintura fina e os seios médios se destacavam. Era do tipo camiseta cavada que, embora tivesse um decote discreto, valorizava ainda mais seus seios. Completando o conjunto, calçava um par de botas de cano médio, indo até o meio da parte inferior de suas pernas.

Ao decidir informar a ele qual era sua intenção, ela se virou para ele e o surpreendeu olhando para seu corpo e não conseguiu evitar o sorriso. Ela não estava usando nenhuma maquiagem, porém, seus cílios longos dando um destaque especial aos seus olhos negros, seus cabelos escovados caindo por sobre os ombros e seu rosto oval formavam um conjunto que chegou a alterar o ritmo da respiração de Robert, principalmente ao ver aquele sorriso lindo em uns lábios carnudos que, entreabertos, deixavam aparecer duas fileiras de dentes perfeitos. Então ela disse, tentando ficar séria:

– E aí. A que horas começamos essa tal de ordenha?

– O que? Ahnn? Ah. A ordenha. Agora mesmo, só vamos esperar o Ricardo descer.

Como se fosse combinado, Ricardo entrou na cozinha e não vacilou em perguntar à mãe o que ela estava fazendo acordada naquele horário. Dora informou ao filho sua intenção o que o deixou muito feliz e queria ir logo ao trabalho, com sua mãe só permitindo que eles fossem depois que o garoto se alimentasse. Ricardo tentou protestar, mas logo percebeu que seria em vão. Entornou então um copo de leite garganta abaixo e, antes que Dora protestasse, saiu apressado da cozinha seguido por Robert. Ela, sem ter como fazer algo para que o filho se alimentasse, seguiu atrás deles.

A ordenha era toda mecanizada e ela ficou admirada ao ver que Ricardo agia como se fosse um veterano, colocando os aparelhos nos ubres das vacas e sabendo a hora certa de tirar, explicando tudo à sua mãe e a alertando da importância de não extrair todo o leite e deixar o suficiente para que os bezerros se alimentassem. Ficou ainda mais impressionada quando percebeu que, chegando ao final, restavam apenas duas vacas, porém, quatro bezerros. Foi o Ricardo que explicou para ela que dois daqueles bezerros não podiam mamar em suas mães e mamariam nas duas vacas que ali estavam. Dora achou emocionante o fato de dois animais permitirem que as crias de outras se alimentassem dela. Também ficou impressionada com o cuidado que Robert demonstrou com esses bezerros, retirando apenas um pouco do leite delas e depois permitindo que os bezerros se alimentassem.

Foi Robert que, demonstrando estar mais comunicativo, explicou para ela que o fato daqueles bezerros não poder mamar em suas próprias mães eram em virtudes de circunstância e não por causa do comportamento delas. Ambas as mães tinham sido acometidas de uma doença que causava uma inflamação no ubre e a dor provocada era enorme, o que as impedia de alimentar aos filhos. Explicou também que, até mesmo para ordenhar as duas, havia um processo especial para aliviar a dor. Ao perguntar por que então ordenhavam, já que provocava dor, Robert respondeu de forma bem humorada:

– Você devia saber disso. Afinal você é mãe!

Ela percebeu na hora ao que ele se referia e se lembrou dos problemas que teve quando estava amamentando, inclusive, sendo obrigada a usar uma bomba para extrair o leite que produzia em excesso.

Logo que terminaram esses serviços, com o leite produzido no dia já depositado em galões de cinquenta litros que foram retirados por um caminhão com o logo de uma empresa do ramo, Robert começou a transportar o excedente que ele depositara em galões menores, recebendo a ajuda de Dora. Ricardo havia se encarregado de tanger o gado até o pasto próximo dali. Chegaram então a um local que, embora Doralice já tivesse notado a existência, nunca havia entrado. Era uma sala grande com as paredes revestidas de azulejo, uma mesa grande, um fogão industrial, alguns freezers e uma infinidade de aparelhos que ela não fazia a menor ideia para o que serviam. Imitou Robert quando o viu despejar o leite que trouxeram em enormes caldeirões e alguns tachos e, quando terminou, pergunto:

– E agora, o que fazemos?

– No momento nada. O leite precisa descansar. Depois eu volto aqui para fazer alguma coisa. Acho que hoje vou fazer manteiga.

Dora assentiu e o acompanhou, voltando para a casa pela porta dos fundos, entrando na cozinha e, quando viu que Robert começava a agir no sentido de preparar o café da manhã, pediu para que ele deixasse isso por conta dela e começou a agir. Ele sentou em uma cadeira e permaneceu calado, porém, seus olhos só se desgrudavam do corpo de Dora quando ela ficava de frente para ele, Mesmo assim, seus esforços em disfarçar não foram o suficiente para ela notar que ele a olhava com admiração e, para seu espanto, sentiu seu corpo se aquecer e se arrepiar com a sensação de ser admirada.

Depois voltaram para o galpão e Robert passou a ensinar à Dora a separar a nata do leite para a fabricação de manteiga. Ela ficou muito surpresa ao notar que ele dava as informações com muita paciência e, quando ela cometia algum engano, ele se apressava em corrigi-la, porém, sem nunca perder a calma.

Não foi possível para Dora acompanhar o processo de fabricação de manteiga até o final. Também haviam alguns queijos sendo produzidos de leites dos dias anteriores, mas ela foi obrigada a abandonar Robert porque tinha que se alimentar e esperar por Shyla para a reunião com o Promotor.

A reunião com o Promotor foi rápida. O homem, com o seu jeito todo pomposo, explicou que tinha em seu poder um vídeo que provava que a agressão de Doralice em Ann fora intencional e Doralice ficou estarrecida quando percebeu que Shyla, em vez de se aborrecer com esse fato, ficou entusiasmada.

Depois a jovem advogada explicou para ela que, tendo o Promotor confessado estar com uma prova em seu poder e também a intenção de usá-la, ela teria o direito de examinar essa prova antes do julgamento e isso, por si só, já derrubava o trunfo dele. Dora então comentou:

– Então ele não foi muito inteligente.

– Não, não foi. Ele subestimou nossa capacidade de agir, Pior para ele.

– E aquela história do convite?

A pergunta de Dora se referia a um pequeno diálogo que existiu entre Shyla e o Promotor. Logo que chegaram, o homem perguntou à advogada quando ela ia aceitar o convite para ser sua assistente e ela, tentando ser educada, disse que esse era um assunto que já estava decidido e que não era intenção dela servir à Promotoria Pública. Então ele foi mais direto e falou que, já que era assim, quando ela aceitaria o convite dele para jantarem juntos, Nessa hora o rosto da garota se fechou e ela respondeu com um tom de voz brusco: “Só depois que o inferno congelar”.

Shyla então explicou que o Promotor, além de ser um homem vaidoso e com um ego do tamanho de um elefante, era metido a conquistador. Dora, ao ouvir essa explicação, não hesitou em comentar:

– Então nós estamos fodidas. Nada pior do que um homem rejeitado.

– Eu já ouvi essa frase, só que se referiam às mulheres.

– É verdade! Falam isso das mulheres. Mas eu acho que é inerente ao ser humano. Principalmente quando esses seres humanos acham que são a última coca cola do deserto.

Shyla riu daquele comentário e depois tranquilizou Doralice dizendo que, se ele tentasse alguma coisa, por menor que fosse, de prejudicar a elas por causa de sua negativa em sair com ele, ela o foderia de todas as formas.

O pior, todavia, foi a proposta do Promotor. Ele assegurou que, caso Doralice mudasse sua alegação para culpada, ela receberia uma sentença pequena que seria suspensa caso ela se comprometesse a abandonar o país e nunca mais voltar. Shyla era contra.

Quando retornaram para a fazenda e contaram ao Robert o resultado da reunião ele perguntou para Dora qual era sua intenção e, ao informar que ela pretendia aceitar a proposta do Promotor, foi surpreendida pela reação dele que, alterando a voz, disse:

– Você não pode aceitar isso. Você não precisa ir embora agora. Pense bem, você não vai poder voltar nunca mais.

– E daí? – Perguntou Dora com calma, – Isso é um bom acordo. Eu vou embora e você fica livre de mim para sempre.

Aquilo acabou de vez com a calma de Robert que, quase gritando, falou:

– SUA IDIOTA. SERÁ QUE VOCÊ É CEGA? SE VOCÊ FOR EU NÃO VOU MAIS PODER VER O RICHARD.

– Idiota é você que não sabe o que quer. Ou talvez até saiba e o que quer é ter alguém aqui para você despejar o seu mal humor. Outra coisa, o nome do meu filho é Ricardo. RICARDO ENTENDEU?

Dizendo isso ela se virou e saiu pisando duro em direção à escada que dava acesso ao piso superior. Shyla, que a tudo assistiu, olhava para Robert de um jeito estranho e no final disse em voz calma:

– O deu em você Bobby? Tudo bem que você se transformou em um homem amargurado e intolerante. Mas eu acho que agora você está exagerando. Chamar a mulher de idiota foi demais, você não acha?

Shyla perguntava isso e notou que o olhar de Robert estava fixo na escada por onde Dora subira e desaparecera no piso superior. Então ela insistiu:

– Hey Bobby! Estou falando com você.

Finalmente ele voltou sua atenção à jovem e, com uma expressão confusa, perguntou:

– O que? Do que você está falando mesmo?

Shyla, ao perceber que Robert não ouvira uma única palavra do que ela dissera e também admirada com a forma intensa que ele olhara para Doralice enquanto ela subia, inclusive, continuando a olhar para a escada como se na esperança de vê-la voltando, entendeu tudo e não perdoou. Com uma voz entre séria e divertida, comentou:

– Ah! Agora estou entendendo! Confesse uma coisa para mim meu querido padrinho. Você está mesmo preocupado apenas com o fato de não ver mais ao menino? Será que é só isso mesmo? Porque, pelo que percebi aqui, parece que você está perdendo outras coisas e, o que é pior, isso está te tirando do sério.

Atingido pelo comentário de Shyla, Robert trocou um rápido olhar com ela, mas não conseguiu sustentar. Desviou então o olhar, virou-lhe as costas e saiu pela porta da cozinha, fechando-a com força além da necessária, fazendo com que a mesma se fechasse em um estrondo.

Shyla ficou olhando para a porta fechada com uma expressão de admiração e, antes de se virar e ir embora, falou em voz alta:

– Eu hem! Quem diria senhor Robert! Então seu coração não está tão duro como você tenta fazer parecer.

O sorriso que se formou nos lábios da jovem se manteve enquanto ela se dirigia ao seu carro.

Informações sobre a música:

Não encontrei muitas informações sobre essa música e, por esse motivo, vou escrever sobre o que consegui conhecer a respeito dela.

A música “Why Worry?” faz parte do álbum Brothers in Arms da Banda Inglesa Dire Straits lançado em 1985. Esse álbum é o mais vendido no Reino Unido, não tendo sido ultrapassado até hoje. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Dire_Straits#Discografia)

Entretanto, a versão que me chamou a atenção e que incluí na minha relação de Músicas Inesquecíveis é a gravação feita pelo cantor norte americano Art Garfunkel que ficou famoso cantando em duo com seu amigo de infância Paul Simon que fizeram muito sucesso com músicas como “The Boxer”, “Bridge Over Troubled Water” e se tornaram conhecidos no mundo todo com a música “The Sound of Silence” e “Mrs. Robinson” essa última tema filme “A Primeira Noite de Um Homem”.

Em minha opinião, o que tem de melhor nessa música é o solo de guitarra. O primeiro acorde que se houve já é algo que entra pelo ouvido e invade todo o cérebro de forma avassaladora, criando as mais variadas sensações. Vale a pena ouvir.

Os links são: https://www.youtube.com/watch?v=_03uXQiz6eY – com Dire Straits, e https://www.youtube.com/watch?v=KXy8V03x1Ew com Art Garfunkel. Ouçam as duas e tirem suas conclusões.

ela se dirigia ao seu carro.

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Comentários

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Nassau como sempre arrebentando amigo, antes de mais nada peço perdão pela demora em ler seus contos ando trabalhando muito, inclusive agora estou no intervalo estou lendo esse conto desde ontem kkkkk.

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Boa Negão. Você também vai começar a desfilar Nicks agora? kkkkkkkkkkkkkkkkk

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caraca Nassau, bom demais.

Essa música sempre foi especial pra mim e ouvi-la na versão do Garfunkel foi uma surpresa excelente, obrigado.

Essa História com certeza vai nos trazer muitas suspresas...

Parabéns

Grande abraço

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Que bom amigo.

A princípio fiquei surpreso também, mas por você dar a entender que não conhecia essa versão da música. Mas depois me lembrei de quando a conheci ela já tinha sido gravada bem antes.

Fico feliz em saber que consegui ajudar alguém a fazer essa descoberta, pois essa foi uma das intenções que tive quando resolvi desenvolver esse conto.

Só pra você saber, a intenção inicial era contos com completos e com personagens diferente a cada música, mas não resisti quando escrevi a terceira, que foi a de Dora e mudei o rumo.

As que escrevi antes serão adaptadas para se encaixarem nessa sequência no futuro.

Obrigado por acompanhar.

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