Em Terra de Cego Quem Tem Zóio é Rei (09)

Um conto erótico de Bayoux
Categoria: Heterossexual
Contém 1881 palavras
Data: 23/04/2023 10:29:38

Hoje eu queria falar sobre minha viagem à Europa do Leste, mas para fazê-lo devidamente necessito voltar alguns anos nesta história. Alguns anos não, muitos anos, mais precisamente ao tempo quando eu ainda era estudante de arquitetura e comia geral na faculdade.

Caso tenham lido a segunda temporada, sabem que eu era um bicho solto que cometia uma cagada após a outra e que criei uma má fama impressionante por conta disso.

Enfim, eu era um punk revoltado e só sobrevivi a estes anos porque havia muita gente louca ao meu redor, como a garota careca que um dia eu conheci.

Seus olhos eram de um azul tão profundo e sua pele tão tatuada, que o fato raspar a cabeça não importava. Seu corpo juvenil se escondia por trás de roupas folgadas, mas a constante mini saia escocesa não ocultava suas pernas compridas de coxas grossas.

Bastou eu vê-la para saber que ali havia uma mulher fantástica.

Não fazia muito sentido, uma estudante de direito ter um visual daquele, parecia deslocada entre alunos engomadinhos e alunas de conjuntinho combinando.

No meu curso, era justamente o contrário, o índice era de quarenta porra-louca para uma pessoa normal. O seu curso estava errado, não ela, ela nunca estaria errada, em nada - nossa, tô chocado comigo mesmo, que frase mais romântica!

Nos conhecemos no ponto de baseado da faculdade, onde o povo ia pra fumar unzinho entre as aulas.

Meu cabelo descolorido chamou sua atenção, não haviam mais punks naquela época, só eu e ela.

Conversa fácil, papo fluido, ela tinha crescido no exterior e vinha da Inglaterra, sua família ainda não havia chegado, estava revoltada em retornar ao Brasil, em ir morar na minha cidade de merda e estudar naquele curso horrível.

Raspou a cabeça em protesto e mandava todo mundo que dava bom-dia ir tomar no olho do cú com uma graciosidade absurda.

Muito interessado na questão, chamei a mina para tomar uma cerveja mais tarde e ficar de bobeira - incrivelmente, ela topou, até mesmo porque não conhecia mais ninguém.

Foi uma noite mágica, o headphone tocando sex-pistols, a gente fumando baseado e se pegando num beco atrás da lixeira. Eu enaltecia suas qualidades dizendo: “Mina, tú é gostosa pra caralho!”, ao que ela docilmente respondia “Cara, DEIXA DE MERDA E ME FODE COM FORÇA!”

Deste dia em diante, fizemos as coisas que todos os casaizinhos jovens costumam fazer, como fumar maconha no estacionamento do shopping, matar aulas pra tomar cerveja contrabandeada e ficar ouvindo Clash num volume ensurdecedor, gritando pros vizinhos irem se foder.

Quando um dia alguém respondeu “Vai se foder vocês!”, ela disse para a pessoa ir estudar, porque a concordância verbal estava errada - uau, graciosa e inteligente!

Lembro-me com saudades de apertar aqueles peitos volumosos, beliscar os mamilos quase transparentes, colocar ela de quatro, agarrando seus braços para trás e metendo em sua buceta.

Ah, e que bucetinha deliciosa minha amiga careca tinha…

Era grande, dos lábios gigantes caindo pelas bordas, eu mordia um pouco mais forte e ela gozava muito, me chamando de filho da puta. Tê-la sobre mim cavalgando, a cama quase desmontando de tanto balançar, a gente cuspindo na boca um do outro.

Contudo, nem demorou muito e um dia ela foi embora, seus pais nunca chegaram no Brasil e a garota voltou para Inglaterra, porque isso aqui não era pra ela, e ela não era pra isso aqui.

O tempo passou, a gente cresceu e se perdeu um do outro. Mas um dia a encontrei de novo. Ou melhor, ela me encontrou. Não, a gente se reencontrou, fica melhor assim.

Tô tomando cerveja na Europa do Leste, aquilo lá é o fim, cheira a decadência aonde você for - justamente por isso, não tinha melhor lugar.

Sentou na minha frente uma mulher alta, bem vestida e com longos cabelos cor-de-mel cacheados. Eu meio que ignorei e continuei tentando comer uns croquetes horríveis que serviam ali, pensando ser só mais alguém tentando me vender algum tipo de contrabando.

Daí a mulher falou: “Ô viadinho, não tá me reconhecendo não, porra?”

Pensar na merda daqueles croquetes asquerosos meio que estraga um pouco a história, contudo, observo que tem gente que possui tara em misturar sexo e comida.

Já conheci garotas que fantasiam com bolo de chocolate, morango e outras coisas bem sensuais. Mas, em minhas pesquisas nada científicas, existe um campeão quando se trata de misturar mulheres com outros alimentos: o chantilly.

Uma vez me deu este tipo de tesão, cismei que queria comer uma mina com chantilly.

Havia saído do segundo casamento uns anos antes e queria voltar à putaria, fazer coisas que nunca fiz na vida, tirar o atraso, trepar até esfolar o bichão, enfim, coisas da crise de meia idade.

Nisso, estava compulsivamente vendo pornografia e me deparo com um video que me deu muito tesão.

A atriz vinha com um tubo de chantilly e caía de boca no cacete do ator como se fosse um bolo de aniversário. Depois, ele enchia o rabo dela de creme e lambia do furico até a buceta, limpando tudinho.

E assim seguiam o filme todo, se lambuzando e se comendo. Acho que tem a ver com a melequeira, sei lá, sexo bom é sexo que deixa a gente lambuzado - e vamos combinar que o chantilly tem tudo a ver com isso.

Só que eu estava sozinho, sem esposa, namorada, ficante, peguete nem mulher nenhuma, o que tornava um pouco complexo realizar esta fantasia - aliás, esta ou qualquer outra que não envolvesse variações de punheta.

Daí eu fiquei me coçando com a coisa, aquele comichão que dá ao mesmo tempo no fundo do cérebro na cabeça do pau. Mais que tudo na vida, eu tinha que comer alguém com O TAL DO CREME CHANTILLY.

Comprei um tubo extra grande no mercado e deixei no carro, todo mal intencionado. Agora só faltava a buceta pra acompanhar.

Achei que seria estranho ir a algum barzinho para pegar alguma mina por aí e de cara já propor sacanagem com chantilly numa primeira e, muito provavelmente, última vez. Parecia coisa de maníaco sexual - e talvez seja mesmo.

Assim que, apesar de minhas reservas quanto a isso, comecei a buscar em sites de garotas de programa por aquelas que estavam dispostas a realizar fantasias doidas dos clientes.

Creiam-me que, quando se trata de fetiches sexuais, para as garotas de programa o creme chantilly é coisa de criancinha inocente do jardim da infância.

Digo isso pelas fotos dos anúncios: envolviam vibradores, chicotes, algemas, muito látex preto, pirocas artificiais gigantescas, coleiras, máscaras e coisas do gênero.

O efeito foi inverso, fiquei intimidado, tinha vergonha de falar de chantilly com elas porque pareceria bobinho demais pra ser levado a sério.

Sem muita solução, o tubão de chantilly ficou rolando no carro durante dias, caiu pelo chão e eu nem me lembrava mais disso: simplesmente esqueci que ele existia.

Uma tarde, estou num happy hour e, lá pelas tantas, tô de pegação com uma conhecida, soltinha na vida. A coisa foi esquentando, a gente ia se comer ali mesmo, decidimos rumar para o meu apê.

No carro, ela terminou achando o tubão de creme, ficou perguntando pra que era aquilo e eu ruborizado inventando receitas de sobremesa para disfarçar.

Subimos, foi uma pegação quente como há tempos não rolava, a mulher sabia provocar um cara como poucas. Pelados rolando pela sala, eu já queria começar a foder, quando ela se levantou, fazendo sinal de peraí.

Revirou na sua bolsa e tirou de lá o tubão de chantilly achado no carro. Olhando pra mim envergonhada, disse: “Ai, não leva a mal não, você vai me achar meio tarada, mas… Eu sempre quis trepar com alguém usando chantilly! Topa?”

Mas eu estou enrolando com isso do creme chantilly, creio que fui me desviando do tema.

Essa história mexe comigo, é um pouco difícil relembrar da garota punk e da Europa do Leste - e não é por causa dos croquetes de merda, talvez seja porque eu a amava, ou amo, sei lá…

Bem, voltemos à história.

Depois que ela se foi, os anos passaram, a vida seguiu, eu me tornei um “dito cidadão respeitável que ganha quatro mil cruzeiros por mês” - alerta de plágio: quem conhece Raul Seixas coisas vai entender o contexto.

Agora eu era um consultor internacional, pegava uns trabalhos pontuais de duas semanas bem interessantes e, nessa onda, fui dar na EUROPA DO LESTE.

Não se pode generalizar, cada lugar tem sua cultura, sua história e seu povo, especificidades que lhe conferem suas características próprias e peculiares que conformam sua identidade - como croquetes, por exemplo.

Só que, no geral (e aí eu generalizo mesmo), os países europeus que saíram do bloco comunista, sem exceção, cheiravam a mofo e decadência, ou seja, eu estava mais feliz que pinto no lixo por lá tomando meu café na calçada e olhando o povo.

Daí senta na minha mesa essa mulher um pouco exótica, de grandes olhos verdes e cabelos castanhos cor-de mel cacheados, toda grandona, peitão e bundão, usando traje de calça e jaqueta bem cortados na cor vermelha, com grandes pulseiras e colares dourados.

Eu achei que era algum esquema, ou golpe, por que isso não faltava por lá, mas a mulher falou em bom e alto português: “O viadinho, não tá me reconhecendo não, pôrra!”

Puta que pariu, caralho, cacete, e mais uns tantos palavrões.

Era ela, minha amante punk careca, já toda uma mulher feita depois de tantos anos!

Mulher não, mulherão, em todos os sentidos. Nos abraçamos como se fosse ontem e ficamos colocando os assuntos em dia, rindo do nosso passado e rindo mais ainda daquilo em que a vida tinha nos transformado.

Usando o inglês porque continuava odiando nosso idioma, me contou que agora trabalhava em projetos de empoderamento femenino e combate à violência de gênero, bem a cara dela.

Estava ali uns dias, como eu, prestando consultoria e curtindo aquele cenário brutalista do eixo comunista em derrocada. É, a gente até muda na superfície, mas a essência continua e sobressai em tudo que a gente pensa, ou faz - ou deixa de fazer.

Do café partimos para o bar, bebemos absinto, uma bebida exótica e ruim pra cacete, mas que pega feito fogo e deixa você muito, mas muito, muito mesmo: a fim de trepar.

Não teve jeito, nem podia ser de outra maneira, saímos do bar e fomos pro hotel dela, onde sem sapatos, escutando uns rocks antigos e pulando sobre a cama, começamos a nos pegar.

Estávamos fodendo com força, fúria e avidez, eu queria comer todos os muitos pedacinhos dela, a mulher de quatro e sua cara enfiada nos lençóis sobre o colchão, os braços retidos nas suas costas, enquanto enrabava seu furico delicioso e ela me xingava de tudo quanto é nome e rindo ao falar que estava com saudades disso.

Alguém esmurrou a porta do quarto, gritando num idioma local que eu desconhecia.

Ela respondeu gritando no mesmo idioma, eu sei lá o quê.

Quando perguntei o que era, ela respondeu: “O cara estava reclamando que nós “está” fazendo barulho. Mandei ele se foder e ir estudar porque a concordância verbal em iugoslavo estava errada…”

Certas coisas não mudam mesmo, mas isso já é uma outra história!

Nota: Confira os capìtulos ilustrados da Saga Zóio em mrbayoux.wordpress.com

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Comentários

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Baita narrativa! Adorei, que mulher deliciosa essa

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Obrigado Moral! O conto mais votado dessa saga é Longe do Zóio mas Perto do Cuzín (02), dá um confere!

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Eu curto suas histórias pois se tornam divertida e tem uma pitada interessante e o melhor que sai da mesmíce da casa dos contos

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Que legal, a proposta era sair da mesmice e tentar coisas diferentes. Pena que a saga está chegando ao fim… Mas outras doideiras vem por aí!

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