"Claire de Lune" - Capítulo 42 - Nas altas rodas

Um conto erótico de Annemarye (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 4880 palavras
Data: 22/03/2023 16:47:07
Última revisão: 22/03/2023 17:31:49

Os meninos foram na frente e se deixaram fotografar, fazendo poses próprias de suas idades. Mesmo naquele ambiente formal, eles souberam se divertir minimamente. Depois Duda e Felipe se adiantaram e foram igualmente fotografados. Quando tentei seguir, uma mão me interrompeu, e uma moça pediu que eu aguardasse o fotógrafo terminar com eles primeiro. Na sequência, os segui e próxima a entrada, fui fotografada como nunca havia sido antes. Entrei, enfim, suspirando aliviada e, graças a um ar condicionado, não suei meu nervosismo todo ali.

Aliás, entrei em um saguão que parecia saído dos filmes de princesa da Disney. Iluminado e com uma riqueza de detalhes que me deixaram boquiaberta. Recompus-me rapidamente e a tempo de ver uma moça se aproximando de mim com um gravador:

- Querida, sou Rita Ramis, colunista do Jornal Primeira Hora. Será que eu poderia fazer algumas perguntas para a mais bela dama desta noite?

Antes que eu pudesse responder alguma coisa, Duda me alcançou e, pedindo licença, disse que falaríamos mais tarde, mas que, naquele momento, ela iria levar sua cunhada para encontrar o irmão:

- Cunhada, Duda? Aurélio? - Ela insistiu.

- Não, Rita, Marcos.

- Ahhhhh… - Disse enquanto voltamos a seguir em direção a um elevador, mas não sem antes ouvir: - Cara, que furo! Vou dar uma exclusiva hoje.

Capítulo 42 - Nas altas rodas - Primeira parte.

Chegamos próximos à porta do elevador e meu nervosismo estava estampado em meu rosto. Entramos e ele começou sua subida, rumo à cobertura. Sim, o meu nervosismo subia rápido, enquanto o elevador ia tranquilamente:

- Calma, Annemarye! Até parece que nunca esteve num evento desses? - Falou a Duda e eu balancei negativamente a cabeça: - Cê tá de brincadeira, né?

- Poxa, eu pensei que fosse só um jantar chique. O que está acontecendo aqui, Duda? - Perguntei, nervosa e tremendo.

Acho que só então ela se deu conta do meu nervosismo e colocou sua mão sobre a minha, dizendo em seguida:

- É aniversário de um grande amigo do papai, um banqueiro suíço casado com uma brasileira. Daí ele decidiu fazer uma recepção para um pequeno grupo e convidou toda a nossa família.

- Ai, meu Deus…

- Relaxa, menina, fica calma! Vai ter muita gente rica, esnobe, chata, a nata do poder vai estar aqui hoje, políticos, banqueiros, empresários, mas também vai ter gente legal, amigos nossos mesmo. Basta ficar do lado do Marcos que nada vai te acontecer, e aproveite a noite. Qualquer coisa, me procura que te faço companhia também.

- Aiiii, Duda, já tô querendo ir embora!

- Para!

O elevador chegou em seu destino nesse momento e descemos todos num novo saguão que dava acesso a uma escadaria que, por sua vez, levava a um andar inferior, onde várias pessoas já se reuniam:

- Pequeno grupo, Duda!? - Perguntei ao notar, pelo menos, umas duzentas, talvez trezentas pessoas ali.

Ela só me sorriu e fez um meneio de cabeça como que me dizendo “conforme-se”. Seus filhos foram descendo a escadaria como se já conhecessem o local e provavelmente conheciam mesmo. Duda me deu dois tapinhas na mão e começou a descer ao lado do Felipe. Eu cheguei bem ao cume da escadaria, ainda ao lado do guarda-corpo e dei uma nova boa olhada para baixo, tentando encontrar algum rosto conhecido além do deles, mas nada. A única coisa que notei é que várias pessoas começaram a me encarar, curiosos com a caipira desconhecida que invadia aquele ambiente cheio de tubarões, raposas, lobos e sabe-se lá quais outros animais.

Apesar da imensa vontade de dar meia volta e sair dali correndo a “la Cinderella”, fiz-me de forte e comecei a descer a escada, sob os olhares curiosos de vários dos presentes. Assim que cheguei ao salão, um loiro alto e forte veio em minha direção com duas taças de champanhe em mãos:

- Bebe comigo e serei o homem mais feliz do mundo.

- Ah, obrigada, mas eu estou acompanhada. Só não sei ainda onde ele está… - Respondi, encabulada.

- Estou bem aqui, princesa. Sou Jonas, seu criado e humilde admirador. - Ele insistiu.

Uma voz conhecida, nesse momento soou, me arrepiando toda:

- Infelizmente para você, Jonas, ela está acompanhada mesmo. - Marcos disse de forma firme e me voltei em sua direção para vê-lo me encarando com um imenso sorriso no rosto: - Hoje, você terá que procurar outra companhia, a não ser que queira beber comigo também.

O tal Jonas o olhou surpreso e depois a mim, que apenas fiz um meneio de cabeça e balbuciei um tímido “meu namorado”, confirmando o que ele havia falado. Ele sorriu então, entregou-nos as duas taças que trazia e ainda brincou com o Marcos:

- Homem de sorte, meu amigo. Então, brindem meus queridos. “Vivre la vie”!

Assim que ele se afastou, Marcos falou de imediato:

- Você está deslumbrante! Não há mulher mais bela neste salão.

- Ah, Marcos, pensei que fosse só um jantar… - Resmunguei novamente.

- Eu sei. Papai só nos contou tudo bem depois. Acho que a Duda sabia, mas eu só soube bem depois. Não tive tempo de te avisar.

- Tô me sentindo um peixinho fora d’água…

- Calma! Você está linda, é inteligentíssima e saberá tirar de letra esse ambiente. Além disso, esse é o meu mundo, quando a gente se casar, teremos muitas noites iguais a essa. - Falou, batendo de leve sua taça na minha: - Saúde, caipirinha.

Sorri timidamente para ele e bebi um belo gole daquele champanhe, delicioso por sinal. Eu ainda precisava de coragem e talvez a bebida me ajudasse um pouco. Ele me ofereceu o braço, que enlacei e passamos a andar pelo salão, cumprimentando várias pessoas e sendo cumprimentados por outras tantas. A certa altura, cruzamos com o aniversariante, chamado Julian, um senhor tão distinto e na mesma faixa etária que seu Balthazar, a quem o Marcos me apresentou como sendo a Lua do seu Sol, todo romântico e que, após felicitá-lo, não resisti em brincar:

- Dois corpos que nunca se encontrarão!? Não sei se gosto muito da analogia…

Ambos se surpreenderam, mas sorriram com o comentário feito. Marcos ficou vermelho, mas não quis ficar por baixo:

- Não fui justo realmente, você é meu tudo, Annemarye e se isso não for suficiente, eu farei da minha vida uma busca contínua até satisfazê-la plenamente.

Agora quem ficava vermelha era eu. Eles riram de minha cara e eu lhe enlacei ainda mais o braço, encostando levemente minha cabeça na dele:

- Ah, o amor… Como é bom ver dois corações apaixonados. A alegria de vocês enche o salão e nos enobrece, Marquinhos. - Disse seu Julian.

Conversávamos animadamente com ele, quando sua esposa, Luíza, uma belíssima mulata, talvez um pouco mais velha que a Duda, se aproximou, sendo-me apresentada, assim como eu a ela:

- Você está deslumbrante, querida. - Ela me elogiou e se voltou ao marido: - O vestido que eu te falei era exatamente nessa cor, querido. Adoro cores forte… Nu, se adoro!

Eu estranhei seu comentário, aliás, seu modo de falar e precisei tirar a prova:

- Uai, de onde você tirou esse “nu”!? - Brinquei.

- Uai!? - Ela falou, me encarando, curiosa e surpresa.

- Você é mineira? - Falamos ambas praticamente juntas e começamos a rir da coincidência, deixando os dois sem entenderem nada.

Gostei dela de cara e ela de mim também. Explicamos o motivo de nossa risada e eles sorriram, conformados. Engatamos uma conversa descontraída enquanto Marcos conversava com seu marido. Num dado momento, ela me confidenciou que precisava ir ao banheiro e me convidou para acompanhá-la. Aceitei, avisei o Marcos e saímos as duas lado a lado.

Por mais que eu estivesse bem vestida, ela não ficava atrás de nenhuma mulher naquele salão. Era realmente uma mulata diferenciada, alegre, vistosa, faceira. Estava vestida num longo de nuances dourada e vermelha, realmente muito diferente, com um brilho todo especial. Além disso, seus longos cabelos cacheados eram um espetáculo à parte, bailando enquanto ela andava. Aliás, bailar era uma coisa que sua bunda fazia muito bem enquanto andava graciosamente pelo salão comigo ao seu lado. “Nossa, que mulher gostosa!”, pensei em silêncio e me repreendi quase que instantaneamente “Annemarye, você tá louca, mulher de Deus!?”.

Saímos singrando o salão. Éramos comidas por olhos vorazes, famintos e indiscretos de vários dos presentes. Enquanto andávamos, éramos cumprimentadas, naturalmente mais ela que eu. Às vezes, até paradas fomos por outras e até mesmo outros que tinham sempre uma desculpa qualquer para poderem ser apresentados a mim. Ela, nada boba, criada no interior como eu, sacava de imediato, mas agia com a maior naturalidade, dizendo, ao final de cada apresentação a um interessado, que eu era a namorada de um amigo muito querido. Chegamos enfim ao banheiro e lá ela me confidenciou:

- Essa calcinha tá me matando, sô! Ai, que arrependimento…

- Uai, tira ela. - Falei de imediato: - Eu tô sem nadica de nada por baixo.

Ela me encarou surpresa e abriu um sorriso:

- Quer saber… - Disse e enfiou a mão por baixo do próprio vestido, e eu escutei dois estalos com ela puxando a calcinha arrebentada logo depois e a jogando no lixo: - Nossa que libertação, Anne!

Rimos da situação e pouco depois saímos, retornando para o salão e de lá para o lado de nossos digníssimos companheiros. Ficamos conversando um bocado e ela já queria saber tudo de mim: “dondesô”, “fidequem”, "oncemora", etc., típicas perguntas e dúvidas de um mineiro raiz que ainda se perdiam em intermináveis "uai's", "sô's", "ara's", "nóóó's" e "nu's!". Enquanto eu explicava, seu marido veio nos trazer duas taças de champanhe para brindarmos juntas dele e do Marcos, e assim fizemos. Proseamos mais um pouco, mas o aniversariante e a dona da festa precisavam dar atenção aos demais. Então, despedimo-nos, mas já marcando de tomar um “cafezim” num dia desses:

- Ara, dia desses nada! Nós vamos beber e conversar mais ainda hoje. Deixa só dar uma cumprimentada em todo mundo e vou te procurar, hein? - Luíza falou.

Eu e Marcos voltamos a circular. Vi o Felipinho correndo e, seguindo-o com os olhos, encontrei a dona Gegê, sentada em uma mesa, conversando com uma senhora bem idosa e outra relativamente mais nova que ela:

- Vou falar um oi para sua mãe. - Disse ao Marcos que assentiu com a cabeça enquanto já engatava uma conversa com outro conhecido.

Aproximei-me da mesa em que estavam e as duas desconhecidas me olharam curiosas enquanto me aproximava, fazendo com que a dona Gegê se voltasse também e me encarasse. Ela se levantou de imediato e me recebeu com um abraço, sorrindo de orelha a orelha:

- Você está linda, Anne!

Coloquei minha mão direita sobre o colar e fiz um meneio de cabeça para ela e para completar disse:

- Não precisava de nada disso, né, dona Gegê!

- Ah, mas ficaram tão bem em você…

- Tô me sentindo como se fosse uma caderneta de poupança.

Ela deu uma olhada de soslaio para minha bunda e brincou:

- É, tá mesmo. - Disse e riu: - E que poupança, hein?

Então, ela me apresentou às duas mulheres da mesa, Isabetta, a mais nova e Amaliah, a senhora, filha e esposa de um rico banqueiro judeu que circulava já há algum tempo pelo salão com seu neto à busca de boas oportunidades:

- Só que a dona Amaliah é judia e não fala português, Anne. Então, precisará conversar em inglês com ela. - Alertou-me a dona Gegê.

- מיס עמליה, תענוג לפגוש אותך. זה לילה נפלא, אתה לא חושב? (Dona Amaliah, é um prazer conhecê-la. É uma noite maravilhosa, não acha?)

As duas me encararam surpresas e felizes ao mesmo tempo com a novidade. Dona Gegê ficou atônita e disse:

- Você nunca me disse que falava hebraico?

- A senhora nunca perguntou. - Brinquei e emendei em seguida: - Hebraico, italiano, francês, espanhol, inglês, mas o danado do português eu não consegui aprender direito até hoje, dona Gegê.

Aquela senhora me chamou para mais perto e perguntou:

- מה המשפחה שלך, יקירי? (Qual é sua família, querida?)

Expliquei então num hebraico meio destreinado que não era judia. Apenas havia aprendido algumas palavras com uma amiga e depois fiz um curso para conhecer melhor a língua. Ainda assim ela ficou animada por ter alguém com quem conversar que não a própria filha em sua língua natal e ficamos mais um tempo ali, proseando. Pouco tempo depois, seus marido e neto, Saul e Abel, retornaram, a quem fui apresentada em hebraico e lhes respondi da mesma forma, também surpreendendo-os.

Seu Saul era apenas um senhor bonachão e claramente adorador de um bom negócio. Conversamos brevemente, mas pelas poucas perguntas, notei que queria mais saber sobre minha família do que sobre mim, exatamente. Abel, ao contrário, se esforçou para conversar comigo na língua portuguesa, talvez querendo me impressionar e foi bastante simpático. Interessante que apesar de ele não ser o mais belo naquele salão, ele tinha algo que me atraía e creio que eu a ele também, simplesmente havia um clima, uma química, talvez até mesmo uma tensão sexual entre a gente. Preferi encerrar nossa conversa de uma maneira mais abrupta, nem sabendo o porquê disso, e, após lhes pedir licença, saí para passear pelo salão. Antes de sair, entretanto, dona Amaliah segurou minha mão e me disse baixinho, literalmente ao pé do meu ouvido:

- אל תכחיש את רגשותיך, יקירתי. יש פתגם שאומר "גרוע מכסף מבוזבז זה זמן מבוזבז". (Não negue seus sentimentos, minha querida. Há um provérbio que diz "Pior do que dinheiro perdido, é tempo perdido.")

Eu a encarei e um sorriso e depois uma piscadinha deixaram tudo claro: ela havia notado um “algo a mais” entre eu e seu neto. Preferi não me alongar na conversa, nem confirmar ou negar o óbvio, mas eu já tinha um alguém me esperando. “E amo demais aquele cabeça de bagre.”, falei para mim mesma sobre o Marcos. Só aí me vi confessando ainda que somente para mim mesma, que talvez o amasse mesmo.

Voltei a caminhar pelo salão à procura do Marcos e quase fui trombada por dois garçons que queriam me servir uma taça de champanhe:

- Gente, calma. Só uma, obrigada. - Disse e peguei a do primeiro que havia chegado

Continuei caminhando e vi o Ricardinho sentado sozinho numa mesa. Estranhei e fui até ele que me abriu um sorrisão, acho que foi a primeira vez, e isso me deixou surpresa e até mesmo preocupada. Quando me aproximei e me abaixei à sua altura, ele me abraçou e entendi que ele devia ter se perdido do irmão e que ficar sentado deveria ser alguma orientação dada por seus pais. Peguei-o no meu colo e saímos os dois pelo salão, à procura de seus pais e depois de andar um bom tanto, encontrei Felipe conversando com dois homens.

Expliquei a situação e ele tentou pegar o Ricardinho de meu colo, mas ele se recusou. Então, ele me indicou uma direção onde vi a Duda e fui ao seu encontro. Ao me aproximar, vi que a Duda conversava com outras três senhoras e parecia nervosa. Uma delas viu minha aproximação com o filho no colo e a alertou. Batata! Ela estava preocupada com o sumiço do caçula. Para o colo dela, o Ricardinho foi sem pestanejar. Ela me agradeceu e me apresentou àquelas senhoras com quem ficamos conversando brevemente. Pouco depois, voltei para o salão e trombo justamente com quem? Abel.

Ele foi discreto, mas era nítido seu interesse em mim pela forma que me encarava e se aproximava, retilíneo em minha direção. Antes que ele me alcançasse, mudei eu o meu trajeto, literalmente saindo pela tangente e saindo em busca do Marcos. Logo o vi conversando com três senhores e decidi me aproximar. A conversa não parecia ser boa e o tom menos acolhedor ainda. Desisti quando estava chegando, mas já era tarde, porque dois daqueles senhores me notaram e pararam a conversa, seguido pelos demais que me encararam nesse momento. Marcos quando me viu, não teve uma boa expressão, mas, como eu já estava ali, me aproximei e ele me apresentou. Troquei pouquíssimas palavras com eles e todos saíram, deixando-nos a sós:

- Está tudo bem? Você está bem? - Perguntei por vê-lo com o semblante carregado.

Ele me encarou sem nada responder, respirando pesado, mas não se aguentou:

- Você acabou de prejudicar uma negociação das grandes, Annemarye. Eu não podia tê-los deixado sair assim.

- Eu!? Mas o que foi que eu fiz?

- Me atrapalhou, só isso. Me atrapalhou.

- Poxa, me desculpa, mas eu só queria ficar com você. Nunca que eu iria imaginar que ficar com você num aniversário causaria tanto transtorno.

- É, mas causou. - Disse e esticou um dedo para um garçom que trazia uma bandeja com um whisky, que o serviu.

Preferi não continuar enfrentando ele, mesmo sem entender o que eu tinha feito de tão grave. Coincidentemente, seu Balthazar chegou nesse momento, cumprimentando-nos com beijos no rosto e naturalmente me elogiando. Notou de imediato um clima, mas eu preferi não entrar em detalhes, pedindo licença e dizendo que iria para a mesa da dona Gegê:

- Vou com você, Annemarye. - Ele me disse e pegou meu braço, enlaçando no dele: - O que aconteceu, minha querida? Brigaram?

- Eu não sei! Só quis ficar com ele um pouco e ele descarregou em mim, me culpando por eu ter atrapalhado um negócio ou sei lá o quê. Não entendi nada, mas também não gostei nada.

- Calma, querida, calma. Claro que você não tem culpa de nada e não seria a sua presença que prejudicaria um negócio. - Ele me falava: - Aliás, seria até bom ter você do lado, porque tiraria a concentração dos outros negociantes. Eu vou falar com ele para entender o que aconteceu, mas fica tranquila, você não é culpada por nada.

Chegamos à mesa da dona Gegê que agora tinha Felipe, Ricardinho, Duda e Nana lhe fazendo companhia. Cumprimentei a Nana ou ela a mim, sei lá, porque ela veio correndo em minha direção e me agarrou num abraço forte, e me sentei à mesa. Eu estava chateada e ficou estampado na minha cara. Dona Gegê perguntou o que havia acontecido e o seu Balthazar resumiu nossa conversa. Nana já quis sair na briga com o irmão e, sendo bem sincera, por mim podia ter ido. Acho que ele merecia um enquadro da irmã. Entretanto, seu Balthazar a controlou, dizendo que iria ter com ele em breve para resolver essa questão.

A noite avançava e por mim já podia ter acabado. Eu realmente não gostei da forma como ele me tratou e emburrei no meu canto. Conversava, é claro, mas não com a mesma energia de sempre. Tomei sei lá quantas taças de champanhe, com uns canapés, mas nada me animava, nem mesmo Nana com suas histórias pitorescas, contratando com algumas que a Duda revelou na mesa, envergonhando dona Gegê que saiu para passear algum tempo depois. De onde eu estava, conseguia ver o Marcos, conversando com o seu Balthazar e outros dois senhores. Não sei que assunto era, mas eu não iria “incomodá-lo” mais. Sei que ele também me via porque nossos olhares se cruzaram algumas vezes. Mas sem iniciativa dele, eu não me aproximaria, não correria o risco de ser enxotada novamente.

Após algum tempo, iniciou-se o que se parecia com uma apresentação circense. Uma alegoria de temática tropical foi trazida ao centro do salão enquanto uma música de samba começou a tocar no ambiente. De repente, uma banana gigante no canto se abriu e a Luíza saiu de dentro, vestida como uma típica passista de escola de samba. Aliás, saiu e começou a sambar em direção ao seu marido, cantando um parabéns para você não tão bem. Dançar ela sabia, mas cantar... Ele não parecia surpreso com a situação e, ao contrário, se deleitava com a esposa rebolando, seminua na presença de todos, inclusive lhe dando suaves tapinhas na bunda. Aliás, ela se mostrava uma exímia dançarina, se tivesse me falado que era passista de alguma escola, eu não duvidaria nada.

Outras e outros passistas começaram a entrar no salão na tentativa de animar os “foliões”, mas parecia uma tarefa árdua, hercúlea mesmo, quase impossível. Alguns ainda se aventuraram, mas era uma tragédia anunciada. Senhoras que não sabiam requebrar, moças que faziam feio achando que estava bonito, homens que requebravam e comecei a duvidar se eram realmente, enfim…

Lá pelas tantas, Luíza me viu e veio sorrindo em minha direção. “Ah não! Hoje não! Era tudo o que me faltava.”, pensei enquanto ela se aproximava:

- Vem, Anne, dança comigo!? Vamos agitar essa galera.

- Ah, Luíza, hoje não, por favor… - Pedi, resmunguei, ou sei lá o quê.

- Nã-na-ni-na-não! Vem! - Disse e me puxou.

Ainda que desanimada, deixei-me levar, mesmo porque ela estava com outras moças, um pouco mais desenvoltas, que aproveitaram a oportunidade para brincar um Carnaval fora de época. Nana se levantou e veio correndo dançar também e não é que a baixinha sambava bem. Acabei me animando aos poucos e resolvi mostrar que os anos de balé e bailes do interior também haviam me ensinado alguma coisa. Aos poucos deixei a música me envolver, os passinhos “dois prá cá-dois prá lá” começaram a dar lugar a passadas mais ritmadas e organizadas, e pouco tempo depois eu sambava com vontade, limitada apenas a abertura de meu vestido:

- Quer um figurino? Trouxe vários para quem se animar. - Luíza me disse e eu neguei com a cabeça imediatamente.

Ela notou que eu poderia melhorar minha performance me livrando do meu vestido, mas como eu neguei, a única saída que ela viu foi puxá-lo um pouco para cima, para a fenda lateral subir e liberar mais minhas pernas. Quanto senti meu vestido subindo e vi que a fenda já não escondia mais a renda de minha meia sete oitavos, um calafrio percorreu toda a minha espinha e parei imediatamente, segurando a fenda com as mãos:

- Luíza!? Não faz isso! - Disse brava e ela me encarou assustada, fazendo que eu arrumasse meu vestido e me aproximasse dela para explicar baixinho em seu ouvido: - Estou sem calcinha, lembra? Quase você me deixou com tudo de fora.

Ela riu alto, tomada pelo momento e certamente por boa quantidade de álcool no sangue. Ri também da situação e depois de me recompor, voltei a sambar. Ficamos num grupo de umas dez moças sambando e logo ela teve a ideia de fazer um trenzinho para tentar animar os demais e saímos pulando pelo salão. Logo, dez eram vinte e depois trinta, quarenta e o trenzinho começou a trombar em si mesmo, parecendo aquele antigo jogo da minhoquinha que tinha nos celulares Nokia mais antigos. Como parte da brincadeira, não pude negar ser pega pela cintura por outros homens, inclusive Jonas e Abel, mas tudo dentro de um limite do aceitável. Procurei Marcos com meus olhos novamente e, apesar de não achar justo comigo mesma, sorri para ele, como se o convidasse para vir e me tomar para si, pois me achava dele. Ele não só me ignorou, não retornando o sorriso, como me deu as costas.

Meu sangue ferveu! Uma vontade imensa de ir até ele e lhe dizer poucas e boas começou a tomar forma e vulto dentro de minha mente e coração. “Quem ele pensa que é?”, pensei. A raiva me fez travar no meio do salão e sai de fininho, indo até uma sacada lateral utilizada pelos fumantes mas que, naquele momento, estava providencialmente vazia. Assim era melhor, pois eu poderia xingá-lo à vontade sem medo de expô-lo. Fui até o guarda-corpo e me encostei para ver o movimento lá embaixo. Uma lua cheia iluminava a noite carioca, pintando o mar ao fundo com tonalidades que eu não sabia sequer serem possíveis de se alcançar. “Ele me paga. Ah, se me paga.”, pensei, aliás, decidi, só não sabendo como faria ainda:

- Mas vejam só que feliz coincidência. - Ouvi uma voz masculina e conhecida bem atrás de mim que me fez arrepiar novamente, mas desta vez não por bons motivos.

Ao me virar, Rubens me encarava com a típica expressão de um predador que encurralou sua presa. Estranhamente, assim que eu o encarei, ele deu um passo para trás. Acho que minha cara não devia estar nada boa e ele não quis se arriscar:

- Tudo bem com você, minha querida doutora Annemarye? - Perguntou, fingindo uma falsa amizade que eu conseguia quase sentir em seu cheiro.

- Vou bem, Rubens, e o senhor, como tem passado?

- Senhor, Anne… - Ele resmungou.

- Sim, senhor! - Frisei e ainda complementei, tirando qualquer chance de uma conversa mais íntima: - E é doutora Annemarye, por favor.

- Credo! Aconteceu alguma coisa? Você não é assim. - Falou-me constrangido pela forma seca e rude com que eu o tratava.

- Não é da sua conta, seu Rubens, e se me dá licença, eu já estava de saída. - Disse e lhe dei um leve empurrão para o lado, visando passar por ele.

Ele certamente se sentiu contrariado e ofendido, tanto que segurou me braço de modo que eu não conseguisse sair dali, mas quando nossos olhares se cruzaram, ele viu que não poderia me conter naquele dia e momento, e não podia mesmo porque eu estava a ponto de pegar meu salto agulha e fincar naquele miserável se tentasse alguma coisa:

- Desculpa, Anne, Annemarye, eu não quis ser descortês. Apenas quis acalmá-la para evitar uma cena. - Ele se justificou, simulou na verdade.

- Está tudo bem, mas não se preocupe, não sou do tipo que faz cena. - Respondi e voltei a caminhar, deixando-o para trás.

Entrei no salão e fui direto para a mesa da dona Gegê, onde havia deixado minha bolsa de mão e onde ela conversava animadamente com seus netos. Peguei minha bolsinha e me despedi deles todos. Ela me olhou atônita, incrédula e me segurou pelo braço:

- Anne, o que está acontecendo? Onde você vai?

- Vou espairecer, dona Gegê. Desculpa, mas para mim essa noite já deu.

Ela até tentou me segurar, mas nem uma linha de zagueiros da NFL me pararia ali naquele dia. Embrenhei-me pelo salão e cheguei ao pé da escada, subindo-a sem cerimônia alguma, quase correndo. Só lá em cima vi que Jonas estava conversando com alguém, aparentemente indo embora também, mas isso não fazia diferença alguma. Fui até o elevador e apertei o botão. Logo, ele chegou do meu lado:

- Está tudo bem com você, Ana Maria?

- É Annemarye, Jonas.

- Desculpa, Annemarye, ok… Você está bem?

- Estou ótima, só cansada.

- Mas e o Marcos…

Ele nem completou a frase porque o fuzilei com o olhar ao ouvir o nome do Marcos. Bem nesse momento, o elevador chegou e entramos. Descemos em silêncio e eu tentei chamar um carro de aplicativo, mas dentro do elevador o sinal era péssimo e não conseguia e comecei a me exaltar:

- Calma! Fica calma. Eu te levo onde você quiser ir.

Eu não queria estar com ninguém naquele momento, mas estava tão exausta, tão consumida pela decepção de ter sido maltratada pelo Marcos na primeira vez em que tivemos a chance de estar num ambiente tão diferenciado como aquele, que acabei aceitando.

Na saída, a mesma Rita Ramis, ao me ver sair acompanhada por outro, não perdeu a chance e se aproximou:

- Querida, que festa boa, hein!? Entra sem ninguém, para encontrar um e sai com outro. Eu estou meio confusa…

- Não há confusão alguma, Rita. - Jonas se adiantou: - Ela é minha amiga e vou levá-la para casa, como um bom amigo faria.

- Mas e o namorado, Jonas?

- Acho que não é da sua conta, né? - Ele emendou e foi ainda mais rude: - Faça o seguinte: pergunte para ele quando ele sair. Acho que você vai adorar a resposta.

Ele então me segurou gentilmente pelo braço e me tirou dali, em direção a entrada, onde seu carro já o aguardava. Já dentro dele, ele me perguntou:

- Para onde quer que eu te leve?

Pensei por um segundo e obviamente não seria para a casa da dona Gegê:

- Conhece algum hotel bom aqui no centro?

- Prefere bem na praia?

- Tanto faz, só quero dormir.

- Cinco ou quatro estrelas? Tem o meu apartamento também, se você confiar em mim…

Claro que eu não iria confiar nele, afinal eu havia acabado de conhecê-lo na recepção, mas fui cortês:

- Agradeço imensamente, mas hotel mesmo.

Meu telefone começou a tocar e quando olhei a tela, vi o rosto do Marcos. Desliguei na hora. Ele insistiu mais três vezes e foi recusado nas três. Eu não ignorei simplesmente sua chamada, fiz questão de atender e desligar mesmo! Já estávamos rodando há uns dez minutos quando ele estacionou na frente de um vistoso hotel na orla carioca:

- Obrigada, Jonas. Agradeço de coração. - Disse e lhe dei um beijo no rosto.

- Vou entrar com você.

- Não vai não.

- Vou sim. Não sabemos se tem quarto vago. Se não tiver, vamos para outro.

- Ah tá…

Entramos e dei sorte, conseguindo uma suíte. Despedi-me dele em definitivo, com um abraço e um beijo no rosto, agradecendo sua ajuda. Enquanto fazia meu “check in”, meu celular voltou a tocar novamente. Agora, era a dona Gegê que surgia na tela, me doeu, mas recusei a chamada dela também. Mas dessa vez doeu mais que antes e eu própria liguei para ela:

- Oi, dona Gegê.

- Anne, onde você está? - Perguntou o Marcos com um estranho tom de voz.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 195Seguidores: 543Seguindo: 19Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Amigos, grato pelo apoio e pelos comentários.

Estou tendo problemas para publicar a continuação: o site a tem recusado alegando que seria idêntica a esta, mas não é, óbvio.

Já mandei e-mail para o Eduardo tentar me ajudar.

Assim que resolvermos postarei a continuação.

Enquanto isso, uns trechinhos para sua ansiedade aumentar ainda mais:

"- Eu não sei, dona Gegê... Acho que a senhora está certa, aliás, eu sei que está, mas hoje eu não quero falar com ele. Não gostei nada da forma como ele me tratou. – Dei uma golada em minha água, uma longa suspirada e continuei: - Poxa, me senti um lixo e justo hoje que eu me produzi toda para ele! Para ele, a senhora entende? Eu queria que ele sentisse orgulho de mim. Eu estava parecendo uma princesa de contos de fada..."

"- O que é isso, filha!? Claro que não! Só estamos preocupados com você. Se alguém pensou mal da gente ou da minha futura nora, quero mais é que se foda bem no olho do cu!"

"- Por mim, eu te comeria aqui e agora, mas acho que não seria apropriado. - Cochichei em seu ouvido."

"Voltamos a conversar diversos assuntos e, pouco depois, senti um braço enlaçar o meu. Quando me virei em sua direção, imaginando ser a Anne, deparo-me com Regina, um antigo caso. Gelei no ato:"

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Já dei as 3 estrelas Mark. Pelo que li deste texto, há possibilidade de postar o próximo capítulo a qualquer momento... todo doido pra saber porque o pau no cú do Marcos tratou mal a Annemarye, ou pelo menos qual justificativa... (negócios????? Não justifica!!! Se acabou de iniciar o namora já está sendo grosso assim... imagina depois de casado...)

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PQP!!!! A ansiedade ficou nas alturas!!!! 😂😂😂

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Mais um capítulo eletrizante, recheado de intrigas e mistérios.

Vamos aguardar...

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Parabéns Anne pela atitude que tomou,quem Marco pensa que e para tratá-la assim,vc sempre esteve ao lado dele e num momento p o outro a trata com grosseria,manda catar coquinho,e seja dura não de mole nem por um milhão de rosas, agora este Rubens parece um encosto não largar do seu pé caraca.tem que fazer uma resa forte para mandar este encosto para o inferno,

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Mark amigo só te peço um a coisa não demore a postar porque cada vez mais você me surpreende amigo que saga com certeza está entre as melhores do CDC parceiro nota um trilhão kkkkkkk

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Vc como sempre um ótimo escritor! Eu já estava pensando que Ane iria trair seu amado por uma discussão, mas acho que eu estava errado, mas espero que tenha um bom motivo para Marcos ter agido como ele agiu, e ainda espero que ela não o traia! Pior coisa numa relação liberal ou não, é a traição!

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que tenso heinn, muito estranho o comportamento do Marcos, acho que como disse o Marcelo ai abaixo, ele deve ter tido motivos para protege-la... tomara que seja isso

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Marcos emcorporo o Guilherme do conto da “Doce Chifradeira”! 😂😂😂 Capítulo tenso esse!!

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Capítulo estranho! Não gostei da atividade do Marcos mas por enquanto vou me abster dos fatos! Excelente Mark!

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Acho que tô muito carente de amor. Não consegui nem da estrela por esse capítulo.

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Melhor ir dando as estrelas aí, meu irmão, ou vou postar a continuação só na semana que vem.

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Não seja por falta de estrelas então. Kkkk

Agora faça sua parte. Tenho até medo de ler o próximo. Amanhã ou hoje há 00:00 Como no começo?

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Caramba! Que conto difícil de ler. Anne excitada com outros homens e a noite terminando dessa forma. Certamente o Marcos tem alguma explicação para agir daquela maneira. Espero que tudo se esclareça logo.

Esse ímpeto da Anne é muito positivo em alguns momentos, mas pode ser muito negativo em outros, esse foi um negativo.

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Ou ele fez isso pra proteger ela de algo que descobriu?

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Tô meio que apegando nisso. O cara fez de tudo por ela. Foi em dois estados diferentes atrás dela. Tem que ter alguma explicação.

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O último capítulo que li dessa história foi capítulo 27, já estamos no capítulo 42, estou até curioso pra colocar em dia o restante do romance, só que vou esperar o final pra ler de uma única vez, nem que tenha que esperar final até 2030 kkkkkk

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Para, quando em 42 capítulos o Marcos se mostrou tão arrogante assim, se não tiver uma explicação plausível eu nem sei o que pensar, Marcos é um lobo em pele de cordeiro no fim das contas? E esse judeu metido a besta? De calma e apaixonante a noite não foi nada.

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Por favor não estrague a mais linda história de amor na minha opinião desse site!!!

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Rapaz não entendi nada. Não quero nem pensar no rumo que isso vai dar. Não faça isso com meu coração Mark!

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