O outro, capitulo 45 A briga

Um conto erótico de Arthur Miguel
Categoria: Gay
Contém 17594 palavras
Data: 23/05/2023 12:37:22

Início do capítulo

Capítulo 45

Notas do autor

Olá pessoal, como todos sabem, a minha saúde nesses últimos tempos não era a das melhores, mas mesmo assim continuei escrevendo a medida do possível. Hoje, sigo me recuperando, e tenho melhores condições para prosseguir na escrita. Por isso, anuncio que estou de volta para finalizar essa história.

Como faz meses que não atualizo O outro, fiz um breve resumo do que aconteceu no capítulo 44 e logo em seguida, segue o capítulo 45.

Boa leitura.

Resumo do capítulo 44

Júlio manda Vanessa passar uns dias com Leandro

Júlio fantasia sexo a três com Luciano e Leandro e diz que quer ter os dois

Vanessa comunica a Leandro que está namorando Pedro

Leandro recebeu Pedro em sua casa para um jantar e diz que eles devem contar a Júlio sobre o namorado.

Júlio recebe o convite para o jantar e Luciano deseja ir. Júlio nega e acaba drogando Luciano.

Rubens diz a Júlio que conseguiu que ele conhecesse uma socialite importante e que possa ser a sua futura cliente

Júlio decide unir Vanessa com o neto de Victoria Montenegro

No jantar, Júlio não aceita o namoro da filha

Ao retornar a casa, briga com Luciano e sai de casa ficando 4 dias fora. Luciano surta e põe fogo nas roupas de Júlio.

Capítulo 45

Dona Dirce chegou no apartamento de Júlio o mais rápido que pode. Para ela foi desesperador ver Luciano e Júlio aos berros numa discussão tumultuada.

Horas antes, por pouco, o apartamento não foi consumido pelas chamas do fogo. Um dos seguranças conteve Luciano, enquanto o outro apagou o fogo usando uma mangueira.

Júlio chegou alguns minutos depois, indo direto para o quarto, onde Luciano foi trancado por um dos seguranças.

Júlio o encontrou pondo suas roupas numa maleta. O jovem chorava descontrolado.

_ O que você pensa que está fazendo, seu desequilibrado?_ Júlio perguntou, empurrando Luciano para o lado e jogando no chão todas as roupas fora da mala.

Luciano levantou furioso. Partiu para cima de Júlio despejando um soco em seu rosto, que o fez cair do outro lado do quarto.

_ Eu não vou admitir que me desrespeite desta forma! Você me traiu! Me trancou dentro desta casa como se eu fosse o seu prisioneiro!

Júlio pôs a mão no nariz, percebendo o fio de sangue que escorria. Levantou com raiva e partiu para cima de Luciano retribuindo o soco.

A briga se intensificou. Os dois rolavam no chão compartilhando golpes violentos de socos e ponta pés. Mais uma vez a briga foi contida pelos funcionários.

Valdeia atendeu a porta trêmula. Dona Dirce ouvia os gritos da entrada e gelou ao ver a expressão de pavor da empregada da casa.

_ Dona Dirce, ainda bem que a senhora chegou! Eu não sei mais o que fazer! Está casa se tornou um inferno!

Dona Dirce foi o mais rápido possível até o quarto. Luciano e Júlio não estavam mais sendo segurados pelos funcionários, mas tinham hematomas pelo rosto, o que levou dona Dirce a concluir que os dois brigaram.

_ Meu deus! Mas o que é isso?! Vocês dois são um casal! Não deveriam brigar desse jeito!

_ Ex casal, dona Dirce! A pior coisa que fiz na minha vida foi me envolver com o seu sobrinho! A senhora não tem noção do que ele fez comigo! Me traiu! Eu sempre fui fiel a ele e ele me traiu!

_ Que trai o quê! Deixe de ser louco!

_ Você passou quatro dias fora, Júlio! Se não estava me traindo, estava fazendo o quê? Colhendo flores?

_ Estava arejando a cabeça. Você me sufoca com esse seu ciúme doentio! Tia, acredita que esse maluco pôs fogo nas minhas coisas?

_ Meu deus do céu! Isto aqui está mesmo parecendo um inferno! Vocês dois precisam se acalmar! Conversarem como um casal normal faz e não brigarem como dois moleques de rua.

_ Não tem mais o que conversar, dona Dirce. Júlio me machucou não só por fora como por dentro. Ele me fez prisioneiro nesta casa durante esses dias! Aqueles brutamontes que ele contratou me impediram de sair!

_ Lógico! Fiz isso para te proteger! Você está louco! Imagina se saísse assim na rua.

_ Deixe de ser cínico, seu desgraçado!

_ Por favor, parem com essa briga! Isso ainda vai acabar em tragédia!

Dona Dirce esfregou a mão no peito, tentando conter o sufocamento interno que sentia. O coração disparava e a respiração saia ofegante. Apoiou-se na cama para não cair no chão, devido a fraqueza que sentia nas pernas.

Preocupado com a tia, Júlio correu para acudí-la. Temeu que algo ruim pudesse acontecer com ela.

A recuperação da dona Dirce aconteceu alguns minutos depois. Ela foi levada para a varanda do quarto para tomar um ar puro, sendo sentada em uma das poltronas.

Luciano quis chamar um médico, mas ela se recusou, alegando que já estava melhor.

O jovem se viu nervoso. Sentiu remorsos pela situação da mulher. Estava em pânico e muito envergonhado. Sentia um misto de sentimentos perturbadores. Pediu licença para ir ao quarto de hóspedes. Não queria chorar na frente dela.

Júlio tomou um banho e vestiu uma das poucas roupas que sobraram. Tratava-se de um conjunto de pijama velho, uma calça xadrez vermelha e preta e uma camiseta regata branca.

Teve ódio de ver todas as suas coisas destruídas. Mentalmente calculou que teria um grande prejuízo financeiro. Cada relógio destruido custava mais de dez mil reais, sem contar as roupas de grifes queimadas. Teria que comprar tudo novamente e os ternos com urgência para fins profissionais. A mobília quase toda foi detonada, ou seja, mais gastos.

Sentou ao lado da tia lamentando pelo seu bolso e perdas materiais.

_ Que saudades do Leandro. Não sei por que deixei aquele homem escapar. Ele jamais teria agido desta forma. Não era um desequilibrado como o Luciano. _ lamentou Júlio acedendo o cigarro na boca.

Dona Dirce o olhou com os olhos lacrimejando, franzia o cenho sentindo uma enorme decepção.

_ Por que você é assim? Onde foi que eu errei na sua criação?

Júlio a olhou como se perguntasse o que ela queria dizer com aquilo.

_ Por que você gosta de fazer infeliz todo rapaz que se envolve contigo? Por que você é tão perverso? Você pode até não acreditar em Deus, mas ele existe e a justiça divina também. Você ainda vai pagar por todo o mal que causa as pessoas.

_ Agora eu sou o único errado da história? A Malévola do rolê. Ah titia! Me economize! O Luciano é louco! Surtado! A senhora não viu que ele destruiu o apartamento todo? Queimou as minhas roupas! Sem contar que vive enchendo o meu saco com ciúmes de deus e o mundo.

_ Você perturba esses rapazes!_ dona Dirce gritou chorando._ Você deixava o Leandro em pânico! Você manipulava a sua filha a pondo contra o Leandro, agora está fazendo o mesmo com o Luciano! Júlio, você não precisa ser assim! Você é um homem bonito, inteligente e bem sucedido! Você pode ser bom! Você tem dinheiro para conseguir ajuda psicológica e...

_ Quem precisa de ajuda psicológica é o Luciano. É um louco! De internação com camisa de forças.

_ Tenho medo que você acabe igual ao seu pai. Eu olho pra você e vejo ele.

_ O que tem o meu pai, tia?

Dona Dirce de imediato se arrependeu do que disse. Ela nunca teve coragem de contar o que realmente aconteceu com os pais de Júlio. Durante todos aqueles anos manteve a mentira de que eles foram mortos num acidente. Para desviar o assunto, se levantou e disse que já estava de partida. Júlio se ofereceu para acompanhá-la até em casa, mas ela se recusou. Dizendo que o seu motorista particular a esperava na portaria.

_ Meu filho, eu te amo tanto! Por favor tente ser um homem melhor. Se não gosta do Luciano, termine esse relacionamento e siga a sua vida.

Ela acariciava o seu rosto o olhando com lamentações.

_ Seja um pai melhor para a sua filha. Ela precisa de você. E por favor, deixe o Leandro em paz.

_ Titia, eu estou muito chateado com o fato da senhora falar comigo como se eu fosse um demônio.

_ Não acho que você seja um demônio. Só tenho medo que as suas atitudes terminem tragédia.

...

O silêncio pesava na casa durante aqueles dias. Era incômodo como Luciano e Júlio se ignoravam como se fossem dois estranhos. Mas cada um tinha um motivo diferente para se manter afastado um do outro.

Júlio queria esperar as coisas esfriarem para tentar uma reaproximação com o namorado. Sabia que Luciano era mais bruto que Leandro e que somente palavras bonitas, atitudes gentis e presentes não seriam suficientes para acalma-lo de primera como acontecia com Leandro.

Luciano era como uma bomba prestes a explodir, tinha que aguardar até que estivesse totalmente calmo.

Luciano por sua vez, não tinha forças emocionais para tomar qualquer atitude. Sabia que não estava feliz naquela casa, mas não sabia como lidar com aquela situação. Pois apesar de tudo, amava Júlio e amava muito. Ele não gostava de viver daquele jeito, mas não queria se separar. A única coisa que desejava era ter o amor e o respeito do homem que amava.

Até cogitou ir embora, mas não tinha mais dinheiro e nem para onde ir. Não podia procurar a mãe. Resolveu ficar tendo frangalhos de esperança de dias melhores, mesmo que isso doesse.

Júlio por sua vez, tentou fazer o marido exemplar. Chegava no horário correto, não se atrasando e passando a falar com Luciano com a voz melosa, mostrando uma gentileza que não era genuína. A princípio, Luciano só respondia o essencial.

Certa tarde, quando chegou do escritório, encontrou Luciano sentado no sofá da sala de TV assistindo um filme. Ele estava envolvido com uma manta e a cabeça encostada nas costas do sofá. Júlio sentou ao seu lado, pondo uma das mãos sobre a coxa de Luciano. Receoso, esse afastou a perna.

_ Boa tarde, meu amor. Tava pensando de sairmos para jantar num restaurante hoje...pegar um cineminha. O que você acha?

Luciano permaneceu em silêncio, o ignorando.

Júlio se aproximou sorrindo e segurou no queixo do namorado.

_ Você deveria ter limites sabia.

Luciano o olhou com estranhamento, tentando entender o que Júlio queria dizer.

_ Limites para quê?

_ Para a beleza. Você não pode pegar toda beleza do mundo e pôr neste rostinho divino e nesse corpo delicioso.

Luciano virou o rosto, emburrando a cara. Por dentro gostou do que ouviu, adorava receber cantadas de Júlio, mas não queria demonstrar.

_ Como se isso tivesse algum valor pra você.

_ Eu te amo.

_ Ama mesmo? Por que fez o que fez?

_ Porque eu não queria que você fosse no jantar da Vanessa. Já esqueceu o que aconteceu entre vocês dois?

_ E você acha legal estar no mesmo ambiente que o seu ex marido e eu não estar? Eu não duvido nada que a Vanessa armou tudo isso para juntar vocês dois.

_ Deixe de ser paranóico, Luciano! Eu não quero nada com o Leandro. Mesmo que ele viesse pintado de ouro e implorasse a minha resposta seria não.

_ Não joga essa pra cima de mim.

_ Oh meu amor, eu tenho você._ Júlio segurou o queixo de Luciano e se inclinou para beijá-lo, mas Luciano se afastou, empurrando Júlio.

_Quem que tenha você, todo lindo e gostosinho, vai querer Leandro? Leandro é uma puta de quinta, que na primeira oportunidade me traiu com o desgraçado promíscuo. É sonso, uma vagabunda sem valor. Já você não. Você é leal, é agradável e sem contar que é muito mais bonito e delicioso.

Luciano se envaidecia ouvindo aquilo. Chegou a desejar que Vanessa ouvisse Júlio a falar para esfregar na cara dela que para Júlio, Leandro não era superior a ele em nada. Muito pelo contrário.

_Você é muito melhor que ele. Tem a bundinha bem mais gostosa.

Há dias que Júlio não transa com ninguém. O fato de tentar fingir ser um bom marido é um dos motivos por não ter procurado sexo fora de casa. E Luciano também não cedia a nenhuma investida de Júlio. Encarava isso como uma forma de castigar o companheiro. O que deixava Júlio furioso. A abstinência de sexo era o que ele mais odiava.

As punhetas não eram o suficiente. O seu pau desejava introduzir em algum buraco, seja boca ou ânus. Ele necessitava urgente de sexo.

Luciano cheirava a perfume. Tinha saído a pouco tempo do banho e isso deixava Júlio muito excitado.

Aproximou-se de Luciano, o abraçando. O seu pau pulsava e babava de desejo. Foi direto no

pescoço, sugando com beijos e mordidas, roçando o pau em seu corpo.

Luciano se afasta o empurrando.

_ Eu ainda não esqueci o que você fez.

Júlio sentiu ódio por ser rejeitado. Sentiu vontade de jogar Luciano de bruços naquele sofá, arrancar as suas roupas com brutalidade e penetrar a seco. Mas preferiu se conter para não piorar ainda mais as coisas.

_ Oh meu amorzinho, me perdoa. Você tem razão. Eu fui um idiota. Não deveria ter te trancado em casa e ficado aqueles dias fora. Eu estava muito mal por causa da nossa briga, com o que aconteceu com a Vanessa aqui e pelo fato de ela estar namorando aquele vagabundo só pra me atingir. Tudo isso me deixou louco. Eu não estava com outro homem. Só precisava ficar sozinho. Por a minha cabeça no lugar.

_ E precisava me trancar?

_ Eu tive medo de te perder. Medo de que você fosse embora. Eu não vou suportar se você me deixar. Eu te amo tanto.

Júlio levantou e foi até Luciano, segurou delicadamente em suas mãos as levando até a sua boca e as beijando.

_ Você é maravilhoso. Não merece um homem como eu. Mas eu prometo que vou mudar. Eu juro, minha vida.

Luciano retirou as mãos e se afastou.

_ Eu vou terminar de ver o filme no meu quarto.

_ Vamos sair. Eu vou te levar naquele restaurante nordestino que você adora.

_ Estou sem fome.

_ Podemos ir em outro lugar...um cinema, assistir uma peça de teatro...pegar um motelzinho._ essa última palavra foi dita com um sorriso malicioso.

_ Eu não quero ir a lugar nenhum com você. Me deixa em paz._ disse Luciano, saindo em seguida.

_ Puta que pariu! Puta que pariu!_ Júlio exclamou socando o sofá.

Ao ouvir o som do interfone, Valdeia interrompeu os afazeres para atendê-lo. Antes de dar uma resposta ao porteiro, foi até a sala. Encontrou Júlio sentado no sofá com um cigarro entre os dedos, lendo um jornal, na área econômica.

_ Seu Júlio, tem uma mulher lá em baixo querendo falar com o seu Luciano. Ela se chama Irene.

Júlio interrompeu a leitura, fechando as folhas do periódico e pondo na mesa ao lado. Apagou o cigarro no cinzeiro e levantou calmamente.

_ Diga ao porteiro que ela não está autorizada a subir e para aguardar o Luciano lá embaixo.

_ Tá bom. Então eu vou avisar ao seu Luciano que...

_ Você não vai avisar nada! Não quero que o Luciano saiba que aquela vaca está aqui. O que você vai fazer é manter ele ocupado, enquanto eu desço pra falar com a cretina.

_ Sim, senhor. Mas o que eu vou fazer para distrai-lo?

_ Ah, sei lá, criatura! Bota a cabecinha pra funcionar. Dar um brinquedinho pra ele._ debochou Júlio.

...

Irene não se surpreendeu ao saber que a sua subida não foi autorizada. Mas ficou feliz por saber que Luciano viria ao seu encontro. Acreditou que, por Júlio estar em casa, Luciano não pode deixar que ela subisse. Irene não se importou. Era até bom, porque assim não precisaria olhar para o rosto indesejável de Julio. Ela sentia saudades de Luciano. Só queria ver o filho.

No entanto, se surpreendeu ao ver Júlio vindo em sua direção com um sorriso cínico.

_ O que você está fazendo aqui? Cadê o meu filho?

_ Ele não vai descer. Vá embora daqui, vagabunda!

_E por que não vai descer?

_Porque eu não quero. Agora vá e nunca mais volte.

_Eu exijo falar com o meu filho!

_Você é surda ou idiota? Eu vou ser bem claro contigo. O Luciano está sob o meu poder. Eu contratei dois seguranças para impedir que pessoas indesejáveis se aproximem dele. Luciano não sai deste apartamento sem a minha autorização. Eu controlo todos os meios de comunicação que ele usa. Preciso dizer mais alguma coisa? Ou você desaparece da vida dele, some de vez mesmo, ou desapareço com ele. Sumo com o corpo de um jeito que você nem vai encontrar nem um pozinho dos ossos. Eu fui claro agora?

_ Júlio, você não é humano! Quando eu olho nos seus olhos não consigo ver que há uma alma aí dentro. Você é o diabo!

_ Saia daqui!

_ Eu só quero o meu filho. Você já não conseguiu o que queria? O Luciano já não te deu as gravações? Só deixe eu levá-lo, por favor? Eu prometo que sumo com ele e você nunca mais saberá de nós. Júlio, você é pai, seja compreensivo com uma mãe que só quer proteger o filho.

_ Proteger? Você? Deixe de ser cínica! Foi você que sempre enfiou caraminholas na cabeça do Luciano. Desde que ele era era criança o educou para se vingar de mim. Foi você que implantou o Luciano na minha empresa, jogou ele na minha cama! Agora vem com papo de Proteger?!

_ Eu fiz besteira sim. Mas eu me arrependi. Por favor, me deixe levar o meu filho?

_ Não! Eu me apaixonei pelo Luciano e agora ele pertence a mim. Eu vou massacrar quem tentar tira-lo de mim!

_ Que se apaixonou o que, serpente demoníaca! Todo mundo sabe que você ainda ama o Leandro.

_ Eu sou perfeitamente capaz de amar os dois.

_ Você não vale nada! Não é possível que o Procópio tenha deixado a herança toda pra você. Você o matou e roubou o dinheiro dele! Agora quer fazer mal ao Luciano! O meu filho era o herdeiro!

_ O Luciano seria herdeiro se o velho decrépito tivesse reconhecido a paternidade dele. Coisa que você não teve competência para conseguir. É uma sanguessuga barata que se conformou com as migalhas que o velho te dava. E quer saber? Eu não roubei nada, ele me deixou tudo, porque era uma bicha velha enrustida! Estava apaixonado por mim! Só de pensar, me dar um nojo!

_ Isso é mentira! Procópio não era gay!

Júlio deu uma gargalhada.

_ Tá rindo de que, Satanás? Você o matou.

_ Matei sim. Eu amei fazer isso. Adorei ver aquele velho agonizando! E vou fazer o mesmo com o filhinho gostoso dele se você não desaparecer.

_ Você não seria capaz.

_ Quer pagar pra ver?

Irene o olhou assustada, quase chorando.

_ Eu só vou lamentar porque o seu filho senta tão gostosinho e tem uma boquinha de veludo!

_ Seu vulgar!

_ Saia e não volte mais aqui. Não quero que mantenha nenhum contato com ele, ou ele morre. Fui claro?

Irene concordou com a cabeça. Ajustou a alça da bolsa no ombro e saiu, tentando conter o choro.

....

Com a proximidade do carnaval, Valéria estava irritada por não ter um destino certo para aproveitar os quatro dias de folia. Desta vez, não reservou nenhum hotel no nordeste como no ano anterior. Pensou em aceitar o convite de um amigo de ir á marques de Sapucaí para assistir os desfiles das escolas do grupo especial. A sua única exigência que fez foi que pudesse levar Leandro.

Contudo, ficou decepcionada ao ouvir a recusa do amigo. Naquele começo de noite, foi visitá-lo no seu apartamento. E para a sua surpresa, encontrou Abner no local. O jovem estava na cozinha preparando o jantar e Vanessa, sentada na sala assistindo TV com os braços cruzados e cara de poucos amigos, deixando bem claro o quão insatisfeita estava com a presença do padrasto.

Leandro achou necessário marcar esse jantar para que os dois pudessem começar a se acostumar um com o outro. Abner aceitou numa boa e Vanessa só concordou com a cabeça e a cara séria.

Abner fez questão de cozinhar, mesmo com a objeção de Leandro.

_ Amor, eu sou o anfitrião. É mais educado que eu cozinhe.

Abner sorriu, acariciando delicadamente o rosto de Leandro.

_ Não precisa dessas formalidades comigo, meu nenêm. E você sabe que cozinhar pra você é mais que um prazer pra mim.

Leandro sorriu e o beijou. Sentia-se tão bem com a presença do namorado.

_ Nossa! Quanta melação! Vou ficar diabética!_ Vanessa reclamou com ironia. Entrando na cozinha para beber água e saindo em seguida.

Valéria chegou alguns minutos depois.

_ Uh, é! Você já tá aqui?!_ Valéria perguntou para Abner.

_ E pode se acostumar. Logo logo eu e o Leandro vamos viver juntos.

_ Que seja! Bijuzinho, tenho um convite para te fazer.

Valéria o convidou com empolgação. Disse que a vista do camarote era muito boa e que havia várias mordomias

_ Como você está com a Vanessa, eu consegui um ingresso para ela também.

_ Amiga, eu sinto muito, mas não vai dar.

_ Por quê?

Abner abraçou Leandro por trás, apoiou o queixo em seu ombro e o beijou no rosto.

_ Eu e o Abner planejamos passar o carnaval juntos. Sabe, este ano, eu não estou muito folião. Quero algo mais tranquilo.

_ Ah, você vai me trocar por causa de um pau.

_ Peraí! Eu não sou só um pau.

_ Peraí o cacete! Isso é assunto entre eu e o Leandro! Que história é essa?! Eu vim primeiro que ele!

_ Val, não estou trocando ninguém por ninguém. Eu só não estou com pique para ficar no meio da farra! E se bem que já passei muitos carnavais na marquês de Sapucaí. Este ano, quero algo mais tranquilo. Nós alugamos um sítio. É do tio da Patrícia. Tem quartos o suficiente para mim, Abner, Patrícia, as crianças e você. Sem contar que é um lugar amplo e lindo, ar puro e uma piscina maravilhosa.

_ E você acha que eu vou passar o meu carnaval reclusa num sítio? Meu amor, carnaval eu quero ficar louca! Beber pra caralho, beijar deus e o mundo e acordar no dia seguinte sem me lembrar de porra nenhuma!

_ Ah para de frescura! Eu sempre faço tudo o que você quer. Custa fazer o que eu quero? Custa ir ao sítio comigo?

_ Leandro, você fala isso porque tem macho. Vai sentar direto. E eu?

_ Pega a Patrícia._ Abner brincou.

_ Eu não sou gilete como você. Sou faca, só corto para um lado.

_ Amiga, lá perto tem uma cidadezinha pequena. Vai ter uns bloquinhos. Você pode ir com as meninas e pegar uns carinhas.

_ Mas, Leandro...

_ Porra, Valéria, custa você me agradar? Eu só quero ter um carnaval sossegado com o meu namorado e as minhas melhores amigas. Eu passei por tanta coisa ruim! Só quero curtir um pouco com vocês!

_ Ah, tá... tá bom!

Leandro se afastou de Abner dando pulinhos de alegria e batendo palmas. Aproximou-se de Valéria e a beijou no rosto.

...

Vanessa entrou na sala do apartamento coçando os olhos, ainda sonolenta. Vestia o pijama e os cabelos estavam desalinhados.

_ Até que enfim a bela adormecida despertou._ Leandro disse sorrindo, pondo os pratos sobre a mesa.

Aquela era uma tarde de domingo. Vanessa havia acordado um pouco mais cedo para tomar o café da manhã. Mas resolveu voltar para a cama e dormiu novamente.

Leandro aproveitou para faxinar a casa e lavar as roupas na máquina de lavar. Como essas atividades demanda tempo, resolveu pedir um frango assado numa padaria próxima a sua casa. O galeto veio acompanhado com batatas assadas e farofa. Como havia sobrado feijão da noite anterior, Leandro só cozinhou o arroz e preparou uma salada de alface, tomates e cebola roxa para acompanhar.

Vanessa torceu o nariz ao ver qual era o cardápio do dia.

_ Olha a que ponto chegamos. Estamos comendo um frango assado xexelento de padaria, neste apartamento, que está um calor infernal._ Reclamou Vanessa, sentando á mesa.

Leandro sentou ao seu lado e começou a servir os pratos. Normalmente, ele se estressaria com os comentários da filha, mas decidiu ser paciente para tentar mantê-la calma para a notícia que daria em alguns minutos.

_ Pare de ser uma velha reclamona. Eu não tive tempo para cozinhar e pedi esse frango, que está uma delícia. Você deveria experimentar antes de reclamar._ Leandro em disse em tom amável, quase sorrindo, o que deixou Vanessa irritada.

_ Como você consegue ficar feliz vivendo desse jeito?! Você foi casado com ele durante anos, suportou tantas coisas e não ficou com nada. Enquanto estamos aqui nesta pobreza, o Luciano está lá aproveitando da cobertura...ou melhor da NOSSA casa e nós aqui.

_ Filha, eu sei que você está chateada e tem toda razão para isso. Mas, tente ver pelo lado positivo. Este apartamento pode ser simples e pequeno, não é garboso como a cobertura do Júlio, mas aqui você está segura. Ninguém pode te fazer mal e não precisa tolerar o Luciano.

Vanessa abaixou a cabeça tristonha.

_ Eu não acredito que o meu pai preferiu a ele do que a mim. Eu o odeio tanto. Como pude tantas vezes ficar contra a ti por causa dele?

_ Vamos deixar o passado no lugar dele. Eu já te disse que te perdoou e não quero que você fique se torturando por isso. Todos nós cometemos erros. O correto é se desculpar e seguir em frente. Se torturar é inútil.

_ Obrigada.

_ Pelo quê?

_ Por ser o melhor pai que eu possa ter. Por ser tão bom para mim. Tão protetor. Você é o meu maior orgulho. Você é um homem incrível e me inspira muito. Eu sempre expressei a minha admiração pelo Júlio, por ele ser um bom advogado e tal. Mas nunca disse o quanto te admiro. Você é inteligente, é culto, é doce, tem uma capacidade enorme de sempre solucionar tudo. Eu sei que isso não influencia em nada na nossa relação, mas você não faz ideia o quanto eu queria ter o seu sangue.

Leandro sentiu o coração transbordar alegria. Era a primeira vez em toda a sua vida que ouviu da sua filha que ela se orgulhava dele. Jamais imaginou que isso pudesse acontecer. Sempre quis ter a admiração de Vanessa, mas sabia que só era destinado a Júlio e guardou para si esse desejo.

Não conseguiu reagir de outra forma a não ser a abraçando e não fazendo questão de conter as lágrimas.

_ Eu preciso te dizer uma coisa._ anunciou Leandro, se afastando carinhosamente da filha._ Não tem nada a ver com o que estamos conversando agora, mas é importante também.

_ Diga.

Leandro respirou fundo, tentando encontrar forças para continuar aquela conversa. Ele sabia que não seria fácil, conhecia o mau gênio da filha.

_ Você sabe que eu e o Abner estamos namorando e...

Vanessa bufou, revirando os olhos para cima. Leandro fingiu ignorar essa atitude infantil da filha para prosseguir com o assunto.

_ Eu estava pensando em convidá-lo para almoçar aqui no próximo fim de semana. Ele e as meninas. Eu sei que você não gosta do Abner, mas seria bom se você tentasse pelo menos ter uma boa convivência com ele.

Vanessa arqueou uma das sobrancelhas e disse com tom de deboche.

_ Já que o Júlio está sendo negligente, você quer me dar um outro papaizinho de presente?

_ Não é nada disso. Você não precisa de outro pai. Já tem dois. Não importa quantas pessoas eu e o Júlio vamos nos relacionar ao longo da vida, sempre seremos somente nós dois os seus pais. Eu só não quero que você e o Abner vivem em pé de guerra. Não precisa ama-lo. Mas eu gostaria muito que vocês se respeitassem. Pode ser?

_ É.. né...eu não gosto dessa situação. Não gosto daquele cara. E não gosto de ele ter te feito de idiota. Então, pai não espere de mim, que fique de amorzinho com ele. Mas como eu querendo ou não ele é o seu namorado, eu vou tentar levar de boa...mas faço isso por você.

Leandro sentiu como se um peso saísse das suas costas. Sorriu de um jeito que iluminava o seu lindo rosto, o que deixou Vanessa satisfeita.

...

Assim que recebeu a notificação da mensagem de Leandro, Abner foi direto á livraria sem nem ao menos entrar na sua loja, o que não deixou Lurdes nada satisfeita. Ela olhava com desaprovação para o outro lado da calçada, onde via o filho entrar sorridente na livraria.

Como não havia nenhum cliente naquela manhã, Leandro se atirou nos braços de Abner, envolvendo os seus braços no pescoço do namorado e o beijou.

Como reação espontânea, Abner o puxou com força pela cintura, grudando o corpo de Leandro ao seu, sugando o máximo do calor daquele corpo que o incendiava de desejo.

_ Uma hora dessas da manhã e já estão de love love._ Patrícia sorriu, brincando com o casal.

Leandro afastou a boca, permanecendo abraçado. Tocou carinhosamente nos cabelos negros de Abner. Ambos sorriam um para o outro, transbordando felicidades.

_ Amor, eu quero te convidar para almoçar lá em casa no sábado. Mas você deve ir sem pressa. Eu convidei também a Val e a Pati. A Vanessa vai estar em casa.

_ Ih tô fodido. O almoço será o meu fígado._ brincou Abner, que recebeu um leve tapinha no ombro.

_ Deixe de ser bobo, amor! Eu conversei com ela e vai ficar tudo bem.

_ Você sabe que a sua filha não gosta de mim.

_ O importante é que vocês se respeitem.

_ No que depender de mim sim. Eu estou disposto a aturar a aborrecente, já que o prêmio pra isso é poder comer o papai gostoso dela.

Leandro arregalou os olhos, envergonhado por Patricia estar no local. Abriu a boca de imediato e o repreendeu.

_ Abner! Tenha modos!

_ Impossível. Você me deixa louco.

Abner sorriu de um jeito safado, que mesmo desconcertado, Leandro ficava louco. Foi puxado pela cintura com força e beijado novamente.

Patrícia olhava sorrindo, satisfeita em ver a felicidade dos amigos.

_ Meu neném, eu preciso ir. Tenho um monte de coisas para fazer hoje. Mais tarde passo aqui para te buscar para irmos ao mercado central. Lá vende frutos do mar frescos. São ótimos para o que quero preparar para este almoço.

Leandro o olhou com estranhamento, girando a cabeça no sentido negativo.

_ Nem pensar! Eu te convidei para almoçar, cabe a mim cozinhar.

_ E você acha que eu vou deixar um príncipe lindo desses na cozinha? Você já trabalha muito, Leandro. Precisa descansar um pouco. Deixe o menu comigo.

_ Mas...

Abner o interrompeu, segurando o seu rosto com as duas mãos e o beijando, impedindo que Leandro protestasse. Saiu em seguida, as pressas, se despedindo.

...

O sábado do almoço finalmente chegou. Na noite anterior, Leandro notificou a Vanessa que Abner chegaria mais cedo do que as outras convidadas, para preparar o almoço. Vanessa recebeu a notícia fechando a cara, mas não disse nenhuma palavra.

No sábado pela manhã, Vanessa disse a Leandro que queria ficar responsável pela sobremesa.

_ Oh filha, o Abner já está encarregado disso.

_ Ah, pai que saco! Você vive dizendo que eu não faço nada, mas quando eu quero fazer uma coisinha, você não deixa!

_ Tá bom, meu amor. Então, faça a sobremesa. O que você pretende fazer?

_ Brownie de chocolate com sorvete de morango. Mas vou precisar que você compre essas coisinhas.

Vanessa o entregou um papelzinho que tinha anotado tudo o que ela precisava para preparar a sobremesa.

_ É sério isso, Vanessa? O Abner acabou de me ligar, dizendo que tá chegando.

_ E daí? Se ele chegar enquanto você estiver na rua, eu o recebo.

Leandro a olhou desconfiado.

_ O que foi, pai?! Você não confia em mim? E o mercado nem fica longe daqui...se você me emprestar o carro, eu posso ir.

_ Nem pensar. Você não tem idade para dirigir.

_ Mas eu sei dirigir. O Júlio me ensinou.

_ Porque ele é um irresponsável. Se dependesse de mim, você só teria aprendido a dirigir na autoescola, quando completasse dezoito anos.

_ O pai, você vai ou não comprar os ingredientes?

_ Vou sim. Mas vê se se comporta.

Não demorou muito para que Leandro saísse, a deixando só no apartamento, a espera de Abner. E esse era o objetivo de Vanessa. A história da sobremesa foi só uma desculpa para ficar a sós com Abner.

...

Vanessa atendeu a porta já sabendo que era Abner que estava do outro lado. Era a oportunidade que tanto queria.

Vanessa abriu a porta séria. Encarava o padrasto com o olhar desafiador.

Abner sorriu sarcástico. Não estava disposto a perder o equilíbrio.

_ Bom dia. Cadê o Leandro?_ Abner perguntou entrando com as sacolas e indo até a cozinha.

Vanessa fechou a porta e foi atrás. Posicionou-se em frente a Abner e disse:

_ O meu pai não está. Teve que dá uma saidinha, mas já está voltando. Nós temos tempo para ter uma conversinha.

_ Garota, eu já vou logo dizendo que não quero confusão.

_ Problema é seu. O negócio é o seguinte, você não está namorando qualquer um. Você está namorando o meu pai e ele não é como os seus ex clientes ou qualquer outro cara que você já se deitou. Ele é especial. É uma pessoa incrível e que merece todo o respeito e amor do mundo. O meu pai já sofreu muito por culpa sua e do Júlio. E eu só te digo uma coisa, eu posso parecer ser só uma garotinha linda e frágil, mas na verdade você não faz ideia da leoa que eu me transformo para defender o meu pai. Se você o machucar, eu vou acabar com a sua raça.

Abner arqueou a sobrancelha e sorriu novamente. Não se sentia nem um pouco ameaçado por Vanessa.

_ Eu não tenho intenção nenhuma de fazer mal ao Leandro. Muito pelo contrário. Então, pode baixando a guarda.

_ Eu acho estranho você querer ficar com ele. Você era amante do Júlio. Queria muito que os dois se separassem para que você ficasse com ele. Aí como o Júlio se recusou, você foi logo ficando com o Leandro! Você tá usando o meu pai para se vingar?

_ De jeito nenhum! Tá louca?

_ E por que então ficou com ele?

_ Como você mesma disse, o Leandro é uma pessoa incrível e eu me apaixonei por ele. Eu não vou com a tua cara e nem você vai com a minha. Mas uma coisa eu posso garantir que temos em comum, que é o amor que sentimos pelo Leandro. Nós dois queremos o melhor para ele.

_ Eu sei o quero. Sei que amo o meu pai, mas de você eu não conheço a sua intenção. A única coisa que sei é que um mentiroso.

_ Eu errei com o Leandro sim, mas estou arrependido e estou tentando reparar o meu erro.

_ Como se isso mudasse alguma coisa. Como se apagasse o que você e o Júlio fizeram.

_ Não apaga. O passado não pode ser mudado. Mas isso não significa que devemos reviver isso para sempre. Você mesma já fez o Leandro sofrer várias vezes, já foi até cruel com ele e mesmo assim não gostaria de uma segunda chance para reparar os seus erros?

Vanessa abaixou a cabeça. Se sentiu um pouco envergonhada. Sentiu vontade de chorar, mas resolveu controlar as lágrimas. Julgou ser humilhante fazer isso na frente de Abner.

_ Você pode ficar tranquila. Eu garanto que não farei mal ao Leandro. Muito pelo contrário, pretendo até protegê-lo do pisicopata do seu outro pai.

_ Assim espero.

A conversa foi interrompida com o som da porta da sala se abrindo. Leandro entrava chamando por Vanessa e trazendo algumas sacolas em mãos.

_ Filha, eu consegui comprar quase tudo do jeito que você pediu. Só não trouxe o sorvete da marca que você queria, porque estava muito caro e vai ser o Kibon mesmo. O gosto não é ruim e..._ Leandro parou de falar ao perceber que Abner estava na cozinha. Esboçou um sorriso de felicidade._ Você já chegou, meu amor?!

_ Sim. Ele chegou e está inteiro. Acredita que eu não dei uma facadinha se quer nele?_ ironizou Vanessa.

_ E olha que não foi por falta de oportunidade._ Abner brincou, mostrando uma das facas da cozinha.

Ele se aproximou de Leandro, retirando as suas sacolas das mãos e pondo sobre a mesa. Puxou-o pela cintura e o beijou.

Vanessa olhou a cena sentindo ciúmes. Mesmo diante de tudo que aconteceu nos últimos tempos, para ela ainda era estranho ver Leandro beijando outro homem que não fosse Júlio.

_ É tão bom te ver!_ Abner disse, acariciando o rosto sorridente de Leandro.

Vanessa percebeu que os olhos do pai brilhavam e ele sorria como não fazia há tempos. Concluiu que Leandro estava feliz e se sentiu bem por isso.

_ Eu vou te ajudar no preparo do almoço._ disse Leandro.

_ Nada disso. Você vai sentar naquele sofá como o príncipe que é e vai assistir alguma coisa na TV ou ler um livro. Você já trabalhou muito esta semana. Precisa descansar.

_ Mas amor, você vai precisar de ajuda com os cortes a louça.

_ A Vanessa vai me ajudar.

_ Eu?!

_ Sim. Nós não estávamos conversando o quanto amamos o Leandro. Demonstração de amor não deve ficar só nas palavras. Nas atitudes também. Meu neném tá precisando descansar. Nós cuidamos de tudo por aqui.

Vanessa revirou os olhos para cima e Leandro sorriu, beijando Abner.

_ Imagina. Eu não estou tão cansado assim. Afinal vai ser um prazer cozinhar com você. A Vanessa deve ter alguma coisa para fazer relacionado a escola, ou preparar as malas para ir para a casa do Pedro mais tarde.

Leandro disse aquilo com a intenção de não magoar a filha. Ele sabia que ela não gostava de Abner, e o fato de ficar a sós com ele não seria nada agradável para ela.

No entanto, era nítido que Vanessa sentia ciúmes do pai. Ela não queria que Abner saísse com fama de bom moço e ela uma preguiçosa que não ajudava em nada.

_ Tá tudo bem, pai. Eu não tenho nada do colégio para fazer e a minha mochila para levar para a casa do Pedro já está pronta. Eu posso ajudar o Abner, enquanto você descansa.

_ Tem certeza, filha? Pra mim não é incomodo nenhum que...

_ Não se preocupe, meu neném. Vai ser bom passar um tempo com a minha querida enteada._ Abner disse passando o braço pelo ombro de Vanessa, essa o olhou com sacarmos, retorcendo a cara.

_ Tá bom... qualquer coisa, me chamem.

Leandro não conseguiu relaxar por completo. Estava tenso com o fato de a filha e o namorado estarem juntos e a sós na cozinha. Da sala, com a TV ligada, Leandro esticava o pescoço com a intenção de observar o que acontecia lá dentro da cozinha. Só ouvia barulhos de facas serem manuseadas e batidas de colheres nas panelas. O cheiro que vinha de lá era agradável. E para a sua surpresa, não parecia haver nenhum desentendimento dos dois.

Levantou sorrateiro com a intenção de espiar um pouco o que estava acontecendo na cozinha. Ao chegar na soleira da porta, viu os dois cozinhando de costas para ele e conversando sobre os alimentos que preparavam.

Permaneceu por alguns segundos observando a paz dos dois. Feliz, imaginou o quão bom seria se os dois se dessem bem. Sorriu com essa possibilidade, mas o seu sonho foi interrompido com o toque da campainha com a chegada de Patrícia e Valéria.

Ele foi correndo atender a porta, as cumprimentando com beijos no rosto.

Elas traziam sacolas com latinhas de cervejas geladas e Valéria, em meio as suas, levou uma garrafa de vinho branco.

_ Não precisava, meninas.

_ Até parece que íamos ficar aqui de bico seco, Leandro._ disse Patrícia.

_ Huuuummm! Que cheiro! O Abner já está na cozinha né?_ quis saber Valéria.

Leandro olhou para trás para notificar se ninguém estava vindo e sussurrou.

_ Está lá dentro com a Vanessa. Eles estão cozinhando.

_ Então o menu de hoje será os fígados dos dois ao molho pardo._ Valéria brincou fazendo Patrícia rir e Leandro não.

_ Engraçadinha.

Abner e Vanessa vieram logo cumprimentar as duas.

Não demorou muito para o almoço ser servido.

Como entrada foi servido antepasto de cogumelos refogados servidos sobre um pãozinho escuro. E para o prato principal um delicioso Risoto de camarão feito com vinho branco, manteiga, queijo parmesão e caldo de camarão aromatizado. Os pratos foram servidos com duas grandes unidades de camarões ao centro do prato, sobre o risoto.

E o vinho branco que Valéria trouxe foi a bebida perfeita para acompanhar.

A princípio, Vanessa torceu o nariz para o prato, mas ao provar adorou e para a surpresa de todos elogiou.

_ Eu te disse que daria certo. Mas não confiou em mim.

_ Você não é uma pessoa confiável, Abner._ provocou Vanessa, que recebeu um olhar repreendedor de Leandro.

_ Tô sabendo que você fez a sobremesa, Vanessa._ Patrícia comentou para tentar amenizar o clima.

_ Sim! Vou buscar para vocês experimentarem! _ Vanessa comentou empolgada, saindo para buscar o doce.

Seu brownie de chocolate servido com uma bola de sorvete de morango foi muito elogiado por todos, o que a deixou muito feliz.

O almoço seguiu tranquilo. Uma conversa agradável, o que para Leandro era uma espécie de Paraíso.

Em seguida, sentaram nos sofás da sala para continuar conversando.

_Do jeito que estou sem dinheiro, não julgo as moças que cobram por sexo. Se bem que do jeito que muitas estão dando de graça, isso deve tá prejudicando o mercado sexual.

_ Nada a ver, Patrícia. Os homens mesmo são um exemplo que prova o equívoco da sua teoria. Eles sempre foderam muito de graça e mesmo assim não prejudicaram o trabalho dos michês._ Valéria contestou, dando uma tragada no cigarro.

Vanessa não quis perder a oportunidade de usar a conversa a seu favor para alfinetar Abner.

_ Bom, já que temos um profissional do sexo nesta sala, ele pode nos explicar melhor sobre o assunto. Abner, meu "querido" padrastinho, você poderia nos deleitar sobre o seu profundo conhecimento de como adquirir dinheiro em troca de favores sexuais?_ Vanessa perguntou com um sorriso sarcástico e um olhar provocativo.

Leandro a olhou com repressão. Não gostou nada da atitude da filha em tentar constranger o seu namorado. Sentiu a vergonha lhe queimar a face. Prometeu a si mesmo, em pensamento, que teria uma boa conversa com Vanessa sobre o seu mau comportamento.

_ Vanessa, você passou dos limites!

_ Uh, é! Por que, papai? Só tenho curiosidade sobre o trabalho do Abner.

_ Deixa de ser cínica e...

Leandro foi interrompido, com o toque de Abner em seu joelho. Percebeu que Abner o olhava tranquilamente, como se não se sentisse ofendido.

_ Amor, não precisa se irritar. Eu não me importo da sanar a dúvida da minha "querida" enteadinha. Então, "docinho", qual é a sua curiosidade sobre o assunto?

Abner e Vanessa compartilharam da mesma expressão fácil sarcástica.

_ Como é se deitar com alguém sem sentir absolutamente nada pela pessoa? Como é se sujeitar a se expor de um jeito tão íntimo pensando somente no dinheiro?

_ E você não sabe como é transar com alguém sem amor, "querida"?

_ Sim,sei. Mas eu não me refiro ao amor, e sim ao tesão. Eu não me vejo transando com um cara sem que eu sinta tesão por ele.

_ Respondendo a sua pergunta, na época, eu não ligava. Sempre tive um sonho de ter o meu próprio restaurante e para alguém da minha classe social, não era nada fácil realizar. Não vou apelar para o vitimismo. Eu poderia sim, trabalhar feito um burro de carga para tentar realizar o meu sonho. Mas, vamos combinar que fazendo programas eu ganharia muito mais num dia do que um trabalhador assalariado ganha em meses. Como nasci bonito e tenho uma boa habilidade em ler corpos para proporcionar a eles o prazer que desejam, resolvi ganhar dinheiro desta forma.

No entanto, conheci o Leandro e aí eu aprendi que o sexo pode ser muito mais do que uma fonte de renda ou prazer momentâneo. Pela primeira vez, pude ter a honra de me conectar com alguém de uma forma mais profunda, me abrigar num corpo que só desejo o melhor. Posso ter nesses momentos de intimidades a magnitude de criar laços afetivos com a pessoa mais importante da minha vida._ Abner entrelaçou os dedos aos de Leandro e transmitiu pelo olhar toda a ternura que transbordava no coração._ Eu descobri as maravilhas que o sexo feito com a pessoa amada pode proporcionar. É como elevar a alma! E nunca mais quero fazer sexo de outra forma ou qualquer outra pessoa que não seja o grande amor da minha vida. Eu me tornei outra pessoa depois do Leandro. Posso afirmar que eu renasci no dia em que o conheci.

Leandro sorriu como uma criança diante de um presente tão desejado. O seu coração batia acelerado e aquecido de tanto amor.

_ Ooooh que meloso! Fiquei até diabética depois de ouvir isso._ debochou Vanessa, revirando os olhos para cima._ Eu vou para o meu quarto arrumar as minhas coisas. Daqui a pouco o Pedro vem me buscar.

Leandro a observou caminhar com brutalidade e batendo os braços. Lamentou pela situação ter chegado naquele estágio. Sentia que não devia cobrar nada de Vanessa. Compreendia que, para ela, aquela situação não era nada fácil de aceitar, afinal Abner foi amante tanto dele quanto de Júlio. Mas desejava muito obter o apoio da filha e achava inadmissível que Vanessa desrespeitasse Abner daquela forma.

Abner percebeu a tristeza no olhar do amado e segurou com carinho na sua mão, a levando até a boca, dando um beijo.

_ Vai ficar tudo bem. Com o tempo ela se acostuma.

_ Tomara.

_ Vai sim. Ela nem me esganou. Isso é um bom sinal._ Abner brincou sorrindo e dando um selinho em Leandro.

_ Bijuzinho, o seu aniversário está chegando né. Vamos de festa?_ Valéria sugeriu.

_ Obaaaaa!_ Patrícia comemorou batendo palmas.

_ Ah não sei...a minha vida anda tão corrida e...

_ Nem vem, Leandro! Você não tem motivos para não comemorar o seu aniversário. Já se separou do traste demoníaco, tem o seu próprio negócio, a Vanessa não te odeia mais e já está sentando muito na pica do Abner, ou seja, nada de desculpinha.

_ Você precisa ser tão baixa?

Leandro corou com a última frase de Valéria. Mesmo depois de tantos anos de amizade, ainda se surpreendia com o fato de Valéria falar putaria com a maior normalidade.

_ Eu acho que a Val tem razão, amor. Uma festa neste momento seria muito bem-vinda. Um alívio até para essa correria toda.

_ Você diz isso, porque não sabe o quanto é cansativo organizar uma festa. Eu já organizei várias que o outro lá dava. E agora sendo pobre, além de organizar, vou ter que pôr a mão na massa, cozinhar, limpar, servir os convidados. Sem contar que este apartamento é muito pequeno para dar uma festa e este condomínio não tem salão de festas.

_ Cala a boca! Eu sou dona de uma empresa que organiza festas. Deixe tudo por minha conta. A única coisa que você precisa fazer é me entregar a lista de convidados.

_ Mas falta menos de um mês, Val! Não vai dar tempo de organizar tudo e...

_ Eu já disse para deixar comigo. Não se meta.

_ Tá bom. Mas nada de estripulias. Já que é a festa do meu aniversário, quero algo mais família. Nada que constrange os meus pais e a minha filha. Porque se deixar por sua conta, até gogoboys você põe.

_ Eita!_ Exclamou Abner.

_ Eu posso saber o motivo do senhor estar empolgado?!_ Leandro perguntou fechando a cara e cruzando os braços. Abner riu do ciúme do namorado.

_ Eu não estou empolgado. Apenas...

_ Nem vem que você ficou empolgado sim._ provocou Valéria._ Até que não seria uma má ideia. Podemos fazer igual aquela minha festa de aniversário do ano passado, encher de homens gostosos dançando no pole dance. O tema poderia ser sauna. Todos os convidados só de toalha.

_ Eu gostei da ideia._ se empolgou Patrícia.

_ Deixa de ser ridícula!

_ Ridícula por que, Bijuzinho? Já que você é uma bixa donzela, vai ser a sua chance de pisar pela primeira vez numa sauna gay.

_ Amor, você nunca foi a uma sauna gay?!_ Abner perguntou abismado.

_ Nunca foi. Você acredita?_ Valéria respondeu antes de Leandro abrir a boca._ Nunca deu um beijo triplo, nem fez orgias e muito menos deu PT. Essa bicha é uma vergonha para a comunidade LGBTQA+.

_ Então, eu vou me casar com uma puritana. Quem diria?

_ Não é, menino. Justo você que é ganhava a vida na devassidez. Você vai ter que ensinar uma coisinhas picantes para o Bijuzinho.

Abner o olhou com malícia e lambeu os lábios. Puxou Leandro para si, o abraçando de lado.

_ Vai ser um prazer te pôr no mau caminho, minha delícia.

Leandro corou levemente envergonhado. Abaixou a cabeça, a cobrindo com as mãos.

Patrícia não resistiu e provocou:

_ Do jeito que o Lê é, na noite de núpcias, você terá que apagar a luz, porque ele é tímido.

_ Aí que você se engana. O meu neném é todo comportado em público, mas na cama é um furacão.

_ Eeeeeee._ as mulheres gritaram.

Leandro sentia a face arder ainda mais de vergonha.

_ Já chega com esse papo! Vocês estão perdendo a linha! Nada de festa de safadezas. Ou uma festa decente, ou nada. Fim de papo.

_ Mas tu é chatão, hein._ reclamou Valéria.

A conversa durou mais um pouco. De tanto discutirem sobre o assunto, a vontade de Leandro foi respeitada. A festa acabou sendo um jantar e reunião familiar para poucas pessoas num modesto salão de festas.

Vanessa saiu do quarto assim que Pedro chegou. Saiu empolgada, com uma mochila nas costas e se despediu de Leandro com um beijo no rosto.

As mulheres foram embora pouco tempo depois da saída de Vanessa. Abner foi até a cozinha lavar a louça, mesmo Leandro dizendo que não precisava.

Parou uma das mãos cobertas com as espumas das mãos sobre um prato. Sorria, sentindo os braços de Leandro envolvendo a sua cintura e pousando o queixo sobre os seus ombros. Carinhoso, Leandro deitou a cabeça sobre ele depois de lhe dar um beijo na face.

Abner pôs o prato dentro da pia e virou-se para Leandro e o abraçando e beijando a sua boca.

_ Dorme aqui comigo hoje, gatinho?

_ Não precisa nem pedir. Eu já vim para cá com má intenção._ Abner pôs as mãos em cheio nas nádegas de Leandro, afundando os dedos nela.

_ Eu estava pensando. Eu não vou ser convidado para a sua festa de aniversário né?

Leandro ergueu uma das sobrancelhas numa expressão de espanto. Olhando-o de um jeito interrogativo.

_ De onde você tirou isso? É lógico que será convidado! Você é o meu namorado!

_ As únicas pessoas que sabem da nossa relação é a sua filha e a suas melhores amigas. Ninguém da sua família sabe disso. Até quando vai manter em segredo? Por acaso você tem vergonha de namorar um ex garoto de programa?

A expressão de Abner era séria, como se exigisse com o olhar uma atitude de Leandro em relação ao relacionamento deles.

_ Leandro, eu não sou mais o seu amante. Agora sou o seu namorado. Somos adultos, independentes financeiramente e você não é mais casado com o Júlio. Eu sei que o divórcio ainda não saiu, mas é só um papel idiota. Não prova nada. Eu sou o seu namorado, é comigo que você tem uma relação. Portanto não faz mais sentido você manter segredo.

_ Claro. Você tem razão. Você vai a minha festa sim, meu amor! Eu nunca disse que não iria. A minha preocupação era com a Vanessa, mas ela já sabe então tá tudo bem. E sobre nos assumirmos, isso vai acontecer na minha festa. Será um momento ideal para que todos conheçam o meu lindo namorado._ Leandro disse sorrindo. Envolveu os braços no pescoço de Abner e o beijou. _ E vou deixar bem claro pra todo mundo para tirar os olhos, porque você é todinho meu.

_ Todo seu._ Abner respondeu com um sorriso sexy, mordendo a ponta dos lábios e o olhando com um desejo ardente de possuir o seu corpo, o efeito causado em Leandro foi uma deliciosa ereção e um arrepio que percorria desde a nuca até o calcanhar.

Sem perder tempo, Abner partiu para aquele pescoço que tanto amava, deslizando a língua e finalizando com beijos e chupões.

O convite para o quarto não foi feito com palavras. Leandro o puxou pela gola da blusa e o beijou com volúpia até o quarto. Durante o caminho da cozinha até o leito, suas roupas foram arrancadas entre caricias. Chegando ao quarto com os seus corpos totalmente nus.

Leandro foi suspenso no colo, encaixando as pernas na cintura do amante, sendo deitado na cama naquela posição.

A sua boca foi invadida pela língua úmida de Abner, que saboreava-o faminto de prazer. Ergueu a cabeça gemendo quando sentiu a mesma língua percorrer pelo seu queixo, peitoral até chegar ao seu sexo, que foi sugado por aquela boca macia.

Os movimentos iniciaram lentos, partindo para medianos até ficarem frenéticos ao ponto de Leandro não conseguir conter os gritos de prazer. Sempre foi um homem cauteloso e discreto. Temia emitir sons íntimos por receio dos vizinhos ouvirem. No entanto, não tinha mais controle do próprio corpo. Estava totalmente entregue a Abner.

Teve suas pernas bambas abertas e suspensas. Ele sabia o que Abner almejava e só de pensar na possibilidade, o seu corpo tremeu como se tivesse recebido uma carga elétrica.

Aquela deliciosa língua o penetrou, fazendo o seu ânus piscar no mesmo instante. Com as mãos, Abner o masturbava.

Abner penetrava afundando o máximo que podia, chupava as bolas e voltava ao ânus.

Tonto de prazer, Leandro apertava o lençol com força implorando para ser penetrado. O seu corpo clamava por Abner dentro dele.

_ Me coma, por favor! Me comaaaaa!_ a sua voz era manhosa, semelhante a um choro feminino.

Abner o olhou daquele jeito que deixou Leandro ainda mais louco. Deitou sobre ele ficando com os olhos com um pouco de centímetros de distancia.

Para provoca-lo, roçou o pau ereto entre as pernas de Leandro, deslizando a língua nos próprios lábios.

_ Quer que eu te coma, safado?

Leandro respondeu positivamente com a cabeça, tinha a boca entre aberta e os olhos semi fechados.

_ Então, eu vou te comer bem gostoso. Mas tu vai ter que gozar pra mim com o meu pau dentro do teu rabo. Tu vai ser a minha vadia. Só minha.

_ Só sua..._ Leandro sussurrou ofegante.

Assustou-se quando Abner, inesperadamente, o virou de costas com brutalidade e ergueu os seus quadris o fazendo ficar de quatro.

Abner se afastou para pegar o lubrificante, que usou sem pena, deixando Leandro todo molhadinho.

_ Agora você vai rebolar gostoso no seu macho. Não é rola que tu quer? É rola que tu vai levar! Empina esse cu, caralho!

A ordem foi dada seguida de um tapão sonoro na bunda de Leandro, que adorou essa sensação. Foi penetrado do jeito que gostava. Nada de brutalidades em excesso, era masculinidade na dose certa.

Como um bom amante, Leandro também fez a sua parte. Sabia como rebolar do jeito que enlouquecia o seu homem. Jogando a bunda para trás e voltando para frente, girando e repetindo os movimentos. Abner também gemia alto. Com uma mão segurava um dos quadris de Leandro e com a outra o masturbava.

_ Isso! Rebola gostoso, meu amor! Você me deixa louco, meu putinho safado!

Leandro tremeu quando sentiu os seus cabelos serem levemente puxados para trás. Abner inclinou o corpo para frente e Leandro girou em a cabeça em sua direção. Um beijo delicioso alimentou ainda mais o momento, era o tempero perfeito que faltava para realçar aquele banquete de luxúria.

Toda aquela onda de prazer levou o casal a gozarem juntos.

Exaustos deitaram um ao lado do outro sorrindo.

Leandro fechou os olhos para sentir com mais intensidade os carinhos que recebia de Abner, quando esse tocava e beijava, com delicadeza, os seus cabelos negros úmidos do suor.

Recebeu um beijo demorado e carinhoso. Com a língua de Abner firme, como quem sabe impor o que quer. Sentia o seu corpo inteiro responder com excitação. Principalmente com uma gostosa ereção no pênis, que havia gozado recentemente. A língua de Abner era leve, aveludada...um deleite.

Envolveu-o com os seus braços e o encaixou entre a suas pernas para senti-lo ainda mais.

A boca de Abner desviou para o seu pescoço, onde a língua e lábios trabalharam com muita fome. No entanto, parou para olhar para Leandro quando ouviu esse dar uma risadinha.

_ O que foi? _ Abner perguntou sorrindo, beijando a ponta do seu nariz.

_ Tudo isso é muito engraçado.

_ O que é engraçado?

_ Essa nossa situação. O fato de estarmos aqui agora, pelados e... juntos.

_ Não consigo ver nada de engraçado nisso, Leandro.

_ Como não?! Você está apaixonado por mim?

_ Eu preciso responder? Você sabe que sou louco por você como nunca fui por ninguém.

_ E você tem noção que se apaixonou pelo marido do seu amante?

Abner o olhou por uns instantes, sem emitir nenhuma reação.

_ Somos o casal mais improvável que eu conheço._ Leandro continuou rindo._ Eu não acredito que eu também me apaixonei por você. Abner, eu não te conhecia, mas te odiava! E agora eu tô aqui...muito feliz por tá do seu lado.

Abner sorriu de um jeito tão carinhoso, que fez o coração de Leandro se aquecer. Recebeu mais um beijo.

_ Neném, repete pra mim que você está feliz? Isso é tão importante pra mim.

Leandro sorriu, mordendo os lábios, demonstrando uma felicidade verdadeira.

_Eu estou muito muito muito feliz!

Abner o abraçou com força e distribuiu muitos beijos por sua boca, rosto e pescoço.

_ Eu te amo, porra!!! Oh meu neném.

Quando Abner despertou no dia seguinte, vestindo apenas uma cueca preta, não encontrou Leandro na cama. Gritou por seu nome, em direção a porta do quarto que estava aberta.

_ Já estou indo, meu gatinho. Só estou terminando aqui.

Abner foi ao banheiro e, ao voltar deitou novamente e ligou a TV.

Leandro entrou alguns minutos depois, vestia uma cueca cinza e uma blusa azul de algodão.

Deitou por cima do amado, abrindo as pernas sobre ele, o beijando. A mão de Abner foi em cheio na sua bunda, dando uma apertadinha com força.

_Hum, está assistindo o quê?_ Leandro perguntou deitando a cabeça sobre o peito de Abner e recebendo carinho nos cabelos.

_ Noticiário.

_Amor, eu quero te pedir algo.

_ Fala, meu neném.

_ Quero que convide os seus pais para a festa do meu aniversário.

_ Leandro, isso não vai rolar.

_ Por que não?

_ Porque eu não gosto envolver a minha família nos meus relacionamentos.

_ Eu não sou como as outras pessoas que você se relacionou. Eu não sou amante como o Júlio e a Lorena foram, não sou como os seus ex clientes. Eu sou o seu namorado! E como você mesmo gosta de dizer, sou seu o seu futuro marido. Abner, eu sou um homem muito familiar. Gosto de eventos familiares, como festas de aniversário, natais e etc. Quero me dar muito bem com os meus sogros. Eu já gosto muito dos seus pais. Sempre gostei desde que trabalhavam no sítio do Júlio. O chato é que essa relação ficou abalada devido as circunstâncias. Mas, eu quero consertar isso.

_ O meu padrasto é gente boa. Nunca grilou com isso. Mas você sabe como a minha mãe é intrometida. E eu odeio quando ela faz isso.

_ Eu sou pai. E sei bem que não somos perfeitos para os nossos filhos. E sempre erramos querendo acertar. A Lurdes foi injusta comigo, mas entendo o motivo dela. Eu ainda compartilho do mesmo medo que ela.

_ Será que é só isso? E se você fosse uma mulher? Ela faria a mesma resistência?

_ Eu não sei. Mas ela nunca demonstrou nenhuma reação Homofóbica nem comigo e nem com o Júlio.

_ Vocês eram patrões dela e não filhos.

_ Ela te disse isso?

_ Não. Mas eu tenho minhas dúvidas.

_ Não vamos pedir o consentimento dela e nem de ninguém. Só vamos tentar ter uma boa relação familiar.

_ Eu não tenho paciência com as palhaçadas da minha mãe.

_ Por favor, amor. Isso é tão importante pra mim. Só peço que converse com ela. Depois eu também quero fazer isso. Não quero viver em pé de guerra. Por favor.

_ Tá...vou ver o que posso fazer.

Leandro sorriu e o beijou.

_ Mas, gostei desse papo de futuro marido. Vamos marcar a data assim que o seu divórcio sair.

_ Huuum! Apressadinho.

_ Com esse bundão gostoso que você tem é impossível não querer se casar logo para poder comer todos os dias.

Leandro recebeu uma boa apertada na bunda e uma leve mordidinha na orelha.

_ Uh, é! Você vai casar comigo ou com a minha bunda?

_ Eu não sou tonto. Vou levar o pacote completo._ Abner disse devorando o seu pescoço em beijos, e adentrando a mão por dentro da cueca do namorado.

...

No fim de tarde de sábado, Pedro recebeu uma mensagem de seu amigo Guilherme os convidando para irem ao cinema.

_ Amor, o Gui tá nos convidando para pegar um cineminha. Bora?_ perguntou Pedro, sentado na cama, com o celular na mão e apoiando as costas na cabeceira.

Vanessa estava de pé, enrolada numa toalha rosa, com os cabelos molhados. Ela retirava da sua mochila uma calcinha e uma camiseta, peças que tinha a intenção de vestir para dormir.

_ Depende do filme.

_ Pacto sangrento.

_ Eca! Odeio filmes de terror! Não quero.

_ Ah vamos, gatinha? O Gui faz questão.

_ Se o Gui quer tanto ver esse filme. Ele que vá sozinho ora! Agora o Gui virou castiçal.

_ Castiçal?

_ Segurar velas, seu lerdo!

_ Ah tá... não é isso. É o oposto disso. Ele quer que você chame a Marcinha pra ir com a gente. Gui quer dar uns pegas nela. Vamos dar essa força pro moleque.

_ E por que ele não convida a Marcinha diretamente?

_ Porque a Marcinha tá bolada com ele. Esqueceu que ela queria ficar com ele a um tempinho atrás, mas ele não queria, porque achava ela muito criança?

_ Não. Eu não esqueci. E Gui tem a mesma idade dela. Só tava de olho nas meninas mais velhas. Agora que a minha amiga tá gostosa pra caralho ele quer....e digo mais, ela faz muito bem em esnobar.

_ Ah para de bobeira! Vamos dar essa força pro Gui.

_ Não me interessa agradar o Gui.

_ Gatinha, vai ser divertido também. Ah vamos?

_ Tá bom. Mas você conhece a Marcinha. Você sabe que só o Gui e o cinema não vão ser atrativos o suficientes para ela. Tem que rolar comida.

_ Podemos ir num rodízio de pizzas depois.

_ Eu não vou conseguir comer pizza depois de ver um filme nojento. Vamos direto para a pizzaria.

_ Ok.

Vanessa retirou a toalha e vestiu somente a calcinha. Deitou ao lado de Pedro. O rapaz não conseguia retirar os olhos dos seios fartos, de mamilos rosados da jovem. Ela pegou o celular e mandou um áudio para a amiga a convidando para sair.

_ Aonde vamos?_ perguntou Marcinha.

_ Ao shopping.

_ Sei não. Não quero segurar velas.

_ O Gui vai junto.

_ Ah já estou de pijamas.

_ Vamos ao rodízio de pizza.

_ Bom...nesse caso eu posso pensar.

_ Pensar em que, mulher? Você vai ou não?

Assim que Vanessa fez a pergunta, sentiu as mãos de Pedro passearem sobre os seus seios.

_ Peraí._ ela pediu, dando um tapinha na mão dele, e a retirou em seguida.

_ Quem vai pagar? Eu não quero gastar a minha mesada.

_ Deixa de ser pão dura, Márcia!

_ Quem convida dá banquete.

Como Pedro insistía em tocar em seus seios, Vanessa virou de bruços, com a intenção de impedi-lo de tocá-la. Mas, o efeito foi o inverso. Ao ver a pequena calcinha branca de renda cravejada entre as nádegas carnudas da namorada, o pênis de Pedro reagiu numa ereção imediata. Não perdeu tempo, e começou a beijar aquela bunda deliciosa.

_ Tá bom, mulher. O Pedro paga.

Pedro parou no mesmo instante, com os lábios colados na bunda de Vanessa, erguendo a cabeça para cima.

_ Se for assim, eu vou._ Marcinha concordou empolgada.

_ Tá bom. Mas vê se não demora se arrumando. Tchau. Beijos.

Assim que Vanessa encerrou a ligação, Pedro protestou.

_ Por que eu tenho que pagar?! O valor da sua mesada é muito maior que o meu! Você recebe cinco mil reais de mesada e eu só mil e quintos! E além do mais a amiga é sua. Você não é toda feministona? Os direitos são iguais.

_ E você é todo machistão, mas na hora de ser cavalheiro fala em direitos iguais?

_ Foram vocês que pediram isso.

_ Eu não tenho dinheiro! Esqueceu que agora eu estou com o meu pai Leandro? Ele não deixa mais toda a quantia da mesada na minha mão. Põe na minha conta poupança. E só me deixa com dois mil. Disse que devo aprender a gastar o meu dinheiro com responsabilidade. Você sabe que ele é chato.

_ Mesmo assim dar pra você pagar.

_ Não dar! Eu já gastei tudo, Pedro!

_ Como que...

_ Faz o seguinte, se o Gui quer pegar a Marcinha, o Gui que pague.

_ É justo.

_ E você pague o meu.

_ Mas é que...

_ Bora, Pedro , eu preciso me arrumar.

Vanessa levantou da cama para escolher a roupa e pôr um fim naquela discussão.

...

_ Bora, Vanessa!_Pedro a apressou gritando na soleira da porta do quarto.

_ Espere! Tô quase acabando._ Vanessa respondeu terminando de colocar um dos cílios postiços, sentada em frente ao espelho.

_ Não sei pra que essa demora toda. Nós só vamos a uma pizzaria, e não para a cerimônia do Oscar.

Vanessa levantou sorrindo, dando voltas mostrando o seu vestido rosa curto e justo, com saltinhos nos pés uma bolsinha pequena atravessada no colo.

_ Como estou?

_ Tá muito curto. Não gosto da ideia de vagabundos olhando pra sua bunda.

_ Essa é a intenção._ Vanessa disse piscando um dos olhos. Sorriu ainda mais ao ver a cara amarrada de Pedro, que cruzou os braços em sinal de desaprovação.

O casal saiu no carro do rapaz. Antes de ir ao shopping, foram buscar Marcinha.

A jovem queria ser pega na garagem do seu prédio. Mas Vanessa, via whatsapp, pediu para que a amiga a esperasse num dos quiosques, da praia do Leblon. Como ambas moravam no mesmo prédio, Vanessa não queria correr o risco de cruzar nem com Júlio e muito menos com Luciano.

Marcinha entrou sentando no banco de trás. Estava eufórica para contar a novidade para a amiga.

_ miga, você não sabe o que aconteceu! Ainda bem que você tá sentada. Depois do babado que tenho pra te contar, você ia cair pra trás.

_ O que vocês mulheres têm de gostosas, têm de fofoqueiras._ Pedro disse, girando a cabeça negativamente enquanto dirigia.

_ E por que você tem que ser tão machista e babaca?_ Vanessa perguntou brava.

_ Não importa. Deixa eu falar.

Marcinha contou a Vanessa tudo o que sabia sobre a briga entre Luciano e Júlio. Os detalhes em que começou pela boca do porteiro e se estendeu para os moradores dos prédios.

_ Aí, gata, eu achei que você ia falar alguma fofoca besta de blogueiras idiotas, mas essa parada aí me interessou. Fala aí da briga das bichas.

Vanessa estalou um tapa sonoro no braço do namorado.

_ Ei! Você não se refere ao meu pai desse jeito! Ele é um filho da puta, mas é o pai!

_ O Rubens fala assim com ele e o Júlio fica de boa.

_ O Rubens também é do vale. Ele pode! Você não!

_ Mandou mal, Pedro. _ repeliu Marcinha.

_ Tá bom. Perdi a linha...foi mal, agora continua contando, Marcinha.

_ Dizem que o Luciano quebrou tudooooo! Foi uma loucura.

_ Bem feito para os dois! Principalmente pro meu pai. Eles se merecem.

_ Quem diria, hein? O Luciano com aquela carinha._ Pedro comentou gargalhando.

_ Eu não vou estragar a minha noite falando nesses dois. Pode ser? _ Vanessa gritou em tom de grosseria.

...

Guilherme aguardava por eles sentado em uma das poltronas acolchoadas, que ficava perto do jardim de inverno na entrada do shopping. Ao ver Marcinha chegando junto com o casal de amigos, abriu um sorriso largo de empolgação. Ele estava completamente apaixonado por ela.

Guilherme é um jovem de pele clara, olhos castanhos e cabelos lisos de mesma cor. Não tinha nenhuma beleza deslumbrante. Era um jovem de aspecto comum e de uma expressão séria e meiga, o que era o suficiente para despertar um pouco de interesse na menina.

Cumprimentaram-se com três beijos no rosto.

Enquanto Pedro e Vanessa andavam de mãos dadas, Marcinha e Guilherme caminharam lado a lado tímidamente. Ele desejava segurar em sua mão, mas não tinha coragem para isso. Temia que ela se chateasse.

Marcinha parou deslumbrada diante de uma vitrine de uma loja de perfumes de luxo. Pôs a mão na boca em sinal de espanto ao ver um belo frasco dourado se destacando na vitrine.

_ Olhem! É o recente lançamento da Lazzari! Aaaaaaaaaaaa! Eu amo esse os perfumes dessa marca!

_ São caros também né._ pontuou Pedro.

_ Mas a Marcinha é uma princesa e merece cheirar como uma.

Guilherme aproveitou a oportunidade e segurou a mão de Marcinha, a conduzindo até a loja.

Percebendo o que estava acontecendo, Vanessa olhou para a amiga sorrindo.

Marcinha agradeceu dando pulinhos de alegria e enchendo o rosto de Guilherme com beijos.

Em seguida, partiram para a pizzaria. Alguns minutos depois, Vanessa chamou Marcinha para acompanhá-la até o banheiro.

_ Por que vocês mulheres precisam de uma da outra para irem ao banheiro? O que há lá dentro? Distribuição gratuita de maquiagem?

Elas não responderam a ironia de Pedro.

...

Vanessa retocava o batom enquanto perguntou:

_ Qual é a sua com o Gui?

_ Vou dar pra ele.

Vanessa a olhou espantada, segurando o batom suspenso.

_ Mas você não disse que ia dar o desprezo a ele por ele ter te rejeitado há três anos atrás?

_ Mas eu ainda tenho tesão nele, amiga. Só tô fazendo joguinhos para obter vantagens.

Marcinha sorriu mostrando o lindo pacote do perfume que ganhou.

_ Pistoleira bandida!_ Vanessa exclamou sorrindo.

Elas retornaram á mesa. Depois de algumas rodadas de pizzas, os jovens estavam com os celulares a mão. Não mais interagindo entre si.

Marcinha quebrou o silêncio mostrando a tela do celular a Vanessa. Ambas puseram as mãos nas bocas empolgadas.

_ Olha como ele é perfeito, amigaaaa!

_ Isso não é um homem! É um monumento!

Pedro, enciumado, tomou o celular da mão de Vanessa. Viu que se tratava do perfil do Instagram de um belo homem loiro, com sedutores olhos azuis e era uns vinte anos mais velho que elas.

_ Hum! Esse prego aqui! Sou mais eu.

Ambas gargalharam.

_ Não sei do que vocês tão rindo.

_ Ah, Pedro. Você até que é bonitinho, mas não chega aos pés do professor Eric._ Marcinha disse sem nenhum rodeio.

_ Ele é que não chega aos meus pés. A Vanessa sabe como eu me garanto.

_ Sei?_ Vanessa ironizou sorrindo. Estava adorando ver o namorado com ciúmes.

_ Até parece que você é tão fodão assim._ duvidou Marcinha.

_ Quero ver você falar isso pelada e de quatro na minha frente.

_ Eita!_ exclamou Guilherme rindo.

_ Só para te informar, "amorzinho", eu estou aqui.

_ Melhor ainda tenho disposição para pegar as duas.

Todos da mesa gritaram, zoando Pedro.

_ Você eu não pegaria. Mas o gostoso do Eric, eu não me importaria em dividir com a minha amiga._ provocou Marcinha e Vanessa sorriu adorando a situação.

_ Grande merda. Com essa carinha de fuinha. Garanto que é veado.

_ Ele não é gay! Se fosse não teria problema! Mas não é!_ Marcinha protestou irritada.

_ Tava bom pro seu pai, Vanessa. Do jeito que ele é piranhudo, não duvido nada que já tenha passado a rola nesse pulha.

_ Ah você é tão desagradável!_ Vanessa comentou revirando os olhos._ Típico de Homem hétero recalcado. Quando vê um outro mais bonito e desejado que ele, inventa que o cara é gay como se isso fosse algum demérito. Mas o professor gostoso não é gay.

_ Como você sabe?

Vanessa sorriu maliciosa, erguendo uma das sobrancelhas para provocar o namorado, que fechou a cara no mesmo instante.

Marcinha pegou o celular de volta e mostrou uma nova fotografia. Desta vez ambas as meninas gargalharam.

_ Essa garota é tão ridícula! Olha essas sardas horrorosas! E esse cabelo que parece uma palha.

_ É mesmo, Vanessa! Ela é muito esculachadinha.

_ De quem vocês estão falando?_ quis saber Guilherme.

Elas mostraram a fotografia de uma menina ruiva, que Guilherme reconheceu no mesmo instante.

_ A Melissa é uma garota muito legal. Ano passado eu fiz um trabalho em dupla com ela. Vocês deveriam ter mais respeito.

_ Huuum! Não sabia que vocês eram amiguinhos agora._ Vanessa debochou.

_ O meu pai também é promotor e trabalha na equipe da mãe dela, a doutora Cecília Amorim. Dia desses, nós fomos jantar na casa dela. Eu conversei um pouco com a Melissa e ela fora da escola é muito legal. A família dela é toda gente boa. O padrasto dela é o juiz Vilela. O seu pai deve conhecer.

_ Grande bosta. Ter padrasto é uma merda. É por isso que ela vive com aquela cara de cu. O padrasto dela deve ser um mala.

_ Que nada! Ele é muito legal com ela. É como se fosse um pai. Faz todas as suas vontades.

Vanessa ficou com ainda mais raiva. Para ela era humilhante saber que a sua inimiga da escola tem um bom padrasto, enquanto ela é obrigada a suportar Abner e Luciano.

_ Olha! A esquisita tem amigos! Olha essa foto dela na piscina com uma garota.

Marcinha mirou o celular para Vanessa e Pedro.

Empolgado, Pedro novamente tomou o celular da mão de Marcinha e Exclamou:

_ Puta que pariu! Que mina gostosa!

Pedro estava tão entusiasmado com a foto de uma bela jovem de cabelos escuros, com uma franja, olhos azuis, lábios e rosto rosado, que nem percebeu que Vanessa lançava sobre ele um olhar fulminante.

A jovem tinha um corpo escultural e usava um biquíni vermelho, pousando ao lado da menina ruiva. Ambas sorriam, fazendo caretas fofas, mostrando as línguas.

_ Ela é toda rosadinha. A bocetinha deve ser igual um Moranguinho.

Pedro recebeu um tapa no braço tão forte que o celular de Marcinha sobre caiu sobre prato de pizza. Marcinha pegou o celular na mesma hora. E aí que Pedro se deu conta do vespeiro que pôs a mão.

_ Que porra é essa, Pedro?!_ Vanessa gritou, chamando a atenção das pessoas em volta._ Tá pensando o que? Que vai ficar elogiando vagabundas na minha frente?

Guilherme riu da situação e, curioso, pegou o celular de Marcinha para ver de quem se tratava. Para provocar ainda mais Vanessa, ele disse:

_ Essa é a Nívea, a amiga da Melissa. Ela não é vagabunda. É super na dela. Deve ser até virgem. Aí Pedro, o moranguinho dela deve ser apertadinho.

Os meninos sorriram, enquanto Vanessa respirava ofegante com ódio.

_ Então vá comer morango então, que eu vou caçar macho em outra freguesia.

_ Ah você pode falar do professor na minha frente? E além do mais, eu nem gosto de morango.

_ Mentira._ Guilherme debochou imitando um espirro.

_ Seu cretino! Safado! Olha aqui se você ficar de graça com essa piranha sonsa eu parto a cara dos dois.

_ Uiiii!_ gritaram Marcinha e Guilherme.

_ "Eu parto a cara dos dois."_ Pedro a imitou afinando a voz._ Você fica ainda mais linda quando tá brava. Vem cá minha Ciumentinha.

Pedro tentou beija- la, mas a menina se esquivou, cruzou os braços.

A conversa seguiu outros rumos, entre mastigadas de pizzas e gargalhadas.

_ A noite não precisa acabar aqui. Vamos á Boate Castle?_ propôs Pedro.

_ Nem pensar. A minha mãe jamais deixaria._ respondeu Marcinha.

_ A sua mãe não precisa saber, amiga. Ela não sabe que estou dormindo na casa do Pedro. Você pode dizer que vai dormir na minha casa._ disse Vanessa.

_ É uma boa._ concordou Guilherme.

_ Mas o problema é que ela vai querer falar com o Leandro por telefone. Você conhece a minha mãe. E nem roupas pra balada aqui eu tenho.

_ Isso é o de menos. Creio que o Guilherme não vai se importar de quebrar o nosso galho e comprar um vestido pra você. Não é, Guilherme?

Guilherme concordou de boa. Faria tudo para agradar Marcinha.

_ Mesmo assim, ela vai querer falar com o Leandro.

_ Não seja por isso. Guilherme, liga pra mãe da Marcinha e finja ser o Leandro.

Guilherme olhou para Pedro com espanto.

_ Você ficou maluco, veado?

_ Toma. Ligue.

Mesmo resistente, Guilherme acabou cedendo e ligou para a mãe de Marcinha se passando por Leandro. Apesar de estar nervoso, foi bem sucedido. Ao desligar o telefone, respirou aliviado.

As meninas comemoraram se abraçando.

_Obrigada, Gui! Te adoro tanto!_ Marcinha agradeceu, o beijando no rosto.

_ Não querendo ser estraga prazeres, mas as meninas são menores de idade. Elas podem ser barradas._pontuou Guilherme.

_ Não se preocupe, braço. Eu conheço os seguranças há um tempo. É um parceiro, meu. Sempre consegui entrar na boate quando era menor. É só molhar a mão dele.

_ Obaaaa! Agora vamos logo pagar essa conta e comprar os nossos vestidos. Antes que as lojas fechem. E você, Pedro, se não quiser que eu te mate por causa dos seus comentários sobre aquela garota ridícula, trata-se de comprar o meu vestido.

_ Eu compro o shopping inteiro se você parar de encher o meu saco.

Vanessa apontou o dedo indicador para ele e ordenou:

_ E nunca mais fale em morangos na minha frente!

A mesma programação da noite de sábado deixava Patrícia entediada. Ela estava sentada no sofá, retocando os esmaltes das unhas das mãos, enquanto as crianças adormeciam no quarto. Sua mãe iria passar o fim de semana em sua casa. Aurora teve um pequeno desentendimento com o marido, coisa boba, algo que se resolveria em breve, mas decidiu ir visitar a filha para ignorá-lo por alguns dias.

Patrícia foi surpreendida ao ouvir uma voz feminina a chamando no portão de sua casa. Eram dez horas da noite, horário incomum para ela ser requisitada.

Surpreendeu-se ao olhar pela janela e ver que se tratava de Valéria, bem vestida em um vestido vermelho, rosto fortemente maquiado e usando saltos altos. Pronta para uma festa.

Dona Aurora também despertou com os gritos de Valéria, e, curiosa, foi até a sala ver de quem se tratava.

Patrícia atendeu o portão a convidando para entrar. Estranhou a presença de Valéria em sua casa e ficou preocupada, acreditando que ela poderia trazer uma notícia ruim de Leandro.

Patrícia a apresentou a sua mãe como a amiga de Leandro. Depois de se cumprimentarem, Valéria sentou no sofá com as pernas cruzadas e acendeu um cigarro, oferecendo a elas, mas só foi aceito por dona Aurora.

_ Aconteceu alguma coisa, Val?

_ Aconteceu. Eu perdi o meu amigo.

_ Como assim?!_ Patrícia perguntou preocupada.

_ Leandro agora só quer saber de sentar no novo macho que você fez o favor de pôr lenha na fogueira para que ficassem juntos. E agora não tenho mais companhia pra sair.

_ Eu não julgo o Leandro. O Abner é um gato. Até eu sentaria nele._ comentou dona Aurora sorrindo.

_ Mamãe!_ repeliu Patricia.

_ Mas é verdade. Um homem daqueles! Ah se eu fosse mais jovem!

_ A senhora não tem jeito mesmo. Tá bom, Val, e o que eu tenho a ver que você tá sem companhia pra sair? Veio brigar comigo? Olha eu posso ser pobre, mas odeio barracos. Então nem vem.

_ E você acha que eu me produzi toda pra brigar contigo? Correr o risco de estragar essa make maravilhosa, que demorei horas pra fazer?

_ Então o que você quer?

_ Vim te buscar pra sair comigo.

_ Me buscar?!_ Patrícia perguntou estranhando. Ela e Valéria não tinham uma relação tão íntima, ao ponto de saírem juntas.

_ Não faça essa cara de tonta não. Você me deve isso, já que por sua causa fiquei sem o meu Bijuzinho.

_ E para aonde vocês vão?_ quis saber dona Aurora.

_ Para a Boate Castle.

_ Eu não posso ir.

_ Por que não, mulher?

_ Porque é uma boate de gente rica. Eu não tenho dinheiro pra frequentar esses lugares.

_ Não se preocupe com o dinheiro. Deixe isso comigo. Agora vá se arrumar._ ordenou Valéria.

_ Mas e as crianças e...

_ Eu fico com as crianças, Patrícia. Vai se divertir um pouco. Você merece.

_ Aí dona Aurora, gostei da senhora.

_ Eu também gostei de você. Mas não precisa me chamar de dona. Só Aurora mesmo.

_ O problema é que eu não tenho roupas e...

_ Ah para de palhaçada, Patrícia. Com certeza tem algum vestido de piriguete no seu guarda-roupa que você usa para se encontrar com os contatinhos.

_Valéria, olha a minha mãe aqui!!!

_ E eu não sei que você tem fogo entre as pernas? Essa daí sempre foi namoradeira. Ela pensa que eu não sei, mas ela se encontrava com os namoradinhos em um terreno baldio lá perto de casa.

_ Huuuum! Que delícia!

_ Já chega vocês duas! Venha, Valeria, me ajude a escolher um vestido._ disse Patrícia, puxando Valéria pelo braço.

_ Mas tá tão interessante conversar com a Aurora.

_ Bora, Valéria!

Patrícia entrou na boate animada. Não estava acostumada a frequentar aquele tipo de baladas, somente baile funk e rodas de pagodes. Estava adorando tudo o que via.

_ Val, este lugar é incrível! Olhe aquilo._ Patrícia apontou para um dançarino numa pilastra. Havia várias colunas em que se alternavam com belos dançarinos homens e mulheres com poucas roupas.

_ Só gente deliciosa!

_ Siiim! Hoje nós vamos ficar loucas._ Valéria gritou empolgada.

Foram ao bar e pediram uns drinks esfumaçantes roxos, com um guarda-chuvinha na ponta do copo. Era a primeira vez que Patrícia experimentava aquele tipo de bebida tão refinada.

_ Amiga, isto é uma delícia! Eu nunca experimentei um desses antes!

_ A partir de agora você vai beber muitos, toda vez que sair comigo.

Elas estavam na área vip, quando decidiram descer e ir para a pista dançar. Ambas estavam bem vestidas em seus vestidos sensuais que despertavam olhares masculinos e deixou Patrícia muito orgulhosa de si mesma.

Patrícia e Valéria dançaram com os corpos colados, uma segurando na cintura da outra, imersas na felicidade. Fizeram isso por três músicas consecutivas, até se cansarem.

Foram procurar refúgio, sentando em um dos sofás acolchoados vermelhos que ficavam próximos à pista de dança. Patrícia aproveitou para retirar um pouco os saltos e relaxar os pés.

_ Depois dos trinta o pique já não é mais o mesmo._ Patrícia comentou.

Valéria olhou em direção á pista de dança como se visse algo surpreendente.

_ Olhe quem está ali! Veja, Patrícia. Eu não acredito nisso!

_ Minha nossa!

Valéria apontou para a pista, onde Vanessa dançava na frente de Pedro, que sorria por a namorada rebolar, esfregando a bunda na virilha dele. Marcinha estava ao lado, abraçada com Guilherme aos beijos.

_ É a chatinha e o namoradinho tonto dela!

_ A Vanessa?!

_ Ela mesma!

_ Meu deus! Ela é menor de idade! Não deveria estar aqui! Será que Leandro sabe disso?

_ O que você acha, Patrícia? É óbvio que o Bijuzinho não sabe. Ele acha que ela está dormindo feito um carneirinho na casa do namorado.

_ Vanessa é carne de pescoço viu. Vive dando trabalho ao meu amigo. O Leandro não merece ser enganado desse jeito.

_ Ah mas vai ele vai saber! E é agora._ Valéria disse retirando o celular da bolsinha de mão.

Mirou o melhor ângulo filmando o jovem casal na pista, enviando o vídeo para o whatsapp de Leandro.

_ Fique aqui e não perca eles de vista. Eu vou lá para a área de fumantes no térreo, que é menos barulhenta. Assim consigo ligar para o Léo.

Leandro adormecia tranquilamente nos braços de Abner, vestindo somente uma cueca, quando foi despertado pelo toque do seu celular. Acordou assustado afinal ligações àquela hora da madrugada não poderia ser coisa boa.

Abner despertou gemendo, sonolento, como um protesto de quem odiou ter o seu sono interrompido.

Leandro sentou na beira da cama para atender a ligação. E o que Valéria contou o deixou desperto no mesmo instante.

_ Não é possível que ela fez isso!_ Leandro exclamou alto, despertando a curiosidade de Abner, que o interrogou com o olhar.

Leandro contou a Abner nervoso, enquanto levantava. Foi até o guarda-roupas pegando uma calça e uma blusa para se vestir.

_ Neném, se acalme!

_ Como eu vou me acalmar?! A minha filha adolescente está numa boate de adultos sem a minha autorização! E se acontecer alguma coisa ruim? E se ela consumir bebidas alcoólicas ou algo pior? Do jeito que o Pedro é um imbecil, não duvido nada que dirija alcoolizado e isso ocasionaria um acidente. Vanessa só me dá trabalho viu.

_ E você tá se arrumando pra ir atrás dela? Sabe onde fica essa boate?

_ Sei.

_ Eu vou contigo.

_ É melhor não, amor. Do jeito que a Vanessa é, com certeza vai querer te atacar só pra me atingir.

_ Que se foda! Eu não deixar que você saia de casa sozinho a esta hora e nervoso desse jeito. Eu vou contigo sim e quem vai pegar naquele volante serei eu. Estou mais calmo do que você.

...

Em meio a tantos rostos distintos Leandro procurava por Vanessa naquela boate lotada e barulhenta. Seu coração batia acelerado, não sabendo definir o que sentia, era um misto de raiva por ter sido enganado, preocupação e uma vontade imensa de que aquilo não estivesse acontecendo.

No entanto foi Abner quem identificou Vanessa aos beijos com Pedro. Ela estava encostada na parede com o namorado na frente, curtindo levar uns amassos.

_ Olha ela ali _ Abner disse ao pé do ouvido de Leandro apontando para a direção de Vanessa.

O tempo que Leandro e Abner demoraram entre driblando todas aquelas pessoas até chegar a filha foi o suficiente para que Guilherme e Marcinha se aproximassem do jovem casal entregando os copos de drinks a eles. Vanessa gargalhava com alguma piada picante de Pedro quando sentiu uma mão no seu ombro.

Ao olhar para trás, sentiu como se o coração fosse saltar pela boca. O seu corpo inteiro se arrepiou de medo e vergonha.

_ Pai!!!

Leandro a olhava tão sério como não fazia há tempos. Cruzou os braços demonstrando insatisfação. Pedro não conseguia se mover devido ao susto e Marcinha quase engasgou com o drink, cabendo a Guilherme dar leves tapinhas nas suas costas, enquanto ela tossia.

_ Vamos embora agora!_ Leandro não gritou para ser ouvido em meio a todo aquele barulho, mas falou pausadamente para que Vanessa pudesse ler os seus lábios.

_ Pai, por favor, não me envergonhe aqui na frente de todo mundo.

_ Leandro, eu posso explicar e...

_ Eu confiei em você, seu irresponsável! A Vanessa é menor de idade! Como você me traz a menina para um lugar desses e ainda dar bebidas para ela?! E você hein, dona Márcia, pelo que conheço dos seus pais, com certeza eles não sabem que você está aqui.

Marcinha abaixou a cabeça denunciando o seu mau comportamento.

_ Vamos agora, Vanessa! Em casa a gente conversa! E você também vem comigo, Márcia. Vou te deixar em casa.

_ Mas a minha mãe vai me matar, tio!

_ Pensasse nisso antes de fazer besteiras. Vê se isto aqui é lugar para duas meninas!

Vanessa saiu bufando com os braços cruzados. Detestou ter a noite estragada com a presença do pai e principalmente com a de Abner.

De volta na pista, apoiadas no guarda-corpo, Patrícia e Valéria avistaram Leandro e Abner sair da boate com as meninas.

_ Vamos até lá, Val. Ver o que aconteceu.

_ Nem pensar! Pode sossegando o piriquito aí, mulher. Eu é que não vou estragar a minha noite recebendo patadas da Vanessa. Só quero ficar aqui de camarote assistindo esse cena memorável._ Valéria sorrindo, bebendo um gole do seu drink.

No carro, Vanessa sentada no banco de trás ao lado de Marcinha ouvia os sermões calada com os braços cruzados e a cara amarrada.

_ Tio, por favor, não conte para a minha mãe. Ela vai ficar brava e vai me proibir de viajar no carnaval! Pior vai me obrigar a ir com ela para a casa pra Itália, na tia Antonella!

_ E falando em carnaval, já pode esquecendo a sua viagem para Salvador com o Pedro.

_ O quê?!!! Pai, mas já está tudo combinado e...

_ Não está não! Você já pode se considerar de castigo.

_ Pai, eu...

_ Cala a boca, Vanessa! Em casa a gente conversa.

Abner dirigiu até o condomínio sob o comando de Leandro. Vanessa ficou ainda mais irritada acreditando que Leandro mandaria chamar Julio.

No entanto, Leandro só pediu para falar com os pais de Marcinha e contou o que aconteceu.

_ Mas como assim?! Não estou entendendo! Você me ligou, Leandro, pedindo para que eu deixasse a Márcia dormir na sua casa!

_ Eu?! Eu não! Na certa foram um dos dois pilantrinhas que estavam com elas.

_ Márcia, eu não acredito que você fez isso comigo! Ah, mas a gente vai ter uma conversa muito séria.

_ Meu amor, se acalme!_pediu Paulo, o pai de Marcinha.

_ Me acalmar, Paulo?! Como me acalmar, se a sua filha mentiu feito uma dissimulada e foi parar numa boate sem a nossa permissão? Isso é culpa sua, que fica mimando essa menina.

"Leandro, me desculpe pelo transtorno. Eu prometo que vou dar um jeito nessa menina."

Marcinha começou a chorar. Estava com medo do castigo. Olhava para o pai triste, pedindo com o olhar que ele a ajudasse com a mãe.

_ Eu também vou dar um jeito na Vanessa.

Vanessa estranhou o fato de Leandro nem sequer ter mencionado o nome de Júlio. Os três voltaram para o apartamento de Leandro.

...

Em casa, sentada no sofá com os braços cruzados, Vanessa ouvia os sermões.

_ O que você tem na cabeça? Como é que você me tem coragem de aprontar uma dessas?! Eu confiei em você! Aquilo não é lugar para uma menina da sua idade! E ainda estava bebendo! Olha Vanessa, você está cada vez mais sem juízo. Eu já estou cansado desse seu comportamento. Cada hora você apronta uma! Mas já chega de ser bonzinho contigo. Já pode se considerar de castigo! Você não vai mais viajar para Salvador com o Pedro!

_ O que?! Mas já está tudo combinado, pai! Até já comprei as minhas malas e...

_ Eu não quero saber! E digo mais, acabou namoro na casa do Pedro. A partir de agora terá que namorar aqui no sofá da sala sob a minha vigilância.

_ Que merda!_ Vanessa exclamou deixando as lágrimas caírem.

_ E dê graças a Deus por eu ainda permitir esse namoro. Esse menino não tem juízo nenhum. Nem para ser o seu namorado ele serve.

_ E onde você acha que devo procurar um namorado novo? No onlyfas, onde você achou este aí?_ Vanessa perguntou com grosserias, apontando para Abner com a cabeça.

_ Você não testa o limite da minha paciência, Vanessa!

_ Ah se você quiser, eu tenho uns amiguinhos que posso te apresentar._ Abner ironizou sorrindo.

Vanessa levantou bufando e foi para o quarto batendo a porta.

_ Vanessa, eu ainda não terminei! Volte aqui!_ ordenou Leandro, mas foi ignorado.

Abner segurou os seus ombros por trás, massageando suavemente e lhe deu um beijo no rosto.

_ Calma, amor! Já tá tudo bem. Ela está em casa e segura. Agora você já pode relaxar.

_ Sinceramente, eu não sei mais o que eu faço com essa menina! Eu não sei! Onde foi que eu errei? Eu sou uma porcaria de pai!

Abner o girou, fazendo com que o rosto de Leandro ficasse em sua direção.

_ Comece não se culpando._ Abner disse enxugando as suas lágrimas._ Você é um ótimo pai. Se fosse um pai ruim não teria ido buscá-la. Você faz o que pode e cuida muito bem da sua filha. Ela é adolescente! É coisa da idade. Nós mesmos já fizemos muitas merdas quando tínhamos a idade dela. Agora vamos voltar a dormir. Eu posso te fazer uma massagem até você pegar no sono.

_ Eu não sei se vou conseguir dormir.

_ Eu pensei que você ia falar com o Júlio, já que estava no condomínio da casa dele.

_ E pra quê?! Eu não estou com a menor paciência para ouvir aquele cretino me culpar pelas besteiras que a Vanessa faz. Ele é um péssimo pai! Não quer saber de nada! Jogou tudo nas minhas costas e ligou o foda-se! Já que estou sendo pai sozinho, vou tomar todas as providências sozinho.

_ Hum! Gostei de ver. Todo decidido esse meu neném. Agora vem aqui. Vou te dar um banhozinho gostoso e te pôr pra dormir como um bebezinho que você é.

_ Amor, eu não tô a fim. Não estou com cabeça pra isso.

_ Mesmo você sendo uma delícia, eu não estou propondo de te comer. Só quero cuidar de você, meu amorzinho.

Abner envolveu os seus braços com carinho pela cintura de Leandro, o puxou com delicadeza para si, segurou o seu queixo e o beijou.

Leandro bateu na porta do quarto de Vanessa na manhã seguinte. Ela já havia acordado há um tempo, mas queria evitar levantar da cama e encarar o pai.

_ Entra._ Vanessa respondeu com a voz chorosa. Pensou em usar da meiguice para convencer Leandro a perdoa-la. Afinal ela queria muito viajar com Pedro.

Assim que Leandro entrou no quarto, a menina caiu em prantos pedindo desculpas e se dizendo arrependida do que fez. Prometeu não mais repetir os maus atos e se comportar dali por diante.

No entanto, Leandro não reagiu da forma que ela esperava. Vanessa estranhou, porque sempre que ela fazia isso, ou Leandro, ou Júlio cediam.

Leandro não demonstrava nenhuma compaixão. Tinha a expressão séria e os braços cruzados.

_ Não me interessa se você está arrependida ou não. O que você fez foi muito grave! Você mentiu para mim, Vanessa! Quebrou o nosso acordo de confiança! E se tivesse acontecido alguma coisa com você naquela boate? Como eu estaria agora?! Você é muito irresponsável! Nada de viagem com Pedro! E o namorado de vocês, a partir de hoje, será somente aos fins de semana e aqui em casa, sob a minha supervisão.

_ Ah não, pai! Isso não é justo!

_ E dê graças a Deus que eu não tirei o seu celular.

_ Pai, onde eu vou passar o carnaval? Puxa todos os meus amigos vão viajar.

_ Você vai comigo para o sítio.

_ O quê?!_ Vanessa gritou com tanta intensidade, que parecia que tomou um susto.

_ Eu vou te vigiar.

_ Você não pode fazer isso? Isso é cárcere privado.

_ Não estou nem aí para os seus dramas. O meu erro foi ter sido frouxo contigo. Mas isso acabou. E pode levantando para tomar café da manhã e depois dê um jeito no seu quarto.

_ Você e o Júlio são muito cruéis. Só pensam nos seus namorados e não tão nem aí pra mim. Eu não quero ficar num sítio de merda com você e o michê!

_ Escute aqui, Vanessa, eu não vou admitir que você desrespeite o Abner e nem mais ninguém. Você vai para o sítio comigo sim e vai se comportar muito bem. Vai tratar tanto a mim, quanto ao Abner, a Patrícia e a Valéria com total respeito. Caso contrário, eu vou pegar muito mais pesado com você e te proibir de ver o Pedro.

_ Mas, pai...

_ O recado está dado. Agora levante e faça o que te mandei fazer.

Leandro saiu do quarto, fechando a porta. Vanessa gritou de ódio, socando a cama.

...

Durante os dias que se passavam, Vanessa fez de tudo para que Leandro mudasse de idéia, mas ele permaneceu irredutível. O que a mais deixou decepcionada foi saber que Pedro iria viajar sem ela, o que rendeu ao casal uma briga por telefone.

_ Eu não acredito que você vai ter a coragem de fazer isso comigo, Pedro! Você é um filho da puta!

_ O que você queria que eu fizesse? A viagem já está toda paga. Mas não vai haver um dia que eu não vou pensar em você, minha princesa.

_ Teu cu! Você vai é se esfregar nas piranhas dos blocos, seu desgraçado! Quer saber, Pedro, vá pra casa do caralho!

Vanessa encerrou a ligação aos berros, enquanto saia do elevador.

Entrou em casa como bala. Era o último dia de aula antes do carnaval e ainda estava vestida com o uniforme escolar que ela tanto detestava. O seu rosto estava inchado de tanto chorar e os olhos muito vermelhos.

_ Eeeeeee, volte aqui! Por que você está chorando?_perguntou Leandro.

Vanessa o olhou com o ódio e gritou:

_ Por culpa sua eu vou levar um par de chifres. O Pedro vai viajar sem mim! O pior é que nem posso fazer o mesmo, porque onde você vai não vai ter um homem pra mim!

Vanessa correu para o quarto, batendo a porta com tanta força que as paredes tremeram.

_ Vanessa, cuidado com essa porta!_ Leandro gritou impaciente.

Ele voltou para o seu quarto para arrumar as malas. Pegariam estrada naquela noite.

O seu celular tocou. Leandro pegou para atender com intusiamos acreditando ser Abner ou uma de suas amigas. Porém, o que ele não imaginava era que a ligação era da pessoa que ele não desejava ver nunca mais.

No começo, pensou em ignorar a ligação, mas devido a insistência, ele acabou atendendo com a voz de desânimo.

_ O que foi, Júlio?

_ Leandro, que porra é essa de Vanessa não atender as minhas ligações? Você tá botando minhocas na cabeça dela? Saiba que eu vou te processar por alienação parental.

_ Ah, vá se foder, Júlio. Desde quando você precisa de mim para ser ignorado pela Vanessa? Se ela não quer falar com você, a culpa é toda sua!

_ Há dias que ligo e ela não me atende. Ela nunca fez isso. Foi só ir para a sua casa.

_ Júlio, não enche a porra do meu saco! Eu tenho mais o que fazer. Não posso perder o meu tempo com você. Se a Vanessa não quer falar contigo, depois você se entende com ela.

_ Eu tô indo aí.

_ Aqui?!

_ Sim, aí. Qual é o problema?

_ Eu não te quero na minha casa.

_ Foda-se! A minha filha mora aí e quero vê-la. Eu vou viajar para o México hoje a tarde e quero me despedir da Vanessa.

_ Júlio, você descartou a menina para cá por causa do Luciano, vai viajar com ele e ainda tem a cara de pau de impor a sua presença para a Vanessa, mesmo ela não querendo.

_ Eu vou ver a minha filha e você não pode me impedir.

_ Quer saber? Você é quem sabe. Não me responsabilizo pela reação da Vanessa. Vocês são pai e filha, então vocês que se entendem.

Leandro desligou o telefone bufando. Criou coragem para ir até o quarto da fera.

_ Saia daqui!!! Isso tudo é culpa sua! Olha só, todo mundo vai viajar menos eu. Até a cretina enferrujada da minha outra escola está indo para Búzios com a filha do casal do jornal nacional e eu vou para aquele fim de mundo!

Vanessa chorava, mostrando para Leandro a foto de uma menina ruiva tirando uma selfie em frente mansão em Búzios.

_ Eu odeio você!!!

_ O que eu tenho a ver que essa garota vai viajar?

_ Ela é a minha inimiga da outra escola. É imunda da Melissa. Até ela tá melhor que eu!

_ Vanessa, pare de gritar! Os vizinhos vão te ouvir.

_ EU NÃO LIGOOOOOOOOO!!!

Leandro revirou os olhos para cima, tentando reter paciência.

_ O Júlio me ligou. Disse que está tentando falar com você, mas você não o atende.

_ EU NÃO QUERO FALAR COM ELE!

_ Ele está vindo. Disse que vai viajar hoje a noite, mas quer se despedir de você.

Vanessa olhou com toda a fúria que sentia no coração.

_ ELE QUE NÃO SE ATREVA A CHEGAR PERTO DE MIIIIIIIMMMMM!!!! EU VOU ARRASAR COM A VIDA DELE! EU TÔ COM MUITO ÓDIO DO MEU PAI!

Não demorou nem uma hora para o interfone de Leandro tocar. Como ele previa, era o porteiro anunciando que Júlio estava na portaria.

Leandro de maneira alguma queria que Júlio pisasse em sua casa. Mas, sabia por Vanessa estar muito brava, ela poderia fazer um escândalo na portaria e isso seria péssimo. Leandro odeia barracos. Por esse motivo, decidiu autorizar, a contra gosto, a subida de Júlio.

A campainha tocou alguns segundos depois. Ao abrir a porta, para o seu desprazer, Júlio o aguardava sério, olhando com aquele ar de superioridade que Leandro tanto detesta.

Ao ver o ex marido vestindo um short curto de tecido leve e uma camiseta branca um pouco justa no corpo, Júlio não fez questão de disfarçar a expressão de cobiça.

Sorriu o olhando de cima para baixo, mordendo os lábios, o que deixou Leandro muito incomodado.

_ Entre._ Leandro disse sério.

Ao entrar, Júlio olhou ao redor como se o apartamento fosse algo repugnante. Não que ele realmente achasse isso. O local era limpo e bem arrumado. Mas a sua intenção era provocar Leandro.

_ A Vanessa tá no banho. Eu vou chamá-la.

_ Espere. _ Júlio ordenou, segurando a mão de Leandro para impedi-lo de se afastar.

_ Mesmo você vivendo na merda, está com a aparência ótima. A sua pele está perfeita. Mais brilhante.

Leandro retirou a mão com brutalidade. Odiou ouvir aquele esculacho disfarçado de elogio. Ele conhecia muito bem aquela tática abusiva de Júlio, pois vítima dela por anos. Mas ele não ia mais aceitar aquilo. Chega! Ele estava na sua própria casa e não ia admitir ser humilhado por Júlio. Para revidar a altura, sorriu, arqueando as sobrancelhas com um ar desafiador e disse:

_ Sim. A minha pele está ótima, mas não é fruto de nenhum produto estético. É o resultado do quão bem comido estou sendo ultimamente.

Sua satisfação foi completa ao ver a expressão de sarcasmo de Júlio se converter num ódio feroz. Mas, ainda era pouco. Pensou em jogar mais uma.

_ Coisa que eu não era há anos quando vivia com você.

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Comentários

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Que saudade estava desse conto! nota 1000!!! e que bom que você voltou a escrever.

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Fico feliz em saber que estás bem. Eu sempre me perguntava como estaria. A narrativa, como sempre, perfeita. Mas estares te recuperando, melhor.

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Maravilhoso como sempre.... Já tinha saudades.

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Muito bom. Estimo suas melhoras e pronta recuperação. Obrigado por ter postado. Adoro essa história e acompanho desde o inicio.

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seja bem vindo novamente,desejo melhoras tanto fica como espiritual.volte quando puder.

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Seja bem vindo de volta, meu amigo.

De fato, eu e vc estamos passando por um 2023 nada fácil. No entanto, você voltou postando um capítulo no 220V com direito a artilharia pesada e terminando com gosto de quero mais.

Desejo tudo de melhor para você e que o próximo capítulo seja de tirar o fôlego como este foi.

Abraços

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