Em Terra de Cego Quem Tem Zóio é Rei (10)

Um conto erótico de Bayoux
Categoria: Heterossexual
Contém 1898 palavras
Data: 26/04/2023 13:42:05

Às vezes a gente encana com uma coisa e é difícil tirar da cabeça, como quando eu cismei com o creme chantilly.

Não, eu não estou falando de sobremesa, mas sim do prato principal: Não consegui descansar até comer uma garota espalhando creme no seu corpo para depois lamber tudinho.

Confesso que não sei bem a diferença entre fetiche ou fantasia.

Fetiche tem que ser hardcore? Fantasia tem que ser algo surreal? Ou fetiche é tipo uma tara que te satisfaz e fantasia é uma coisa que você ainda não fez?

Sei lá, se alguém souber, que me esclareça. Mas, independentemente do nome tecnicamente correto, tem essas coisas com as quais a gente empaca e o planeta parece que não vai mais girar se você não fizer.

Pois bem, eu já comi loura, ruiva, morena, brancas, negras, orientais e índias, já fiz tanto amor carinhoso como tive fodas selvagens, fiz e levei fio terra, trepei com duas e com três na mesma cama, dividi mulheres com outros caras em paralelo e ao mesmo tempo, já fodi em privado e em público…

Ufa, a lista é grande e não quero dar a impressão de estar me gabando. Só ressalto que depois dos quarenta e cinco eu estava À PROCURA DE ALGO NOVO.

O fato é que na meia idade, sendo heterossexual, divorciado pela segunda vez e depois da noite com o creme chantilly eu achei que não poderia inventar mais nada.

Essa constatação trouxe um certo desespero, parecia que minha vida sexual seria uma enorme repetição do que eu já fizera, até o seu último dia, até eu brochar de vez.

O que vem depois de anos dedicados à libidinagem? Yoga? Meditação transcendental? Academia e anabolizantes? Escrever contos eróticos? A Presidência da República? Pode ser, mas para mim não servia.

Eu queria muito, eu queria mais, eu queria tudo que minha heterossexualidade pudesse oferecer.

Os gays que me perdoem, não é preconceito, todos sabemos bem que isso de orientação sexual não se escolhe, somente se aceita.

A galera do porão, com seus apetrechos, cordas, roupas de látex, pirocas e plástico também vai me conceder a devida vênia, isso de sadô-masô não é para qualquer um - e eles hão de concordar.

Não vou nem mencionar a turma da escatologia, se bem que uma ou outra vez mijei numas bucetinhas e foi legal, mas foi quase um acidente de percurso - e não um objetivo que me motivasse.

Sim, perdido neste tipo de pensamentos, quase cometi uma insanidade: cheguei mesmo a marcar consulta com psiquiatra! Me arrependi e faltei à consulta - em vez disso fui pro bar beber minhas mágoas.

Diz-se por aí que, “quando o garçom começa a dar palpite na sua vida, está na hora de mudar de bar” - pois bem, o meu caso era tão sério que os garçons é estavam mudando de bar pra fugir de mim.

Estava eu meio bebaço durante a madrugada num bar e encontrei uma branquela, colega de um trabalho daqueles que tive, a quem não via há tempos.

Agora ela também estava divorciada e sem muita perspectiva amorosa, assim que ficamos só de papinho até o bar fechar. E fomos para outro bar, que também fechou. E fomos para um posto comprar umas cervejas, que também fechou.

Terminamos em frente ao supermercado do seu bairro, que era um 24 horas, tomando cerveja no carro.

Foi uma conversa diferente, com alguém que não se parecia em nada comigo, ela era fina, elegante e bem sucedida. Talvez por isso, tenha me plantado uma ideia que eu nunca considerara seriamente: ter filhos de verdade.

É bem certo, eu já havia pensado nisso, mas nunca levei a questão à sério, como naquela vez em Amsterdã.

De todas as mulheres que já conheci, aquela talvez tenha sido a mais foda, em todas as ascepções da palavra. Nos conhecemos durante a faculdade, quando ainda éramos punks e ela tinha extrema dificuldade de se adaptar à vida nos trópicos.

Depois de anos sem contato, nos reencontramos por acaso na Europa do Leste, quando curtimos uma noite memorável lembrando os tempos da juventude.

Desta vez, com redes sociais e aplicativos de mensagem, sempre sabíamos onde o outro estava, o que fazia e a quem fodia. Mas o tempo e a distância são inexoráveis e, aos poucos, voltamos a distanciar-nos, com as mensagens ficando cada vez mais escassas.

Até o dia em que fui fazer uns trabalhos na Guiné, com escalas intermináveis em vários lugares. O roteiro de viagem devia ter mais de duas páginas, comigo fazendo pinga-pinga em três continentes, devido à política da companhia de meus clientes de buscar os voos mais baratos.

Merda, no percurso de volta eu passaria dez horas durante a noite em AMSTERDÃ e teria que ficar feito um zumbi dormindo num banco do aeroporto de madrugada.

Tá certo, minha amiga morava na Suíça e eu quis tirar onda dizendo que eu viajaria para a África, então peguei o gancho de reclamar do roteiro para tocar no assunto.

Na mesma hora, para minha surpresa, ela respondeu: “Aí hein, se fudeu, vai ter que ir para a África! De repente, como recompensa, eu vou te ver lá em Amsterdã e a gente toma um drink durante a sua escala na volta.”

Era uma ideia meio louca, entre verificação de passaportes e alfândega, mais o tempo do embarque na manhã seguinte, eu teria somente umas quatro horas livre, o que mal dava para ir e voltar do aeroporto à cidade.

Respondi: “Legal, mas só se for no bar do aeroporto, porque o tempo não alcança para sair e voltar.”

Daí eu não soube mais da mulher, fui para a Guiné, peguei uma diarréia nível dez e passei a maior parte do tempo lá só cagando.

Na volta, eu estava felizão de poder comer bolacha de água e sal sem ter que correr na velocidade dos cem metros rasos para o vaso sanitário. E eis que chegou a pior parte da viagem, uma noite inteira vagando por um aeroporto praticamente vazio.

Só que, já no desembarque, me surpreendi com minha amiga lá, recém chegada da Suíça, me esperando. “Caralho meu, você está parecendo subnutrido. Não tinha comida lá onde você foi?” - ela disse com um sorriso sacana no rosto.

Eu fiquei com cara de babaca, não acreditava mesmo que ela havia sido capaz de viajar só para passar uma noite bebendo comigo num terminal de aeroporto. Por outro lado, como eu já disse, ela era muito foda.

E aí veio a surpresa número dois, com a mulher me avisando: “Olha, eu acertei tudo, cheguei mais cedo aqui e mudei sua passagem, a gente vai ficar esse fim de semana na cidade, tem um hotel que eu adoro, já fiz reserva e tudo, mas antes vamos jantar e passar num café daqueles que vendem maconha. Eu não aceito “niet” como resposta!”

Confesso que, se você me perguntar como é Amsterdã, vou ter que mentir, ou dizer que não sei. Depois de jantarmos e comprar um paco de erva num café, eu não saí mais do hotel.

Passei todo o fim de semana trepando, fumando djamba e sendo cevado pelo serviço de quarto nos intervalos, com minha amiga me dando aquele trato especial para tirar o atraso de anos desde nosso último encontro na Europa do Leste.

Mais uma vez, quando alguém ligava para reclamar que ela estava gritando muito durante o sexo, ela mandava a pessoa se foder, mas agora falando em puro e bom holandês.

Depois de quase morrer entre o sexo e a diarréia africana, ficamos na cama conversando sobre a vida e o assunto foi tomando um rumo estranho, com ela contando que seu único arrependimento na vida foi não ter gerado filhos.

Eu rebatia dizendo que, do jeito que nós éramos doidos, seria uma contribuição à humanidade não ter uma prole criada por nós espalhada pelo mundo. Bem, minha amiga não achou nada legal e, depois daquele fim de semana, a gente nunca mais se viu.

Daí, agora era eu que estava totalmente entediado com minha vida sexual aos quarenta e cinco anos de idade, achando que já havia provado de tudo (e todas) que possivelmente se enquadrassem em meu perfil de heterossexual assanhado.

Numa busca introspectiva filosófica cogitei várias coisas diferentes, tais como relações homoafetivas, sadismo, masoquismo e até mesmo escatologia, mas nada disso me excitava - não que estas coisas sejam reprováveis, não, nada disso, cada um tem lá seus gostos e elas são válidas se trazem prazer e felicidade.

Mas o fato é que tais práticas simplesmente não eram para mim.

Até que numa madrugada regada a birita, uma ex-colega de trabalho, a quem eu nunca tinha comido, meteu na minha cabeça que O PRÓXIMO PASSO natural para um homem nas minhas condições era muito claro: ser pai!

Ora, como eu não havia pensado nisso antes?

Depois de tantos anos de métodos contraceptivos para evitar a paternidade, era até desafiador pensar em ter filhos. O melhor de tudo é que nem teria que fazer grande esforço, bastava fazer o que eu sempre fiz, foder com vontade alguém- e o resultado poderia vir naturalmente!

Bom, restava um pequeno detalhe para a realização deste plano: quem seria a felizarda mãe dos meus filhos?

Sim, o Tico e a Teca, o casalzinho de crias que eu teria, precisavam de uma mãe legal, não qualquer doida achada ao acaso, como as garotas que topavam trepar comigo.

Repassei mentalmente a lista de todas as mulheres com quem já tinha me relacionado.

Descartei aquelas com quem eu já tinha casado e me divorciado.

Risquei as de quem eu não sabia o paradeiro, e também aquelas que já haviam se casado, ou tido seus próprios filhos.

Eliminei as que eram desequilibradas emocionalmente, o que foi difícil, pois ali estavam algumas das minhas melhores lembranças.

Não sobrou nenhuma candidata.

Ora , eu teria que buscar novas candidatas. Saí e fui para o bar buscar a mãe dos meus futuros filhos. Era uma noite devagar, de meio de semana - e a única mulher que encontrei foi justamente a ex-colega de trabalho branquela que tinha sugerido minha nova empreitada.

Ficamos de papo novamente, eu contando para ela as dificuldades em avançar com a proposta de me tornar o pai do ano e ela rindo da minha cara, dizendo que isso era mais fácil do que parecia.

“Eu sou divorciada, ainda estou em idade fértil, tenho emprego, sou saudável, limpinha, tenho todos os dentes e também estou procurando ter filhos. O que você acha?” - ela disse.

Caralho, devemos ter passado uns dois meses fodendo sem parar em todas as posições possíveis e imaginárias, na tentativa de engravidarmos. Foi tesudo, divertido e desafiador!

Nunca havia pensado que tentar ter filhos pudesse ser um ingrediente tão especial na trepada - era como uma missão, só que prazerosa!

Finalmente, chegou aquele dia em que minha parceira anunciou que havíamos conseguido.

Sim, eu seria pai, a Teca agora seria de verdade, já era um fato!

Comemoramos muito, fiz questão de acompanhar todos os altos e baixos daquela gestação, os exames, as mudanças de humor, vômitos matinais, a criança chutando e a barriga crescendo, uma verdadeira aventura inédita para mim.

Fui muito feliz até que, naquela manhã fria de inverno, a criança nasceu!

Era uma menininha linda, saudável e negrinha como uma princesa africana…

Caralho, a filha não era minha!

Nota: Confira os capìtulos ilustrados da Saga Zóio em mrbayoux.wordpress.com

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Comentários

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Kkkkk se fedeu legal crente que ia ser pai e a mina realmente queria ser mãe independente de quem seja kkkk

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Não tá fácil pra ninguém, nem pra mim, kkk

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Ai fudeu... levou chifre de ficante kkk

Na boa, a essa altura do campeonato, so uma coisa me interessa, a irmã do atentado kkkk

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Man, eu até melhorei o final do próximo - e último - só por conta dos seus comentários, kkkk

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