O Avô da Amiga - I - O Jantar Revelador

Um conto erótico de Soraya
Categoria: Heterossexual
Contém 1978 palavras
Data: 05/03/2023 15:44:33
Última revisão: 16/03/2023 09:03:59

- E o que foi que ele fez?

- Me puniu. Disse que eu estava precisando, que eu era muito atrevida.

- Atrevida! Como é que ele sabe? Ele mal te conhece Soraya. Velho chato, como é mesmo o nome?

- Carvalho. No fundo ele gosta de mim, a Paulinha comentou que ele me acha parecida com uma tia que morreu.

- Paulinha é a neta desse tal Carvalho?

- Isso. Neta por parte de mãe.

- E ela não fez nada? Como é que você ficou sozinha com ele?

- Paulinha nem sabe, nem faz ideia do que aconteceu. Eu não tive coragem de contar.

- Velho abusado, você devia denunciar.

- Devia, mas...

- Mas o que?

- Eu acho que eu me apaixonei.

- Jura! Foi tão bom assim? Um velho! Te propondo essas coisas?

- Eu não sabia que eu gostava.

- Do que? De um velho tarado?

- Eu nunca tive um orgasmo como aquele.

- Tão bom assim?

- Incrível.

- Incrível? Agora você me deixou curiosa. Então conta.

***

Conheci o avô da Paulinha durante a viagem para Maracajaú, um resort que a gente foi. Bonitão, cabelos grisalhos, o bigode ainda preto, um queixo com uma covinha no meio. Os olhos cinzas. Magro e calado, mal ouvia a voz do homem. Parecia um lord inglês.

Achei bonito, sempre gostei de homens mais velhos. Mas nunca um tão velho. Com certeza beirando os setenta.

Enxuto, mas eu não achei que ia dar em nada. Afinal era o avô da Paula e eu nem imaginava que ele ia se interessar por mim.

Fui desconfiando aos poucos, os olhares furtivos, os sorrisos quando nos víamos. Eu fui gostando do flerte, eu vi que ninguém desconfiava de nada. Nem tive a coragem de falar com a Paulinha. Aliás foi ela que veio comentar comigo um dia:

- Meu avô disse que você é muito simpática. Lembrou até que você parece com a tia Sofia.

- Ele falou isso? Quem é Sofia?

- Minha tia que faleceu faz uns anos. O velho quase morreu de desgosto, era apaixonado na filha. E ela era bonita! Igual você.

- Ele te falou isso?

- Falou para minha mãe. Ela até ficou enciumada.

- Por que!?

- Ah! Coisas de família. Meu avô arrastava uma asa pra tia Sofia. A mãe até desconfiava dos dois. Sei lá. A gente achava estranho, a tia não desgrudava do meu avô.

- Ela gostava dele, só isso. Mas que bom saber que eu agradei seu Carvalho.

Acho que ele ficou sabendo. A Paula deve ter contado, por que eu sei que ele armou um esquema. Mal a gente voltou da viagem e um dia eu recebi um mensagem dele no meu celular, nem sei como ele conseguiu. Deve ter sido a Paulinha.

Me escreveu convidando para ir visitá-lo.

"Vem me visitar, tomar um café comigo. Gostei de você, me faz lembrar alguém muito especial."

Eu fiquei curiosa. Um homem charmoso, simpático, bonito e ainda por cima mais velho. Mesmo desconfiada eu acabei aceitando. Fui num sábado visitar o avô da Paula. Ela não podia, inventou lá uma desculpa, eu fui sozinha.

Foi uma tarde agradável. Carvalho é um homem encantador. O tipo de homem que eu gosto, firme, decidido, um romântico das antigas.

- Você me lembra Sofia. Não sei se te falaram?

- Me disseram que o senhor comentou. Sua filha?

Vi um sorriso se abrindo por baixo do bigode do velho.

- Sofia foi mais que uma filha. Sofia foi uma mulher muito especial.

- Especial como?

Ele riu mais ainda, mostrando os dentes saboreando a minha curiosidade.

- Especial como poucas mulheres conseguem ser. Sofia era a mulher perfeita...

Fiquei até sem jeito. Ele me olhando e rindo.

- Adorável, como você é.

- Eu, por que?

- Vocês duas são parecidas. Eu imagino que em tudo.

- Tudo?

Ficamos em silêncio nos medindo. Tava na cara que a estória do velho com a filha ia muito além do que um amor entre pai e filha. Imaginei os dois na cama, o que já seria muito além do proibido. Só que era muito mais que isso.

- Um dia, se você quiser, te conto.

Rimos, mudei de assunto para não deixar o clima esquentar. Sei lá aonde tudo aquilo ia parar. Mesmo assim aquele papo me deixou encucada. Fiquei curiosa, e também receosa.

Na despedida, Carvalho me segurou a mão e falou me olhando nos olhos. Quase hipnótico.

- Gostei muito de você ter vindo. Me trouxe boas lembranças. Volta, vem me visitar mais vezes. Não gosto de ficar sozinho.

Um olhar apaixonado, de um homem gentil, doce, e eu não sei o que ele tinha visto em mim. Aliás, eu sei, eu era a outra, a filha, a tal Sofia.

Aquilo era muito estranho para dizer o mínimo. Tentei me afastar, afinal nem parente meu era. E ainda por cima o avô da Paula, pensa!

Durou pouco mais de uma semana, Carvalho passou a me mandar mensagens, fotos, até áudio ele me enviou. Foras as músicas românticas, boleros, tangos. Velho sabe como conquistar uma mulher.

Uma sexta-feira, eu me aprontando para sair, e a campainha toca. Quando vou atender vem surpresa, flores! Um bouquet enorme de rosas brancas e vermelhas. Junto um cartão.

'Espero que goste das minhas flores. Escolhi pensando em você. Acho que combinam com você. A sua essência. Saudades.'

Eu não esperava tudo aquilo, tem coisa melhor do que receber flores logo pela manhã? Ainda mais de um homem tão charmoso como Carvalho? Misterioso, refinado e adulto. Mandei uma mensagem no Zap.

"Carvalho. Bom dia! Adorei as flores! Obrigada querido."

Não demorou muito ele me ligou.

- Não aceito 'não' como resposta. Conhece o 'Marchand de Rêve'? O lugar perfeito para uma mulher bonita como você.

- Que isso Carvalho! Que exagero! Não precisa ser tão sofisticado.

- Um jantar a luz de velas. Ouvindo Piaf. É o mínimo para uma mulher como você.

- Eu!?

A voz dele era mágica, sonora, profunda, o tipo de voz que só um homem tem. Não tinha como dizer não para um cavalheiro como o Carvalho.

- Que horas?

- Nove, pode ser? Já fiz as reservas.

- Você é muito convencido, como sabia que eu ia aceitar!?

Ele soltou uma risada longa, vindo em cascata. Sensual e rouca. Eu estava encantada, aquilo era mais que sedutor.

Topei. Tive que marcar uma ida ao salão urgente: pele, pêlos, cabelos e unhas. Adoro quando sou flertada, ainda mais por um homem que sabe como conquistar a gente.

Cheguei em casa depois da seis da tarde. Atrasada como sempre e sem saber: o vermelho ou o azul? O atraente ou mais comportado? O que será que Carvalho esperaria de uma mulher como eu, como a tal Sofia? Ainda mais que a nossa diferença de idades era tão grande, mais de quarenta anos.

Tomei um banho de sais para quebrar a ansiedade. Acabei escolhendo primeiro a calcinha. Optei por uma de rendas, vermelha, uma caleçon bem cavada, que não deixava marcas. Optei pelo vestido vermelho de alças, o que me deixava com as costas quase nuas. Eu queria ser provocante, Carvalho merecia.

Mas ainda tinha os sapatos, me enrolei entre um Scarpin preto 12 ou um Mocassins vermelho de bico fino. Dúvida, dúvida, dúvida! O celular soou uma mensagem. Olhei as horas, mais de nove.

"Tô descendo. Me espera na portaria. Beijos. Tchau."

Quase esqueço do perfume, da bolsa, meu Deus! Que bolsa? Eu nunca fico pronta na hora, droga!

***

Yves Montand cantando 'C'set si bon' numa voz ronronante. Carvalho me fazendo girar e girar como se pisássemos em nuvens. As mãos dadas, os rostos colados, os corpos num ritmo só.

Insuperável!O que mais eu podia querer?

Sentamos quando Piaf começou a cantar 'Non, Je ne Regrette Rien', meus pés latejavam, devia ter escolhido os Mocassins.

- Carta de vinhos senhor?

- Não. Me traga um Château Lagrange, 2010?

- Só temos de,Ok. Pode ser.

- Com licença.

Carvalho riu, nos demos as mãos, igual dois namorados, até parecia que a gente se conhecia há muito tempo.

- Gostando?

- Maravilhoso.

- Já veio aqui?

- Nunca! Ninguém que eu conheça tem cacife pra bancar uma noitada aqui. Caro, Carvalho!

- E eu sou ninguém?

- Não. Você é... o avô da minha amiga.

- Tão velho assim?

- Velho não! Maduro, o tipo de homem que eu gosto.

- Você também é o tipo de mulher que eu gosto.

O vinho foi servido, a entrada veio a seguir. E Piaf continuava cantando, agora a vida em Rosa.

- A tal Sofia? Sua filha.

- Ela mesma. Vocês duas muito parecidas. Gêmeas.

- Difícil. Eu nasci bem depois. Mesmo assim que bom que te trago boas lembranças.

- Ótimas. Inesquecíveis.

Minha cabeça começava a girar, os pés latejando, tudo se misturando com o clima romântico daquele lugar. Deixei minha curiosidade extravasar.

- Você gostava muito dela?

- Gosto. Sofia não morreu, nunca morrerá. Nós somos como almas gêmeas. Vivemos juntos em outros tempos, outras vidas.

- Você é espírita?

- Não, mas eu já estive em alguns terreiros, alguns centros. Principalmente depois que ela faleceu. Foi lá que eu descobri que a estória linda que nós vivemos aqui, aconteceu em outros lugares. Uma repetição. Outras vidas, às vezes como amigos ou parentes, na maioria das vezes como amantes.

- Amantes, você e sua filha?

- Nessa vida ela era minha filha. Mas eu já fui a filha de Sofia, e ela meu pai.

- Sério! É assim com todo mundo?

- Isso eu não sei. Talvez? Mas comigo e Sofia parece que sempre é assim.

- Desde que ela era criança?

- Por Deus, não! Havia um amor, um carinho de pai para filha. Mas a atração física, só quando ela começou a sair com os primeiros namoradinhos. Ela me deixou com ciúmes.

- Todo pai fica com ciúmes, o meu ficava.

- Só que Sofia nunca se entregou a nenhum deles. Ninguém era tão interessante.

- Será? É o que ela te dizia, talvez pra te tranquilizar?

- Fui seu primeiro homem. Pelo menos o primeiro que a penetrou. Perdeu a virgindade comigo. Descabacei Sofia.

Ele segurou a taça pela base, cheirou o vinho e sorveu um gole longo, como se fosse um Sommelier. Carvalho não parava de me surpreender. Uma mistura única de um refinado homem e uma pessoa crua.

Que pai usaria uma palavra como 'descabaçar' alguém, ainda mais a própria filha? Me pegou de surpresa e ao mesmo tempo, confesso que senti uma agulhada dentro de mim. Minhas virilhas suaram.

Eu nem sabia o que falar, ainda bem que a bebida me deixava mais solta.

- Sua esposa nunca desconfiou?

- Meu casamento, há era só de fachada. Dormiamos em quartos separados. Malvina namorava outros homens, eu sempre fiquei na minha. Nunca arranjei ninguém, até a sorte me fez ter Sofia em meus braços.

- E os outros filhos, os parentes, ninguém desconfiou?

- Só havia Sofia e Letícia. Eu sei que Letícia desconfiava, mas era mais inveja, do que ciúmes. Sempre fomos discretos, quando começamos a buscar por experiências mais profundas, comprei uma Garçonière.

- Pra filha!?

- Sofia era curiosa, queria saber, se conhecer, experimentar. Os jovens, são sempre assim. O fogo da vida, a paixão minando por todos os poros. Ela, claro, confiava em mim, o nosso amor desabrochou. E ela floresceu como uma mulher. Eu reconheço que muito do que aconteceu entre nós foi mais por causa dos instintos de Sofia do que propriamente pelos meus conhecimentos. Ela me fez descobrir uma outra pessoa dentro de mim.

- Como assim?

- Alguns me chamariam de sádico, mas na verdade eu me descobri um dominador.

Eu engoli o que restava no meu copo num gole só. Carvalho passou o dedo ajeitando as pontas do bigode. O olhar do homem até faiscava. Era como se ele me examinasse a mente, a alma.

Tomei coragem e falei num fio de voz.

- Como foi que tudo aconteceu? Como ela descobriu que você era o homem dela?

Ele riu a tal risada em cascata. Ajeitou a flor na lapela do casaco, a gravata borboleta. Raspou a garganta enquanto eu descruzava as pernas.

O garçom apareceu com os cardápios dos pratos.

- Uma estória... longa. Tem certeza que você quer ouvir?

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Comentários

Foto de perfil de Morfeus Negro

Bom início, a narradora é uma personagem interessante, o Carvalho nem tanto. Espero que o tema D/s seja explorado, mas não de forma afobada, o perfil sempre demostrou talento nas inúmeras histórias que postou, vamos ver como se sai escrevendo sobre BDSM.

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