Meu Preço - Capítulo Dezoito

Um conto erótico de M.J. Grey
Categoria: Gay
Contém 2285 palavras
Data: 01/12/2022 11:09:09

***CAPÍTULO DEZOITO***

Dormi muito bem.

Agora passo o dia todo no quarto, olhando para o teto impecável. Que falta me faz um livro! Aceitaria qualquer um, até um de terror cairia bem.

Como não tenho nenhum, minha cabeça fica trazendo lembranças da noite que passei com Gabriel, lembranças a respeito de como me encaixo perfeitamente em seus braços, como nossos corpos mexem em uma sincronia ideal, e como estremeço em suas mãos...

— Chega! — grito comigo mesmo.

Odeio a solidão.

Eu odeio o Gabriel por me deixar nesse inferno de quarto o dia todo, sem nem aparecer para saber como estou.

Por que quero que ele saiba como estou? Quero que ele veja o quão tedioso é o meu dia.

Não aguento mais esse quarto, não aguento mais regras, estou pirando e preciso beber qualquer coisa, qualquer coisa que contenha bastante álcool.

Como se o álcool ajudasse, né, Samuel? Claro que sim, vai me ajudar muito, quero ver quem vai me impedir.

Continuo brigando com a minha própria cabeça. A que ponto cheguei?

Tomo coragem e saio do quarto, a porta do Gabriel está fechada. Desço os degraus devagar, não quero chamar a atenção, e prefiro que ninguém me veja — apesar de que essa casa é mais movimentada que o apartamento, onde nem uma mosca tinha.

— Posso ajudar, senhor? — O mordomo aparece do nada, todo pomposo.

— Como o senhor se chama mesmo?

— Osvaldo, senhor.

Talvez ele possa me ajudar...

— Oi, Osvaldo, você pode me chamar de Samuel, eu prefiro assim — digo docemente.

— Não sei se é apropriado, visto que será o senhor desta casa.

De qual livro de época ele saiu?

Quase ri dele de novo. Eu? O dono da casa? Gabriel nunca deixaria isso acontecer.

— Se puder, gostaria que usasse o meu nome, me sinto mais à vontade — reafirmo. Estou perdendo a paciência, acho que posso escolher como quero ser chamada, pelo menos isso.

— Vou tentar Sen... Samuel. — Ele sorri.

— Obrigado.

— O senhor precisa de ajuda?

Reviro os olhos. Pelo jeito será um longo trabalho de adaptação.

— Sim, onde ficam as bebidas fortes?

Ele ergue as sobrancelhas, desconfiado. Não diz nada, apenas me leva ao bar embutido na parede, que se abre depois que aciona uma alavanca.

É claro que sim, lugares secretos é a especialidade de Gabriel.

— Aqui tem todas as bebidas que o senhor Miller gosta. Se fizer uma lista das suas preferidas, amanhã mesmo elas estarão aqui — diz, com eficiência.

— Vou pensar sobre isso, obrigado. E outra coisa: onde está o Gabriel?

Não quero saber onde ele está realmente, só quero saber se está em casa, pois terei que correr antes que ele me veja por aqui, perambulando fora do quarto.

— Ele saiu bem cedo, senhor.

— Hum, tudo bem! Por enquanto é só isso mesmo — afirmo, depois de perceber que ele continua ali parado.

— Se precisar é só chamar e eu estarei aqui.

A eficiência dele chega a dar raiva.

— Como mágica? — Brinco para descontrair.

— Vou tentar ser o melhor que eu posso — promete, antes de sair.

Graças ao meu bom pastor.

Me sinto aliviado, não quero plateia perante ao que eu quero fazer. Pego uma garrafa com líquido amarelado que está escrito Whisky. Preciso beber.

Ela parece ser forte, as outras bebidas são vinhos e champanhes.

Levo a garrafa para sala, aproveitando que o carrasco não está. Tiro o chinelo só para sentir os pelinhos do tapete nos dedos e, nossa, é maravilhoso, como imaginei que fosse.

Ao sentir a primeira dose, quase vomito, mas me forço a engolir, tem o mesmo gosto da bebida que tomei do copo do Gabriel lá no cassino. Por teimosia eu bebo cada gole direto da garrafa e danço que nem louco, mesmo sem nenhum tipo de música.

Quero me sentir alegre novamente, só um pouco. Cada vez me sinto mais anestesiado. Meus braços e pernas estão formigando, pesadas e lentas, tudo roda, e a angústia ainda não passou totalmente.

Parece até que a dor aumentou.

As lembranças ficam mais difíceis de afastar, então me sento no chão, chorando. Soluço durante um bom tempo agarrado com a bebida, resmungando, mesmo com palavras incoerentes.

Viro o último gole.

Como ele disse que se chama mesmo? Alfredo? Ele seria algum tipo de mágico, então preciso que ele faça aparecer outra garrafa. Vou testar.

— Alfredo! — grito. Ops, será que é esse nome mesmo? Vixe!

Explodo em uma gargalhada histérica.

— Senhor, está tudo bem?

De onde ele saiu? Seguro o riso.

— Nossa, você é mágico mesmo. Onde estava escondido, atrás do sofá? — Dou risada da minha própria piada.

— Acho que o senhor bebeu demais. Quer ajuda para chegar ao quarto?

— Não! Não quero voltar lá, tenho medo de ficar sozinho. — As lágrimas voltam, estou muito sensível. — Gabriel sempre me deixa sozinho — reclamo.

— Ele é um homem muito atarefado.

— Ah, sim, com outros homens — desabafo. — Alfredo! — chamo alto, sem controlar o tom da minha voz.

— Osvaldo, senhor.

— Desculpe. — Solto um soluço, por causa da bebida. — Ops... Você pode me trazer outra garrafa?

— Não sei se devo, está muito alterado. Melhor ir para cama, Samuel.

Osvaldo parece muito preocupado, ou assustado.

— Olha, lembrou meu nome! — Até que enfim normalidade. — Sabia que você era uma pessoa legal, mas preciso de outra garrafa. — Ele continua me olhando, sem sair do lugar — Pode deixar que eu pego... — Tento levantar. — Eu vou pegar... E pra você relaxar, pode beber comigo.

Ele parece não saber o que fazer.

— Estou trabalhando, senhor, e eu não bebo — diz, empinando o nariz, convencido.

— Não? Estávamos indo tão bem! — Tento levantar de novo, mas é impossível, meu corpo não me obedece — Você pega pra mim? — Ele faz uma careta. — Anda, Osvaldo, ajudaria se eu dissesse que estou mandando? “Vá já buscar outra garrafa” — Imito a voz de Gabriel, gargalhando. Pela expressão séria do Osvaldo, ele não acha graça.

— Vou buscar um copo de água.

Ele se vira.

— Não! Traga a gafa... gafa... Garrafa de Whisky ou qualquer coisa que contenha álcool.

— O que está acontecendo? — A voz de Gabriel me assusta, mas ao mesmo tempo me irrita.

— Oh, o “Senhor Mandão” chegou. — Me encosto no sofá.

— Samuel? Quanto ele bebeu? — Parece preocupado, como se eu fosse cair nessa.

— Uma garrafa, senhor. — Osvaldo me entrega.

— E quem deu a ela? — Maldita autoridade que faz minha pele se arrepiar. De raiva, é claro, não poderia ser por outra coisa, jamais.

— Ele mesma pegou, mas eu mostrei, não sabia que aconteceria isso. Me desculpe, senhor.

Fico com pena por ele estar na mira dos olhos de Gabriel, aqueles olhos profundamente assustadores.

— Para de ser chato, não brigue com o Alfre... Não... Com o Osvaldo, ele vai pegar outra garrafa pra mim.

— Samuel, o que deu em você? — O olhar raivoso se direciona a mim agora.

— Como se você realmente se importasse...

— Estou indo buscar água — Osvaldo avisa. Acho que está fugindo da discussão. Ele é inteligente.

— Faça logo isso! — Gabriel exclama grosseiro.

Enquanto Osvaldo sai, ele bufa e se abaixa ao meu lado.

— O que eu faço com você, anjo? — Parece aborrecido.

— Olha! Voltou a me chamar de anjo... Achei que nessa situação me chamaria pelo nome ou talvez de nada, como você mesmo disse.

Ele fecha os olhos e, quando os abre, parece devastado.

— Estava nervoso. Falo coisas desse tipo quando as pessoas me irritam, e você vem fazendo isso constantemente.

Reviro os olhos.

— Por que você não vai embora? Ou melhor, poderia pegar outra garrafa, eu não consigo levantar. — Dou risada, mas sem humor nenhum.

— Não, já bebeu demais.

Ele tira a garrafa vazia da minha mão.

— Não posso pagar, então me desculpe. — Soluço de novo, sentindo o estômago se contorcer.

— Não me importo com a bebida, me importo com o seu estado.

Me recuso a acreditar em uma palavra que sai da boca dele, mesmo que meu corpo idiota acredite.

— Estou bem. — Sinto as lágrimas molharem meu rosto outra vez. — Ah, essas lágrimas estúpidas! — Passo as mãos severamente pelo rosto.

— O que foi que eu fiz com você?

Olho firme em seus olhos.

— Você me destruiu, me quebrou, me feriu em grande escala. Você é um fodido, por que não me deixa em paz? — As palavras saem enroladas, pausadamente, mas ele escuta todas elas.

Se afasta um pouco de mim, como se tivesse levado um golpe. Vejo a dor em seus olhos.

— Tem toda razão.

Sinto o sono tomar conta do meu corpo, me deixando mole. Começo a deitar naquele delicioso tapete, quando Gabriel tenta me pegar.

— Me solta, não quero suas mãos em mim! — esbravejo, empurrando-o.

— Não seja imprudente, anjo, me deixa te levar pra cama.

Solto uma risada irônica.

— Você já fez isso! Ah, e me desculpe pela falta de experiência, os outros homens são bem melhores do que eu. Tenho certeza que você os trata muito melhor.

A amargura está estampada em minhas últimas palavras.

— Não fale besteiras, Samuel! Venha, vou te levar pro quarto. — Usa outro termo, pelo menos este não causa revolta no meu estômago.

Empurro o braço dele, mas é em vão, ele é mais forte.

— Aqui está, senhor. — Osvaldo aparece com o copo de água.

Gabriel me ajuda a ficar sentado e coloca o copo na minha boca. No momento ela foi muito bem-vinda, aplacando a minha sede.

Não posso me iludir com o seu cuidado nem com o toque suave no meu ombro, muito menos com seu cheiro inebriante que invade a minha cabeça, me deixando desnorteada.

— Pode se retirar, Osvaldo. — Ele usa toda a frieza na voz.

— Muito obrigado, Osvaldo. Ele não sabe ser gentil.

— Chega, Samuel! — Ele me pega nos braços e me carrega escada acima, mesmo me debatendo. — Pare já com isso! — esbraveja.

— Vai se foder! — Estava entalado na minha garganta desde cedo, ou desde sempre.

— Adoro essa sua boca doce falando coisas sujas. — Seus olhos escurecem, e um sorriso malicioso surge em seus lábios.

Se acalme, Samuel. Ele não pode mais te atingir.

Ele me coloca na cama, e o sono bate assim que sinto o tecido acolchoado e macio tocar a minha pele.

— Boa noite.

— Vai se esconder de novo? — Me aconchego nos travesseiros.

— Tenho que trabalhar, está tudo muito louco, mas volto amanhã para ver como você está.

Palavras doces, sem resquícios de raiva.

— Não me deixe sozinho.

O quê? Por que eu disse isso? Acho que o álcool está falando por mim, porque, na realidade, eu não quero mesmo ficar sozinho.

Ele se senta ao lado da cama, parecendo derrotado. Fica me olhando sem dizer nada, acaricia o meu rosto enquanto automaticamente fecho os olhos, sentindo o sono me levar.

— Fique bem, meu anjo.

Uma curiosidade me faz entreabrir os olhos.

— Por que me chama assim?

Ele suspira.

— Porque quando vi você pela primeira vez, seus olhos brilharam com uma luz pura, fazendo meu coração palpitar no peito depois de anos parado. Naquela hora eu soube que você era um anjo, tão lindo e inocente, mas também forte e selvagem, fiquei encantado. — Gabriel se inclina sobre mim. — Mas não conte isso a ninguém, só estou te falando porque provavelmente amanhã não vá se lembrar. — Ele abre um sorriso sincero, o meu sorriso preferido.

Essas palavras enchem meu coração, acelerando os batimentos, causando um tipo de sufocamento que não posso explicar.

Sorrio, sonolento.

— Por que me deixou sozinho? — Me refiro ao fato de ele ter me abandonado na cama. Logo ele entendeu. — Por que me odeia tanto?

Ele parece o mesmo homem que me entreguei, com ele é fácil de falar.

— Não odeio você, acho que nunca poderia odiar. É totalmente o contrário do que sinto, chego a me assustar às vezes. Quando estou com você, me sinto vulnerável. Você me faz querer ser bom, e eu não sou bom, não quero e nem posso ser bom, isso tudo me irrita. Eu sou um monstro, Samuel, fiz coisas irreversíveis. Se me permitir sentir, vai ser apenas dor. Às vezes, quando vejo o que estou te causando, tento me convencer em te deixar ir, mas não posso, não posso ficar sem você. Doí só de imaginar você longe de mim. Não posso ficar perto sem te tocar e, não posso permitir que tenha sentimentos por mim, não mereço ser amado, muito menos por você. Olha o que te causei, anjo? Eu apaguei o seu brilho, a sua inocência, seus sonhos, eu te destruí. A minha alma é tão negra, tão horrível que te ofuscou, e eu me odeio por isso.

Não entendo muito, o álcool me deixa inebriado, estou ouvindo um pouco longe. Não sei mais se é real ou apenas um sonho. O sono me carrega pra outro lugar, mesmo lutando contra ele só para poder ouvir mais.

Me forço a levantar o braço e pisco várias vezes para que os meus olhos se mantenham abertos apenas para tocar seu rosto com a barba por fazer, sentindo pinicar a palma da minha mão.

— Você pode ser melhor, se quiser ser.

Eu sei que ele pode mudar, sei que esse muro que construiu em sua volta pode ser destruído, mas o que será que vai restar?

— Não posso, não posso amar, e mesmo assim sinto algo forte por você. Quando estou longe é como se não pudesse respirar direito sem ter você por perto. Você mudou o meu mundo, invadiu a minha escuridão com sua luz, me fez ser dependente de você, anjo, mesmo que eu não demonstre. Agora preciso me distanciar desses sentimentos. Você não faz ideia da agonia que estou sentindo. Me afundei num mar profundo de desgosto. Minha vida é um lixo.

Não sei se tudo isso é fruto da minha imaginação, mas gosto de ouvir. Meus olhos estão fechados, já não vejo mais seu rosto lindo. Antes de ser sugado por um sono profundo, sinto uma leve pressão na testa.

Talvez um beijo?

Siga a Casa dos Contos no Instagram!

Este conto recebeu 18 estrelas.
Incentive M.J. Mander a escrever mais dando estrelas.
Cadastre-se gratuitamente ou faça login para prestigiar e incentivar o autor dando estrelas.

Comentários

Foto de perfil genérica

Puta merda acho que estou sofrendo como se fosse uma síndrome de Estocolmo eu estou apaixonado por esse crápula do Gabriel e sei que ele é um safado. Não sei como mas estou a espera de um milagre que faça esse garoto feliz. UAU.

1 0
Foto de perfil genérica

Gabriel enfim se abre, mesmo que seja para um Samuel extremamente bêbado e que, provavelmente, não se lembrará de nada disso quando acordar... Ms Gabriel vai ficar mais leve por ter contado e vai sentir o quanto isso lhe fez bem e, isso já é um grande avanço...

1 0
Foto de perfil genérica

Perfeito. Só não demore tanto com o próximo capítulo rsrsrs.

1 0