VICENTE TEVE QUE ATENDER UM IMPORTANTE PEDIDO - EPISÓDIO 1

Um conto erótico de Christopher Guedes
Categoria: Homossexual
Contém 5260 palavras
Data: 20/07/2023 23:20:32

Episódio 1 - Vicente descobre um segredo de Danilo

NOTA DO AUTOR: Esta será uma minissérie, com novos personagens. Se preparem que, nos primeiros capítulos, teremos zero cenas de sexo. Preferi contar a história dos personagens, como eles se conheceram, como se construíram as relações que levaram ao ápice da história. Poderia ter começado pelo sexo e depois fazer um flashback, como outras séries fazem, mas achei que vocês iam gostar mais desta forma. Tenham paciência, que logo logo fica bem gostoso, em termos de sexo.

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Vicente era o único filho de uma mulher mãe solteira, que o teve aos 16 anos. O pai sumiu, Vicente nunca o viu na vida. Como a mãe tinha que trabalhar muito para sustentar a casa, em vários empregos e bicos, Vicente foi criado praticamente sozinho pela avó, que era costureira para a vizinhança. A avó era rigorosa e, mesmo estudando em escola pública, Vicente teve uma boa educação. Ao terminar o ensino médio, conseguiu um financiamento pelo FIES e ingressou numa faculdade particular de Direito. Foi o primeiro da família, entre tios e primos, a ingressar na faculdade.

Nos corredores da faculdade, no primeiro período já, viu que alguns colegas conseguiram estágio em escritórios de advocacia. Vicente percebeu que, na época, esses estágios eram verdadeiros empregos de office boy. Ir ao Fórum tirar xerox, ir aos órgão públicos protocolar petições em papel, ir aos balcões de cartórios pedir o andamento de processos aos servidores públicos, enfim, verdadeiro trabalho braçal, mas chamado graciosamente de estágio de Direito. No entanto, para Vicente, era uma porta de entrada em um mercado de trabalho em que ele queria muito entrar. Aos 18 anos, sentia o peso do financiamento do FIES e o fato de que nunca tinha ajudado com dinheiro em casa, pois sua avó e sua mãe só queriam que ele estudasse.

Depois de ter sido reprovado em várias seleções e entrevistas, Vicente se apresentou para uma entrevista num escritório muito bonito, mas também bem pequeno, que só tinha um advogado atuando. Vicente foi com o único terno desajeitado que tinha, já estudande do segundo período. O terno, contudo, por ser de uma loja muito popular, ficava todo torto e desajeitado, no corpo bonito do jovem. Aos 18 anos, Vicente tinha o cabelo preto em uma tonalidade bem viçosa. Olhos negros sedutores. Não tinha a barriga trincada, mas nunca tinha sido gordo. Sua altura se destacava, tinha 1,88 metros. Devia ter herdado essa característica do anônimo pai, pois sua avó e sua mãe eram bem baixinhas.

Ao se sentar diante do advogado Danilo, um homem de cerca de 40 anos, muito elegante e com cara de rico, Vicente ficou intimidado. As perguntas que foram feitas, contudo, o surpreenderam. Daniel não fez nenhuma pergunta jurídica ou sobre a faculdade, fez apenas perguntas pessoais da vida e família de Vicente e, por exemplo, sobre o bairro humilde onde ele morava. O advogado era muito hábil em conduzir a conversa e Vicente se abriu. Contou tudo sobre a família, a mãe, a avó, o quarto e sala onde moravam no suburbio. Que dormia até hoje em um colchão na sala, pois não havia outro lugar na casa. O pouco que sabia do pai que nunca viu. Do medo de não conseguir pagar o financiamento do FIES. Ao final da entrevista, Vicente achou que seria mais uma vez despachado com a promessa, quase sempre não cumprida, de receber uma ligação, mas o advogado surpreendeu.

"Você pode começar segunda-feira... e tome aqui, um mês da sua bolsa estágio adiantada, para suas primeiras despesas", disse o advogado abrindo a carteira e entregando as notas de 50 reais amontoadas, formando um bolo de 1300 reais, que era o padrão de estágio na época.

Vicente ficou chocado e sem reação por alguns segundos. Pegou o dinheiro, agradeceu muito, quase de forma humilhante.

"O senhor não vai se arrepender, eu prometo, muito obrigado", disse o agora estagiário.

Vicente nunca tinha tido uma quantidade tão grande de dinheiro em seu poder na vida. A avó só lhe dava o mínimo para as passagens para a faculdade e para comprar um salgado na lanchonete da faculdade, caso estivesse com muita fome, mas ele sempre tentava poupar o dinheiro do salgado. Agora, pela primeira vez na vida, por causa de uma entrevista, ele tinha 1300 reais na carteira. O mundo do direito era muito diferente mesmo do mundo de onde ele vinha. Já ficou animado com a possibilidade de dar uma vida melhor para a mãe e para a avó no futuro.

Na segunda-feira, se apresentou pontualmente na hora combinada, as oito horas da manhã. A faculdade era a noite, então ele ficaria o dia todo no estágio. Danilo apresentou todo o pequeno escritório. Além de Danilo, trabalhava lá um senhor bem mais velho que Danilo, que foi apresentado como assistente e contador do escritório, mas que não era advogado, pois nunca tinha conseguido passar na OAB. Também trabalhava uma secretária, também mais velha, quase idosa. Os dois fumavam muito, apesar do ambiente fechado em que ficavam, uma sala lateral. Na entrada do escritório, havia uma mini sala de espera para os clientes. Havia também uma pequena sala de reunião, com uma mesa grande e a sala de Daniel, a maior do escritório.

"Como não quero que você vire um fumante passivo junto com aqueles dois, você vai trabalhar na sala de reunião. Tem um notebook lá, que você vai usar como seu computador. Quando não tiver tendo reunião lá, o que raramente acontece, vai ser a sua sala aqui", disse Daniel. Vicente tinha apenas um precário computador em casa, comprado de segunda mão pela mãe com muito sacrifpicio anos atrás. Percebeu que o notebook era um avião supersônico perto do seu velho 586.

O escritório fazia quase de tudo, mas 90% era área trabalhista, explicou Daniel. Nem isso Vicente sabia até aquele momento, pois nada tinha sido comentado pelo advogado na entrevista. Daniel foi muito gentil e explicou por alto as atividades rotineiras de Vicente. As idas que ele teria que fazer ao TRT e as Varas Trabalhistas. Era uma época que os processos eram em papel, muito antes do PJe, muito antes da pandemia que virtualizou de vez o Judiciário brasileiro. Era uma época que estagiário tinha que gastar sola de sapato e encostar muita barriga em balcão.

Pela manhã, Danilo ficou explicando o funcionamento do escritório. Chamou Vicente para almoçar em restaurante perto do escritório. Vicente ficou nervoso, pois nunca na vida tinha almoçado em um restaurante a la carte, só sabia comer em restaurantes a quilo. Simplesmente, disse que queria o mesmo que o chefe para o garçom. No restaurante, Danilo voltou a bombardear Vicente com mais perguntas pessoais. Na hora da conta, Vicente chegou a pegar sua carteria timidamente para pagar sua parte, mas recebeu um corte de Danilo. "Quando estiver comigo você não paga nada, é uma ordem", disse o advogado.

A tarde foram para o TRT, passaram por várias Varas Trabalhistas. Em todas, Danilo conhecia os servidores que atendiam pessoalmente os advogados e estagiários. Os servidores todos tratavam o advogado por "Dr. Danilo". Vicente estranhou que alguns servidores homens eram bem mais solícitos e ficavam fazendo caras e bocas para Danilo. Estes servidores, quase todos, tinham trejeitos gays. Sem se atrever a falar nada, Vicente só ficou calado observando tudo. Danilo perguntou de vários processos e perguntou também de alvarás. Invariavelmente, os servidores diziam que iam fazer tal e qual coisa. No corredor, Danilo explicou que eles tinham que ficar em cima, senão os processos não andavam. Danilo explicou como tirar andamento de processos em um totem parecido com um caixa eletrônico que saia um papel igual extrato de caixa eletronico. Enfim, Vicente naquela tarde aprendeu mais que em dois períodos de faculdade.

No dia seguinte, se encontraram direto no predio do TRT, às oito horas da manhã. Vicente já sentou lado a lado com Danilo em uma audiência trabalhista, na frente de um juiz do trabalho. Danilo representava o reclamante, um trabalhador com um processo contra uma grande empresa. Vicente não entendeu nada, mas fez uma cara de sério, como se estivesse entendendo tudo. A audiência não teve nenhum acordo e terminou com o juiz dizendo que iria sentenciar posteriormente.

No corredor do TRT, Danilo olhou para o terno de Vicente. "E esse terno ai? É o único que você tem?", perguntou o advogado. Vicente, muito constrangido e com medo de ser dispensado, disse que sim.

Sem falar nada, do TRT mesmo Danilo levou Vicente a um shopping, pararam em uma loja muito bonita e Danilo, para supresa de Vicente, disse para o vendedor que queria levar três ternos para o estagiário. Vicente fez uma cara de tamanho espanto que Danilo teve que falar algo. "Não disse ontem que quando estiver comigo você não paga nada? Não aprendeu ainda?", disse até com um tom um pouco ríspido. Apesar do tom ruidoso, Vicente ficou muito aliviado ao saber que não teria que pagar nada. Os três ternos, camisas e gravatas, ao final, custaram vários e vários meses do valor da bolsa-estágio. Vicente saiu da loja já usando um terno ajustado pela funcionária da loja que ficava de plantão fazendo correções na roupa. O caimento foi perfeito. Ele parecia um outro homem.

Na saída da loja de ternos, Vicente teve outra surpresa. O advogado se virou para ele e perguntou quanto ele calçava e, depois da resposta, entrou numa sapataria. Vicente entrou em seguida e ele estava pedindo ao vendedor um sapato preto e um sapato marrom social, além de muitos pares de meia. Mais uma vez, Vicente já saiu da sapataria usando um dos novos sapatos. "Agora vamos aproveitar que já estamos aqui e almoçar", disse Danilo.

Foram para um restaurante ainda mais chique que o do dia anterior. Já mais confiante, Vicente pediu algo diferente de Danilo para comer. No almoço, continuaram conversando sobre a vida pessoal de Vicente, mais uma vez. No final do almoço, Vicente ensaiou uma fala e despejou nervoso. "Obrigado por tudo, dr. Danilo, não sei como vou lhe agradecer", disse o estagiário.

"Não se preocupe, meu filho. Estou fazendo isso porque me vi muito em você. Também não tive pai, minha identidade de forma humilhante tem um monte de XXXXXX no lugar do nome do pai. Também tive uma origem humilde, pior que a sua. Na minha época não tinha financiamento estudantil, a minha faculdade era literalmente a mais barata da cidade naquela época", falou Danilo e começou a dar outros exemplos de pobreza na sua vida.

As revelações de Danilo maravilharam Vicente, pois lhe deram esperança que poderia também ter sucesso como advogado, no futuro, mesmo sendo pobre.

"Eu também tenho um filho de doze anos, meu único filho. Espero que alguém o ajude um dia, como eu estou fazendo por você, caso eu não esteja lá para ajudar", disse de forma melancólica. O advogado revelou que o casamento, com uma juíza, durou apenas 3 anos, mas resultou no filho. Danilo disse que depois do trauma aprendeu que nunca mais iria se casar com outra mulher, que tinha aprendido a lição. Hoje, a ex-mulher de Danilo era desembargadora, no próprio TRT. Danilo explicou que a ex-mulher não podia julgar os processos dele, que estava "impedida" pela lei.

"Eu a conheci trabalhando, em uma audiência. Sorriso daqui, risinho dali. Ela era uma gordinha muito jeitosa. Peguei e ela gamou muito rápido. Amor de pica, onde bate fica, da parte dela. Mas já na época me arrependi, pois era muito grudenta. De tanto que ela me atazanou aceitei casar e aí a coisa só piorou. Brigávamos todos os dias, só aguentei 3 anos", disse Danilo. "Mas sobrou uma coisa boa, nosso filho, Danilo Júnior. Chamamos ele de Juninho. Ele é um filho maravilhoso, carinhoso, estudioso, nunca deu trabalho. Você vai conhecer ele quando ele for no escritório. Mas, ao contrário de nós dois, ele foi criado desde o berço como menino rico. Sempre teve tudo. E depois da separação, como ele é também o único filho da minha ex-mulher, houve até um tipo de competição para ver quem de nós dois mima ele mais. Já corremos para ver quem conseguia dar um novo Playstation para ele. Eu ganhei claro e minha ex-mulher ficou possessa. Adorei", disse gargalhando. "Você vai conhecer minha ex-mulher, aquela víbora, ela está sempre na Segunda Turma do TRT. Apesar de não julgar meus processos pelo impedimento, ela fica lá sentada nas sessões, fazendo cara de raiva quando eu faço uma sustentação oral na Turma dela", explicou Danilo.

As semanas se passaram, os meses se passaram. Vicente aprendeu muito, na prática. Já tomava até iniciativas. Sabia como pedir para os processos andarem nas Varas Trabalhistas e no TRT. Na segunda instância, já ia ao gabinete de desembargadores e pedia celeridade nos processos. Em algumas varas, Vicente reparava que sempre tinha pelo menos um servidor homem que se desmanchava em atenção só por ele ser "o estagiário do dr. Danilo". Eram diretores de secretaria, calculistas, assistentes de juiz. Mudavam de atitude ao ver o nome de dr. Danilo na pastinha de papel que Vicente sempre carregava com os adamentos de processo.

Meses, depois, Vicente saiu mais tarde do escritório, pois não tinha aulas nos dois primeiros tempos. Ao passar por um barzinho próximo, viu seu chefe Danilo conversando muito animado com um diretor de secretaria de uma das Varas do Trabalho. Na hora, Vicente viu Danilo encostar a boca bem no ouvido do servidor, de uma forma bastante sensual, falando alguma coisa que Vicente naturalmente não conseguia ouvir. O servidor se requebrou todo. Vicente concluiu que havia certamente um lance sexual entre os dois. Vicente, aos 19 anos, não tinha qualquer preconceito. Já adolescente, tanto a mãe, como a avó, tinham vários amigos gays da comunidade onde moravam que frequentavam a pequena casa, alguns passando até o Natal com a pequena família. Na faculdade, naturalmente, haviam colegas já assumidos na turma de Vicente e várias vezes chegou até a fazer trabalho de grupo com alguns deles. Vicente nunca teve qualquer atração por homem, mas convivia muito bem com os gays. Só ficou um pouco curioso por Danilo, que já era seu modelo de vida, ter relações com gays, mas esqueceu isso poucos dias depois. Passados os dias e samanas, para Vicente não mudou nada. E Vicente tinha certeza absoluta que Danilo nunca deu nenhuma investida maliciosa em cima dele. Ao contrário, muitas vezes Danilo chamava Vicente de "meu filho", involuntariamente.

Vicente conheceu Júnior, o filho de Danilo, no escritório. Vicente sentiu um incômodo com o rapaz que não sabia explicar, apesar do jovem ter tradado ele muito bem e não ter feito nada de errado. Vicente depois percebeu que sentiu ciúmes do carinho que Danilo dava ao filho. Danilo verdadeiramente idolatrava o garoto. E Vicente se ressentiu por dentro, de nunca ter tido um pai. O estagiário chegou a chorar de raiva no ônibus, a caminho da faculdade, por ter ficado abalado por uma coisa que pensou ser tão boba. Ciúmes de um garoto de 13 anos, por ele ter tido um pai maravilhoso toda a vida e ele não. Vicente ao descer do ônibus torceu para que Danilo e Danilo Júnior não tivessem conseguido reparar em como ele ficou abalado ao ver o pai e o filho juntos e tão carinhosos um com o outro. Felizmente, no dia seguinte, não houve nenhum comentário no escritório.

Quando Vicente estava completando já dez meses de estágio, sua mãe perdeu seu principal trabalho. Ao conversar com a mãe, Vicente descobriu que a mãe não tinha carteira assinada e que o antigo patrão não pagou nenhum dos direitos, nem nunca recolheu previdência e INSS. A mãe foi chutada do emprego literalmente sem nada. Vicente já sabia muito bem que era exatamente o tipo de assunto que Danilo tratava em seus processos, muitas vezes defendendo o trabalhador, mas também algumas vezes defendendo a empresa. Vicente contou tudo para o chefe no escritório.

"Vamos processar", disse Danilo com a maior naturalidade. "Pega a procuração assinada com a sua mãe, os recibos que ela tem, pede o nome completo de 3 testemunhas. Como a empresa é média, vai ser fácil", explicou o advogado, para grande felicidade do estagiário, que preparou a petição da própria mãe, usando um modelo, para depois ser revisada por Danilo.

A mãe de Vicente deu sorte e o processo trabalhista foi distribuído para uma das Varas mais rápidas. Na primeira audiência, o ex-patrão já propôs um acordo num valor que Vicente considerou altíssimo. Danilo impassível recusou e teceu vários argumentos e várias informações em números. Debate daqui, debate dali, o ex-patrão conversou com o próprio advogado e ofereceu o triplo do valor inicial. Um valor que a mãe de Vicente nunca viu na vida. Danilo conversou com a mãe de Vicente e aceitou o acordo em seguida. Já saíram com a ata da audiência com o acordo assinado. Vicente quase chorou de emoção. Caso não estivesse estagiando, a mãe seria mais uma trabalhadora lesada nesse Brasil, que teria saído com a mãe na frente e outra atrás, depois de 5 anos trabalhando 12 horas por dia, sem hora-extra, sem nenhum benefício.

No corredor do Fórum, a mãe de Vicente chorou. "Não sei o que vou fazer com tanto dinheiro meu filho", disse a mãe.

Vicente, constrangido, disse na frente da mãe e de Danilo. "Mainha, 30% desse dinheiro é de dr. Danilo, são os honorários dele como advogado", disse o estagiário.

"Claro que não! Imagina, para a mãe de Vicente eu abro mão de meus honorários", se apressou a falar Danilo rindo. "Seu filho é um menino de ouro. Terá muito futuro", disse o advogado.

A mãe de Vicente ficou mais emocionada, especialmente depois de raciocinar que os 30% tinham voltado para ela.

O dinheiro apesar de muito para uma familia tão pobre, foi gasto rapidamente em um ano. A casa foi reformada, uma reforma muito necessária, pois a casa da periferia estava quase caindo aos pedaços. O telhado foi consertado depois de mais de 10 anos de infiltrações. Se comprou uma TV nova para a sala, geladeira nova, máquina de lavar (que nunca tiveram antes), fogão novo (o antigo estava quase todo comido por ferrugem). O único banheiro agora tinha azulejos até o teto, box e espelho. Porém, a coisa mais importante, foi que conseguiram fazer um puxadinho e Vicente tinha agora um quartinho só para si, praticamente um 3x5, mas só para si. Não ia ter mais que dormir na sala. O quarto de Vicente também ganhou uma pequena TV e um computador novo (desta vez comprado na loja, não de segunda mão), com mesinha e cadeira. A casa ganhou outro padrão. Deixaram a linha da pobreza e passaram a ter uma casa de classe média baixa. E Vicente ficava orgulhoso de tudo isso ter ocorrido graças ao trabalho dele com dr. Danilo, para quem Vicente já nutria uma afeição quase que de pai, apesar de ter vergonha de falar sobre isso com qualquer pessoa, guardava só para si.

Apesar do dinheiro ter acabado, Vicente não passou aperto, pois sua bolsa-estagio já tinha mais que dobrado. Do que os colegas de sala falavam, Vicente era o estagiário mais bem remunerado de sua turma. Recentemente, tinha ganho um relógio, muito bonito de Danilo, pelo seu aniversário. Ao pesquisar na Internet, de curiosidade, quanto custava o relógio, Vicente quase caiu da cadeira. Não era um Rolex, como o relógio de Danilo, mas era uma marca internacional conhecida de todos. Além disso, todos os anos, Danilo renovava o guarda-roupa do estagiário em algum shopping.

Muitos meses depois, no corredor do TRT, uma senhora abordou Vicente.

"Você que é Vicente o estagiário do Danilo?", perguntou a senhora com ar visível de autoridade.

"Sim, Excelência, estou estagiando com dr. Danilo já tem dois anos agora", respondeu o rapaz de 20 anos surpreso ao ser abordado, pois reconheceu imediatamente a ex-mulher de Danilo, que era desembargadora do TRT, uma das mais importantes atualmente.

"Meu filho gosta muito de você, sempre fala de você", disse a desembargadora.

"Eu acho Júnior um rapaz fantástico, muito inteligente e educado", respondeu Vicente, com sinceridade, mas surpreso de uma desembargadora puxar assunto com um réles estagiário.

"Muito legal, vou contar para ele o que você disse, ele vai ficar muito feliz", disse a desembargadora, se virando e indo embora sem se despedir, como era o normal dos juízes e desembargadores, como Vicente há muito já tinha percebido.

Uma noite na faculdade, Vicente percebeu que tinha esquecido de imprimir uma petição que tinha que ser protocolada cedo no TRT pela manhã. Como as aulas não eram importantes, foi ao escritório já próximo das 21 horas. Há muito Vicente tinha as chaves do escritório.

Entrou na sala de reunião que funcionava como sua sala privativa e começou a imprimir a petição. No meio da impressão, escutou um barulho na sala de Danilo. A sala de reunião e a sala do chefe só eram separados apenas por uma divisória que simulava uma parede.

Ao sair para a recepção, Vicente olhou pela fresta da porta e viu Danilo nu, macetando o cu de um homem. Quando percebeu quem era o homem, Vicente não teve como evitar o choque. Era um jovem juiz do trabalho substituto, que Vicente tinha certeza que tinha menos de 30 anos. Esse juiz era considerado por Vicente o mais legal de todos os magistrados com quem Vicente já tinha despachado processos, pois era um dos poucos magistrados que tratavam o humilde estagiário como um ser humano. Sempre que chegava para despachar um processo, o tal juiz substituto chamava Vicente pelo nome e perguntava como estava a faculdade, por exemplo. Danilo olhou pela fresta da porta e seu olhar se cruzou por um segundo com o de Vicente, que saiu correndo do escritório, assustado.

Já na rua, Vicente ficou em dúvida se correr assustado daquele jeito tinha sido a melhor atitude. Ficou com medo da reação de Danilo no dia seguinte. Vicente ficou desesperado pelo medo de ser demitido pelo chefe, de quem já gostava tanto como uma figura paterna. Sobre o fato de Danilo estar transando com outro homem, Vicente ficou completamente indiferente. Para ele, não tinha a menor importância. Vicente só não queria perder o afeto paternal de Danilo, que era a coisa mais importante da sua vida no momento. Vicente já idolatrava Danilo como um pai.

Vicente teve até dificuldade de dormir a noite com medo da reação de Danilo, no dia seguinte. Ao amanhecer, Vicente se apressou e chegou ao escritório 10 minutos antes das sete, bem mais cedo que o horário habitual. Arrumou seu espaço na sala de reunião e começou a trabalhar com os volumosos processos que estavam com carga para o escritório (ainda era tempo de processo em papel). Vicente percebeu a hora que Danilo chegou e entrou para sua sala, pouco depois das 8 da manhã. Vicente continuou quase que fingindo trabalhar, nervoso de que hora teria que encarar Danilo. Perto das dez horas da manhã, tocou o interfone, Vicente atendeu e era Danilo dizendo "Vem cá e trás um café", com a maior naturalidade, como fazia quase todo dia, quando queria tratar de algum processo com o estagiário.

Vicente chegou levando a caneca de café do chefe, tentando passar naturalidade. Ficou mais aliviado, achando que Danilo ia ignorar o ocorrido na noite anterior e tudo ia seguir como se nada tivesse ocorrido. Mas estava enganado.

"Eu sei que você me viu ontem aqui com o juiz", disse Danilo.

"Mil desculpas, dr. Danilo, foi totalmente sem querer, mil desculpas!", começou a despejar Vicente, nervoso, quase gritando.

"Calma rapaz!", interrompeu Danilo. "Ninguém está brigando aqui com você não. Essas coisas acontecem, você não teve culpa".

Vicente ficou de cabeça baixa, ainda nervoso com o que ia acontecer.

"Eu sei que os jovens agora são bastante modernos. Espero que você não tenha nenhum problema com gays. Você tem?", perguntou Danilo.

"Não, senhor, eu tenho vários amigos gays na faculdade, inclusive", se apressou a responder Vicente.

"Ótimo, mas eu nem sou gay. Se for classificar, eu seria bissexual. Se bem que tem muitos anos que eu não fico com mulher. Mas na sua idade eu ficava igual, meio a meio, homem e mulher", começou a explicar Danilo.

"Olha, em primeiro lugar, você não pode contar para ninguém que viu o juiz comigo aqui. Minha ex-mulher ia destruir a carreira dele se soubesse disso. Ele é juiz, mas ainda é um juiz substituto, não tem titularidade, pode ser mandado para uma vara do interior lá na divisa com o fim do mundo pela minha ex-mulher. Não conte para ninguém dele, por favor, que pode prejudicar muito ele ter ficado comigo", pediu Danilo.

"Nunca ia contar para ninguém, dr., eu juro", respondeu Vicente.

"Deixa eu te explicar. Já te contei tudo da minha vida. Só faltava essa parte...", disse tomando um café e pegando embalo para uma história."Eu te disse que eu estudava na pior e mais barata faculdade do Estado, né. Bem, eu consegui um estagio em um escritório muito bom, mas tinha que pagar a faculdade, pois não tinha financiamento estudantil como você. Minha mãe fazia três faxinas por dia para pagar a faculdade, era uma lutadora. Eramos só nós dois e o mundo. Mas ela teve um problema de coluna sério. Não me contou, continuou se matando nas faximas. Mas teve uma hora que não aguentou. Ficou praticamente entrevada. Já eramos dois miseráveis e nossa renda familiar caiu 80%. Viviamos da minha bolsa-estágio, só para comida, uma refeição por dia, arroz, feijão e ovo. Eu trazia marmita para o escritório e comia fria no vão da escada de incendio para ninguém ver. Eu já te contei quem era o dono do escritório, você viu ele aquele dia no TRF, sabe que ele é um dos advogados mais ricos do país. Bem, ele só me contratou, um cara da pior faculdade do Estado, por que eu era muito bonito. Modéstia a parte, na sua idade, eu era bem mais bonito e musculoso que você, Vicente. Músculos de tanto carregar caixa na feira, desde os 12 anos de idade. Pois bem, meu chefe, o dono do escritório, só me contratou por ser bonito, mas depois viu que eu era dedicado. Apesar disso ele sempre fazia brincadeirinhas e passava a mão em mim. Ele nunca passava de um limite, mas fazia sempre. Hoje seria assédio sexual, mas naquela época era quase normal. Como disse, ele sempre ficava em um limite, nunca forçava nada explícito. Eu achava estranho, mas não me incomodava, não tinha repulsa, nem nojo, nem nada. Mas minha mãe tava quase entrevada na cama, acumularam 4 meses de mensalidade na faculdade. A faculdade não ia renovar minha matrícula para o próximo periodo sem eu pagar os atrasados. Eu ia ser expulso. Ia perder por tabela meu estágio. Ia ter que voltar a carregar caixa na feira", detalhou Danilo que agora tinha a total atenção de Vicente, que não mexia um músculo de tanta atenção que dava a história.

"Desesperado, eu fui até meu então chefe e pedi para ele me adiantar a bolsa-estágio vários meses para pagar as mensalidades atrasadas e poder renovar a matrícula... E depois de pedir isso, eu cheguei mais perto do meu chefe, tentei fazer a voz mais sensual possível e disse que se ele me adiantasse o dinheiro eu faria qualquer coisa que ele quisesse, qualquer coisa. Eu fui bem explícito e direto, não deixei dúvidas das minhas intenções. Naquele dia, eu nunca tinha ficado com um homem na vida, nem de brincadeiras, nem de meinha, nem nada, experiência zero com homem. Meu chefe ficou chocado com a minha fala, ele realmente tomou um susto. Acho que ele nunca teve a pretensão daquelas suas brincadeirinhas comigo passarem daquele limite. Ele se divertia só com aquilo e estava bom para ele. Meu chefe se levantou foi até a porta da enorme sala dele e trancou, virou para mim e perguntou com os olhos arregalados se eu tinha absoluta certeza do que estava dizendo. Eu disse que sim, mais uma vez deixando bem claro minhas intenções. Coloquei a mão no meu pau por cima da causa. Meu chefe lambeu os beiços. Ele avisou pelo interfone a secretária para não ser interrompido de jeito nenhum e aconteceu ali, no sofá dele. Bem, hoje você viu que ele é um velho, mas na época ele tinha a minha idade. A bundinha dele era durinha, empinadinha. Ele era um lourão de olhos azuis muito elegante. Ele começou a me mamar de joelhos e depois comi ele com gosto no sofá. Eu não tinha tomado nenhum remédio, nem nada, porque essas pilulas nem existiam naquela época, mas meu pau subiu na hora e eu posso dizer que gostei muito. Depois de terminar, percebi que faria até de graça. O cuzinho não virgem dele era delicioso. Claro que depois ele me deu o dinheiro e muito mais. Fomos anos bons amigos, porém com sexo, mas amor nunca rolou. Ainda na faculdade, comecei a comer os colegas mais delicadinhos, botar para mamar os falsos machinhos, fiz uma festa. Eu gostei da coisa, apesar de, na época, continuar também comendo as mulheres que eventualmente davam em cima de mim. Mas correr atrás de mulher, parei", explicou o advogado.

"E agora eu tenho que te falar algo que me dá uma certa vergonha, mas que não foi a ultima vez que eu transei por dinheiro. Aconteceu várias vezes. Quando eu fui comprar este escritório, eu só tinha uma pequena parte do dinheiro e tive que pedir um financiamento no banco, mas meu nome não passou, era ainda muito pobre. No entanto, eu percebi que o gerente se interessou por mim, sabia já reconhecer um viadinho encubado de longe. Macetei o cuzinho dele e consegui o financiamento de 30 anos para comprar este escritório aqui. Felizmente, quitei em 4 anos o financiamento, com o sucesso do meu escritório. Enfim, várias situações eu comi o cuzinho de homem para me dar bem. O juiz de ontem, contudo, sempre foi apenas pela curtição. Ele é muito correto, só fiquei doido para botar ele na minha rola depois que vi a bundinha tesuda dele naquela calça social apertadinha que ele usa", explicou Danilo.

"Vicente, eu espero que você não fique estranho comigo, depois disso. Eu te ajudei porque ninguém nunca me ajudou quanto tinha a sua idade. Eu tive que comer esses cus de homem para ir conseguindo as coisas na vida. Eu não me orgulho disso. Mas depois peguei gosto pela coisa e passei a fazer pelo prazer também, digamos assim", complementou Danilo.

"Nunca ficaria estranho, dr., eu considero muito o senhor, sou muito grato por tudo", disse Vicente.

"E não se preocupe comigo, você não faz o meu tipo, muito alto, muito másculo para o meu gosto", disse Danilo gargalhando, levando Vicente pela primeira vez a rir e se descontrair no dia.

"E você, nunca ficou com homem?", perguntou Danilo. "Nunca!", se apressou a responder o estagiário. "Tudo bem, cada um tem seu gosto. Você é um cara ótimo, vai arrumar uma menininha para te fazer muito feliz", disse Danilo. "É isso. Depois dessa conversa vamos voltar ao normal entre a gente, por favor. Temos muito trabalho essa semana, hein", completou o advogado.

"Sim, senhor!", respondeu Vicente, muito feliz por tudo ter se resolvido e poder continuar sua relação quase que filial com Danilo, a quem passou a admirar mais ainda. Danilo, por sua vez, voltou a chamar Vicente esporadicamente e involuntariamente de "meu filho". Cada vez que isso ocorria Vicente praticamente tinha um espasmo de felicidade.

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Comentários

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Como fã do seu conto, gostaria de dizer o quanto ele me encantou. Sua escrita é cativante e suas histórias têm o poder de transportar os leitores para universos fascinantes. Parabéns pelo talento e pela criação de personagens inesquecíveis!

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oi obrigado pelas palavras, vi que me mandou uma mensagem, mas não visualizei pois não sou assinante ... me manda no email por favor christophercura@protonmail.com

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Não esperava menos que isso. Muito show, nem faz falta cenas de sexo. Conteúdo contagiante que promete muitas surpresas. Obrigado e parabéns.

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Muito bom. Está prometendo. Estou ansioso pelos próximos.

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