"Clair de Lune" - Capítulo 37 - Só a verdade liberta!

Um conto erótico de Annemarye (Por Mark)
Categoria: Heterossexual
Contém 3722 palavras
Data: 14/01/2023 21:51:22

Ela começou a rir, mas logo depois um silêncio estranho, constrangedor surgiu entre a gente. Ela então abriu seus olhos e me encarou. Eu não sabia quem estava mais envergonhado, se ela por ter me mostrado o vídeo ou eu por ter me excitado com ele:

- Quer conversar? - Perguntei.

- Vamos dormir um pouco? Depois a gente conversa. Prometo.

- Tá bom. - Falei e me levantei para ir ao banheiro, descartar a camisinha.

Quando voltei, ela já havia se deitado sob os lençóis e estava com os olhos fechados. Até não acreditava que ela já estivesse dormindo, mas também não duvidava, porque toda a situação, a pressão, o tesão, a trepada em si, haviam me esgotado. Deitei novamente atrás dela, de conchinha e cochichei em seu ouvido:

- Eu te amo e vou te proteger. Confie em mim.

Ela não respondeu nada, mas abraçou forte o meu braço e assim adormecemos algum tempo depois. Certamente, eu bem depois dela, porque agora eu me sentia na obrigação de ajudá-la, apesar de ainda não saber como.

[...]

Capítulo 37 - Só a verdade liberta!

Acordei com um som de notificação do meu celular e, quanto o peguei, vi que era uma mensagem do Erick querendo me ver. Marcos já não estava mais ao meu lado. Eu ouvia o som de vozes vindo da sacada de seu quarto que ficava de frente para o quintal e área de lazer da casa de seus pais e, de onde eu estava, vi que ele conversava animadamente com sua família. Voltei a me focar no que importava naquele momento e liguei para o Erick que não me atendeu, mesmo eu insistindo mais três vezes e isso começou a me preocupar. Então, mandei-lhe uma mensagem:

Eu - “Também quero conversar com você, Erick, mas você não me atende. O que está acontecendo?”

Ele recebeu e visualizou a mensagem, mas novamente fiquei sem resposta e comecei a me preocupar de verdade, afinal, até então havia apenas uma “informação” entregue pela Renata que ainda me era uma grande incógnita, pois eu não sabia se podia realmente confiar nela ou não. Voltei a insistir:

Eu - “Atende essa merda ou me responde, Erick. Isso já está ficando chato pra caramba!”

Nada! Novamente, nada. Decidi descer até a área de lazer da casa dos pais do Marcos para me reunir a eles. Eu precisava espairecer, relaxar ou iria ter outro “piripaque” ou um treco qualquer. Eles agora riam animados por uma MPB e um churrasquinho que o patriarca da família se aventurou a preparar. Marcos quando me viu indo em direção a eles, veio ligeiro me receber, ainda preocupado com minha indisposição de tempos atrás. Atrás dele, tão preocupada quanto, vinha dona Gegê e pouco mais atrás, Nana, afiada como sempre:

- A bela adormecida acordou! - Nana soltou assim que viu que eu estava bem: - Já podem soltar os passarinhos que ela vai assobiar. Opa! O passarinho, né, Marcos.

- Nana! - Ele a repreendeu, dando a entender que ela havia falado demais.

Eu o encarei curiosa, mas já imaginando que tivesse segredado à irmã nossa brincadeirinha antes de nossa soneca. Antes que eu pudesse interpelá-lo, dona Gegê, veio me puxando pelo braço, querendo me examinar mais detidamente, o que fez de uma forma bastante rápida:

- Pressão boa e batimentos cardíacos bons e ritmados. Está coradinha… - Falou sorrindo para mim: - Acho que foi uma indisposição passageira.

- Estou bem sim, dona Gegê, aliás bem e com fome. Esse cheiro de carne está bom demais da conta. - Falei, dando uma leve fugada no ar em direção à churrasqueira, mas me voltando rapidinho para ela: - E não vou comer só salada. Pelo amor de Deus…

- Só não exagera. - Ela insistiu.

Marcos se sentou e começamos a conversar, mais namorar na verdade, mas nada explícito, por óbvio. Nana se sentou de meu outro lado com uma taça cheia de cerveja, dando-me água na boca:

- Marcos, a Nana tá me fazendo desfeita. - Disse e apontei para sua cerveja.

- Cê não pode. Ainda tá doentinha. - Falou uma Nana zombeteira, enquanto sorvia uma grande golada daquele copo, terminando com um visto: - Ahhhhh! Geladíssima.

Agora eu olhei aflita para o Marcos e ele era só sorriso, mas, independente das orientações médicas, se levantou e foi buscar uma taça para mim também. Quando retornou e me entregou a taça, bebi tudo como se fosse água, numa golada só, chamando a atenção de todos ao meu redor:

- Putz! Que cachaceira, tio! - Falou Felipinho assim que coloquei o copo vazio sobre a mesa.

- Ô, abusado! - Falei e não consegui conter uma gostosa gargalhada.

Todos riram e a tarde correu sem maiores surpresas. Aliás, o clima era ótimo e todos fizeram o possível e o impossível para que eu me sentisse como uma da família e funcionou perfeitamente bem, porque curti demais a companhia deles. Bebi e comi bastante. Seu Balthazar não era o melhor churrasqueiro, mas também não fez feio. A picanha saía no ponto certinho, principalmente depois que eu fui até ele e pedi que me tirasse uns pedacinhos bem mal passados, e fui vergonhosamente roubada pela Nana e pela Duda que, depois de umas tantas cervejas, passou a falar igual uma matraca. Aliás, falar somente não, se denunciar:

- Então, Marcos… Feliz de você que tem duas mulheres que te amam. - Falou e piscou desajeitadamente para ele: - Se você trabalhar direitinho, pode até ficar com as duas…

- Duda!! - Gritou a dona Eugênia: - Meça suas palavras.

- O quê!? Qual o problema dele ficar com as duas? Eu já fiquei com um punhado e o Felipe também, ué! - Insistiu e se voltou para mim: - E é bom pra caramba, Anne. Vocês não imaginam como a gente se diverte quando tem mais de um homem.

Eu fiquei surpresa, claro, mas aparentemente o seu Balthazar não sabia desse “lado B” de sua filha e, apesar de ter levado tudo na brincadeira num primeiro momento, logo em seguida, pela entonação das palavras dela, viu que tudo era verdade, o que o deixou extremamente surpreso, irado e contrariado. Uma discussão começou então e o tom subiu vertiginosamente a ponto de terminar precipitadamente o churrasco em família. Duda e Felipe foram embora, praticamente escorraçados pelo patriarca. Dona Eugênia bem que tentou contornar a situação, mas não conseguiu. Seu Balthazar entrou irado em sua casa, sem sequer se despedir e a dona Gegê foi atrás dele:

- Desculpa, Anne, não sei o que dizer para você. - Disse o Marcos para mim, claramente constrangido: - Toda família tem seus problemas, infelizmente…

- Mas que problema, Marcos? A Duda e o Felipe serem liberais, isso é um problema? - Perguntei, tentando relevar a situação.

- Então… - Ele tentava encontrar as palavras certas para aquele momento incerto: - Eu, na realidade, até desconfiava que eles davam uns “pulos” por fora, mas nunca imaginei que fosse de caso pensado. Assim, de comum acordo, entende?

- Uai, se eles estão de acordo, qual o problema? - Insisti.

- Pra mim? Nenhum! - Ele concordou: - Mas você viu a cara do meu pai? Ele ficou totalmente transtornado.

- É… Isso foi. - Agora era eu que concordava: - Mas pensa bem, aparentemente todos sabiam, menos ele. Daí ele foi descobrir no meio de um churrasco e ainda na frente de uma pessoa estranha - Argumentei, indicando a mim mesma.

- Você se incomoda se a gente entrasse? Acho que a minha mãe pode estar precisando de ajuda.

- Claro que não. Vamos lá.

Entramos na casa e um silêncio assustador dominava o ambiente. Marcos saiu procurando seus pais pelos cômodos e eu ouvi um barulho vindo do escritório. Fui até lá e realmente havia alguém dentro, aparentemente chorando e se lamentando de algo. Conclui na hora que deveria ser o seu Balthazar e decidi conversar com ele para, talvez, tentar aliviá-lo daquele peso. Bati duas vezes na porta e ele me mandou “tomar no cu” sem sequer saber que era eu à porta. Comecei a rir e abrir a porta assim mesmo:

- Posso entrar, seu Balthazar? - Perguntei, já empurrando meu corpo para dentro: - Já entrei! Desculpa…

- Ô menina! Eu é que te peço desculpas pela minha grosseria. - Ele respondeu, constrangido.

- Tudo bem. - Comecei a rir novamente e completei: - Já faz algum tempo que não me mandam tomar no cu mesmo.

- Só mais uma vergonha para mim em um dia regado por elas, Annemarye.

Aproximei-me de sua poltrona e me sentei ao seu lado, perguntando:

- Como o senhor está?

- Eu!? A pergunta é como você está, Anne? Fico imaginando o que você deve estar pensando da gente. - Falou e baixou a cabeça, balançando-a negativamente: - Bando de degenerados…

- O que é isso, seu Balthazar? Claro que não, sô! - Rebati, sorrindo e toquei em sua mão: - Se o senhor está assim por minha causa, pode ficar tranquilo. Eu te garanto que isso é nada perto de muita coisa que já vi nessa vida.

- Credo, Anne! - Falou e me encarou, preocupado: - O que pode ser pior que descobrir que sua filha dá para um monte de homem com a concordância do pamonha do marido?

- Saber que sua filha morreu e o senhor nunca mais poderá abraçá-la, por exemplo!? - Retruquei e insisti: - Ou quem sabe, saber que nunca mais terá a oportunidade de dizer o quanto a ama só porque brigaram!?

Ele começou a me encarar e parecia bastante curioso com o que eu tinha para falar. Como o peixe estava fisgado, falta apenas tirá-lo da água e comecei a puxar a linha com o máximo cuidado:

- Ela é sua filha mais velha, não é, seu Balthazar? - Perguntei e ele confirmou com a cabeça, fazendo-me prosseguir: - O senhor lembra qual foi a primeira coisa que disse quando a pegou pela primeira vez no colo?

- Eu… Eu disse que a amava e a abençoei, acho que foi isso.

- Esse sentimento e essa intenção mudaram só porque ela disse que vive sua sexualidade de uma forma diferente?

- Não! Claro que não, mas é que…

- É que o senhor ficou assustado por ter descoberto algo da intimidade dela, seu Balthazar, mas a Duda continua sendo a Duda. - Contemporizava sem lhe dar chance de contestar: - A mesma Duda, o mesmo bebê, que o senhor pegou no colo, amou, benzeu e que agora deve estar chorando com medo de tê-lo perdido.

Eu parei de falar para dar-lhe oportunidade de dizer algo, mas ele somente me encarava surpreso. Depois, começou a morder o lábio inferior e a olhar para baixo, como se processasse as informações que eu havia acabado de lhe falar. Tomou então o restante de seu copo de whisky e me disse:

- Nem tive a oportunidade de lhe oferecer uma bebida, Anne. Quer beber comigo?

- Com duas pedrinhas de gelo, seu Balthazar. - Pedi, mais interessa em ter um copinho para tilintar que na bebida em si.

Ele foi até um barzinho próximo e me serviu uma boa dose de whisky com três pedrinhas de gelo. Depois, pegou uma nova dose para si próprio e voltou a se sentar em sua poltrona. Eu já tilintava gostoso meu copo, alegre com aquele barulhinho típico do gelo colidindo nas laterais. Não sei se ele gostava do som, mas eu adorava e não parei mais. Aliás, parei quando ele voltou a falar:

- Devo ligar para ela?

- Deve ser o pai que sempre foi. Não deixe de amá-la por isso, seu Balthazar. A vida é dela, a intimidade é dela e, pelo que posso concluir, ela sempre foi bem discreta, né? Tanto que o senhor só descobriu hoje, não foi?

[...]

- Maldita hora que você foi abrir a boca, Duda! - Me falou o Felipe, chateado com a situação criada na casa de meus pais: - Já te falei que nossa vida é nossa, caramba! Olha o climão que você criou…

- Poxa, Felipe! Eu nunca imaginei que meu pai fosse ficar daquele jeito. Eu só estava brincando com a Anne e o Marcos. Aliás, eu pensei que ele já soubesse da gente, da nossa vida. Minha mãe sabe, a Nana também, tenho quase certeza que meus irmãos também… - Falei e comecei a chorar: - Poxa, mas que bosta!

- Agora não adianta chorar. Vamos esperar a poeira baixar e depois vemos como consertar as coisas.

- Poeira baixar!? - Resmunguei brava comigo mesma: - Você conhece meu pai, ele deve estar me xingando até agora!

- Relaxa, Duda. Agora só nos cabe esperar. - Ele insistiu, mas vendo que eu não melhorava em nada, propôs: - Depois você liga para a sua mãe e faz uma sondagem para ter uma ideia de como as coisas estão. Dá só um tempinho.

A viagem passou a correr em silêncio até nossa casa. Nossos filhos já dormiam no banco de trás, aliás, só o Ricardinho, pois o Felipe parecia confuso com a briga presenciado há pouco e pelo fato de sua mãe ainda chorar. Me fiz de forte para confortá-lo e depois de um tempo, ele pareceu ter concluído que havia sido só mais uma discussão em meio a tantas outras que ele já havia presenciado. Chegamos em casa e tão logo entramos, meu celular tocou: era minha mãe. Respirei fundo e a atendi:

- Duda, como você estão? - Me perguntou aflita.

Após me certificar que Felipe havia levado nossos filhos para dentro de casa, falei:

- Ah, mamãe… - Resmunguei e desabei a chorar.

Nem sei quanto tempo passei chorando e, sinceramente, também não sei se minha mãe tentou falar comigo nesse ínterim. Só quando consegui me controlar, me lembrei dela e a chamei novamente na chamada:

- Calma, querida. Seu pai só ficou daquele jeito pela surpresa do momento. Daqui a pouco, vocês se entendem. - Minha mãe voltou a falar: - Mas se prepare porque será uma conversa bastante franca e difícil a que vocês irão travar.

- Mamãe, juro que não falei querendo ofender alguém. Eu só estava brincando com o Marcos e a Anne. Pensei que todos já soubessem sobre eu e o Felipe. E falei justamente porque queria que a Anne também me conhecesse melhor. - Tentei me justificar, ainda choramingando: - Nossa! Que merda de ideia…

- Acho que todos já sabiam ou desconfiavam, menos o seu pai e a Annemarye, é claro.

- Ah, mamãe, o que foi que eu fiz.

- Nada! A vida é sua e do Felipe. Se vocês são felizes assim, ninguém tem o direito de julgar vocês. - Ela insistia, tentando nos acalmar: - Seu pai só se assustou. Fica tranquila.

- E a Annemarye? Deve estar pensando que sou uma puta.

- A Anne!? Fica tranquila, Duda. Ela é cabeça feita. - Disse e riu: - Mas se prepara que ela também é uma brincalhona igual a Nana. Na primeira chance que tiver, vai tirar um belo sarro de vocês.

- É o que eu mais quero, mamãe. Pode brincar à vontade que eu não ligo, só não quero que ela fique brava ou sentida comigo.

- Vão descansar, querida. Vou falar com seu pai e ligo para vocês amanhã.

- Tá bom, mamãe. Beijo.

- Beijos para vocês, querida.

Assim que desligamos, fiquei sentada, apática e assombrada pela conversa que ainda teria com meu pai, nem vi quando o Felipe sentou do meu lado, com duas taças de vinho, entregando-me uma:

- Os meninos?...

- Já foram dormir. - Me respondeu e continuou: - Te ouvi no celular. Como estão as coisas lá?

Resumi a conversa que havia tido com minha mãe, enquanto colhia um carinho e um olhar cúmplice do meu marido. Depois, passamos a imaginar como seria a nossa conversa com meu pai assim que chegasse o momento e uma única coisa concluímos: ela não seria nada fácil. O tempo passava e logo meu celular tocou:

- Deve ser minha mãe. - Falei para o Felipe: - Ela ficou de me ligar depois que sondasse o terreno para mim.

Assim que peguei meu celular, o nome que surgiu na tela fez meu corpo congelar. Felipe, curioso, veio ver porque de eu ter parado e entendeu no ato ao ver o nome e foto do meu pai na tela:

- Atende e resolve logo, Duda. Estou aqui com você para o que der e vier. - Ele me falou.

Respirei fundo enquanto meu celular tocava e decidi dar a cara a tapa, afinal, pior do que estava não poderia ficar:

- Papai? - Atendi, temerosa por imaginar que ele me xingaria de cara.

- Oi, meu amor. Fica calma. Só quero conversar um pouco. - Ela falou extremamente calmo e comecei a chorar: - Duda!? Duda…

Chorei novamente, mas agora era de um alívio que me lavava a alma. O Felipe, ao contrário, imaginou que tivéssemos brigado e quis tomar o celular de mim, mas não deixei, sorrindo para ele, em meio às lágrimas e dizendo que estava tudo bem. Respirei fundo novamente, agora sorrindo feito uma boba e voltei a conversar com meu pai:

- Papai, voltei! - Brinquei: - Desculpa! Eu não queria…

- Não, querida. - Ele me interrompeu: - Eu é que tenho que te pedir desculpas, aliás, a você e ao Felipe.

- Ele está aqui do lado, papai. Eu já vou falar para ele.

- Coloca no viva voz para eu conversar com os dois. - Ele pediu e eu o atendi, informando-o que prosseguiu: - Felipe, Duda, eu queria pedir desculpas para os dois. Eu me excedi e… É isso! Eu queria pedir desculpas para vocês. Nunca eu deveria tê-los tratado daquela forma.

- A gente é quem tem que te pedir desculpas, papai. - Falei e Felipe corroborou: - Nós deveríamos ter contado para todos antes, seu Balthazar, mas é que o assunto não é fácil de ser abordado e, ademais, imaginávamos que vocês todos já soubessem de nossa vida excêntrica.

- E bota excêntrica nisso, né, Felipe! - Meu pai, falou e riu, nervoso: - Mas, como me disse meu anjo moreno, a vida íntima de vocês pertence somente a vocês e já que são discretos, eu nunca poderia tê-los tratado, humilhado da forma como fiz.

- Que anjo moreno é esse? - Perguntou o Felipe, enquanto eu também o olhava curiosa com a resposta.

- A Annemarye veio conversar comigo e me deu algumas duras. - Disse e depois de um tempo, ouvimos uma voz feminina rouca e potente ainda pouco conhecida, mas facilmente reconhecível: - Oi, casal de safados! Tchau, casal de safados…

Como eu já fora alertada pela minha mãe, a Annemarye entrou de sola, brincando com uma situação ainda tensa, mas que, como num passe de mágica, conseguiu deixá-la suave. Passei a conversar com meu pai e, apesar de sentir que ele estava tenso, incomodado, ainda chateado pela forma como falava conosco, pelo menos ele havia aberto um canal de comunicação. Aliás, ele nos convidou para voltar a sua casa no dia seguinte, pois precisávamos conversar melhor e aceitamos.

No dia seguinte, logo cedo, voltamos a casa de meus pais e fui recebida com um apertado abraço pelo meu pai. Chorei horrores em seu peito. Se havia alguém que eu não gostaria de entristecer, esse alguém era ele e fiz questão de deixar isso bem claro enquanto conversávamos. Estávamos na sala, conversando eu, ele, Felipe e minha mãe, quando Marcos surge e pouco depois, atrás dele, a Annemarye, com uma cara amarrotada, típica de quem acabara de acordar. Pedi licença a todos e fui até ele, me desviando do Marcos e a agarrando em um abraço forte:

- Uai, sô! Que trem é esse? - Ela soltou, surpresa com meu abraço.

- Oi!? - Perguntei, sem entender exatamente o que ela havia falado.

- Uai, por que desse abraço, Duda? - Ela respondeu com um imenso sorriso no rosto: - Vou mesmo ter que comprar um dicionário português-mineirês para vocês, gente.

Todos caíram numa gostosa risada e, depois de conseguir me controlar, eu falei:

- Eu precisava agradecer ao “anjo moreno” que conversou com meu pai ontem e nos deu a chance de conversarmos hoje.

- Mas eu não disse nada demais, não! Só expliquei para ele o meu ponto de vista. Só isso.

- E foi o suficiente. Fico devendo uma para você. - Falei, ainda emocionada.

- Pode pagar contando pra gente como é que vocês fazem. - Disse Nana que agora também entrava na sala: - Estou curiosa pra caramba. Cê não tá, não, Anne?

A Annemarye caiu numa gostosa risada e não confirmou, mas também não negou, deixando no ar uma certa possibilidade, aliás, seus olhinhos pretos e um sorrisinho maroto no final praticamente escancararam sua curiosidade. Minha mãe nos levou até a mesa onde estava servido um gostoso e farto café da manhã, obrigando-nos a nos banquetearmos, como se isso fosse necessário. Trouxe a Annemarye comigo e a Nana me xingava com os olhos:

- Ela é minha melhor amiga de infância hoje, baixinha, nem adianta resmungar. - Falei para minha irmã caçula.

- Só por enquanto. - Ela rebateu.

- As duas vão ficar na vontade. - Disse o Marcos, já pegando a Annemarye pela mão e a arrastando para o outro lado da mesa consigo: - Essa aqui é minha. Vão procurar outra “melhor amiga” pra vocês.

Vencidas, nos sentamos à mesa e ficamos conversando assuntos amenos, porque meus filhos também estavam no ambiente, mas tão logo tivemos uma folguinha, fomos praticamente arrastados para o escritório por meus pais, enquanto a Nana e a Anne se encarregaram de cuidar dos meninos:

- Certo, antes de mais nada, eu gostaria de pedir desculpas novamente para vocês. - Começou meu pai, solenemente, já perguntando em seguida: - Agora me expliquem que porra de história de casal liberal é essa?

- Balthazar! - Minha mãe o repreendeu.

- Deixa, mamãe. Ele está certo. - Confrontei-a com educação e passei a falar: - Papai, nada disso foi planejado, só aconteceu.

Expliquei então nosso início acidental no meio liberal, a traição do Felipe, minha vingança e expliquei que, para a gente, sexo fora do casamento era apenas isso: sexo fora do casamento. Meu pai me olhava boquiaberto, assustado, surpreso e, às vezes, encarava minha mãe que tentava transparecer normalidade com a situação para não torná-la ainda mais constrangedora. Depois de um tempo, ele pareceu se resignar:

- Mas, por favor, sejam discretos. - Meu pai nos pediu: - Se não por vocês, pelos meninos.

- É claro, né, papai! Eles sempre vêm antes de tudo e todos. - Concordei.

Depois de um tempo, a conversa, até então constrangedora, começou a ficar engraçada, pois meu pai passou a fazer piada com o “chifre” do Felipe que rebatia divertindo-se com as piadas. O clima já era ótimo e decidimos voltar para a sala. Mal abrimos a porta e ouvimos uma breve discussão entre a Annemarye e o Marcos:

- Você não vai sozinha! - Marcos falava em alto e bom som, aparentemente bravo: - Vou com você e está decidido.

OS NOMES UTILIZADOS NESTE CONTO E OS FATOS MENCIONADOS SÃO TOTALMENTE FICTÍCIOS E EVENTUAIS SEMELHANÇAS COM A VIDA REAL É MERA COINCIDÊNCIA.

FICA PROIBIDA A CÓPIA, REPRODUÇÃO E/OU EXIBIÇÃO FORA DO “CASA DOS CONTOS” SEM A EXPRESSA PERMISSÃO DO AUTOR, SOB AS PENAS DA LEI.

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Foto de perfil de Mark da NandaMark da NandaContos: 197Seguidores: 554Seguindo: 19Mensagem Apenas alguém fascinado pela arte literária e apaixonado pela vida, suas possibilidades e surpresas. Liberal ou não, seja bem vindo. Comentários? Tragam! Mas o respeito deverá pautar sempre a conduta de todos, leitores, autores, comentaristas e visitantes. Forte abraço.

Comentários

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Consegui colocar a leitura em dia.

Eu acredito que a Anne jamais se renderia a chantagens. Cair na armadilha é possível, mas ela nunca cederia aos caprichos daquela gente.

⭐⭐⭐

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Saudades dessa história, imaginei que a Anne iria querer ir sozinha nesse encontro, se isso acontecer as chances de dar merda são muito grandes.

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Adorei a conversar de filha para pai,o nosso problema de ser liberais e que nem todos aceitam este modo de vida,culpa e de nossa sociedade machista,acham que mulher tem que ser certinha a boa menina e ao homem tem que ser pegador,mas os tempos mudaram as pessoas procuram outra forma de prazer,ainda bem que ela tem um pai e Anne que foi um anjo pacificou,e eu nem pai tive para me ensinar a vida

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Adorei as cenas do próximo capítulo! E acho que a caipirinha não deve ir sozinha falar com o crápula do Erick! Aguardando com ansiedade próximo capítulo!

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Fantástico! Já estávamos com saudades do melhor casal e da melhor saga da casa. Ansioso pela continuação

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Buenos dias!!!!!!

Que bom que voltou esta história. Prefiro interagir em histórias fictícias. Kkkkkkk. Esse capítulo foi super leve e gostoso. A Ane já tomou seu lugar na família.

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Olá meu amigo, que legal poder retornar a essa história excelente, acho que o bico vai pegar nesse encontro, tomara que Marcos vá junto, apesar que ela sozinha consegue se virar e muito bem, mas contra aquela família de loucos tudo é imprevisível...

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Parabensss mais uma vez;

Esse capítulo com certeza foi mais uma gancho para a aproximação ao mundo liberal do casal protagonista.

Perfeitoo

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Mark já estava com saudades deste conto amigo como sempre demais parabéns amigo tu é nós merecemos nota mil.

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Essa Marye me encanta... Não tem jeito.

Quero ver agora como Erik,Rubens e Cia vão lidar com a presença e cplicidade do Marcos.

Muito bom.

Ah... Gozei de novo relendo o capítulo anterior.🤣😂🤣😂

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O conto anterior é o mais excitante da saga. Talvez o mais sexual e meio o que escancara a possibilidade do casal poder ser liberal. Fantástico!

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Que bom a continuidade dessa ótima história.

Que Marcos convencer a Anny a não ir sozinha.

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Provavelmente ela deve ir atrás do Erick, pois deve estar preocupada com ele. Não sei, só acho que seja algo do tipo!

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Sim. Mas acho que não preocupada com ele e sim com o que ele pretende fazer.

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Não sei se ela acha isso, mas acho que o Erick sim!

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Eu penso que como a gravação estava com ele e ela tinha certeza que o rosto não aparecia, e a forma como ele reagiu ao vê-la com o Marcos, e o

'aviso' da Renata que ele quer divulgar os vídeos, ela sabe que o objetivo é chantagear.

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Pode até ser, mas acho que o motivo dela ir atrás dele seja só preocupação

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Excelente, excepcional, maravilhoso e divino capítulo! Adorei!

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Estava com saudade dessa Marye.

Mas vou ter que ler o capítulo anterior para me recordar de onde as coisas estão

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Um resumo do que lembro! O Erick e a família estão tramando para transarem com a Annemarye!

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vale a pena reler, não pela trama da família do Erick, mas pelo efeito do vídeo no casal... 😜😈

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