Diários de caça - Capítulo 17 – Menino lobo

Um conto erótico de Fábio Mendes
Categoria: Gay
Contém 2659 palavras
Data: 21/01/2023 11:10:07

Dom Pedro estava obviamente mais animado que eu. Se por simples desejo de vingança, ou se por conta de seu espírito filantrópico de querer elevar as pessoas, não sabia.

Mas, como sempre fui um homem que cumpria minhas promessas, lá estávamos nós, de frente para a clínica de depilação.

- E lá vamos nós - Dom Pedro entrou na frente, saltitando como uma gazela dando seus primeiros passos.

Sem escolhas, suspirei em desalento e o acompanhei. Popular por todos os cantos por onde andava, meu carrasco foi cumprimentando a todos, desde funcionários até alguns clientes. Chegou a recepção e anunciou.

- Gabriela, queria, tenho uma hora marcada com Patrick.

- Mas já? - surpreendeu-se - pensei que ainda haveria tempo até precisar de um retoque.

- Não, não, não querida. Hoje estou aqui como fada madrinha apenas, transformando aquele gato borralheiro ali em um príncipe. Embora esteja mais para menino lobo, conhecendo os prazeres da civilização.

Acenei sem jeito para a menina, que me olhou com aprovação e uma certa dose de pena.

Não demoramos muito e logo uma figura tão esvoaçante quanto Pedro, mas muito mais tatuada, apareceu. Se cumprimentaram como dois colegiais e logo o tal Patrick veio até mim e avaliou de cima a baixo.

- Pedro, Pedro. Você tinha me falado que trazia um garanhão, mas não imaginei que estivesse falando sério. Você que normalmente só vê o tamanho da salsicha sem se importar com o restante da embalagem, dessa vez escolheu bem.

- Querido, o rótulo é o menos importante. Prefiro quando têm os instrumentos certos e sabem usar.

Fiquei quieto vendo eles se referirem a mim como um artigo em promoção e olhei para a recepcionista com ar de socorro. Ela ria no balcão, mas veio em meu auxílio.

- Patrick, lembrando que hoje você tem marcada a senhora Carmem, depois desse cliente

- Ih, é mesmo. Vamos começar então - Patrick saltou e nos conduziu a sala. Antes de entrar, vi meu amigo cochichar algo com a recepcionista.

- O que os dois estavam cochichando? - interroguei assim que chegou depois de mim.

- Nada, Leão. Ela apenas disse que estava triste, pois te achou um gato, mas como estava comigo, achou não ter chance. Eu disse para ela ter esperança, pois você não é do tipo que nega carne de qualquer tipo

E piscou, me deixando ainda mais sem graça.

- Então, senhores - Patrick colocava as luvas. - será virilha cavada, não é mesmo?

Eu apenas dei de ombros, pois não sabia nada daquelas nomenclaturas, mas Pedro acenou entusiasmado.

- Ele precisa ficar aqui? - questionei, já incomodado com a alegria dele. Pelo visto, aquela aposta do aniversário de Valquíria estava mais cara que eu imaginava.

- Normalmente não permito, mas Pedro é meu melhor cliente. Então como dizer não, não é mesmo?

- Claro que vou estar aqui, Fábio. Quem mais para filmar?

- Você não vai filmar - avisei.

- Vou sim. Diego e David pediram. Eles querem saber se você vai chorar de dor ou vai aguentar. Não se preocupe, não vou por no Xvideos, não. Embora já tivesse até uma legenda. "Macho roludo faz sua primeira depilação"

Difícil discutir com Dom Pedro quando ele estava tão animado. Sua voz estava tão fina que os cães no raio de 1 km deveriam estar sofrendo uma síncope.

- Vamos, garotão. - Patrick cortou - Tira a roupa.

Tirei a calça e deitei na maca.

Os dois riram

- Como você quer depilar o pau se está de cuecas, Fábio? - Pedro lacrimejava de tanto rir.

- Pensei que fosse começar nas laterais - respondi com um muxoxo, sentindo o rosto queimar.

- Não precisa tirar a blusa, mas eu até recomendo, pois você pode suar bastante no processo. - Patrick foi explicando enquanto aquecia a cera - Há menos que tenha vergonha de ficar nu na frente dos outros.

Pedro gargalhou em deboche.

- Esse aí? Ele não tem vergonha de nada.

"Feitos um para o outro" pensei enquanto os via tão entrosados.

Tirei a roupa e deitei. Nunca vi meu pau tão pequeno na vida. Só então entendi o quanto estava me cagando de medo daquele procedimento. Essa sensação era algo completamente novo. Não era de sentir medo, ainda mais de algo tão bobo. Sempre fui resistente a dor, então pra que tanto alarde?

Patrick, profissional, pegou o talco e passou em toda a região.

- Testa a temperatura da cera - e passou um pouco - tá quente demais?

Neguei, sem vontade de falar nada

Enquanto isso, Dom Pedro ligou a câmera do celular e filmou toda a sala como quem narra um grande jogo.

- Queridos amigos do Onlyfans, estamos aqui hoje para registrar esse momento histórico onde nosso querido amigo, Fábio Mendes, o leão, para os íntimos, vai perder a virgindade com a cera quente. Dá um oizinho, Fábio.

E apontou a câmera pra mim. Eu apenas rosnei.

- Nosso leão está meio de mal humor. Mas também, quem manda apostar sem entender as consequências, não é mesmo? Mas voltando ao local. Aqui comigo está o magnífico, o melhor de todos, o rei da estética, Patrick. Que vai ter a honra de devastar essa mata imaculada.

Eu, vendo que não tinha jeito, apenas aceitei o destino e rezei para acabar logo. Patrick estava certo e eu já estava suando.

- Relaxa, Fábio - Patrick me acalmou enquanto passava uma quantidade generosa de cera - Seus pelos são bem finos, não vai doer tanto.

Ele foi cutucando a ponta da cera para descolar uma parte boa o bastante para se agarrar. Apenas aquelas cutucadas foram bem doloridas ao meu ver, mas eu tentei não demonstrar.

- E aí vamos nós - anunciou.

E num segundo, era como se meus olhos tivessem submergido em um aquário límpido. A dor foi de zero a mil em um instante e depois caiu rapidamente. Deixando para trás apenas a lembrança e a queimação.

Segurei o ar e não me atrevi a fechar os olhos, pois se o fizesse, as lágrimas escorreriam.

- E então? - os dois entoaram em uníssono.

- Está tudo bem - simulei a voz mais grossa que consegui

- Esse é meu leão - Pedro enfocou bem meu rosto e eu tive vontade de arremessar aquele celular longe - Cai, mas cai com dignidade.

- Vamos continuar - anunciou meu carrasco e então a sessão de tortura deu início.

Cada puxão, sentia minha pele sendo arrancada. Meu corpo reagia com uma contorção e o impulso de esmurrar a cara de Patrick.

- Pronto. A pior parte já foi. Agora vamos pro saco

- Você está de sacanagem! - rebati - O saco vai, com certeza, ser pior.

- Por incrível que pareça, não é verdade - corrigiu. - Você vai ver. Confia em mim.

Eu não confiava de forma alguma, mas não tinha escolha. Mas o fato é que o medo era realmente prematuro. Lembro de ter me enrijecido todo esperando o pior, mas o puxão, comparado a região da púbis, não foi nada.

- Viu só? - inquiriu - o resto agora vai ser tranquilo. O ânus então, você nem vai sentir.

- Que papo é esse de ânus? - rosnei.

- Ora - estranhou - virilha cavada inclui ânus também.

Olhei para Dom Pedro que filmava tudo parecendo que se segurava para não urinar nas calças de tanto rir.

- Não vejo necessidade. Ninguém vai visitar aí pra precisar de faxina.

- Nossa, como você é antiquado - rebateu Patrick como quem ralha com uma criança birrenta - isso é higiene, meu amor. Não tem nada haver com decorar uma casa. Sua bunda nem é isso tudo, afinal

Aquilo me atingiu como um soco na boca do estômago do meu ego

- Hey. Não é assim também não. Ela pode não estar pra negócio, mas é bonita sim. - defendi a honra de minha bunda.

Patrick, ao fim, deu de ombros e terminou toda a região da virilha e do saco

- Pronto - anunciou, satisfeito - o que acha?

Olhei e o vi todo vermelho e com algumas pontinhas de gota de sangue, onde o pelo virgem saiu com maior dificuldade.

- Parece um frango depenado - dei meu veredicto

- Palhaço. - sentenciou, Patrick. Virou para pegar mais cera - Você ainda vai amar. Fábio., querido, depilação é igual qualquer vício. Uma vez que experimenta os benefícios e aguenta o processo, não quer outra vida. E ainda... Nossa! - exclamou em surpresa quando voltou.

O fato é que nem eu havia percebido, mas possivelmente o relaxar oriundo do fim da tensão e da dor fizeram meu pau, até então resignado, enfim aflorar em toda sua glória. Estava ereto como um mastro.

- Lindo, não é? - comentou Dom Pedro, todo orgulhoso.

Patrick o segurou como se estivesse querendo conferir se era real

- Meu santo KY, como você aguenta? - então, parecendo despertar de um transe, Patrick balançou a cabeça para afastar os pensamentos impuros e golpeou a própria mão com um tapa - Profissionalismo, bicha. Profissionalismo.

Não vou negar que fiquei satisfeito. Mesmo sem o menor clima para uma sacanagem, sempre gostei de ver meu amiguinho ali admirado pelo seu esplendor.

- Agora vamos, vira de lado, perna de cima dobrada em posição fetal. E segura a nádega pra abrir bem a região, por favor

- Puta que pariu - desabei - tem isso ainda.

Disposto a acabar logo com aquilo, obedeci, tento meu rego totalmente desonrado. Apesar a sensação de violação, o fato é que não senti dor alguma. Após passarem aqueles minutos intermináveis, ele depilou as nádegas e me deu um tapinha na bunda como um selo de qualidade.

- Voilà - anunciou - olha só. Esse é ativo mesmo. Foi só mexer lá atrás e o pau logo murchou.

Ele e Pedro riram , como duas almas gêmeas.

Levantei e me vesti.

- Pronto, Dom Pedro. Dívida paga.

Sentindo como se tivessem lixado minha pele, paguei a consulta e saímos

- Fábio. Por que não aproveitamos e cortamos o cabelo. - sugeriu - Eu to precisando.

Depois de tudo o que passei, passar no cabeleireiro não seria nenhum sacrifício. Chegando lá, fui convencido a abandonar minhas longas madeixas para mudar o visual. Liderado pela tirania de Dom Pedro, o barbeiro ainda alinhou minha barba.

- Ah Fábio, vamos aproveitar e comprar umas roupas - Sugeriu meu amigo, que já estava com aquela voz fina de excitação - Estou me sentindo Stanley Tucci em O Diabo Veste Prada.

Não entendi uma única palavra do que ele disse, mas aceitei. Eu nunca fui de gastar dinheiro com aquelas coisas, mas a empolgação de Pedro estava me contagiando. Eu estava ganhando bem e minha poupança estava recheada de dinheiro, o qual eu não tinha nenhuma necessidade ou desejo a suprir. Então não haveria mal em fazer uma pequena extravagancia

Fomos de loja em loja onde meu recém contratado e imposto Personal Style me orientou sobre combinações, estilo e outras coisas que sempre considerei insignificantes.

Eu tinha a real impressão que Dom Pedro conhecia todos naquele shopping, da clientela ao pessoal das lojas e da manutenção.

A vendedora, muito íntima de meu amigo, me guiou, fazendo aqueles elogios certeiros que induzem um bobo como eu a compras volumosas inflamadas pelo ego.

Ao final, estava eu andando com muitas sacolas e vestindo uma das roupas que havia acabado de comprar, quando passei pelo espelho do shopping e levei um susto com o estranho que vi refletivo ali.

Acabei imóvel, perplexo, tentado identificar onde eu estava naquela imagem refletida.

- Devo dizer. Adoro seu jeito rústico. Mas não tem como negar que sou um gênio - Pedro falou atrás de mim, ajeitando a gola de minha camisa social.

- Acho que fez um bom trabalho, sim - admiti, ainda sem jeito.

Então, meu amigo soltou um suspiro e, de repente, assumiu um ar nostálgico..

- Fico feliz em saber que vou deixar minha marca em você, de um jeito ou de outro.

- Por acaso estamos nos despedindo? - me virei para ele e percebi que tinha os olhos vermelhos.

- Ora. Para de ser bobo. Não agora, mas é óbvio que em breve. Você defende seu TCC mês que vem e pega o diploma. E já tem essa proposta de emprego maravilhosa te aguardando.

- Mas eu não me decidi ainda - tentei contornar e ele me olhou como se eu fosse algum idiota. Pedro me conhecia melhor que ninguém naquela cidade e já tinha se dado conta, antes mesmo de mim, de pra onde meu coração queria me levar. Mas não falou nada.

Apenas me olhou de novo, admirando a transformação completa, e suspirou.

Eu então não resisti ao impulso de o abraçar. Ambos nos surpreendemos com aquele gesto e ficamos ali, imóveis um tempo até ele me empurrar e secar os olhos

- Vamos embora, pois eu juro por Deus que se você me fizer chorar em público eu vou te odiar até você ficar velho e seu pau cair

E saiu quase correndo do shopping. Eu sorri cansado e caminhei atrás dele .

Meu novo visual foi recebido com espanto em todos os lugares e por todas as pessoas com quem cruzei. Meu vizinho Ivan, inclusive, perdeu um pouco da linha e ficou me encarando no elevador, esquecendo que o marido estava do lado. Mas mesmo o outro não percebeu, pois parecia igualmente surpreso.

Ao chegar no trabalho, segui direto para falar com Augusto. E ao passar por Vera, esta levantou da cadeira para me olhar direito.

- E aí, o que acha? - perguntei, dando uma voltinha pra ela.

- Você está... - procurou as palavras, ainda pasma - Deslumbrante.

Agradeci e quando me virei, encontrei Augusto na porta da sala dele que comentou:

- Quem é o playboy? E o que ele fez com meu garoto de vendas?

- Garanto que a qualidade continua a mesma, sr. Augusto. Só a roupagem que mudou

Ele riu e me chamou para entrar

Lá dentro, contei enfim para ele da proposta que recebi, onde meu patrão ouviu com calma, sem expressar reações.

- Eu ainda não me decidi - completei, percebendo como estava cada dia mais difícil me convencer daquilo.

- Claro que se decidiu, garoto. Não vou negar que a notícia não me agrada. Mas sei também que é um aventureiro e essa oportunidade é difícil de eu cobrir - avaliou, sorrindo cansado - você seria um idiota se não aceitasse e se tem uma coisa que eu odeio no mundo são os idiotas - suspirou - Eh. Conhecendo você, vai se dar muito bem onde quer que esteja. Mas, na remota possibilidade de você não se encaixar, ou caso perceba que sua vocação real está no ramo automobilístico, saiba que sempre terá um lugar para onde voltar.

Eu apenas afirmei com a cabeça, sem coragem de dizer nada.

Augusto levantou, deu a volta na mesa e me mandou levantar. Então, me deu um abraço de quebrar as costelas.

- Boa sorte, garoto

Eu retribui, ainda em silêncio.

Dois meses depois, eu tinha pego meu diploma de arquitetura e estava assinando meus papéis de demissão. Eu e Augusto, como dois homens machistas, não nos atrevemos a chorar. Por sorte, tínhamos Vera que, muito melhor resolvida, chorou pelos três. Como presente de despedida e recompensa por meu desempenho, onde atingi o primeiro lugar do ano, ganhei as chaves de meu primeiro carro, o qual guardo até hoje.

***

Pois é pessoal. Com esses dois capítulos postados hoje, damos fim a mais um arco nesta excitante história. Neste momento, veremos nosso Fábio explorando os mais diversos territórios de caça, mostrando que, um caçador de verdade, se vira onde quer que esteja.

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É isso, galera. Espero que estejam gostando da leitura e para aqueles que quiserem dar uma força, seja comprando, seja comentando e avaliando meu trabalho, muito obrigado. Ótimo fim de semana para todos

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Comentários

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bom mesmo e sentir cada letra é mágico! vivendo essa narração como algo surreal, excitante e reflexivo. um conto cheio de nuances.

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Muito obrigado. Fico imensamente feliz em saber

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