Shadows from before

Um conto erótico de Kherr
Categoria: Gay
Contém 13401 palavras
Data: 19/11/2022 10:21:37

Shadows from before – Sombras do passado

Era uma quinta-feira, 9 de novembro de 1989, já tarde da noite, eu tinha tido um dia cheio na faculdade de arquitetura iniciada naquele semestre, e me preparava para ir dormir afim de enfrentar o dia seguinte, que seria igualmente puxado, quando o telefone tocou. A princípio pensei em não atender, uma vez que já estava bastante sonolento, mas a insistência repetida daqueles toques começou a me irritar.

- Alô!

- Lukas! Você está com a televisão ligada? Então ligue, se não estiver! Faz quase três horas que aquelas multidões aglomeradas protestando há dias de ambos os lados do muro resolveram atravessar a fronteira na passagem da Bornholmer Strasse, e a coisa está se repetindo nas demais passagens ao longo de todo o muro, depois que um porta-voz da DDR anunciou, em meio à crise do bloco socialista, a abertura das fronteiras. O povo aglomerado simplesmente começou a forçar a passagem e ninguém as impediu. Muitos escalaram o muro com pás e picaretas e começaram a demolição. Estou aqui com o Georg, a Martina, o Tobias e o Karl, estamos indo nos juntar à multidão para comemorar no Brandenburger Tor, vem com a gente, vai ser divertido. – convidou meu amigo Peter.

- Sério, cara! Nem liguei a televisão hoje, estava super ocupado. Na verdade, estava indo dormir. – respondi surpreso com aquele desfecho dos protestos que já vinham acontecendo há alguns dias e do clima político tenso, que eu acompanhava de longe pelos noticiários.

- Vamos passar aí em vinte minutos, esteja pronto! Se tiver alguma cerveja na geladeira, um vinho ou outra bebida qualquer, leve! Vamos receber a galera do outro lado em grande estilo. – o entusiasmo do Peter era contagiante, embora eu nunca tenha sido um ativista de causas políticas e sociais.

- Estou esperando! Respondi, antes de correr para o quarto e me trocar, pois fazia uma noite fria lá fora.

Tivemos que estacionar o carro a uma boa distância do Brandenburger Tor, pois as ruas do entorno estavam repletas de gente festejando. Nos misturamos à galera, saímos abraçando e beijando todo mundo indistintamente que vinha ao nosso encontro. As pessoas dançavam sob os pilares do Portão, bebiam e extravasavam todos aqueles vinte e oito anos de divisão imposta aos cidadãos pelo governo socialista, depois de construírem aquele absurdo monumento de segregação.

Já era madrugada quando eu o vi, ajudando outros rapazes em cima do muro, a quebrar e atirar os tijolos, entoando gritos de guerra como se fosse um daqueles combatentes das fileiras dos antigos exércitos romanos. Ele era grande e forte, seu corpo se destacava dos demais rapazes que estavam sobre o muro, tinha um rosto másculo que aquela atitude belicosa só tornava ainda mais atraente. Ele não demorou a me notar no meio de uma roda que dançava imitando a Hopak, a dança folclórica dos cossacos, trocamos olhares e sorrisos e, minutos depois, ele saltou do muro e se posicionou ao meu lado na roda. A mão pesada e vigorosa dele segurava meu ombro enquanto a cantoria e a dança continuavam, animada por toda bebida que já havíamos ingerido.

- Oi! Sou o Mathias! – apresentou-se ele, quando nos afastamos um pouco do burburinho, extenuados e suados.

- Oi! Lukas! – respondi, subitamente um pouco tímido com aquele olhar que parecia penetrar minha alma.

- Você veio da DDR? – perguntou ele, quando nos sentamos na calçada.

- Não, sou de Berlim Ocidental. E você?

- Também! Steglitz, para ser mais exato. Divido um apartamento estudantil com outros dois colegas de faculdade. – esclareceu ele.

- O que está estudando? – perguntei interessado, não só na resposta, mas naquele rosto cativante que parecia estar tão interessado em mim, quanto eu nele.

- Engenharia. Engenharia civil. E você, estuda?

- Arquitetura. Primeiro semestre. – respondi

- E onde mora? Numa república ou algo parecido?

- Não! Moro sozinho num apartamento em Charlottenburg que ganhei dos meus pais. – revelei

- Hummmm! Que chique! E o que levou um burguesinho, filho de papai a se juntar a essa galera num movimento de rebeldia política? – questionou ele.

- Não sou filhinho de papai! – exclamei um pouco desgostoso com a afirmação dele. – Vim com aqueles amigos, comemorar essa liberdade a que todo cidadão deveria ter acesso. – emendei.

- Desculpe! Não quis te ofender! Também penso como você, as pessoas deviam ser livres para ir e vir em qualquer lugar desse mundo, foi o que me trouxe até aqui também. – devolveu ele, penitenciando-se pelo pré-julgamento a meu respeito.

- Foi por isso que pegou na marreta e começou a quebrar o muro?

- Você me viu?

- Não tinha como não notar o seu empenho.

- E o que achou?

- Como assim?

- Deve ter pensado que sou um revoltado com o mundo, agindo feito um bárbaro. – respondeu ele

- Não pensei nada disso! Apenas tive a atenção despertada pelo entusiasmo com que você se juntou àqueles caras destruindo o muro. – respondi

- Ah! Só isso?

- Não entendi a pergunta.

- Vai me achar muito convencido se eu te perguntar se viu mais alguma coisa em mim?

- Não! O que eu deveria ter visto? – respondi, um tanto quanto embaraçado com aquela pergunta, especialmente porque eu começava a sentir onde ele queria chegar com aquela conversa.

- Você ficou vermelho! O que, de certa forma, já responde a minha pergunta. – disse ele, com um sorriso que me encarava de modo penetrante, e que me levou a baixar o olhar por alguns segundos para me recuperar do assédio.

- Costuma ser sempre tão direto? - questionei

- Quando algo ou alguém, como é o caso agora, me interessa, sim! – respondeu ele, me fazendo sentir o calor concentrado nas bochechas.

- E você, costuma sempre ficar tão encabulado quando recebe um elogio? Não deveria, você é lindo e aposto que deve receber muitos. – afirmou ele

- Pois bem, vejo que está gostando de troçar comigo. Acho que já me deixou constrangido o suficiente para um primeiro encontro. – devolvi tímido.

- Não estou zoando com você, apenas expressando a verdade, te acho muito bonito, lindo, para ser bem sincero. Fico feliz que esse não seja nosso primeiro e único encontro, pois estou louco para te conhecer melhor. – retrucou ele.

- O que te leva a crer que esse não seja nosso único encontro? – indaguei curioso

- A sua resposta! Você não acabou de afirmar que esse era o nosso “primeiro” encontro, então, isso significa que você já tem em mente outros, além desse. – ele era capcioso, inteligente, e eu me sentia cada vez mais atraído por esse desprendimento e essa ousadia.

- Preciso começar a medir bem as minhas palavras antes de expressá-las a você, ou essa sua sagacidade vai me deixar em maus lençóis. – devolvi, o que o fez rir.

- Gosto de você! Gosto exatamente desse jeito, tímido e algo ingênuo, me dá tesão! – senti um arrepio quando ele pronunciou a palavra tesão, pois para aquilo que eu estava sentindo o mesmo adjetivo se aplicava. Corei ainda mais.

Estava quase amanhecendo e nós continuávamos ali sentados na larga calçada da Ebertstrasse quase defronte ao Portão onde a multidão, embora cansada, ainda comemorava aquele marco histórico cuja extensão ainda não estava bem clara.

- Estamos indo, Lukas! Vem conosco? Se eu não for me deitar agora vou acabar caindo no sono aqui mesmo, no meio da rua. – disse o Peter quando veio ao meu encontro com a galera.

- Podem ir, vou daqui a pouco! – respondi, embora não tivesse a mínima vontade de me despedir do Mathias.

A maneira como o Tobias e o Karl se entreolharam, e aquele risinho disfarçado na cara do Peter, me indicaram que eles já tinham sacado o motivo do meu interesse em ficar. Todos eles sabiam que eu era gay, assim como o Georg, e isso nunca interferiu em nossa amizade que já vinha desde os tempos do colégio.

- Nos vemos hoje à noite? – questionou o Peter.

- Vamos nos falando! Eu na verdade deveria estar me preparando para ir para a faculdade, mas não vou aguentar assistir nenhuma aula sem cair no sono. – respondi.

- Nós idem! Se cuida! E, juízo, muito juízo! Até mais! – exclamou ele, como um bom e querido amigo. – Até mais, Mathias! Valeu te conhecer! Cuida bem aí do nosso amigo! – emendou, sem disfarçar a safadeza de suas palavras.

- Pode deixar! Valeu, até mais pessoal! – retribuiu o Mathias, antes de eles se afastarem.

Ficamos alguns minutos em silêncio depois disso, observando a multidão ir se dispersando à medida que o dia clareava e a cidade parecia voltar à rotina.

- Enfim sós! – exclamou o Mathias, arfando longamente.

- Enfim sós! – ecoei

- E quanto a nós, como ficamos? – perguntou ele

- Boa pergunta! Também vamos nos falando, eu acho! – respondi

- Queria que esse encontro não terminasse nunca! – afirmou ele, retraindo um pouco a voz, como se uma despedida, mesmo que temporária, não estivesse em seus planos.

- Nem eu! – respondi sincero

- Está com fome? Eu estou faminto! Daqui há pouco os cafés estão abrindo, podíamos tomar um nalgum lugar por aí, o que me diz? – sugeriu ele, para adiar aquela despedida.

- Legal! Conheço uns cafés legais perto de casa, se topar encarar uma caminhada de uma hora, mais ou menos, vamos chegar lá quando estiverem abrindo, topa? – questionei.

- Claro! É para já! – respondeu ele, saltando para se pôr de pé, e me estendendo a mão para me ajudar a levantar.

O puxão dele foi tão forte que quase topamos os corpos, que ficaram a uma distância tão curta que eu conseguia sentir o calor que emanava dele. Outro daqueles arrepios percorreu a minha coluna quando senti o hálito dele roçando a pele do meu rosto. Tive a sensação que ele estava prestes a me dar um beijo quando alguns transeuntes passaram muito próximos de nós e o demoveram da intenção. Ele estava nervoso e demorou a soltar a minha mão, e eu gostei daquela sensação de incerteza, desejo e receio de estar avançando rápido demais que aquele toque me transmitia. Sorri mais uma vez na direção dele, feliz com a possibilidade de sentir aquela boca colada na minha, e ele pareceu entender o significado do meu sorriso, pois o retribuiu.

- Lukas! Lukas, o rapaz que fica vermelho quando se admira ele. – proferiu ele, quando começamos a caminhar pela Bundestrasse em direção a Charlottenburg.

- Você gosta de se divertir comigo, não é? – indaguei, diante da facilidade com a qual ele me deixava constrangido.

- Não sei, ainda não experimentei! Mas tenho certeza de que vou gostar muito de me divertir com você! – respondeu ele com a latente dubiedade de suas palavras.

- Pervertido! – murmurei baixinho e excitado com essa possibilidade. Ele riu.

Chegamos ao café, a poucos quarteirões do meu apartamento, assim que terminaram de instalar as mesas na calçada. Ocupamos uma delas e logo uma garçonete veio pegar nosso pedido. O aroma adocicado que vinha de dentro do estabelecimento me relembrou do quão faminto eu estava. Assim que ela se afastou para providenciar nosso pedido, o Mathias roçou a perna dele na minha por debaixo da mesa, enquanto me encarava com um risinho libidinoso.

- Com fome? – inquiriu

- Muita! – respondi

- Ótimo saber disso, pois você não calcula a extensão da minha. – provocou ele.

Permanecemos pouco mais de uma hora degustando aquele desjejum caprichado e, enquanto ele acertava a conta sem me deixar participar, fez uma referência quanto a sobremesa, o que fez a garçonete encará-lo com certa desconfiança, me fazendo rir.

- Que eu saiba não há sobremesa depois do desjejum! – exclamei instigante

- Será que não mereço uma exceção? Você deveria vir aqui e conferir o tamanho que a minha fome ainda está. – retrucou ele.

Enquanto a garçonete começava a ter certeza de que ele era um maluco de pedra, eu sabia muito bem para onde olhar, e o foquei na ereção que se avolumava dentro do jeans dele.

- Sou todo seu! Para onde vai me levar agora? – indagou ele, ao se levantar sem a menor preocupação de disfarçar aquele volume gigantesco que pulsava sob sua calça. Dirigi-lhe um sorriso capcioso, sem responder sua pergunta, apenas tomando o rumo de casa.

Ele pegou discretamente na minha mão algumas vezes durante o trajeto até a Fritschestrasse, não escondendo o contentamento por eu o estar levando para o meu apartamento. O apartamento pequeno no terceiro andar, de apenas um quarto, dava para a rua através de um terraço que se acessava pelas portas de correr da ampla e iluminada sala. Tinha sido a forma que meus pais encontraram de recompensar a mim e ao meu irmão, pelo divórcio acontecido há pouco mais de dois anos. Meu irmão recebeu o maior dos dois imóveis, com dois quartos, um deles uma suíte, em Schöneberg, talvez por ser o primogênito, privilegiaram-no com o maior. Mas, o que me coube, atende as minhas necessidades, nunca fui muito exigente nesse quesito, basta que é amplo suficiente para não me sentir enclausurado. Tão logo o fiz entrar no vestíbulo que precedia a sala e fechei a porta, ele me prensou com seu corpo contra ela e com uma voracidade leonina começou a me beijar, apalpar e deslizar as mãos sobre o meu tórax, agarrar meu rosto entre as mãos e enfiar sua língua na minha boca, mal me dando espaço para respirar. No trajeto entre o café e o apartamento, eu já desconfiava que algo nesse sentido estava para acontecer, pois dava para identificar os sinais do tesão que estava sentindo por mim. A pegada do Mathias era forte, fez meu corpo ser apossado por um frenesi que deixou minhas pernas bambas. Os beijos só aumentavam essa exaltação chegando a me deixar zonzo. O sabor de sua saliva, o cheiro quente que vinha de seu corpo colado ao meu, aquela ereção roçando minha coxa atiçavam meu tesão, e eu retribui cada um daqueles beijos acalorados, acariciei sua nuca, e com a respiração arquejante, deixei-o se apossar de mim.

Fui caminhando tropegamente à frente dele em direção ao quarto onde sabia que ia ser abatido como uma presa indefesa diante do predador esfomeado. Entre beijos lascivos, fui tendo minhas roupas arrancadas. Sem a camiseta, tive meus mamilos lambidos, chupados e mastigados, os biquinhos enrijecidos eram a prova do que eu estava sentindo com sua investida, e o estimulavam a continuar. A calça e a cueca foram arriadas até os tornozelos com dois puxões fortes, deixando meu sexo e minha bunda carnuda disponíveis à sua tara. Soltei um gemido quando suas mãos potentes apertaram minhas nádegas. Pouco depois de me lançar sobre a cama, vi suas roupas voando pelo ar, ao mesmo tempo em que terminava de me desvencilhar das minhas. Ele pulou em cima de mim com a agilidade de um felino, mordeu meu cangote, beijou meus ombros, me envolveu em seus braços enquanto suas mãos bolinavam avidamente minhas tetinhas salientes. Embora sua ereção continuasse dentro da cueca, eu podia sentir sua rigidez se esfregando nos meus glúteos, numa excitação desenfreada. Sua língua úmida desceu ao longo da minha coluna até o cóccix quase me matando de tanto tesão. Ele parecia estar gostando de me ver subjugado e todo excitado. Gani quando ele cravou os dentes na minha nádega comprimindo-a até deixar a impressão dos dentes gravada na pele alva e lisinha.

- Que bundinha massa você tem! Adoro a sua bunda! – grunhiu ele, sem parar de me morder e apalpar.

Tentei me virar algumas vezes, mas ele não permitia. Estava tão fascinado por minhas nádegas polpudas e arrebitadas que não queria perdê-las de vista. Quando consegui girar o corpo mesmo estando sob o peso do dele, ele voltou a chupar meus mamilos, já inchados e sensíveis. Os biquinhos rosados e salientes atiçavam sua sanha predadora. De repente, ele ficou em pé ao lado da cama e tirou a cueca. Um caralhão imenso e pesado saltou dela juntamente com um sacão mas mesmas proporções cavalares, me fazendo arregalar os olhos para toda aquela virilidade explícita.

- Assustado? – perguntou ele, quando viu meu semblante apreensivo, encarando seu dote avantajado.

- Sendo muito sincero, apavorado! – exclamei, o que o fez abrir um sorriso.

- Prometo ser bem cuidadoso! – retrucou ele, ciente do estrago que um cacetão grosso e daquele tamanho podia fazer num cuzinho.

- Assim espero! Santo Deus, onde foi que você conseguiu um troço desses? – indaguei temendo pela minha virgindade sendo perdida pela intrepidez de um pauzão como aquele.

- Você está mesmo assustado! Está tremendo tanto! Você é virgem, Lukas? – questionou ele, notando meu desespero ante a iminência de ser enrabado por uma jeba colossal como a dele.

- Sou! – respondi tímido e inseguro, sentindo meus lábios tremerem ao responder.

- Sério? É sua primeira vez? Jura? Desse jeito você acaba comigo antes mesmo de começarmos. – devolveu ele, deslumbrado com a chance de me descabaçar. – Não precisa ter medo, vou ser gentil e cioso, prometo! – garantiu ele, embora isso não me deixasse mais confiante diante do tesão insano que ele demonstrava.

Ele subiu de joelhos sobre a cama, se aproximou de mim, pincelou o caralhão babado e úmido no meu rosto, ao redor da boca, do queixo, desceu e circundou lentamente um dos mamilos soltando o pré-gozo translúcido e almiscarado até deixá-lo empapado. Depois, guiando o cacete, introduziu o biquinho rijo do meu mamilo no amplo orifício uretral da chapeleta. Eu nunca me senti tão usado, tão devassado na minha intimidade, tão maravilhado com a tara de um macho como o Mathias. Levei as pontas dos dedos indicador e médio até o mamilo empapuçado de pré-gozo, molhei-as e as levei até os lábios, chupando seu néctar sob o olhar cobiçoso dele.

- Nunca provei nada tão saboroso! – exclamei, para delírio dele.

Eu já tinha mamado uma rola antes, na adolescência, duas na verdade, de dois colegas dos tempos de colégio, mas obviamente, nenhuma delas se comparava a que eu tinha nas mãos agora e nem estavam tão meladas e cheirosas quanto a do Mathias. Eu também nunca tinha chegado ao estágio de fazê-las gozar, porém, desta vez, estava empenhado a ir até onde ele me permitisse. A satisfação que eu sentia ao vê-lo grunhindo e se contorcendo só aumentava meu tesão e meu empenho em fazê-lo gozar. Por duas vezes, na iminência de esporrar, ele tirou o pauzão da minha boca, retardando e prolongando aquele prazer que o incendiava até a raiz dos pelos. Na terceira vez, e percebendo que era exatamente aquilo que eu queria, ele agarrou minha cabeça, afundou-a nos seus pentelhos, metendo a verga até a minha garganta e ejaculou farta e ruidosamente, me obrigando a engolir seu sêmen cremoso e alcalino, o que fiz embevecido de prazer e contentamento. Ele arquejava enquanto eu terminava de limpar o cacetão esporrado lambendo toda sua extensão e, inclusive, parte do sacão sobre o qual gotas de porra tinham caído.

- Caralho, Lukas! Que mamada foi essa, seu putinho? – grunhiu ele, imiscuído de volúpia. Sorri candidamente, encarando-o como se fosse meu ídolo.

Ele não perdeu tempo, recomeçou a me beijar, a acariciar meu corpo que já considerava propriedade sua, e colocou minhas pernas abertas sobre seus ombros, inclinou-se sobre mim e meteu o caralhão no meu cuzinho virgem. Por mais que fosse exatamente isso que eu desejava e esperava, a dor que senti quando o pauzão arrebentou minhas preguinhas apertadas foi tão lancinante que soltei um grito, e tentei empurrar seus ombros largos e pesados para longe, sem sucesso.

- Ai, espera! Fique nesse lugar, não enfia mais! – gani suplicando, procurando relaxar a musculatura anal e todo meu corpo retesado pela dor.

- Desculpa! Fui muito bruto, não era essa aminha intenção. Quer que eu tire? – questionou sensibilizado.

- Não! Só me dá um tempo para me acostumar. Eu te quero muito, muito mesmo! – balbuciei extasiado e dolorido.

O Mathias voltou a me beijar com tanta doçura e meiguice, enfiando sua língua na minha boca, me provocando sensualmente até eu começar a chupar sua língua e entrelaçar a minha com a dele, enquanto sentia suas mãos acariciando meus mamilos, enquanto começava a destravar o cu permitindo que suas estocadas carinhosas fossem fazendo o cacetão deslizar fundo dentro de mim. Vez ou outra eu soltava um ganido mais cruciante, quando o pauzão me machucava, e ele me recompensava com afagos e beijos, até conseguir enfiar todo seu falo no meu cuzinho. Ele era tão grande, me preenchia todo por dentro, que eu tinha a impressão de tê-lo por inteiro dentro de mim, na mais maravilhosa e incrível sensação que já havia sentido, um macho pulsando enérgico e viril dentro do meu corpo. Eu estava tão feliz que só pensava em cobrir aquele homem de beijos e carícias, de contrair meus esfíncteres ao redor do cacetão dele para massageá-lo e continuar estimulando sua rigidez avassaladora. Pouco depois de ele iniciar o vaivém com impulsos vigorosos e lentos, provocando um frenesi incontrolável por todo meu corpo, eu gozei, ejaculando sobre o meu ventre sob o olhar atento e exultante dele, expresso por um sorriso cúmplice. O Mathy, assim decidi que o chamaria carinhosamente dali em diante, continuou metendo, bombava meu rabo cada vez mais forte, mais empenhado, algumas estocadas entravam tão fundo em mim e socavam minha próstata contra o púbis me fazendo ganir. Eu envolvia seu torso suado nos meus braços, cravava meus dedos em suas costas largas e vigorosas, afagava sua nuca e abria minha boca para receber seus beijos e sua saliva que se mesclava à minha como se fossemos parte um do outro. Eu me contorcia debaixo dele, erguia minhas ancas para que o caralhão dele me penetrasse mais profundamente, aconchegando-o na maciez úmida do meu cuzinho. O Mathy rosnava, gemia, grunhia exaltado pelo prazer a cada nova estocada, sentindo-se acolhido e desejado. Quando minhas mãos se fechavam sobre seus bíceps musculosos e rijos, sobre suas costas retesadas eu conseguia sentir o clímax dele se formando, galopando rápido para o desfecho. Seus grunhidos e urros também assinalavam essa proximidade e, num derradeiro urro gutural, ele se despejou todo em mim, esporrando profusamente seu esperma cremoso no meu cuzinho dilacerado. Eu sangrava pelas pregas rotas. Permanecemos abraçados e engatados por um tempo, sem nos movermos, apenas sentindo aquele prazer ir se diluindo aos poucos, nossos músculos relaxando lentamente, o cacetão dele amolecendo devagar agasalhado pelos meus esfíncteres. Acho que durante aqueles minutos de silêncio que se seguiram ambos estavam pensando a mesma coisa, aquilo não tinha sido apenas uma foda, uma maneira de dar vazão ao tesão que sentimos um pelo outro assim que nossos olhares se encontraram, aquilo extrapolava aquele coito, aquela necessidade fisiológica de satisfazer instintos primitivos, aquilo era o embrião de um sentimento mais forte que começou a crescer naquele instante.

O Mathy passou o dia comigo, como tínhamos acordado tarde pelo cansaço de ter passado a madrugada participando dos festejos pela queda do muro e abertura das fronteiras da DDR, perdemos as aulas na faculdade. Também, depois do que aconteceu entre nós, o mundo fora das paredes do meu apartamento pareciam não ter mais importância. Tudo que realmente importava estava ali dentro, ele, eu e aquele sentimento que fazia com que não quiséssemos mais nos afastar um do outro. Tomamos banho juntos logo que deixamos a cama. Ele lavou o sangue que estava no meu rego me encarando como que determinando seu domínio sobre mim. Não era algo que eu sentisse como impositivo, como supremacia ou injunção de submissão, mas algo que me dava a certeza de poder contar com a segurança e proteção dele, o que me fazia aceitar aquilo sem nenhuma reserva. A mão dele deslizando dentro do meu rego estreito me fazia arquejar, o que logo o excitou. Eu ensaboava o sacão e o cacetão dele que ia endurecendo nas minhas mãos, e logo o levou a me agarrar por trás e enfiá-lo novamente no meu rabo, a despeito dele voltar a sangrar. Eu fiquei parado, empinando a bunda contra virilha dele, deixando-o me foder até ser encharcado por mais jatos de esperma. O dia todo foi praticamente assim, ele me perseguindo como se eu estivesse no cio, me abraçando pelas costas, me encoxando e esfregando seu membro consistente nas minhas nádegas num assanhamento que parecia não conhecer limites.

- E aí, recuperado da zorra dessa madrugada? Vamos nos encontrar no Besenkammer-Bar a pedido do Georg que ficou de se encontrar com um carinha por lá. Você conhece? Fica na Rathhausstrasse perto da Alexanderplatz. – convidou o Peter, conforme ficou de ligar.

- Mais ou menos, ainda estou meio mareado! Não estou muito afim de sair hoje, talvez numa próxima. – declinei.

- Cara, é sexta-feira! O que vai fazer enfurnado dentro de casa? Deixa de ser bundão e venha nos encontrar! – insistiu ele.

- Nada de especial! Estou a fim de ficar em casa, só isso! – devolvi

- O carinha de ontem está aí com você, não está? Como é mesmo o nome dele? Essa sua voz de quem levou pica no cu a noite toda não me engana! O cara te descabaçou, aposto! Acertei? – zombava ele do outro lado.

- Deixa de ser enxerido, Peter! Quem você pensa que eu sou, algum pervertido? – retruquei zangado.

- Você perdeu a virgindade, o cara te fodeu, tenho certeza! Ah, até que enfim você abriu a guarda para alguém. – continuou ele.

- Cala essa sua boca, Peter! Se você abrir essa sua boca suja para quem quer que seja, nunca mais falo com você, entendeu, seu puto! – revidei

- Não precisa ficar tão bravo! Juro que guardo seu segredo! – exclamou, tentando segurar o riso.

- Você não presta! Bom, está avisado! Nunca mais falo com você! – acrescentei, antes de bater o fone na cara dele.

- O que foi isso? Quem te deixou tão zangado? – perguntou o Mathy, que ficou o tempo todo que eu estava na ligação, beijando e chupando a minha nuca ao mesmo tempo que me encoxava libidinosamente.

- O puto do Peter! Quando ele resolve me aporrinhar com suas besteiras, perco a paciência com ele. – respondi.

- Nunca rolou nada entre vocês dois? Pois me parece que ele é meio que afim de você. – insinuou o Mathias

- Não, claro que não! Somos apenas amigos, mas ele abusa dessa amizade e fica me enchendo. – respondi

- Ele adivinhou que passamos a noite juntos, foi isso?

- Foi! E agora vai ficar me aporrinhando com isso!

- Não vai, não! Da próxima vez que cruzar com ele vou enquadrá-lo, e ele vai ficar na dele garanto. – asseverou o Mathy para me acalmar.

Cerca de uns três meses depois de nos conhecermos, o Mathy se mudou para o meu apartamento, estávamos tão apaixonados que era inconcebível ficarmos longe um do outro. Foi uma experiência maravilhosa, tínhamos tantas afinidades que a vida em comum e a rotina diária se encaixavam como uma luva em todos os sentidos. Não conseguimos mais guardar esse segredo nem para os meus nem para os amigos dele, embora não tivéssemos aberto publicamente o nosso relacionamento. Os únicos para quem contei que estava morando com outro homem foram os meus pais e o meu irmão, que já sabiam que eu era gay. Para os meus pais isso nunca fez muita diferença, ambos estavam mais preocupados consigo mesmos, com suas carreiras e com suas vidas conturbadas, onde os filhos só vieram a acrescentar mais problemas na tentativa inútil de manter um casamento fracassado. Meu irmão era o único que me entendia, talvez porque também sempre tivesse sentido que eu era seu único ponto de apoio, assim como eu também o enxergava sob esse ângulo.

Eu apresentei o Mathy aos meus pais e ao meu irmão; eles, à exceção do meu irmão, o receberam com indiferença, enquanto meu irmão acabou estabelecendo uma amizade com ele, um relacionamento de cunhado, como meu irmão se referia a ele. O Mathy também me apresentou à família dele, que morava em Hannover e para onde viajamos de vez em quando nos feriados. Inicialmente, me viam como um mero amigo do filho, algo natural para a idade dele e sua vida acadêmica longe de casa. No entanto, com a repetição de nossas visitas, começaram e sentir um certo desconforto com a minha presença, pressentindo que talvez essa amizade já tivesse extrapolado os limites da moralidade. Isso os levou a começar a apresentar sempre uma garota nova a cada visita nossa, uma filha de algum amigo, uma moça que frequentava as reuniões de juventude da igreja que frequentavam, uma vizinha bonita que se mudara recentemente com a família para a mesma rua, e outras que porventura julgavam ser um bom partido para o filho assim que ele estivesse formado. Começou aí uma forte pressão para que ele pensasse ativamente em se casar, de preferência o quanto antes, pois isso significaria se afastar de mim e de uma eventual atração que eu estivesse exercendo nele. Chegaram ao ponto de numa das nossas visitas, pedir que ele não me trouxesse da próxima vez que voltasse para casa, sob a alegação de que não ficava bem para um rapaz bonito e cobiçado pelas mulheres como ele, estar o tempo todo ao lado de outro homem, especialmente ligeiramente mais novo e tão bonito como eu.

- Que absurdo vocês estão falando! O que querem insinuar com isso? – questionou ele, numa discussão que acompanhei escondido atrás de uma porta.

- Esse rapaz é indiferente às garotas, será que você não percebe? Além disso, você notou como os outros rapazes olham para ele, hoje mesmo quando estivemos no Biergarten, eles o devoram com o olhar, a beleza dele desperta a sensualidade nos homens. Isso não pode ser bom para você! – advertiu o pai dele.

- Que culpa ele tem de ser tão lindo? Isso por acaso é algum pecado? Que absurdo! – protestou o Mathy em resposta.

- Não estamos dizendo que ele tem alguma culpa, só que não se interessa por garotas, e que homens o cobiçam a olhos vistos. Isso você não pode negar. – afirmou a mãe

- Eu me recuso a ouvir tanta besteira! – exclamou o Mathy irritado, mesmo sabendo que o que diziam era a pura verdade.

- Bem, você está avisado, não o traga mais para dentro dessa casa! – ordenou o pai.

- Pois bem, então também não vão voltar a ver a minha cara tão cedo! – retrucou o Mathy resoluto. Não consegui evitar de me ver chorando atrás da porta quando a discussão terminou. Eles nunca iam aceitar que o filho tivesse um relacionamento homossexual, isso ia de encontro ao credo deles, aos preceitos da religião que norteava suas vidas, à moralidade que essa mesma religião a que se devotavam, condenava veementemente.

Eu tentei de todas maneiras impedir que ele rompesse os vínculos com a família. Sugeri que os fosse visitar sem a minha presença, mas o Mathy nunca acatou meus argumentos.

- Eu te amo acima de qualquer outra coisa nesse mundo! Não vou abrir mão de você por um capricho ou preconceito da minha família. Você é meu, é quem eu amo, é com quem quero ser feliz. Eles vão ter que aceitar isso! – devolvia ele ferrenhamente.

Essa convicção começou a mudar depois de nos formarmos, quando ele conseguiu um emprego numa grande empresa de engenharia, e quando seus novos amigos, colegas de trabalho, já não pensavam da mesma maneira e não tinham a mesma tolerância que nossos amigos comuns do tempo de faculdade. Ficou claro que seu desenvolvimento profissional, a ascensão a cargos bem melhor remunerados na empresa também dependia de uma imagem de homem ligado a uma esposa e filhos, um homem provedor e familiar. Enquanto no meu meio profissional o fato de ser gay não influenciava no desenvolvimento da carreira, no dele isso era uma barreira quase intransponível.

Contudo, havia mais um aspecto da personalidade do Mathy que eu fui reconhecendo durante o nosso convívio, ele era um macho, um macho no sentido mais restrito da definição, o que significava que sentia atração tanto por mulheres quanto por homens, ambas categorias dominadas por sua supremacia. Ele nunca me traiu ou flertou abertamente com uma garota na minha frente e, acredito, nem pelas minhas costas, pois sua integridade não seria capaz de ato tão vil. Quando se sentia atraído por uma garota, ele me dizia isso abertamente, não para me provocar ou fazer ciúmes, apenas para me deixar ciente de que também sentia tesão por elas. Aprendi a conviver com isso, o amor que ele me tinha me dava a segurança da qual eu precisava e, se por ventura, eu ficava mais enciumado diante de uma ou outra garota que me deixava um pouco inseguro, ele logo tratava de me demonstrar que seu amor era todinho meu, só meu, o que acontecia ele me fodendo tão intensa e carinhosamente que deixava marcada essa posição no meu corpo.

- Dois colegas bem menos qualificados e com menos tempo de empresa foram promovidos essa semana. – começou ele, enquanto jantávamos, após ele voltar tarde do trabalho. – Estão deixando claro que é porque continuo solteiro. Ninguém mencionou nada, não seriam tolos a esse ponto, mas o recado está nas entrelinhas. – continuou ele, pois isso o estava afetando bastante.

- Você já cogitou mudar para outra empresa, sua capacidade e qualificação te habilitam para outros empregos. – argumentei, me sentindo culpado por ele estar passando por isso.

- Não creio que isso vá mudar! É esse meio, já tinha notado isso na faculdade, são os homens os protagonistas nessas empresas, os homens que demonstram e aparentam a masculinidade de que são dotados. – devolveu ele.

- Ninguém tem como questionar a sua masculinidade! Você é um homem bonito, viril, põe no chinelo um montão desses que andam por aí alardeando uma masculinidade que não chega aos pés da sua e, se tivessem a noção do tamanho do que você carrega entre as pernas, se sentiriam ainda mais inferiorizados. – voltei a ponderar, quando já estávamos na cama e eu afagava seu rosto deitado no meu colo.

- Não posso sair por aí exibindo meu cacete para que cogitem me promover! – exclamou ele, rindo.

- E nem eu estou te sugerindo isso! Até porque não quero ninguém sabendo o que estão perdendo por não terem o mesmo acesso que eu ao seu pintão gostoso. – devolvi.

- Posso usar de sinceridade com você, muita sinceridade, sem que você interprete meu ponto de vista de maneira errada? – indagou ele, o que me fez sentir um aperto no peito, pois eu começava a suspeitar do que ele ia me propor.

- É claro que pode, sempre fomos sinceros um com o outro, não quero que isso mude nunca. Eu te amo sob todos os aspectos, e a verdade deve imperar sempre no nosso relacionamento. – respondi.

- Eu também te amo, você sabe disso, e nunca duvide desse amor, nunca! Ele é o que eu tenho de mais importante e valioso na vida. – asseverou ele sincero. – Você sabe que minha família não para de me pressionar, agora é essa questão no trabalho, eu preciso me posicionar se quiser que essa situação mude, e para isso preciso que você esteja aberto e seja compreensivo comigo como nunca antes. – as palavras dele estavam me deixando apavorado. – E se eu me casasse com uma mulher? Tudo estaria resolvido, nossos problemas teriam fim, sem que nosso amor fosse abalado pelas novas circunstâncias. – soltou ele cautelosamente enquanto me encarava fundo nos olhos. Comecei a chorar. O mundo parecia estar desabando sobre mim. Ele me tomou em seus braços e me apertou contra o peito, o lugar em que sempre me senti amparado e seguro, de repente parecia não mais atender a esse propósito.

- Os teus problemas teriam fim, os meus só estariam começando! Eu passaria a ser o que seu, um concubino, um amante que teria que viver nas sombras sem poder demonstrar o amor que tenho por você? – questionei, enquanto ele tentava me fazer parar de chorar. – Teríamos que viver em casa separadas, eu não teria mais todas as noites deitado ao meu lado, acessível às minhas caricias, às minhas necessidades. Passaríamos a depender de agendamentos, de arranjos e oportunidades que sabemos serão cada vez mais escassos. Isso arruinaria o nosso amor para todo o sempre, Mathy! – explodi, num choro convulsivo

- Acalme-se! Você está sob o impacto da sugestão, não é nada definitivo, é apenas uma ideia que estamos trocando, eu nunca vou deixar de te amar, é isso que preciso que você entenda, querido. – dizia ele, mas eu já não conseguia ouvir mais nada, minha mente só antevia sofrimento e dor com a qual eu provavelmente não saberia lidar.

Já fazia alguns meses que o Tobias tinha nos apresentado Betina, uma amiga de uma garota com a qual ele andava transando, mas da qual logo se cansou. No entanto, a Betina continuou saindo conosco e fazendo alguns programinhas descompromissados com a galera. De início, achei que ela, por ser holandesa e estar longe de casa, só queria estabelecer um círculo de amizades com o qual ela teria como se distrair além do trabalho de enfermeira num hospital universitário da cidade. Contudo, não demorei a perceber o interesse dela pelo Mathy, forçando todo tipo de situações para sempre estar o mais próximo possível dele, para ser notada por ele. Eu, que até gostei dela num primeiro momento, comecei a me incomodar com a situação, mas me mantive calado para que ela, que não era tão íntima de nenhum de nós, soubesse que era gay e que o Mathy era meu companheiro. Da galera toda, aliás, somente o Peter sabia de nós, os demais podiam até ter suas desconfianças, mas aparentemente, acreditavam que o Mathy e eu apenas dividíamos o apartamento por questões práticas e econômicas, aquilo que rolava entre as quatro paredes do quarto eram apenas suposições sem nenhuma prova concreta.

Pois foi justamente na Betina e, no seu interesse por ele, que o Mathy pensou quando a questão do casamento se afigurou como uma solução para situação dele. A Betina tinha seus encantos, não nego, embora não fosse bonita; era esguia, tinha traços delicados, era discreta e relativamente calada, tinha gostos apurados reflexo de uma educação esmerada e, o pior, estava disponível. Conhecendo o Marthy como eu conhecia, não me iludi achando que ele não tinha reparado nela e em seus atributos físicos, não que fosse linda, mas sim dona de uma sensualidade que os homens não conseguiam ignorar, e ele era um macho com muita testosterona nas veias, o que bastava para ele se deixar enredar por esse tipo de mulher. Até ele começar com essa história de casamento, eu nunca tinha me sentido inseguro quanto a solidez do nosso relacionamento, porém, depois que ele aventou essa possibilidade, passei a ver na Betina uma rival com mais atributos para fazer a felicidade de um homem, uma vez que ela podia lhe dar filhos e eu não.

Acho que a Betina nunca pensou em mim nesses mesmos termos, para ela eu não passava de um grande e fiel amigo do Mathy, tanto que ela se empenhou em se tornar minha amiga, talvez pensando que eu seria um trampolim para seus anseios em relação a ele. Justamente por ser bastante discreta, ela nunca se abriu comigo nesse sentido.

- Pensei na Betina como a solução dos meus problemas, ela gosta muito de nós dois e faz questão de deixar isso bem claro, é uma mulher pouco independente, portanto, manipulável, o que nos permitiria continuar nos encontrando e mantendo o nosso amor apesar de eu estar casado com ela. O que você acha? Ah, sem mencionar que o trabalho dela no hospital, nos deixaria com bastante tempo livre para nossos encontros. – argumentou o Mathy quando voltou ao assunto, me indicando que a questão do casamento continuava viva e o atormentando.

- Pensou nela porque sabe que ela está afim de você, não é? Quanto ao fato de você achar que ela é manipulável, eu não teria tanta certeza, mulheres com o perfil dela não são exatamente o que parecem. – respondi

- De onde você tirou essa ideia de que ela está afim de mim? Você nunca foi ciumento, o que deu em você agora? – questionou ele. – E, o que você quer dizer com o perfil dela, que perfil é esse?

- Nunca demonstrei ciúmes em relação a você porque nunca me senti ameaçado, mas isso mudou quando você enfiou essa ideia fixa na cabeça de casamento. – respondi. – O perfil dela é o da mulher que finge uma falsa fragilidade, uma submissão ao seu homem, mas que na verdade é quem vai determinar as coisas no relacionamento a seu bel prazer. Vocês machos parecem que ficam cegos a certos aspectos obnubilados pela quantidade de testosterona que carregam nas veias. – acrescentei.

- Lukas, você está morrendo de ciúmes por algo que ainda nem aconteceu! Não acredito que você seja assim! – exclamou ele

- Estou, Mathy! Eu estou com ciúmes, sim. Eu estou com medo de te perder, eu estou com medo que o nosso amor acabe por conta dessa merda de ideia de casamento que você enfiou na cabeça para progredir na carreira e satisfazer os caprichos da sua família. – afirmei choroso.

- Bobinho, eu já não disse que nunca vou deixar de te amar. Eu já não disse que se eu me casar, veja bem, se, e não que vou me casar, nada vai mudar no nosso relacionamento, sempre vamos continuar nos vendo. – sentenciou ele, vindo me abraçar, pois sabia o quanto eu estava sofrendo com aquilo tudo.

- Continuaremos nos vendo como, quando estiver casado? Nos intervalos em que você não estiver ocupado com a sua nova família, quando a demanda dela por você te der uma folga, quando será isso, Mathy? Não me prometa coisas que sabe que não vai poder cumprir! – retruquei aos prantos, pois aquilo estava crescendo e se consolidando cada vez mais, enquanto eu me sentia impotente para lutar contra essa obstinação dele.

O Mathy e a Betina se casaram em meados de maio de 1994, numa cerimônia pequena para poucos amigos mais próximos além das famílias de ambos, eu fui o padrinho dele, por sugestão e insistência da própria Betina. Jamais vou me esquecer da expressão do rosto dela no dia em que combinou um encontro a sós comigo para insistir nesse convite, por trás daquela aparente solicitude, havia uma crueldade camuflada bem no fundo de seu olhar meigo, como se ela quisesse me punir por eu estar apaixonado pelo mesmo homem que ela. Eu acabei aceitando, já tinha cedido em tantos pontos com o Mathy que mais um menos um, não fazia mais diferença, eu estava destroçado por dentro, mas ainda o amava com todas as minhas forças e me sujeitei para não perdê-lo de vez.

O namoro deles foi curto. O Mathy passava mais tempo comigo do que com a noiva. Trocava qualquer programa com ela para ficar ao meu lado, muitas vezes deixando-a esperar por horas para se encontrarem por um breve espaço de tempo, logo voltando para as minhas carícias. Ele continuava me amando, disso eu não duvidei, e aproveitava cada instante ao lado dele como se fosse o último, pois algo me dizia que aquilo não ia durar para sempre.

Eles passaram a semana de lua-de-mel num chalé em Rügen na costa do Mar Báltico, eu os levei de carro até lá e fiquei alojado num bangalô não muito distante do chalé, por determinação do Mathy, para que pudesse passar algumas horas comigo. Eu não sei onde estava com a minha cabeça quando aceitei e me sujeitei a tudo aquilo, só o amor que eu sentia por esse homem podia justificar tanta insensatez. Mas, eu não pensava em nada disso quando ele chegava ao bangalô depois de ter passado a noite com a Betina, e vinha cheio de disposição e tarado como nunca, me comer o cuzinho até eu ficar todo esfolado e encharcado com seu esperma, ou quando, nos finais de tarde, nos sentávamos sobre as dunas e ficávamos observando o pôr-do-sol lançando seus últimos raios dourados sobre uma ilhota que ficava a apenas algumas centenas de metros da praia e, de onde bandos de gaivotas alçavam voo contra a luz do sol antes de mergulharem com seus bicos nas cristas das ondas que traziam à superfície os cardumes de peixes. Eu ficava com a cabeça ou encostada no ombro ou no tórax dele sentindo a calmaria de seus batimentos cardíacos e usufruindo daquela felicidade que estava com os dias contatos, apesar de eu não saber disso naqueles instantes.

Esses sumiços prolongados do Mathy em plena lua-de-mel não só deixaram a Betina instigada, como também revoltada. Ela tinha certeza que com o casamento ele seria todo e exclusivamente dela, porém, não era isso que estava acontecendo, já nos primeiros dias. Ele cumpria sua obrigação para com ela na cama e partia para demoradas caminhadas pela ilha, deixando-a sozinha no chalé sem muitas explicações. Numa tarde, já irritada com aquela situação, ela o seguiu pouco depois de ele rumar em direção ao bangalô onde eu estava hospedado. Tínhamos tão pouco tempo para ficar juntos que logo ao chegar ele me abraçou e me beijou com aquele seu furor viril, me excitando com sua ereção que aparentemente já vinha crescendo durante o caminho que ele fazia até o bangalô. Como cada segundo era precioso, eu me deixava conduzir à cama, retribuindo seus beijos, tirando para fora e acariciando seu falo babado, antes de chupá-lo devotamente, até deixar o Mathy com tanto tesão que ele me enfiava o caralhão no cu numa voracidade insana. Eu estava de quatro sobre a cama, nu e gemendo, enquanto o Mathy, em pé ao lado da cama, me fodia o cuzinho com toda sua vitalidade, extraindo cada impulso prazeroso daquele coito libertino, quando a Betina se aproximou sorrateira do bangalô e nos flagrou através das vidraças do quarto. Eu até posso imaginar o que aquela mulher sentiu ao nos flagrar fazendo amor, até sou capaz de compreender o ódio que se instalou dentro dela ao ser traída pelo marido recém-casado. Mas, nunca imaginei a extensão daquilo que ela ia arquitetar meses depois, para extravasar todo aquele ódio.

Eles tiveram a primeira discussão deles assim que o Mathy voltou ao chalé. Ela nada disse sobre ter nos visto trepando, guardou esse trunfo para quando ele lhe pudesse ser mais útil do que naquele momento, apenas questionou sua ausência em plena lua-de-mel por horas seguidas. Fez-se de vítima, chorou, questionou se ele a amava de verdade, fez sua encenação tão bem interpretada que ele ficou abalado. Tão logo lhe foi possível, o Mathy veio me procurar e, pela primeira vez, me pediu um tempo.

- É só para não levantar suspeitas! Não acha que devo ficar mais tempo com ela, afinal essa é para ser a nossa lua-de-mel, ela espera que eu fique ao lado dela. – sentenciou ele quando veio ter comigo no bangalô, ainda perturbado pela briga que teve com ela.

- Não demorou muito para acontecer, não é? Aquilo que eu previ e que tantas vezes argumentei com você, ela te ocupando o tempo todo, ela te cobrando toda a sua atenção. – retruquei consternado.

- É só por agora! Depois que essa fase passar, tudo volta ao normal entre nós, eu juro!

- Não é não, Mathy! Nunca mais vai ser como antes, eu te avisei! Dentro em breve você não vai ter mais tempo para mim! – devolvi, começando a chorar, por constatar que meu mundo e minha felicidade estavam ruindo como se fosse um castelo de areia sendo levado pelas ondas. Ele me abraçou tentando me fazer acreditar no impossível.

Naquela noite, na inocência de não saber que ela havia nos flagrado, fui ao chalé preparar um jantar para eles. Caprichei num prato que o Mathy adorava, a Betina ficou o tempo todo comigo na cozinha, se mostrando solícita em me ajudar nos preparativos. Com a luz de velas bruxuleando sobre a mesa, degustamos o jantar num clima tenso, cada um medindo as poucas frases que trocamos. Eu podia ver o sofrimento estampado no olhar do Mathy, e sofria solidário com ele. Essa cumplicidade era tão forte que a Betina a notou, e começou a fazer certas provocações veladas, tão sutis e furtivas que só alguém abalado pela culpa como o Mathy e eu estávamos, conseguia captar. De repente, o Mathy explodiu num acesso de fúria contra o que ela dizia. Naquele momento, ele percebeu o erro que tinha cometido, intuiu que eu sempre estivera com a razão, que o casamento poria um fim em nosso relacionamento. Só de se imaginar privado do meu amor, o único que lhe importava, ele sentiu o sangue ferver, sentiu raiva e desprezo por aquela mulher que, ao contrário do que ele havia imaginado, o estava manipulando de forma acintosa. Ele esmurrou a mesa e a deixou, saiu porta afora do chalé para a noite fria onde uma garoa fina caia prateada pela luz da lua cheia. A Betina e eu nos encaramos em silêncio, os olhos opacos dela flamejavam o ódio que a corroía.

- Acho melhor você voltar para Berlim. O Mathias e eu temos coisas a acertar, temos que consolidar nosso casamento e, apesar de eu saber o quão importante a sua amizade é para ele, e para mim também, eu vou te pedir para nos deixar sozinhos. Espero que você entenda! – disse ela com firmeza na voz. Pronto, estava ali a prova de que aquela mulher não tinha nada de manipulável, de que ela sabia exatamente onde queria chegar.

- Claro! Eu compreendo! Acho mesmo que vocês precisam se entrosar. Amanhã cedo volto para casa e deixo vocês terminarem a lua-de-mel. – precisei fazer um esforço quase sobrenatural para proferir aquelas palavras, para abrir mão do homem que eu amava, me sentindo impotente e vencido.

- Obrigado, Lukas! Você é um bom e querido amigo! Queremos poder contar sempre com a sua amizade. – disse ela, na mais deslavada e infame falsidade que eu já havia ouvido.

O Mathy continuava vindo ao meu apartamento pelo menos duas a três vezes por semana. Eu o sentia cada vez mais carente e só me preocupava em atender suas necessidades, amava-o recebendo-o nas minhas entranhas com a dedicação de uma gueixa. A carinha de satisfação com a qual ele se despedia de mim ao partir, me beijando demorada e lascivamente, alimentavam em mim uma esperança a qual me agarrei com unhas e dentes, era tudo que me restava. Não sei qual eram as desculpas que ele inventava para ficar comigo, mas nunca fui ingênuo para não desconfiar de que a Betina sabia muito bem qual era o motivo daqueles sumiços do marido.

Depois que se casou, o Mathy passou a usar preservativos quando fazíamos sexo, como não podia se valer deles com a Betina, sem gerar questionamentos, ele o fazia comigo para me preservar de qualquer contaminação. Era um gesto zeloso e carinhoso da parte dele ao qual também tive que me submeter, embora sentisse uma falta danada daquele esperma pegajoso formigando entranhado na minha mucosa anal. Aquela umidade sempre me fizera ter a sensação de que ele continuava dentro de mim, e era algo que eu carregava cheio de orgulho e paixão por meu homem.

Embora eu sempre tivesse sido 100% passivo no nosso relacionamento, também passei a adotar a camisinha durante os coitos para evitar de esporrar sobre os lençóis ou as toalhas de banho sobre as quais me deitava para ser enrabado. Era mais prático do que ter que lavar a roupa de cama e as toalhas. Com a adoção dessa medida por ambos os lados, não era incomum deixarmos as camisinhas cheias de porra aos pés da cama quando a transa terminava e nós ficávamos abraçados conversando ou assistindo alguma coisa na televisão, aproveitando o tempo que tínhamos para o nosso amor. Às vezes, apenas no dia seguinte, quando arrumava o quarto eu as descartava.

Eles já estavam casados há quase dois anos. Quase estava convencido de que o Mathy estivera com a razão quando disse que nada mudaria entre nós, pois continuávamos a nos ver e a nos amar praticamente igual como sempre tinha sido, à exceção de ele não estar mais morando comigo, embora tivesse a chave do meu apartamento para poder entrar quando lhe fosse conveniente.

Questão de uma semana antes, tive uma sensação estranha, podia jurar que as camisinhas usadas tinham ficado sobre uma pequena bandeja que eu mantinha sobre a mesinha de cabeceira exatamente para esse fim, antes de descartá-las. Como não as encontrei, ao arrumar o quarto no dia seguinte a um de nossos encontros, achei que tinha tido um lapso de memória e esqueci o assunto.

Fiquei aturdido ao chegar em casa no início de uma noite e encontrar quatro policiais esmurrando a porta do apartamento e ordenando que eu a abrisse.

- O que está acontecendo? – perguntei pasmo

- O senhor é o Sr. Lukas Sterbbing? – perguntou o policial parrudão que socava minha porta com seu punho enorme.

- Sim, sou eu! Do que se trata?

- O senhor está preso pelo estrupo de um vulnerável! Terá que nos acompanhar até a delegacia. – sentenciou ele, passando imediatamente a me imobilizar com a ajuda de um parceiro.

- Isso é um absurdo! Vocês estão cometendo um engano! Eu nunca cometeria um ato tão abominável! – exclamei aflito, tentando me livrar os braços fortes deles.

- É o fim da linha, Sr. Sterbbing! Aconselho-o a providenciar um bom advogado, o senhor vai precisar. – concluiu o policial, antes de me conduzir escadas abaixo e me enfiar dentro da viatura.

O que ouvi na delegacia me deixou estarrecido. Uma mulher chorosa, que se dizia minha vizinha do edifício defronte ao meu, e mãe de um menino de nove anos, tinha provas de que eu havia violentado a criança quando da ausência dela, por sermos amigos e eu frequentar regularmente a casa dela. O delegado me exibiu uma camisinha dentro de um envelope plástico lacrado, enquanto ela fazia seu discurso falso.

- Você só pode ser louca! – berrei enfurecido. – Eu não a conheço, nunca a vi em toda minha vida! Nunca estive em sua casa, nem sei onde mora! – gritava desesperado, tentando provar minha inocência.

- Então não se furtará a nos fornecer material para que possa ser feito um teste de DNA que comprove que o conteúdo desse preservativo não é seu, não é Sr. Sterbbing? – questionou o delegado, com ironia na voz.

- É óbvio que não! Um teste vai comprovar que esse material não é meu. Tenho certeza disso! – respondi sincera e objetivamente.

O DNA de um fio do meu cabelo foi comparado à porra ressecada da camisinha, o resultado que o laboratório apresentou, confirmava em 99,90% a mesma origem de ambas as amostras. Eu estava encrencado, terrivelmente encrencado, me afirmaram meu irmão que era advogado e um de seus colegas do mesmo escritório em que atuavam.

- Eu juro que não tenho nada a ver com esse caso, mano! Até agora não acredito que isso esteja acontecendo comigo! É a coisa mais louca que podia me acontecer. Pelo amor de Deus, me ajude! – implorei chorando ao procurar abrigo nos braços do meu irmão

- Calma! Eu acredito em você. Mas temos que falar sobre essa prova, ela não deixa dúvida de que o sêmen na camisinha é seu, como você explica que essa mulher, que você alega desconhecer, teve acesso a ela? – indagou ele.

- Não sei, não sei, não sei, Harold! Juro que não sei! Juro por tudo que é mais sagrado, não sei! – repetia eu, confuso e perdido.

Um julgamento longo no qual eu repetia minha inocência com todo meu empenho e sinceridade, me condenou impiedosamente, baseado naquela única prova e na mentira que aquela mulher inventou. Recebi a sentença como receberia a morte, debilitado e impotente diante de fatos que não podia contestar, a não ser com minhas palavras que, naquelas alturas, não tinha valor algum.

O Mathy assistiu o julgamento, sentado no fundo da sala de audiências, encolhido e sem coragem de me encarar. A desconfiança dele foi o que mais me doeu, nem a sentença, nem a raiva fingida da mãe do garoto me abalaram tanto quanto aquele olhar frio e distante que eu via nos olhos dele. Assim que a sentença foi proferida, o Mathy deixou a sala, sem me dirigir uma única palavra de consolo, de confiança, de qualquer coisa que fosse. Eu chorava convulsivamente, minha vida terminava ali.

Fiquei sem chão, sem ar, sem saber o que fazer, pois a certeza de que nunca mais poderia abraçá-lo todos os dias, de vê-lo entrando em casa depois do trabalho com aquela carinha de bebê com aquele sorrisinho meigo e amoroso, de lhe dizer quanto o amava, de sentir o cheiro dele deitado no meu peito enquanto eu o afagava, era uma dor dilacerante. Aquela vida inteira que eu queria ao lado dele até ficarmos velhinhos não ia acontecer nunca mais.

Na primeira semana no presídio, levei uma surra de outros quatro detentos quando estava debaixo da ducha. Eles me enrabaram violentamente até o sangue escorrer pelas minhas coxas antes de me cobrirem de socos e chutes que me deixaram nocauteado me contorcendo no chão frio e molhado. Antes de me abandonarem, me empalaram com o cabo de um rodo que encontraram no banheiro coletivo. Passei uma semana no leito da enfermaria do presídio antes de conseguir voltar cambaleando com o cu todo arregaçado para a minha cela. Nunca desejei a morte com tanto afinco como naqueles dias, só ela podia pôr fim ao meu sofrimento; primeiro a perda do meu único e grande amor, agora a devassidão humilhante de um estupro coletivo.

As visitas regulares que eu recebia eram do meu irmão e do colega de trabalho dele, ambos empenhados em investigar como aquela acusação infundada tinha dado uma guinada no meu destino. Com menos frequência, também recebia visitas esporádicas do Peter e quatro da Betina, nas quais procurou me consolar e garantir que acreditava, juntamente com o Mathy, na minha inocência, e que tudo aquilo seria esclarecido num futuro próximo, que eu só precisava me manter forte. De tão abalado, eu cheguei a acreditar nas palavras dela. Questionei o fato do Mathy não vir me visitar, implorei para que viesse me ver, que eu precisava da presença e amizade dele mais do que nunca, mas ele nunca veio me visitar.

- Ele ficou muito abalado com tudo isso, está sofrendo bastante e me disse que não consegue vir te ver porque não suportaria te ver preso. – disse-me ela, justificando a ausência do marido.

- Diga a ele que eu estou implorando, Betina, por favor! Faça isso por mim, pelo amor de Deus! Eu preciso que ele me diga olhando nos meus olhos, que acredita na minha inocência. – suplicava eu a cada visita dela.

A capacidade de dissimulação daquela mulher não conhecia limites, ela me jurava que da próxima visita ele estaria comigo, mas isso nunca aconteceu.

A pedido do meu irmão, meu pai gastou uma fortuna pagando a indenização ordenada pelo juiz à mãe do garoto, e à contratação de um detetive que começou a vasculhar a vida dela, na tentativa de se encontrar algo que comprovasse a minha inocência. Eu já estava preso há mais de um ano quando os primeiros sinais de que aquela história inventada por ela estava cheia de furos, mas os avanços eram lentos, o estratagema tinha sido tão bem enredado que as pistas deixadas eram quase inatingíveis.

- O Mathias foi promovido, vai assumir um cargo na filial da empresa na Inglaterra, em Birmingham! Estamos nos mudando para lá no final do mês. – anunciou a Betina, na última das quatro visitas que me fez. Não consegui me controlar e chorei desesperadamente diante dela, me encarando e se deliciando com a vingança. Naquele momento tive a certeza de que ela estava envolvida na história do estupro do garoto.

- Investigue a Betina, Harold! Veja se ela tem alguma relação com aquela mulher. Acho que a chave desse mistério está aí. – relatei ao meu irmão, dois dias depois da visita dela.

- A Betina? Mas ela não vem te visitar prestando solidariedade? Ela deu um depoimento positivo a seu respeito durante o julgamento. O que te levou a essa conclusão? – perguntou ele

Como eu estava sozinho com meu irmão durante aquela visita, detalhei inúmeros fatos, inclusive a cena e a atuação dela durante a lua-de-mel do Mathy e dela. De todas as minhas suspeitas, de detalhes sobre meus encontros sexuais com o Mathy depois do casamento, me abrindo como nunca tinha me aberto com ninguém antes, só para que ele pudesse começar a traçar um perfil daquela mulher.

A partir dali e dessas informações, as pesquisas do detetive contratado pelo meu pai, as coisas se aceleraram. Descobriu-se que poucos dias antes de eu ser preso pela polícia, a mulher tinha levado o garoto ao hospital onde a Betina trabalhava, justamente numa noite em que ela estava de plantão. Vizinhos da mulher também informaram que ela e o companheiro tinham brigas constantes, e que o garoto tinha deixado de brincar com os outros garotos do prédio depois que o padrasto o proibira de descer, que o garoto quase nunca mais era visto pelos corredores, e que sempre estava retraído e cabisbaixo num comportamento assustadiço; que a mulher tinha deixado o edifício pouco depois de receber a indenização paga pelo meu pai, mudando-se, sem o companheiro, para os arredores de Potsdam; que dias antes do meu julgamento a Betina, reconhecida por fotografias pelos novos vizinhos da mulher, tinha ficado muitas horas no apartamento da mulher.

- Ao que tudo indica, a mulher do seu amigo está mesmo envolvida nessa fraude. Vou pedir a reabertura do caso com esses novos indícios e o testemunho dessas pessoas que presenciaram o encontro entre as duas. No mínimo, o juiz vai pedir que ambas expliquem o motivo desses encontros e, vou pedir que o garoto também seja ouvido oficialmente, pois agora ele tem idade para isso. – disse meu irmão.

Com a reabertura do caso, o garoto alegou em juízo que nunca tinha me visto antes, que fora agredido e estuprado, sim, mas pelo padrasto, inúmeras vezes; a mulher pressionada, acabou confessando que foi a Betina que lhe deu a camisinha e que a instruiu a contar aquela estória pela qual seria recompensada com uma boa indenização. Minha sentença foi anulada e fui posto em liberdade. A mãe do garoto e a Betina passaram a ser rés do caso instaurado pelo próprio juiz, sendo a mãe presa logo em seguida, enquanto uma ordem de prisão foi expedida contra a Betina. Não a encontraram no endereço de Birmingham que eu tinha fornecido pela empresa do Mathy, na qual ele já não trabalhava mais.

Mesmo depois de solto, nunca mais senti a mesma liberdade de antes. Eu continuava preso àquela trama sórdida, continuava preso ao Mathy, que em nenhum instante da minha vida saiu dos meus pensamentos e do meu coração. Eu ainda amava aquele homem, com a mesma intensidade e com a mesma ternura. Quando voltei ao convívio com a galera, o Peter fez de tudo para que eu me esquecesse do passado, me interessasse por outra pessoa, levasse minha vida adiante, mas nunca fui capaz de fazê-lo. Ano após ano, eu levava a vida sem numa ilusão. Tinha ido procurar eu mesmo o Mathy em Birmingham semanas depois de ter sido libertado, achando que talvez alguém tivesse negligenciado nessa procura. Contudo, não os encontrei e a empresa onde ele trabalhava não tinha informações sobre seu atual paradeiro.

- Vamos a Usedom nesse verão, alugamos uma casa na ilha e você está intimado a se juntar a nós. – disse o Peter, que agora era um homem casado, quando me deu a notícia de que a galera passaria o verão junta.

- Você sabe que não tenho ânimo para isso, Peter! Por favor, não insista, eu não estou em clima de festa. – respondi.

- Passaram-se vinte e cinco anos, Lukas! Você não pode continuar se isolando, deixando de viver sua vida, deixando de ser feliz porque perdeu o Mathias para aquela mulher. Você ainda é um homem muito bonito, atraente, está cheio de amor para dar, quem é que não quer um partidão como esse, hein, me diga! Esqueça-o e toque a vida para frente!

- Eu não consigo, Peter! Simplesmente não consigo! O Mathy foi o único homem que eu amei, que eu ainda amo, por mais loucura que isso possa parecer aos olhos dos outros.

- Essa obsessão vai te deixar doente! Aceito seus argumentos, você sabe o quanto eu te adoro, que talvez não tivesse me casado com a minha mulher se você tivesse olhado para a minha pica com um mínimo de interesse. – sentenciou ele sincero, mas em tom de brincadeira.

- Não diga bobagens! Nem deixe que um absurdo desses chegue aos ouvidos da sua mulher, seu maluco! – retruquei

- Seja lá como for, você vem conosco e está acabado! - eu estava há tantos anos sem tirar férias que acabei me deixando levar.

O mar sempre incutia em mim uma energia que me fazia bem, havia algo naquele horizonte distante que me transportava para dentro de mim mesmo e me instalava uma serenidade benfazeja. Após uma noite insone, acordei cedo, mal o dia tinha alvorecido e encontrei o Georg já sentado na varanda da casa, pelo visto a noite dele também não tinha sido das melhores. Havia menos de dois meses que ele terminou o relacionamento com o companheiro de mais de vinte e cinco anos, e ainda estava sob efeitos dessa depressão.

- Quer dar uma caminhada nas dunas, acho que ambos estamos precisando disso? – sugeri, quando o encontrei cabisbaixo remoendo suas dores.

- Com certeza! Quem sabe voltemos a nos interessar pela vida. – respondeu ele, antes de tomarmos o rumo das dunas da praia de Zinnowitz.

Pelo horário, a praia e as dunas ainda estavam desertas, o vento ainda frio da manhã nos obrigava a colocar o capuz do agasalho sobre a cabeça enquanto escalávamos descalços as dunas íngremes cobertas por um capim rasteiro. Um cockapoo de pelagem branca desceu correndo e latindo em nossa direção do topo da duna, instantes depois, surgiu o dono chamando por ele. Por alguns segundos pensei que ia desfalecer ali mesmo, não de cansaço pela caminhada que já durava mais de uma hora, mas pelo rosto que identifiquei. Era o Mathy, lindo como sempre, atlético, forte, com alguns fios grisalhos nas têmporas que o deixavam ainda mais sexy. Ele me reconheceu de imediato, estancou como se tivesse recebido um coice, e ficou me encarando incrédulo.

- Lukas! – mal ouvi sua voz, mas escutá-lo pronunciando meu nome depois de tanto tempo me encheu os olhos de lágrimas.

- Mathy! – sussurrei, sentindo aquela vertigem aumentando e minhas pernas perdendo a capacidade de me sustentar. Só não desabei no chão porque o Georg me segurou antes disso.

- Barin, vem cá, vem! Vem amigão! – chamou ele, atraindo o cão para junto de si e voltando a descer a duna de onde tinha vindo.

- Meu Deus, Georg, o que foi isso? Eu acho que era o Mathy. – afirmei quando recobrei as forças.

- Era ele, sem dúvida! Era o Mathias. – asseverou ele, também em estado de choque. – O que eu não entendo é porque ele não veio conversar com você. Vocês tiveram um caso antes de ele se casar, não foi? – questionou ele, sem saber que meu relacionamento com o Mathy tinha ido muito além daquele malfadado casamento.

- Sim! – respondi. – Eu preciso ir atrás dele, preciso falar com ele, Georg.

- Então vamos alcançá-lo, está se sentindo bem?

- Acho que sim! – saí tão estabanado atrás do Mathy que acabei escorregando na areia fofa e levando um tombo, tornei e me pôr de pé e a continuar atrás dele e do cachorro que disparou rumo ao portão de uma casa.

- Espere Mathy, precisamos conversar! – gritei atrás dele.

- O que você quer? Não temos mais nada a conversar! – retrucou ele, com uma aspereza na voz que me doeu fundo.

- Eu te amo, Mathy! Você precisa me ouvir! – supliquei

- Eu estou casado! Amo a minha esposa! Não é justo você aparecer depois de 25 anos e exigir que eu te ouça dando explicações do crime que cometeu. – disse ele

- Não cometi crime algum, é isso que quero te dizer! Tudo foi uma grande armação, uma armação da sua mulher. – afirmei, sem meias palavras

- Não foi isso que aquele júri provou! Você acabou com a minha vida, Lukas! – berrou exaltado, desaparecendo para o interior daquela casa.

O Georg e eu corremos de volta para casa, contei o encontro para o Peter e liguei para o meu irmão, para que ele pudesse avisar a polícia do paradeiro da Betina.

- Preciso fazer uma consulta para verificar se o crime que ela cometeu já não prescreveu. Se isso aconteceu, ela pode sair impune dessa questão. – afirmou meu irmão

- Isso não pode acontecer, Harold! Eu me sentiria duplamente punido por algo que nunca cometi, entende? – devolvi angustiado

- Eu te entendo, mano, mas as leis são essas. Deixe-me fazer uma pesquisa, eu te ligo assim que tiver uma resposta. – retrucou ele.

Naquela mesma noite ele retornou a ligação; a Betina iria se safar, ilesa, vitoriosa da sua vingança, pois até a mãe do garoto já estava em liberdade, depois de 15 anos de prisão. Eu me senti aniquilado. O Mathy não queria me ouvir, optou pela vida com aquela mulher, não me restava mais nada a fazer a não ser aceitar minha sina.

Semanas depois do meu retorno das férias em Usedom, o Mathy veio à minha casa. Não sei como me encontrou, pois havia anos que eu tinha construído a casa em Spandau e me mudado do apartamento da Fritschestrasse. Ele estava num estado deplorável, tinha bebido, dava para sentir o cheiro no seu hálito quando atropelava as palavras com a língua pesada.

- Eu sou um cretino miserável, Lukas! Me perdoe, me perdoe! – balbuciou ele, desabando aos meus pés.

- Acho melhor você ir embora, Mathy! Não quero que os vizinhos presenciem uma cena, por favor, foi você mesmo quem disse que não tínhamos mais nada para conversar, lembra. – respondi, embora meu coração estivesse suplicando para eu abraçá-lo e acolhê-lo.

- Isso foi antes de eu descobrir toda a verdade! A verdade que te levou a pagar por um crime que nunca cometeu. Como pude ser tão idiota? Me diz, Lukas, como eu pude fazer isso com você? – dizia sua voz falha e chorosa.

Ele começou a me contar o que aconteceu depois do nosso encontro casual naquela manhã nas dunas de Zinnowitz, da conversa que teve com a Betina depois que ela havia me reconhecido quando corri atrás dele até a casa de praia. Ela o abordou três dias depois do nosso reencontro, os mesmos em que ambos mal se falaram, estava diferente; como, ele não saberia dizer, só estava diferente, sentou-se perto dele na sala e começou a falar.

- Você nunca o esqueceu, não é? Vinte e cinco anos e você não o esqueceu, nem deixou de amá-lo. – sentenciou ela em voz baixa, como se estivesse refletindo sobre toda uma vida.

- O que você está dizendo? Que assunto é esse agora? – perguntei a ela.

- Lukas! Todos esses anos vivendo ao meu lado, mas sempre pensando nele, no amor que sempre sentiu e ainda sente por ele. – continuou ela.

- Isso é mesmo necessário? Voltarmos a falar sobre aquilo que foi enterrado no passado? Que benefícios isso vai nos trazer agora? – questionei

- É necessário, sim! Pois, nada ficou enterrado no passado. Ele continua vivo aí dentro de você, de onde nunca saiu. – disse ela. – E eu cheguei ao meu limite. Faz três dias que você está aí sentado, pensando nele, relembrando os momentos de amor que teve com ele, avaliando tudo o que perdeu com a ausência dele. Faz três dias que mal nos falamos, aliás, três dias não, há 25 anos não nos falamos. Esses episódios de isolamento nos quais você mergulha sem falar comigo, exceto algo banal, um bom dia ou uma boa noite, vem se repetindo há anos. Você nunca me amou, nunca me enxergou como sua mulher, como uma companheira. – continuou ela. – Mas eu não o culpo por isso. Eu fui a culpada disso tudo, e são essas sombras do passado que constantemente voltam a me assombrar, voltam para me cobrar pelo meu erro, pelo crime que cometi.

- Do que você está falando? Que besteira é essa agora? – perguntei, sem entender aonde ela queria chegar com aquela conversa.

- Estou falando do homem que você amou a vida inteira e que eu mandei para a prisão por vingança. – afirmou ela

- Vingança?

- Sim, vingança! Vingança por ele te amar, vingança pelo que vocês fizeram naquele bangalô em nossa lua-de-mel, vingança por você preferir a ele e não a mim. – afirmava ela. – Eu fui atrás de você, queria entender o motivo dos seus sumiços, de me deixar sozinha por horas quando deveríamos estar consolidando nosso casamento. E aí eu vi, você e ele, se amando, atados num coito lascivo, gemendo como dois animais que conheciam a fundo aquele prazer, que eram cúmplices de uma paixão que sempre me foi negada.

- Nós ... nós não fizemos aquilo para te afrontar, para te humilhar, juro! – confessei

- Eu sei, eu sei! Demorei para enxergar isso, mas eu sei, vocês fizeram aquilo porque se amavam e estavam se dando conta de que esse amor corria riscos com o nosso casamento. Mas, naquele instante, eu não pensava assim, naquele instante eu desejei que morressem, naquele instante, eu jurei a mim mesma que poria um fim nesse romance para que você fosse apenas meu. Que ilusão! Você nunca foi meu, nunca! A sombra do Lukas sempre esteve presente entre nós.

- Eu tentei, Betina, juro que tentei! – asseverei a ela

- Eu sei, Mathias! Eu sei! E é justamente por isso que estou me abrindo com você. Chegou a hora de colocarmos um ponto final nesse sofrimento que nos corrói há tantos anos. Não é justo para nenhum de nós, especialmente para o Lukas. – afirmou ela

- Como assim? O que você sabe sobre o Lukas que eu não sei? – indaguei, pois notei que ela carregava dentro de si uma carga da qual estava disposta a se livrar.

- Ele foi preso porque eu engendrei toda aquela estória com aquela mulher. – eu ia perguntar de que modo ela estava envolvida nisso, mas ela me fez permanecer calado. – Me ouça, Mathias, apenas me ouça sem me interromper. – advertiu ela. – Eu desconfiava que você e o Lukas continuavam a se encontrar depois do casamento. Peguei as chaves do apartamento dele que um dia caíram do bolso de uma de suas calças quando eu a estava colocando para lavar. Fui até o apartamento na manhã seguinte a uma das suas desculpas por ter chegado tarde na noite anterior, e encontrei dois preservativos usados sobre a mesinha de cabeceira, além de uma cueca sua largada sobre a cama. Foi ali que você esteve trepando e fazendo amor com o Lukas, e não numa reunião na empresa como você alegou. Eu me senti traída, entende? Peguei as camisinhas com a intenção de esfregar na sua cara a mentira deslavada que inventou, mas o destino jogou em minhas mãos algo bem mais substancial e definitivo, a chance de acabar com o romance de vocês para sempre. No meu plantão naquela mesma noite, apareceu aquela mulher trazendo o garoto violentado pelo padrasto, e eu percebi que podia não apenas ajudar aquela mulher a se livrar do companheiro acenando com a possibilidade de uma bela indenização, como tirar o Lukas do meu caminho, deixando você livre só para mim. Dei a ela a prova de que precisava para tornar verídicas as acusações que incriminaram o Lukas. O resto você já sabe, ou quase tudo, ele foi julgado e condenado ante as evidências irrefutáveis. – confessou ela

- Como você foi capaz, Betina? Lukas é a mais doce criatura que eu já vi em toda a minha vida. Você o fez pagar por um erro que foi só meu. Eu que inventei de me casar com uma mulher para progredir na carreira, para ser promovido. Ele nunca concordou com isso, chorou como uma criança desamparada no dia do nosso casamento, pois acreditou que eu o abandonaria dali a pouco tempo. – revelei. – E, o que você quis dizer com eu saber de quase tudo? O que mais há para saber que eu não sei?

- Não pense que me orgulho do que fiz! Eu estou pagando pelo meu erro todos esses 25 anos nos quais você nunca me enxergou como sua mulher. Eu sou assolada por pesadelos nos quais revejo o Lukas na prisão nas quatro vezes em que o visitei, para saborear aquela vingança que achei ia me livrar dele para todo o sempre. Aconteceu justamente o contrário, eu também nunca me esqueci daquelas imagens dele todo arrebentado na prisão. Elas me atormentam até hoje, Mathias, como sombras emergindo do inferno. – admitia ela

- Você nunca me disse que foi visitá-lo na prisão! – exclamei, ante algo que eu desconhecia.

- Eu fui! Não porque estivesse interessada no destino dele, mas para me sentir vitoriosa ao tirar dele o que mais lhe era caro, você. Na primeira visita, encontrei-o na enfermaria da prisão, me deixaram ter acesso somente porque o estado dele inspirava cuidados. Os outros presos tinham dado uma surra tão violenta nele que todo seu corpo estava coberto de hematomas, o rosto desfigurado e, segundo o médico me informou, haviam-no empalado com o cabo de um rodo que rasgou o ânus dele. Na terceira visita também o encontrei após outra surra, dessa vez menos agressiva, pois os agentes penitenciários conseguiram resgatá-lo antes que sofresse danos maiores. Mesmo assim, ele mal podia caminhar de tantos presos que o tinham violentado e batido nele. – à medida que eu a ouvia narrar, senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, imaginando o que você tinha passado naquela prisão. Ela continuou falando, mesmo sabendo que estava cravando um punhal em meu peito. – Sabe o que ele me perguntou nessas duas ocasiões, Mathias? Ele estava todo estropiado e dolorido, mas queria saber de você, queria saber se você estava feliz, queria saber o porquê de você não o visitar. A preocupação dele recaia sobre o homem que ele amava, não sobre as suas próprias dores. Foi nesse momento que eu percebi que nada, nem ninguém conseguiria acabar com o amor que unia vocês dois. A última visita que lhe fiz, foi para lhe contar que estávamos nos mudando para Birmingham, que você tinha sido promovido e por isso estávamos nos mudando. Ele conseguiu esboçar apenas um sorriso triste, e me pediu para que lhe desse os parabéns e nos desejou toda a felicidade do mundo, afirmando convicto que a sua felicidade era o maior sonho da vida dele. – revelou ela. – Você consegue compreender agora a culpa que eu carrego todos esses anos? Toda maldade que fiz não resultou em um único dia feliz da minha vida ao seu lado.

- Eu te desconheço, Betina! Em 25 anos nunca soube quem você é de verdade. Não admira que nosso casamento não deu certo, ele começou errado por minha culpa, e se perpetuou sob o sofrimento do Lukas, a mais inocente e castigada vítima disso tudo. – afirmei.

- É por isso que resolvi te contar tudo hoje. Te observando aí sentado taciturno e pensativo nesses últimos três dias após um breve reencontro com o Lukas, eu achei que estava na hora de nós três termos o direito a sermos felizes, e isso só vai acontecer se eu me retirar dessa história, como estou fazendo, deixando que você vá atrás dele para viver o amor a que ambos têm direito. Eu deixei a papelada do divórcio toda assinada na mesa da cozinha, você só precisa assinar e encaminhar tudo para o advogado, ele já está sabendo de tudo. Vou embora daqui a pouco, as malas já estão no carro. Não conto nem espero pelo perdão de vocês dois, eu mesma acho que não sou digna dele. Mas, se algum dia, conseguirem pensar em mim sem raiva, eu talvez consiga encontrar alguma paz. – concluiu ela, me deixando com meus pensamentos e minha culpa.

- Adeus, Mathias! – disse ela antes de fechar a porta atrás de si. Eu a vi tirando o carro da garagem e ganhando a rua, até sumir da minha visão ao dobrar a esquina.

Quando o Mathy terminou de me relatar essa conversa final e definitiva que teve com a Betina, eu chorava, e ele também. Dei alguns passos em direção à janela, estávamos em pleno outono, o gramado lá fora estava coberto de folhas murchas e amarronzadas, uma chuva fina descia das nuvens carregadas. Eu não sabia no que pensar, 25 anos de um completo vazio passavam pela minha mente, as lágrimas continuavam a rolar pelo meu rosto. Subitamente, senti a mão pesada e vigorosa do Mathy no meu ombro, ela estava quente e esse calor perpassou por todo meu corpo me fazendo estremecer, a sensação foi a mesma que senti da primeira vez que ele me tocou ao me desvirginar e, então, a voz grave dele, sem mais nenhum sinal de embriaguez, soou junto ao meu ouvido.

- Não houve um único dia sequer nesses anos todos em que não pensei em você! Eu te amo, Lukas! – meu choro aumentou, eu me virei e pousei a cabeça no ombro dele, sentindo seus braços se fechando amorosamente ao meu redor.

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Comentários

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Meu Deus!!!! Como a vingança pode causar tanto mal na vida das pessoas e, isso inclui, o autor, a vítima e quem está ao redor...

Mais uma vez Kherr você foi sensacional em seu conto.

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Foi exatamente o que eu quis demonstrar nessa história. A vingança só traz sofrimento para todos os envolvidos, num primeiro momento, o autor até pode achar que se deu bem, que impingiu um castigo merecido, mas com o tempo, o sabor amargo de ter ferido alguém, mesmo que seja alguém por quem se sentiu raiva em algum momento, é o único sabor que resta, e ele nunca é bom. Abração e grato pelo comentário!

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Você é incrível, já li todos seus contos e fico sempre na expectativa dos próximos.

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Obrigado mathsxd! Me alegra saber que curte minhas histórias, espero estar a altura das suas expectativas nos próximos. Abração!!

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Aí, o conto é incrível! Como sempre, melhor escritor da casa. Mas não consigo suportar o fato dele ter sofrido tanto, por tanto tempo, me apeguei.

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Oi RenanDaCasa! Acho que ele suportou esse sofrimento por tanto tempo porque nunca perdeu as esperanças de viver aquele amor em toda sua plenitude. De alguma forma esse amor era tão forte que fez com que ambos passassem acreditando num retorno, a despeito de todo mal que a Betina lhes fez. Abração e obrigado pelo comentário!

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Passaram-se duas semanas desde que li este conto e a revolta não passa. Mathy é desprezível. Deixou Betina partir sem nunca pagar o que fez. Mathy é horrível, o único que se beneficiou sempre nessa história. Que pessoa horrível

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Oi VicoOusado! Talvez ele deixou que a providência divina o fizesse. Existem pessoas que não perdoam, mas também não fazem justiça com as próprias mãos. Essa é a grande diversidade humana. Abraço e obrigado pelo comentário!

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Não concordei com o final e jamais voltaria. Mas eh fácil falar. Seu conto me gerou revolta no final, mas isso é positivo pois interagi e me pus no lugar. 10!

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Oi Andgart! Como vc próprio menciona, é fácil falar. A questão não é voltar, pois não houve uma volta, o que houve foi uma interrupção de 25 anos num amor que nunca deixou de existir de ambos os lados. Mathias e Lukas sempre se amaram, nunca deixando de o fazer e sentir, mas tiveram que viver afastados pensando um no outro, depois de terem sido obrigados a isso pela vingança de Betina. Para que um amor dure 25 anos sem a presença física dos envolvidos, é preciso que ele seja imenso e muito sólido. Abração e grato pelo comentário.

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Saudade de quando seus contos eram mais bem elaborados. Muito continua, porem com os anos tem perdido a graça.

Personagens burros, sem amor próprio. O conto O Homem sem voz tinha tanto a ser explorado, mas teve um final péssimo de felizes para sempre.

kd os conflitos de aceitação? KD a luta pela conquista? kd o desenvolvimento de afeição entre os dois personagens?

Ta igual livro ruim, inicia bem, cria um bom enredo e depois não consegue criar um final a altura e bem pensado.

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Oi Nicolas! Talvez você tenha se enjoado dos meus contos, não o critico por isso, é apenas uma constatação. Jamais tive a pretensão de agradar a cada um dos meus leitores em particular, até porque isso seria impossível, dado que cada um tem suas expectativas, gostos e desejos, os quais desconheço por completo. Você também se refere aos personagens como sendo burros e sem amor próprio, o que outros leitores já apontaram. Talvez sejam mesmo, embora eu os retrate apenas como seres humanos comuns, desses que se encontra em cada esquina, com seus medos, suas fraquezas e seus momentos de insegurança diante do que está diante deles, especialmente, quando o que está diante deles envolve sentimentos, que quase nunca compartilham com a razão. De qualquer forma, grato pelo comentário e forte abraço!

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Do jeito que as pessoas falam, todos acertam em todas as suas decisões a todo momento. São pessoas perfeitas, desprovidas de humanidade... Quem nunca deixou de agir por sentir medo, comodidade, por gostar, por amar.. Quem nunca tomou uma decisão que feriu o outro, que magoou, que o fez chorar, que disse palavras carregadas que nunca mais foram esquecidas...

As pessoas esquecem, por vezes, e bota vezes nisso, que aqui nós temos um conto, uma novela, um caso, algo para distrair, para bater uma, para chorar... Fico incomodado com esse tipo de comentário, porque não acrescenta em nada.

Seria muito mais "humano" e "inteligente", dar ideias de situações, de ambientes, de sensações.

Kherr, parabéns por mais um conto maravilhoso, que retrata sim, a vida como ela é, cheia de altos e baixos.

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Valeu JowSP! Você resumiu bem, não importa se concordemos ou não com as atitudes dos outros, pois cada um é provido de peculiaridades individuais, fruto de sua formação e valores e tantas outras características mais, toda vez que julgamos alguém sob a nossa ótica, certamente estamos cometendo um erro. Super abraço, meu querido!

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Chocado. Tão feliz no início porque me fez lembrar o meu primeiro, grande, lindo e também muito bem dotado mas que tirou a minha virgindade com tanto carinho que nem sofri dores horríveis. Fomos felizes algum tempo e acho que fui mais sortudo, sem dúvida, do que Lukas que sofreu 25 anos antes do seu amado voltar e que também sofreu mas porque quis e não acreditou na pessoa amada e não procurou saber dos detalhes. Sinceramente não sei se o receberia de volta por mais que o amasse mas sempre ia existir a mágoa dele não ter acreditado em mim. Sim fui mais feliz pelo menos perdi o meu fuzileiro naval pra morte sem possibilidade de reve-lo mas ama-lo para sempre nas minhas lembranças.

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Oi Roberto! O Lukas foi o grande perdedor dessa história, em nome da paixão que sentia pelo Mathias, se sujeitou a uma situação que tinha tudo para dar errado, como, de fato, deu. Foi a grande vítima da história, pagando até com a própria liberdade e integridade física a vingança da Betina. Ele podia ter sido mais firme, podia, sem dúvida, mas é fácil julgar alguém quando não se está na pele dessa pessoa, quando não se conhece, seus medos e suas inseguranças. Não o vejo como alguém sem amor próprio, mas como alguém que não quis abrir mão de um amor, sem medir as consequências disso. Abração

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O conto deu muito tesão mas depois da história da forja do estupro e seus desdobramentos revirou o estômago. A vida é realmente uma merda. Lukas só conseguiu a liberdade por ser de uma família rica que acreditou nele. Betina conseguiu fugir da justiça e saiu impune. Sinceramente, o que sobrava de masculinidade no Mathias faltava em brio, em coragem de fazer o certo. Voltar a ir atrás do Lukas depois de tudo o que ele sofreu é um absurdo! O mínimo que ele devia fazer era se empenhar em fazer a vida da Betina um inferno, fazer ela pagar de alguma forma.

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Olá VicoOusado! Grato pelo seu comentário. Os julgamentos sobre as atitudes do Lukas e do Mathias estão sendo bastante ácidos, em certo ponto até concordo, poderiam ter agido diferente, mas cada um tem sua personalidade, seus pontos fortes e fracos e age segundo eles. Você, até o momento, foi o único a enxergar a Betina como a grande vilã da história, e nisso só tenho a te parabenizar. Ela soube desde o início que tinha se casado com um cara que estava apaixonado por um gay e, resolveu mesmo assim, levar o casamento adiante pensando unicamente em si mesma, sabendo que isso dificilmente daria certo. O pior, além de se interpor entre os dois amantes, foi engendrar toda uma vingança. Ela conseguiu não só destruir a felicidade deles, como a sua própria, e demorou 25 anos para se dar conta de que isso jamais mudaria, que ela jamais teria o amor do marido, que sempre pertenceu ao Lukas. Abração!

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Isso aí nunca foi amor, do lado do Mathy só existia o interesse em continua com a vida mais confortável possível pra ele mesmo, e do lado do Lukas só vi uma dependência patologica. O sujeito que dizia amar, não teve a dignidade de ir na prisão visitar o "amado", nem procurou saber se ele estava vivo ou morto por 25 anos! Isso não é amor não gente.

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Oi Gilberto! De fato, assim como você, os outros dois leitores que comentaram o conto, viram nos protagonistas traços de personalidade bastante questionáveis. São seres humanos, e como tal, propensos a acertos e erros, como todos nós. Abração!

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25 anos de sofrimento do Lukas, enquanto o alecrim do Mathy vivia de boa. Seus protagonistas passivos deveriam ter mais amor próprio. São sempre lindos, inseguros e inexperiente, sentam em uma pica e depois ficam se humilhando.

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as vezes me faço mesmo questionamento.os passivos são frágeis,bondudos e submissos,assim eles dependem do ativo sempre viris e dotados,raro é o caso que o passivo termina morto ou infeliz. Deve ter algum trauma ou traço do seu conto que sempre tem essa narrativa

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Olá Geomateus! Talvez pelas respostas que dei aos comentários anteriores você também entenda como funciona a personalidade dos meus personagens. Se você comparar meus passivos aos de outras histórias narradas em contos, livros ou filmes, você vai perceber que costumo na maioria das vezes dar um final feliz a eles. Já respondi diversas vezes esse tipo de questionamentos quanto aos passivos em outros contos. Vale relembrar que passivos são mais sensíveis, o que não significa que sejam frágeis, bem como são mais compreensivos e tolerantes, o que não quer dizer que sejam submissos fora da cama e, quanto a serem bundudos, bem, aí é só você perguntar para qualquer ativo ou heterossexual o que os atrai e para onde dirigem seus primeiros olhares. Machos são seres visuais, a atração, a cobiça e a excitação se formam a partir desse sentido, que é muito aguçado neles. Abração! Talvez um próximo conto te agrade mais. Valeu pelo comentário.

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Olá Atheno! Será mesmo que todos os meus protagonistas passivos não têm amor próprio? Talvez uma releitura mais apurada de alguns contos possam te levar a pensar de forma diferente. Nem todos carecem de amor próprio, o que às vezes fazem é colocar o amor que sentem pelos ativos, acima de rótulos, para justamente podem vivenciar esse amor que, se você observar bem, é recíproco. Relevar certas posições a que nos impomos como donos da verdade, são o primeiro passo para um relacionamento não dar certos, seja ele heterossexual ou homossexual. Abraço e grato pelo comentário.

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