Marmita - Parte 4

Um conto erótico de Márcia
Categoria: Heterossexual
Contém 3744 palavras
Data: 19/04/2023 09:34:25
Última revisão: 19/04/2023 18:01:04

Meu pai atendeu e vendo meu semblante feliz, ainda acenou para o Magal e sua irmã, quando ele já dava partida para sair. Curioso, enquanto eu me encaminhava para a cozinha, perguntou quem era:

- Hã, é… - Comecei a procurar por minha mãe e, por sorte, ela vinha em minha direção também, então respondi baixinho, quase inaudível: - É o Magal, pai…

(CONTINUANDO...)

Ele parou onde estava, ainda me olhando. Depois, olhou para minha mãe e voltou novamente a me encarar. Sua cara era nada boa:

- Acho que eu não entendi…

- É o Magal, pai.

- O Magal… Aquele Magal? - Insistiu: - O filho da puta que te violentou!?

- É…

Ele ficou vermelho, me encarando com ódio no olhar e bufando feito um touro prestes a dar um investida. Juro que pensei que fosse tomar uma surra de cinta naquela hora, mas minha mãe, sábia esposa daquele homem há tempos, foi até ele e colocou sua mão esquerda sobre seu peito, sempre olhando em seu rosto e ficando entre a gente. Quando ele a olhou, ela lhe deu um olhar que eu não entendi e o abraçou carinhosamente, ficando com ele ali em silêncio e fazendo com que se acalmasse. Eu sabia que era a culpada daquilo, mas agora tinha que colher os frutos amargos de meus erros. Ela cochichou algo em seu ouvido e ele se virou, saindo da cozinha, pisando duro. Ele não me olhou, mas vi em seus olhos algo que não era mais raiva, talvez decepção:

- Senta aí, Márcia. - Minha mãe pediu ao se virar em minha direção, somente após ver que meu pai havia sumido de nossas vistas: - A gente precisava conversar sério.

- Mãe…

- Vamos conversar, só conversar. - Ela insistiu.

Sentei-me e ela se sentou ao meu lado, olhando-me preocupada com o rumo que eu poderia estar dando à minha vida:

- O que está acontecendo? - Perguntou.

Expliquei toda a situação dele estar me cercando há dias e tentando contato até chegar nesse final de semana em que nos encontramos na sexta, sábado e domingo. Naturalmente escondi minhas intenções vingativas contra ele:

- Você nos disse que iria na casa da Aline na sexta e depois iriam ao cinema…

- Desculpa!

- Ontem, quando nos falou que iria sair novamente com sua turma, pensamos que seriam seus colegas, seus amigos.

- Eu sei. Desculpa de novo.

- Aí hoje quando eu te perguntei se estava de paquerinha com algum menino, você me negou e agora fala que estava com Magal, justo com Magal, Márcia!? - Ela aumentou a intensidade de sua fala e eu preferi não pedir outra desculpa, pois já estava ficando feio: - Você está de castigo até segunda ordem! Não sei o que está se passando na sua cabeça, mas você, de agora em diante, terá somente escola, casa e as atividades de costume que serão supervisionadas por mim. Suas saidinhas com seus colegas estão suspensas por tempo indeterminado.

- Mas mãe…

- Sem mais nem menos. Você mentiu para a gente. Mentiu, está entendendo o significado disso? - Interrompeu-me com uma estranha calma: - Mas se não tiver entendido o tamanho de seu erro, eu posso chamar seu pai para te explicar se preferir…

- Não, mãe, não precisa.

- Sobe e vai tomar seu banho. Hoje, você também está de castigo. Quando a janta estiver pronta, eu te chamo. Ah, e quero teu celular na minha mão: você também ficará sem ele.

- Mas e a escola? E as tarefas, trabalhos…

- Você o usará na minha presença quando precisar, mas fora isso, nada feito! Entendeu?

Eu havia entendido as palavras, talvez não compreendido exatamente o conteúdo, mas as palavras sim. Entreguei meu celular para ela e fui para meu banho. Depois fiquei em meu quarto até ser chamada. Devia ser por volta das oito da noite quando ouvi sua voz me chamando. Desci até a cozinha e meu pai estava se servindo nas panelas que estavam sobre o fogão da cozinha. Peguei meu prato e me posicionei atrás dele, esperando-o terminar. Quando ele se virou, encarou-me e ficamos os dois sem reação, apenas nos olhando. Ele não estava bravo, estava triste, realmente decepcionado e vi que meu erro havia sido maior do que eu pensava.

Após um tempo que não sei quantificar, ele se desviou de mim e foi se sentar na cadeira da cabeceira da mesa. Minha mãe, que até então observava tudo em silêncio, foi servi-lo de uma carne de panela com batatas que estava numa travessa sobre a mesa. Eu me servi e fui sentar do seu lado esquerdo, como sempre faço e minha mãe também me serviu. Depois ela também se serviu e se sentou do lado direito dele. Eu peguei uma jarra de suco que estava sobre a mesa e me servi, servindo-os timidamente em seguida. Havia um silêncio constrangedor, uma coisa que eu nunca havia sentido antes:

- Pai… - Falei e ele me olhou, mas sem falar ou esboçar reação alguma: - Desculpa?

Ele apenas balançou a cabeça afirmativamente, voltando sua atenção para o próprio prato. Entretanto, pouco depois não se aguentou e falou:

- A vida é sua, Márcia, eu não sou seu dono. Se você acha que ele é uma boa companhia para você, amém! - Disse e tomou um gole de suco que pareceu descer quadrado em sua garganta, tanto que pigarreou, para depois concluir: - Talvez eu seja o errado nessa história toda, sei lá. Essa juventude de hoje é meio esquisita…

- Você não está errado, Cente. - Disse minha mãe.

- É claro que não está! - Concordei, dando ênfase e continuei: - Eu sei que vocês querem o melhor para mim, mas eu simplesmente achei que não havia risco.

- Como não houve da primeira vez? - Ele retrucou, calmamente.

- Eu sei, pai, mas é que, sei lá, pareceu ser tão diferente… - Falei enquanto voltava meu olhar para o prato: - Ele parecia ser outro.

- Eu não conheço esse moleque, Márcia. Talvez ele até não seja ruim, mas bom, correto, ele também não é e isso ficou bastante claro para mim. Um homem de verdade teria se aproximado calmamente de você, talvez namorado um pouco antes de fazer o que fez. - Disse e colocou uma garfada na boca, pensando um pouco para completar: - Eu sei que você iria transar um dia, isso é óbvio, mas começar sua vida sexual da forma como começou…

Ele se calou, colocando o garfo no prato e olhou para a direção da minha mãe. Depois pediu licença e se levantou, dizendo que precisava ir ao banheiro. Minha mãe, aliás, nós duas, o acompanhamos com o olhar enquanto ele se afastava e ela não perdoou:

- Você não é tão inocente assim, Márcia. Esse moleque só está querendo você para você sabe o quê, não sabe? - Ela deu uma olhada em direção do banheiro e continuou: - Sexo, caramba! Esse moleque só tá querendo uma trepada fácil. Não acredito que você seja tão ingênua não consiga enxergar isso!

- Mãe, eu já pensei nisso, mas depois de conhecer ele um pouco melhor, sei lá… E a família, então? São evangélicos e super educados.

- Podem ser, mas não é porque os pais são assim que os filhos saíram a eles. Nem sempre filho de peixe, peixinho é. Nesse caso, ele parece ter me saído mais para um cobra sorrateira.

- Credo, mãe!...

- Não é “credo, mãe”, não, mocinha! Estou falando bem sério. Talvez se não tivesse acontecido o que aconteceu, poderíamos pensar diferente, mas a primeira impressão que tivemos dele foi a pior possível.

Meu pai saiu do banheiro com cara de quem acabara de lavar o rosto e veio se sentar em seu lugar novamente:

- Desculpem, a natureza me chamou. - Tentou disfarçar, sorrindo timidamente e recebeu um afago na mão de minha mãe que claramente não acreditou nele, aliás, nem eu: - O que você sente por esse rapaz?

- Sentir? Como assim? Sentir de gostar? - Perguntei.

- Uai, claro, eu preciso entender o que está acontecendo!

- Eu… Eu… - Pensava nas palavras, mas nada me ocorria e preferi ser sincera: - Não sinto nada. Talvez só um pouco de raiva ainda…

- E ainda assim está saindo com ele? - Ele insistiu.

- Não ficamos sozinhos em nenhum momento. Sempre tinha bastante gente ao redor. Então risco eu não corri.

- E por que está saindo com o cara que praticamente te estuprou? - Insistiu novamente.

- Ele estava insistindo, querendo conversar, querendo que eu o conhecesse e a sua família, então achei que não haveria mal algum.

Ele mastigava, encarando-me curioso. Depois dessa última resposta, se recostou em sua cadeira e olhou para minha mãe, prosseguindo:

- Qual é o nome dos pais dele mesmo?

- Se eu entendi direito, é Jacó e Isabel…

- Será que é o Jacó da quitanda na rua de cima da farmácia do Joaquim filho da Maria Salgadeira? - Perguntou para minha mãe, que deu de ombros: - Uai, se for eu conheço demais!

- Parece que ele tem um fusca vermelho engraçadinho.

- Com pintinha preta, parecendo uma melancia? - Ele me perguntou, sorrindo.

- É esse mesmo! - Respondi rindo da lembrança do carrinho.

- É bom saber… - Ele disse e voltou a comer, olhando para a frente com um semblante perturbadoramente calmo.

- Pai, o que o senhor vai fazer?

- Eu? Com o moleque? Nada não!

- Pai, a mãe…

- Te deu um castigo. - Interrompeu-me e continuou: - Já estou sabendo. Se ela te deu um castigo, ela irá te tirar quando achar que você merece. Assunto encerrado.

- Poxa…

- Talvez assim você aprenda a não mentir mais para as únicas pessoas que te amam incondicionalmente e de verdade nessa vida. - Ele retrucou.

- Eu sei, gente, desculpa, de coração… - Falei para os dois que sorriram para mim.

- É claro que está desculpada. - Ele falou, rindo: - Mas ainda está de castigo.

Minha mãe começou a rir também e eu segui o fluxo, rindo também de mim, a piada da vez. Depois que terminamos o jantar, me encarreguei da louça, ganhando um abraço da minha mãe e eles foram para a sala de estar. Quando terminei, passando pela sala em direção ao meu quarto, inadvertidamente ouvi meu pai falando para minha mãe que iria falar com o pai do Magal:

- Pai, isso não é necessário. - Falei de surpresa.

- Deu para ficar ouvindo conversa dos outros escondida agora, Márcia? - Perguntou minha mãe, brava.

- Ela só estava indo para o quarto, Ana. - Disse meu pai para ela e se voltou para mim: - Sim, eu vou falar com o Jacó para que ele afaste o filho dele de você. E será a primeira e última vez que tentarei isso por bem. Se ele insistir, vou tomar providências contra ele.

- Pai, o que é isso? Não precisa…

- Chega! - Ele me interrompeu e sentenciou: - Já me decidi e vou fazer isso.

Inconformada, mas sem ter o que fazer, fui para meu quarto. Pouco tempo depois, minha mãe passou para o dela, aparentemente indo guardar suas roupas passadas há pouco. Fui até ela choramingar:

- Mãe…

- Seu pai já falou e está falado, Márcia. Deixe eles se resolverem.

Voltei para o meu quarto e chorei de vergonha por saber que minha história seria contada para outras pessoas que não precisavam saber o que eu havia passado.

No dia seguinte, tudo aparentava ser mais um dia normal, como qualquer outro, tomamos nosso café como sempre fazemos, brincamos, ainda que timidamente um com o outro, mas já havia alguma intimidade sendo reconstruída e saímos. Ele me deixou em minha escola e seguiu para o seu trabalho, mas não antes de me avisar:

- Você não vai embora com suas amigas. Na hora do almoço, passo aqui para te pegar.

- Mas não precisa, pai.

- Precisa sim. Enquanto você estiver de castigo, é liberdade zero.

- Credo, gente…

Ele riu de meu comentário e foi embora. Meu dia transcorreu sem qualquer novidade e na hora do almoço, lá estava meu pai, me esperando. Voltamos em silêncio para casa e, almoçando, ele nos avisou:

- Conversei com o Jacó hoje. - Disse e eu arregalei meus olhos, engasgando-me com um pedaço de frango que foi retirado de mim com fortes tapas nas costas.

- Ah, pai!

- Conversei mesmo! Ele inclusive chamou a esposa para participar da conversa e, por uma feliz ou infeliz coincidência, o filho estava chegando na quitanda sei lá de onde… - Disse e sorriu satisfeito: - Cês tinham que ver como ele ficou branco quando o Jacó disse que eu era teu pai.

- Não acredito, não acredito, não acredito…

- Ah, mas pode acreditar! Contei para eles e na frente dele, tudo o que você já havia nos contado. Os pais dele lhe deram uma prensa na hora e ele confessou tudo. A mãe dele tirou o chinelo na mesma hora e lhe deu uma surra sem piedade…

- Sério, Cente? - Minha mãe o interrompeu, com a mão na boca.

- Foi! Depois o pai dele o pegou pela orelha e o colocou sentado para ouvir todo o resto da história.

- Que resto? - Perguntei, incrédula.

- Que eu não queria vê-lo se aproximar de você ou eu seria obrigado a tomar providência contra ele, denunciando para a polícia e o diabo a quatro.

- Ai, gente, que vergonha. - Falei.

- Eles querem vir aqui hoje à tarde, no comecinho da noite, para se desculpar com você. Eu falei que iria perguntar para vocês primeiro se concordam e ligaria avisando. E aí?

- Eu não preciso de desculpa alguma. Só quero que ele deixe a Márcia em paz.

- Eu também não quero nada disso!

- Eles não querem apenas pedir desculpas para que você se sinta bem. Acho que eles querem fazer isso pela vergonha que o filho os fez passar.

- Ah, pai, eu não sei…

- Se você concordar, me avisa para eu ligar para eles. - Ele disse e se levantou: - Vou pro trabalho e volto no final da tarde. Tem que comprar alguma coisa no supermercado, Ana?

- Não, acho que não. - Disse minha mãe, já se corrigindo: - Ah, traz pão. E manteiga. E leite. E farinha de trigo. E…

- Ah, para, Ana! Ainda bem que não precisava, hein? - Ele começou a rir: - Faz uma lista e me manda no celular depois.

Ela riu também e se despediram. Ele veio depois me dar um beijo e se foi. Perdi o apetite, mas tive que comer o resto da comida no meu prato, porque desperdício era algo intolerável na minha casa:

- Por que você já não resolve isso de uma vez, Márcia? Eles vem, pedem desculpas, vão embora e acabou!

- Ah, mãe, com que cara eu vou receber eles aqui? Ouvir desculpas, falar que está tudo bem, fazer sala... Ah, não dá, né!?

- Cê que sabe. Só acho que seria melhor você resolver isso e tocar sua vida, longe desse moleque. Se um dia ele virar um homem, quem sabe, mas hoje, nem pensar.

- A senhora fica comigo?

- É óbvio, né, Márcia! Não vou sair do seu lado.

- Então, liga pro pai e fala que eu concordo. Que bosta, viu!

- Márcia!

- Desculpa, caramba…

Voltei para o meu quarto e algum tempo depois ela veio me avisar que havia ligado para o meu pai e ele havia marcado com eles para as dezenove horas. À tarde tomei um banho e me vesti bem para receber uma visita, sem firulas, naturalmente. Minha mãe fez o mesmo e logo meu pai chegou, indo também se arrumar. No horário combinado, eles chegaram no mesmo fusquinha vermelho. Se não fosse trágico, seria até hilário vê-los chegando, os pais saindo de dentro daquele carrinho vestidos com toda pompa e circunstância, terno e vestido social longo. O Magal, da mesma forma, numa roupa social.

Meu pai os recebeu e os conduziu para a mesa da cozinha. Minha mãe foi logo depois me chamar e com ela, de braços dados, fui até a cozinha. Meu pai estava numa ponta da mesa e nos sentamos à sua direita. Seu Jacó estava na outra ponta, com sua esposa e o Magal do outro lado:

- Filha, seu pai nos procurou e nos contou da canalhice que nosso filho cometeu. - Disse e olhou com sangue nos olhos para o Magal, virando-se logo após para mim: - Eu e minha esposa gostaríamos de lhe pedir perdão, em nome de Jesus, por tudo o que ele te fez.

A mãe dele estava tensa, nervosa e com cara de que havia chorado o dia todo. Só então olhei para o Magal de soslaio e notei que estava com as orelhas inchadas e com algumas marcas perto do pescoço, parecendo ser de cintadas. Seu pai lhe deu um tapa e o olhou como se fosse esfolá-lo ali mesmo em nossa frente. Então, ele se levantou e disse:

- Márcia, eu queria pedir seu perdão pelo que fiz. Sei que cometi um ato injustificável, um pecado contra as leis de Deus, mas aqui para você, aliás, para vocês, eu só posso pedir perdão.

Eu o olhei triste e sem saber o que falar. Só depois de um tempo consegui dizer duas palavrinhas mais que insuficientes para resolver todo aquele drama:

- Tudo bem…

- Filha, independente do perdão que ele e nós te pedimos, você quer denunciá-lo na polícia? Se quiser, nós, eu e Isabel, ficaremos do seu lado. - Disse seu Jacó, fazendo o Magal arregalar os olhos para ele.

- Não, não… Acho que não.

Como toda a pressão estava sobre mim, meu pai, notando meu total desconforto, tomou a palavra:

- Jacó, como eu falei para você e sua esposa, quero e exijo que seu filho fique longe da minha filha, caso contrário, eu tomarei providências contra ele.

- É justo, Vicente, muito justo. - Ele concordou e prosseguiu: - Meu filho, disse estar arrependido e não tenho porque duvidar dele. Inclusive, ele propôs, se vocês concordarem, de namorar, noivar e casar com sua filha para corrigir esse pecado que cometeu…

- Namorar? Casar!? - Falei, surpresa, assombrada com a novidade.

- Tudo dentro do maior respeito, filha. - Disse pela primeira vez, a dona Isabel: - Namorariam dentro de nossa e da sua casa, e só casariam quando Deus preparasse tudo.

- Pai!? - Perguntei e ele balançou negativamente a cabeça: - Eu não quero casar, pelo menos, não agora. Vou estudar, trabalhar e… e… Não, de jeito nenhum!

- Tudo bem então, querida, respeitamos sua vontade. - Disse seu pai novamente: - E, por favor, perdoe esse ato hediondo do nosso filho. O pecado ele irá se acertar com Deus a partir de agora com muito mais firmeza.

Eu não entendi o que ele quis dizer e olhei para minha mãe que também parecia não ter entendido. Dona Isabel explicou:

- Ele perdeu a liberdade em casa. Agora será escola, trabalho, porque ele vai começar a trabalhar com o pai a partir de amanhã, e igreja. Todo santo dia, ele irá congregar até entender o mal que cometeu até o dia em que Jesus o chamar para o batismo.

Meu constrangimento já havia ultrapassado todos os limites aceitáveis e eu entendi que não havia mais nada para conversar. Pedi licença para me retirar para meu quarto e eles todos se levantaram. Dona Isabel veio me dar um abraço e chorou igual uma criança no meu ombro, tendo que ser amparada pelo seu marido. Depois ele próprio veio e me deu um abraço, me abençoando de seu jeito. Por fim, Magal se aproximou e tentou pegar em minha mão, mas eu recusei e dei um passo para trás, mais que suficiente para ele entender que eu não queria contato. Acabamos acompanhando-os até a porta e ainda ouvi seu Jacó explicar para meu pai:

- Vamos daqui para a igreja. Já conversei com meu pastor sobre o que ele fez, sem citar o nome de sua filha, e ele já quer conversar conosco sobre os passos a serem dados para a salvação para o nosso filho.

Novamente, eles entraram naquele fusquinha e saíram após se despedirem. Passada toda aquela situação vexatória, por mais que eu não a quisesse, me fez bem. Realmente eu estava me sentindo mais leve e comecei a sorrir sozinha para o nada. Meu pai notou:

- Que cara é essa, Márcia?

- Pai, todo dia na igreja? O Magal não tem perfil de ser muito religioso.

- Mas acho que agora ele não terá escolha.

Acabamos rindo e fui abraçar minha mãe. Meu pai se sentou no sofá e eu me permiti pular em seu colo, mesmo sem saber se seria benvinda, pois estava grata pela forma como ele agiu. Ele não só me recebeu bem como me deu um abraço deliciosamente apertado, ficando comigo ali em seu colo por não sei quanto tempo, em silêncio. Depois de um tempo, o agradeci novamente, lhe dei um beijo no rosto e fui para o meu quarto. Vi que ele ainda enxugou uma lágrima, mas acho que agora ele estava feliz, pois minha mãe era só sorrisos do seu lado.

Magal sumiu por meses, desaparecido literalmente. Um dia, encontrei com o Marcelo enquanto andava com uma amiga até uma sorveteria, prêmio que havia conquistado por meu bom comportamento em casa e na escola. Ele nos acompanhou e, enquanto minha amiga se servia, me disse que o Magal havia sumido, inclusive, tinha abandonado a escola para poder trabalhar com seu pai. Disse que era melhor assim, pois cada um cuidaria de sua vida:

- Aquele seu plano, então… - Perguntou, se insinuando.

- Abortado, Marcelo. Vida que segue.

- Então, a gente, assim… - Disse e piscou um olho, após dar uma estalada nos lábios.

Eu ri de sua cara besta e expliquei:

- Por esse motivo, não mais, mas quem sabe um dia desses a gente não se cruza, né?

Ele se despediu e saiu, rindo como um bobo.

O final do ano chegou e junto dele as nossas merecidas férias escolares. Aproveitei para relaxar, descansar mesmo, pois no ano que viria, eu teria que me concentrar ao máximo nos estudos para poder fazer um bom vestibular.

Tiramos uma semana de férias no litoral norte de São Paulo. Minha família foi acompanhada de um casal bem maduro. Ele, amigo de infância do meu pai, coincidentemente se chamava Vicente e ela, Luíza. Eram a personificação de um casal brincalhão, ótimas companhias. Alugamos uma bela casa, próxima à praia, com três suítes: meus pais ficaram em uma, o outro casal noutra e eu na última, mas minha mãe cortou minhas asas:

- Nem vá se animando muito. É quase certo que a filha deles virá passar uns dias com a gente.

- Uai, e onde é que ela tá?

- Trabalhando. Ela é advogada num grande escritório de São Paulo se não me engano, mas disse que tentaria tirar alguns dias de descanso para ficar com os pais.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 193Seguidores: 532Seguindo: 20Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Esse pai da Márcia é um bundão, esse Papinho de que não é dono da filha menor de idade é ridículo.

Hoje em dia são os filhos que mandam nos pais.

Parabéns Mark a história está criando corpo.

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Não gostei do caminho tomado pelo autor, mas reconheço um talento quando me deparo com um. A história tem muitos méritos, mas estupro é estupro, e o agressor merece pagar com o rigor da lei, privação da liberdade, e ficar marcado como tal, estuprador e criminoso agressor de mulheres.

A Márcia é uma grande e cativante personagem, adorei ela, merece outras histórias.

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Os pais dessa garota são surreais de tão bons, são tolerantes e mente aberta, porém sem perder o respeito, sabem da liberdade pra garota aprender cm a vida e cm os erros, porém sempre mantendo a vigilância e a proteção, se mais pais fossem assim hj em dia talvez tivéssemos uma sociedade melhor. Aguardo o próximo capítulo!!

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Embora a família do rapaz tenha agido de maneira digna, não gosto da resolução privada do crime de estupro. Eu sei que muitas vítimas preferem não denunciar, que nosso sistema legal não está preparado para agir com a delicadeza que as vítimas precisam, entretanto, acredito que as mudanças só vão acontecer quando a denúncia for a regra e não a excessão. No mais, como sempre, a história é ótima. Parabéns e obrigado. Três estrelas, obviamente!

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se todos os pais fossem metade do que foram os pais desse menino, estaríamos num mundo melhor, infelizmente a molecada confunde liberdade com libertinagem e vemos vários absurdos no nosso dia a dia.

Muito legal Mark você abordar esse tema e mostrando o que deveríamos fazer sempre, fazer o certo e pronto.

Cara parabéns

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Muita história pra rolar né amigão nota mil

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O conto está ótimo,mas porque Magal?o país podem até serem evangélicos,mas o filho cafajeste,sem moral nenhuma,pois além de ter estrupado mostrou ao amigos,cara sem moral e agora sumiu.vou esperar o próximo

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É também tive a sensação que uma história vai ligar com a outra. Também prefiro a outra. As outras. Mas ainda é muito agradável ler essa aqui também.

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Já ví que Annemarie vai entrar na história! Vou ser sincero como sempre sou, essa história ainda não me ganhou, mas continuo lendo, acredito que o Mark seja um ótimo escritor, então vou continuar lendo! Mas por enquanto não vou nem dar estrelas!

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