Diários de caça - Capítulo 23 – Domesticação

Um conto erótico de Fmendes
Categoria: Homossexual
Contém 2741 palavras
Data: 12/03/2023 15:41:30

Em algum lugar de um passado distante, um lobo deve ter avistado um agrupamento humano e, indo além de seus instintos primitivos, pensado: talvez eu possa me aproximar devagar, não demonstrando ameaça, e conseguir alguma coisa daquele banquete que estão desfrutando.

A ideia parece ter dado certo e esse hábito começou a ganhar novos adeptos. A facilidade da comida somado ao pacto de segurança mútua transformou, aos poucos e sem a total ciência do animal, esse ser em algo domesticado.

Muito provavelmente, se os lobos do passado dessem uma olhada nos seus descendentes de séculos depois em vídeos bobos na internet com roupas cafonas e fazendo truques idiotas, teriam decidido matar a dentadas seu genial companheiro que sugeriu se aproximar da humanidade

Algo semelhante acontece com os homens quando decidem abdicar de sua pulsão sexual natural e se entregar a monogamia. Tal como o lobo, nem sempre eles parecem perceber quando estão sendo levados a domesticação e, sem querer, castrando a si próprios.

Comigo, foi quando estava empenhado em meu último projeto sob encomenda de Veneza. Seu resort em Espírito Santo seria o último daquela longa cadeia de revitalizações. Ela já havia me oferecido um emprego integral ao término do projeto, onde eu ficaria ligado ao grupo e chamado em caso de necessidade. Tal perspectiva, muito tentadora para a maioria das pessoas, para mim significava uma pausa em minha vida de inconstâncias e aventuras.

Mas pensando bem, talvez viesse a ser bom. Seria legal poder ficar em um mesmo lugar. Estabelecer residência fixa. Fazer amizades duradouras e tudo aquilo que uma pessoa normal anseia. O problema é que eu ainda não me considerava uma pessoa normal. Pelo menos, não me considerava pronto para ser uma.

Mas como muitas pessoas, acabei aceitando esse novo destino. Talvez a idade estivesse me deixando menos obstinado. Ou talvez a calmaria seria em si uma mudança drástica em minha vida. Uma reviravolta como as quais eu estava acostumado.

Além disso, o dinheiro certo e o tempo livre me ajudariam muito a me especializar. A própria Veneza havia me sugerido uma série de cursos de especialização, antevendo uma possível empreitada minha em seus hotéis na Americana Latina. Porém, tal projeto ainda estava sem prazo.

A questão ali seria escolher em que local me estabilizar. Havia conhecido muitas cidades, cada uma encantadora a sua maneira. Deixei a questão em aberto, sem perceber que o destino estava prestes a escolher por mim.

Nesse projeto, acabei ficando amigo do engenheiro. Um descendente de sírio libanês chamado Amir. Alguém que desde o começo percebi sentir uma queda por mim. Embora, diferente de todas as vezes em que meu faro detectava esse tipo de ação, naquela ocasião eu não me senti tentado a investir . Cheguei a estranhar tamanha falta de libido de minha parte, o que inicialmente eu julguei como sendo uma tentativa de preservação profissional. Uma vez que estávamos os dois envolvidos no mesmo projeto e eu gostaria que aquilo encerrasse com chave de ouro. Então não desejava que nada me distraísse.

Amir, apesar de minha indiferença, não parava de tentar me impressionar, fosse com seus conhecimentos, pois era de fato um engenheiro experiente e sagaz, fosse pela sua experiência de vida, com as fotos de suas viagens pelo mundo, seja por seus recursos. Sempre me convidava para jantar em algum restaurante caro, inventava algum programa luxuoso, como a vez em que me convidou para uma festinha em um iate particular. Todos que eu educadamente recusei.

Foi então, depois de muita insistência, que eu abrir uma brecha. Foi na última semana antes da entrega do projeto. Estávamos mais entrosados que nunca, algo que Amir logo ressaltou e era verdade: formamos uma boa dupla.

Naquela noite, ele sugeriu trabalharmos no feriado para que pudéssemos dar os últimos ajustes no projeto com grande folga.

Como o escritório estaria fechado, ele sugeriu a casa dele. Eu não era nenhum bobo para não me ligar que ali haviam segundas intenções.

- Vamos - insistiu - podemos impressionar a Veneza, deixando tudo pronto uma semana antes. Lá em casa vamos ficar mais a vontade. Eu peço uma comida, tomamos um vinho. Você nunca aceita nada para o que te convido. Achei que poderíamos ser amigos

Acabei por me render a sua insistência. Até porque, eu mesmo estava curioso pra saber porque, afinal, eu não lhe dava uma chance. Amir era um homem bonito, mais velho que eu. Os traços árabes eram cativantes, com aqueles olhos profundos e rosto afinado. O corpo era bem feito, um porte altivo, realçado pela camisa social que usava com os dois primeiros botões abertos, exibindo um peitoral levemente peludo.

Amir era mais alto que eu, pouca coisa, e tinha uma bunda de chamar atenção.

Ele comemorou quando aceitei.

No dia, fui ao seu apartamento, uma ampla cobertura. Ele tinha preparado a mesa da área externa, de frente para a piscina, para nós. O sol brilhava, numa manhã ensolarada, porém fresca. Parecia que ele havia arquitetado tudo para aquele encontro. Então, deixei levar.

As primeiras horas foram bem proveitosas. O trabalho correu e eram apenas alguns retoques e poderíamos assinar.

A hora havia passado rapidamente e o pôr do sol despontava no horizonte. Foi então que o percebi distraído, enquanto explicava os últimos detalhes.

- Tudo bem? Cansado? - perguntei.

Ele piscou, despertando.

- Desculpe. - e riu - sim. Um pouco. Mas... - e sorriu sem graça - também estava admirando você falar.

- Se quiser, podemos parar. Hoje é feriado e estamos nisso a semanas sem parar. Podemos nos dar uma pausa. No próximo encontro, com certeza finalizamos e ainda entregaremos para Veneza com uma margem invejável.

- Acho que uma pausa seria bom, mas... Sei que quando acabarmos você vai querer ir embora - assumiu, me olhando intensamente - e gosto de estar aqui com você.

- Também gosto de sua companhia - respondi e ele riu seco.

- Não se faça de bobo. Sabe o que eu quero dizer.

Tomei um gole do vinho

- Sim, eu sei... - admiti - apenas... Não quero brincar com você. Você me parece um pouco...

- Apaixonado por você - admitiu na minha cara e eu fiquei sem reação.

- Acho que não nos conhecemos o bastante para você ter se apaixonado por mim - ponderei.

- Justamente por não te conhecer que me apaixonei. Eu não disse que te amo. Só que me apaixonei por você. Seu jeito, seu talento e... Sim, seu corpo.

Ele sentou na mesa, ficando de frente pra mim. Pegou a taça de minha mão e a deixou de lado. Tocou minha blusa e tirou um botão, depois outro.

- Me da uma chance. Só... Deixa eu provar - pediu e eu nada respondi.

Amir entendeu como um aceite o meu silêncio.

A verdade era que eu não sabia. Em qualquer outra circunstância eu já teria voado em cima dele e o fodido em cima daquela mesa. Eu só não sabia porque, naquele momento, eu não reagia.

Não era mais um simples problema profissional, uma vez que o projeto já estava praticamente finalizado. Não era o fato de ele ter se declarado para mim e eu não querer magoar. Sempre segui o código de que cada um era responsável por seus sentimentos. E que não era problema meu se alguém se apaixonasse, desde que eu não lhes fizesse nenhuma promessa.

Então o que era?

Sem conseguir responder essa pergunta, acabei por deixar ele tirar minha blusa, chupar meu peito. Depois desafivelar meu sinto e, enquanto descia da mesa e se ajoelhava diante de mim, descia minha calça, roçando o rosto em minha cueca.

- Meu Deus - regozijava enquanto tirava minha cueca e via meu pau saltar para fora.

Pela primeira vez em toda a minha vida, não tomei qualquer atitude e me deixei a usufruto de seu desejo. Curioso. Não por ele, mas por mim. Hoje, como um espectador ciente do futuro, sei que o que eu tive naquele momento foi um bloqueio. Inconscientemente eu entendia que havia algo errado ali. Que eu, sem querer, estava entrando em uma armadilha da qual me arrependeria depois.

Meus instintos sabiam de daquilo tudo. E talvez eu já estivesse a tempo demais longe da natureza e isso havia me tornando surdo aos avisos do universo.

Me deixei levar e ser posto sentado em cima da mesa. Amir tirou o que restava de minhas roupas e admirou meu corpo nu como quem vislumbra um espetáculo.

- Fábio, você é... Nossa.

- Deixe-me então te ver também. - sugeri. Reavendo minha taça de vinho.

Amir sorriu e começou a se despir. Me olhando o tempo todo, sem nada exagerado, espalhafatoso. A sensualidade estava justamente na simplicidade com que se despia. Com que seu corpo bem feito se mostrava. De costas pra mim, tirou a calça e depois a cueca, mostrando aquilo que eu já queria ver a um tempo, mas não tinha coragem de tentar.

Nu em pelo, ele voltou a mim e me beijou.

- Me fode - implorou.

- Primeiro vai ter de merecer - sibilei.

- Por favor - insistiu.

Eu peguei seu ombro e o empurrei, para que se ajoelhasse novamente e me entretece. Sua boca era experiente e chupou meu órgão com voracidade sem machucar. O deixei chupar enquanto terminava a taça de vinho. Então, só então me ergui e o pus na mesa de bruços. Ele vibrou, ansioso. Abri sua bunda e lhe chupei o orifício. Ele soltou um espasmo, tendo a voz presa na garganta em um grito de prazer. Delirante, gemeu aliviado, saciando sua longa espera.

Elevei uma de suas pernas, apoiando o joelho na mesa, deixando o caminho o mais aberto possível. Quando me reergui, não precisei de nenhum ensaio, pois o buraco me recebeu sem nenhuma resistência. Logo a colisão de meu corpo contra suas nádegas fez as palmas ecoarem pelo lugar.

Estávamos a seu aberto e apesar de ser uma cobertura, alguns poucos prédios ao lado competiam em altura com o que estávamos. Mas eu nem ele estávamos preocupados com qualquer espião. Que admirassem se quisessem.

Fodi com vontade, segurando seus ombros. Amir gemeu com gosto, olhando pra trás ocasionalmente.

- Fode. Isso - pediu - Esse rabo é teu. Fode. Judia.

Era difícil não se empolgar com tal entrega. Quanto mais forte eu ia, mais ele pedia. Era raro encontrar alguém que aguentasse tão bem aquele tipo de pressão.

- Fode, seu lindo - implorou, delirando enquanto me olhava com fogo nos olhos - Nossa, como eu estava esperando esse dia.

O abracei por trás e encravei o mais fundo que consegui, deixando-o todo arrepiado. Aproveitando cada centímetro a minha disposição.

- Nossa - uivou - assim você me empala.

- Safado - e segurei seu rosto e o lambi. - Cuidado. Vai ficar viciado.

- Já estou - admitiu - sempre que quiser aliviar o saco, sabe que to aqui esperando - então se apressou em corrigir - Sem pressão, lindo. Quando quiser. Quando você quiser, só vir e meter. Vou estar esperando.

Apoiei um pé na mesa para me posicionar e enfiei.

- Esse rabo vai ser só meu então, é? - resolvi das corda a brincadeira.

- Só seu.

- Mas eu não prometo o mesmo - avisei, querendo saber sua reação.

- Não tem problema. Eu não sou egoísta. Desde que venha me fuder vez ou outra.

Eu achei graça daquela subserviência e resolvi parar de dar corda. Mudei ele de posição umas três vezes, finalizando com uma boa sentada na cadeira e o vendo quicar em cima de mim.

Acabamos já tarde, onde comemos uma besteira e eu fui ver que já passavam das 11 da noite.

- Está tarde. Pode dormir aqui se quiser. - ofereceu.

- Não precisa. Meu apartamento não fica longe.

Ele não insistiu, mas me ofereceu outra taça de vinho e me entreter com mais conversa. Mais uma vez detectei o truque, mas não quis cortar sua tentativa. Acabei de fato dormindo. E o que seria o quarto de hóspedes, acabou em sua cama, dormindo de conchinha. Aquela era de fato uma experiência nova pra mim. Dormir abraçado a outra pessoa. Mas como ele havia gostado, deixei e confesso que não foi a pior experiência.

De madrugada, ainda acordei com ele massageando meu órgão, pondo-o ereto. Esperei para ver o que faria e o senti encaixando em seu rabo

- O que você está fazendo? - sussurrei, sem abrir os olhos

- Desculpa. Não quis te acordar. Só...

- Não queria me acordar? - e ri. Então o virei de bruços e enfiei de uma vez, fazendo ele tremer - era isso que queria? Hein? Assim?

E elevei meu corpo e joguei contra ele, golpeando sua bunda e o fazendo gemer alto.

- Vê... se... me... deixa... dormir... agora - comi com vontade, intensificando cada palavra, sentindo sua pele arrepiar - Entendeu?

Meti mais e com mais vontade, até gozar dentro dele.

- Ahhhh - gemi, deixando escorrer para dentro do seu corpo - Feliz agora?

- Muito - mesmo no escuro, senti que sorria.

Eu bati nele com um travesseiro e me virei para o lado. Ele me abraçou por trás. Dormi logo depois.

Acabei tendo uma noite de sono bastante agradável depois dali. Apesar da cama ser mais macia do que eu estava acostumado. Ao amanhecer, dei de cara com uma visão bastante interessante: Amir estava de costas pra mim, apoiado com os cotovelos no parapeito da janela, admirando o céu. Fazia um dia muito bonito. Seu corpo nu, iluminado pelo sol, era algo belo em sua simplicidade.

Levantei e cheguei por trás dele.

- Bom dia - anunciei e ele sorriu.

- Bom dia, dorminhoco.

- Estou com fome - avisei.

- Que bom. Tem leite, pão e eu comprei uns pães de...

Eu não o deixei terminar. Encravei fundo e comecei a foder. Levado por uma energia além de meu controle.

- Ah sim... - riu - Não tinha entendido.

Fodi até me satisfazer, enquanto Amir continuava a admirar o dia quente de céu azul, mantendo a bunda empinada para meu melhor proveito.

Quando gozei, o abracei e beijei sua nuca.

Ele me ofereceu um gole do seu café, que eu aceitei.

- Dormiu bem? - quis saber.

- Bastante - respondi, lhe devolvendo a caneca. Eu ainda estava dentro dele.

- Que bom. Gastou muita energia. Quer comer alguma coisa... Digo... Outra coisa?

Rimos e fomos comer algo.

O tempo foi passando e eu fui me estabilizando no Espírito Santo. O bairro era bom, com boas academias e ótima qualidade de vida. Consegui um bom apartamento pra alugar, recusando tacitamente o convite de Amir de me hospedar em seu quarto extra.

Amir queria ser um bom amigo e me ofereceu todo o tipo de ajuda, desde a mudança até a compra dos móveis. Recusei todas. Gostava das coisas do meu jeito, sem depender de ninguém. As vezes ele insistia, mas quando via que eu me aborrecia, parava logo.

- Você é muito orgulhoso - acusou, uma vez.

- E você intrometido - rebati.

Amir era como aquela pessoa que você não consegue se livrar, que por mais que fosse chata as vezes, era tão prestativa que não dava simplesmente pra você enxotar e se passar por ingrato. E foi assim, com uma insistência beirando a psicose que ele se manteve presente em minha vida e foi ganhando seu espaço.

Eu de fato fiz valer meu direito e, quando o desejo batia, ia visitar o engenheiro e metia do jeito que gostava. Amir era um homem muito solicito e gostava de uma pegada forte.

Não fiquei exclusivo a ele, como mesmo já tinha declarado. E não me preocupei em saber se ele se manteve exclusivo a mim. Embora ele sempre declarasse isso, mesmo que eu não perguntasse.

Porém, conforme os dias foram passando, eu de fato acabei me relacionando menos com outras pessoas. Devia ser a idade, mas eu simplesmente não tinha mais tanta paciência para enrolados. Quando eu resolvia ir atrás de qualquer nova possibilidade e ela apresentava qualquer burocracia, eu simplesmente pulava fora. Como o lobo que troca a carne fresca pela refeição de cada dia, eu, cada vez que tinha a necessidade, buscava em Amir o alívio que precisava. E fui me acostumando ao seu sabor.

Nossa amizade floresceu segundo essas regras. Eu evitava seu apartamento, porém ele ia direto ao meu, chegando a passar algumas noites lá. Eu não me incomodei. Jamais conversamos a respeito do que nós tínhamos. O negócio era deixar tolar. Ou viver na negação, como seria melhor definido.

Porém, foi numa tarde de março em que saímos para comer e encontramos alguns amigos dele que a ficha caiu.

- Amanhã vai ser minha festa de aniversário, Amir. Não esquece. - a amiga o lembrou - E leva seu namorado, pois adorei conhecer. - sorriu pra mim e beijou meu rosto - Tchau, Fábio.

Ela saiu e eu percebi que Amir não corrigiu o mal entendido. Quando dei por mim, eu tinha uma coleira em torno do pescoço.

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Comentários

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Esse é o medo de todo hétero ou bi, se apaixonar, como se envolver monogamicamente com alguém fosse uma coleira como você citou. Até hoje eu tento decifrar esse medo mórbido que vocês tem. Talvez você possa me explicar. Não faça o Amir sofrer, às vezes te acho um pouco egoísta e insensível mesmo desenvolvendo linda e excitantemente seus contos. Abração!!

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